terça-feira, 24 de dezembro de 2013

[conto #056] A Árvore de Natal

A ÁRVORE DE NATAL

Era início de dezembro e Mariana queria uma árvore de Natal.
Decidida a conseguir sua árvore, ela dirigiu pela longa estrada até chegar na única loja da cidade que vendia árvores de Natal. Mas na loja, todas as árvores haviam acabado.
Mariana voltou para a estrada e dirigiu a noite inteira, até chegar na cidade vizinha. Lá havia duas lojas que vendiam árvores de Natal, mas em ambas as árvores haviam acabado.
Ela voltou para a estrada e dirigiu durante o dia inteiro, e a noite toda, até chegar na próxima cidade.
Nessa cidade havia três lojas que vendiam árvores de Natal. Mariana foi de loja em loja, mas em todas elas, as árvores haviam acabado.
Muito triste, porque não haviam outras cidades onde ela pudesse ir, ela saiu da última loja e foi voltando para o seu carro. Mas uma velhinha, que estava sentada na porta da loja e tudo vira, foi até ela e disse:
-- Se você quiser muito uma árvore, eu sei onde você pode encontrar. Mas será muito arriscado, a não ser que você queira essa árvore mais do que qualquer outra coisa.
-- Eu quero sim.
-- Então, você deve ir até a saída da cidade. Lá, haverá uma trilha para fora da estrada. Você deverá seguir essa trilha até chegar ao centro da floresta. Ali existe um jardim de árvores de Natal. Se você quiser essa árvore mais do que tudo no mundo, poderá cortar a árvore que escolher e levá-la com você. Mas se sua vontade de ter a árvore não for maior do que tudo, uma terrível maldição se abaterá sobre você.
Mariana tinha certeza de que queria aquela árvore mais do que tudo no mundo. Seguindo as instruções da velhinha, ela dirigiu até a saída da cidade, e ali encontrou a trilha para fora da estrada, adentrando a floresta. Seguiu a trilha por horas e horas, até que chegou ao centro da floresta, onde havia o jardim de árvores de Natal.
Havia dezenas e dezenas de árvore de Natal crescendo no jardim, uma mais bonita do que a outra. Algumas eram enormes, parecendo antiquíssimas, e outras eram mais jovens, parecendo ter poucos anos. Mariana andou por entre as árvores, até ver uma nem muito jovem nem muito antiga, de bom tamanho e boa aparência, que achou ideal. Pegou um grande machado que sempre carregava no carro, e começou a cortar a árvore.
Mas assim que a lâmina do machado tocou o tronco da árvore, um forte vento soprou, e ela teve que cobrir o rosto. Quando o vento parou, ela ouviu passos atrás de si, e quando se voltou, havia um homem parado ali, olhando para ela.
Não era apenas um homem. Era o homem mais bonito que ela já vira na vida - talvez o mais bonito que existia no mundo - e estava completamente nu. Ela soltou o machado e ficou olhando para ele, hipnotizada.
-- Quem é você? - ele disse.
-- Mariana. - ela respondeu, tentando se controlar para não se jogar nos braços dele.
-- E por que está cortando uma árvore do meu jardim?
-- Porque quero uma árvore de Natal, e não encontrei nenhuma em lugar algum, apenas aqui.
-- Por favor, não leve minha árvore. Eu amo todas as árvores do meu jardim.
-- Sinto muito, mas eu quero essa árvore mais do que tudo. Meu Natal não será feliz sem ela.
-- Se você não cortar a minha árvore, eu te darei todo o ouro que puder carregar. Será a mulher mais rica do mundo.
-- Eu quero a árvore mais do que quero ser rica.
Ele chegou mais perto dela.
-- Se você não cortar minha árvore, eu te darei mais jóias e roupas e sapatos do que qualquer mulher do mundo já sonhou em ter.
Dessa vez, Mariana demorou para responder, mas no final a vontade de ter a árvore prevaleceu.
-- Eu quero a árvore mais do que quero jóias e roupas e sapatos.
O homem chegou ainda mais perto, e tocou no rosto dela. A mão dele era quente e firme, o cheiro dele era inebriante.
-- Se você não cortar minha árvore, eu farei amor com você.
Mariana parou de respirar por um segundo. Ele estava tão perto. Ele era tudo o que ela sempre desejara - ele era até mais do que ela desejara. Ela não conseguia tirar os olhos de seu rosto, seu olhar, seu corpo nu e perfeito.
-- Eu aceito.
E como se para confirmar suas palavras, ela se jogou nos braços dele, beijando-o com paixão. Ele a acolheu em seus braços, e eles se perderam um no outro durante todo o resto do dia e toda a noite.
Apenas quando o dia surgia Mariana adormeceu. Acordou horas depois, com o sol em seu rosto, sentindo um calor suave a cobrindo. Mas quando tentou se mexer, percebeu que era impossível. Não conseguia mover nenhuma parte de seu corpo.
Ela abriu os olhos, e viu que já não tinha olhos - parecia poder ver de toda extensão de si mesma, e de uma forma que nunca vira antes. Percebeu que seus braços haviam se multiplicado e se transformado em galhos, que suas pernas agora se estendiam em profundas raízes, e que ela própria era, em seu ser, uma árvore.
Mariana se transformara em uma árvore de Natal.
À sua frente, estava o homem com quem passara a noite. Ele tocou no tronco que agora era o corpo dela, e disse:
-- Agora você está mais bela do que qualquer humano sonharia em estar, e viverá para sempre aqui no meu jardim. Nunca deixarei que alguém te tome de mim, e aqui você estará segura.
Ela se lembrou então, do que a velhinha lhe dissera: se a sua vontade de ter a árvore não for maior do que tudo, uma terrível maldição se abaterá sobre você. Ela falhara, seu amor pelo homem fora maior do que sua vontade de ter a árvore, e a maldição caíra sobre ela.
E agora ela viveria como uma árvore de Natal por toda a eternidade, no jardim onde as amantes eram amaldiçoadas por amar mais a um homem do que às árvores.