terça-feira, 26 de maio de 2009

[fanfic #002] [U2] Uma Noite

AVISOS:
  • História não recomendada para menores (sexo)
  • Esta é uma fanfic sobre U2; recomendo que apenas fãs da banda a leiam.
  • História proibida para homens.

UMA NOITE

Eu o conheci muito antes de que ele me conhecesse. Bono. Esse homem permeou todos os momentos da minha adolescência. Fosse com sua voz maravilhosa, com seu rosto lindo, com suas frases – desde os meus doze anos, ele sempre esteve presente.
Durante meu primeiro beijo, foi nele que pensei, em sua boca, em como seria seu gosto. Na minha primeira vez, era ele que estava em minha mente, eu me imaginava arranhando suas costas fortes, segurando em seus braços – meu Deus, aqueles braços – puxando seus longos cabelos escuros. Todos os meus namoros terminaram pelo mesmo motivo: por mais que o rapaz fosse bonito, carinhoso, atencioso, nunca era quem eu queria. Nunca era Bono.
Apesar disso, nunca saí da realidade. Sempre tive plena consciência de que aquilo era só fantasia. Eu nunca conheceria Bono. Jamais sequer iria a um show deles. Minha família era pobre, e o dinheiro que eu ganhava como garçonete em um posto de beira de estrada mal dava pra pagar minhas contas. Pra piorar, nós vivíamos numa cidadezinha pequena da Alemanha. Por mais que eu desejasse ardentemente ficar frente a frente com Bono, tinha a certeza de que isso jamais aconteceria.
Mas aconteceu.
Lá estava eu, com vinte anos, vestindo meu uniforme vermelho e amarelo, terminando de limpar as mesas. Era quase uma hora da manhã, já passara da hora de fechar; até o gerente fora embora, e deixara o fechamento da lanchonete por conta minha e de Dominic, um colega de serviço e grande amigo.
-- Acabei aqui, Dom.
-- Vai fechando as janelas, eu estou terminando de... Ah, droga...
Segui seu olhar: lá fora, um carro estacionara. Como o nosso era o único estabelecimento aberto, era óbvio que eles estavam indo para lá.
-- Vá para a cozinha, Ellen. Eu digo que estou sozinho e que estamos fechados.
Corri para a cozinha, antes que quem quer que fosse me visse, e aguardei pacientemente. Alguns minutos depois, Dominic apareceu.
Levei um susto. Ele estava pálido como se tivesse visto um fantasma, e gaguejava.
-- Ele... Isso... Você...
-- Dom? Calma, criança! Você dispensou os clientes?
-- Não. - ele balançava a cabeça – Acho... Acho melhor atendê-los...
-- Mas...
-- V-v-você... Você tem que ver isso...
-- Isso o que?
Sem mais explicações, ele me arrastou para fora da cozinha. Quando chegamos na porta, ele disse baixinho em meu ouvido:
-- Não desmaie, não grite, e não morra.
Eu ia dizer “o que?”; mas nesse momento eu vi, e todas as perguntas se tornaram desnecessárias. Ali, sentados, ocupando uma das mesas grandes, estavam eles.
Na ponta esquerda, um homem alto, moreno, com cabelos curtos e óculos de grau. Ao seu lado, um homem um pouco mais baixo, de pele muito branca e com doces, inocentes olhos verdes. Na outra ponta, um homem loiro, forte, de olhos muito azuis. E, entre este e o de olhos verdes, estava ele.
Ele era o menor dos quatro, mas seu comportamento o fazia parecer maior do que todos. Sua presença preenchia todo o lugar. Ele tinha cabelos escuros e rebeldes, longos para um homem, pelo menos um homem da minha cidade. E tinha os olhos mais azuis e profundos que eu já vira. Eu jamais esqueceria aqueles olhos. Era ele. Bono.
Eu estava diante do U2.
Tudo começou a ficar escuro, achei que fosse desmaiar. Mas Dominic me beslicou de leve e disse:
-- Vai lá. Eles são seus.
Hesitante, tremendo, fui até a mesa. Eles voltaram suas atenções para mim, e eu murmurei, surpresa por ser capaz de falar:
-- B-b-boa... Noite. - eu era fluente em inglês, mas na hora tive a certeza de que soava como uma estudante de primário.
-- Boa noite, querida. - disse Bono, assumindo o papel de lider, e me jogando um estonteante sorriso – Nos desculpe por chegar tão tarde.
-- Oh, tudo bem, é uma honra pra mim, digo, pra nós, atender vocês... - Bono sorriu de novo, e eu senti que corava até a raiz dos cabelos – Vocês desejam alguma coisa?
Desejavam. Edge pediu um sanduíche completo, batatas fritas, e coca-cola. Adam queria dois cachorros-quentes, um hambúrguer, picles, guaraná e sorvete de chocolate. Larry se contentou com apenas uma pizza grande, refrigerante e batatas-fritas. Por último, Bono pediu um hambúrguer gigante, batatas-fritas, mini-pizza, coca-cola, torta de sorvete e bolo de morango.
É óbvio que demorou a sair, mas eles não tinham pressa. Eu e Dominic nos desdobramos na cozinha, e conseguimos preparar tudo. Eu os servi e ia voltar para o balcão, para deixá-los à vontade; mas Bono me chamou:
-- Por favor, meu anjo...
-- Sim?
-- Como você se chama?
-- Ahm... Ellen.
-- Ellen. Lindo nome para uma linda pessoa. - eu corei de novo – Você não gostaria de nos fazer companhia?
-- Q-que? Eu?
-- Isso, querida. - disse Edge – Junte-se a nós.
Quem era eu para protestar? Me sentei com eles, e de repente me vi cercada pela atenção dos quatro U2's.
-- Quantos anos você tem? - Adam perguntou.
-- Vinte.
-- Você mora aqui, Ellen? - perguntou Larry.
-- Moro, eu nasci aqui.
-- E nunca conheceu outros lugares?
-- Não. O máximo que eu já fiz foi ir até uma cidade vizinha.
-- Você mora com seus pais? - disse Edge.
-- Não, eu moro de aluguel. Tive que sair de casa porque já tinha gente demais lá.
-- E sua casa é perto daqui?
-- Mais ou menos, fica a meia hora a pé. Eu venho e volto andando todo dia.
O único que não perguntava nada era Bono. Comia o seu lanche em silêncio, mas atento a cada palavra nossa. Achei que era o momento de eu fazer as perguntas.
-- E vocês, o que fazem aqui? Digo, não tem nenhuma cidade grande aqui perto... Eu juro que nunca pensei que veria vocês nesse lugar, muito menos a essa hora.
-- Viemos visitar um amigo. - disse Adam – Ele mora em uma cidade perto daqui. Agora estamos indo pra Berlim.
-- Mas ainda são quase três horas até Berlim. Não é melhor ficarem em um hotel?
-- Nós pensamos nisso. - disse Larry – Mas não sabemos de nenhum hotel por aqui.
-- Tem um no centro da cidade. Mas... Acho que não é bom o suficiente para vocês...
Eles riram.
-- Querida – disse Edge – você não faz idéia dos logares em que já dormimos.
Eu ri.
-- Posso dar o endereço pra vocês, então. Não é difícil de achar.
Então, Bono falou:
-- Por que não nos leva até lá?
Achei que ia cair da cadeira.
-- L-levar vocês?
-- Isso. Vai nos poupar tempo. Mas é claro, se estiver ocupada...
Nesse momento Dominic surgiu do ar.
-- Vai lá, Ellen. Eu termino de arrumar aqui.
-- Posso mesmo?
-- Claro, boba. Vai lá.
Mais um dos muitos favores que eu devia a Dominic. E lá fui eu, guiando o U2 pela minha pequena cidade.

* * * * *

Larry dirigia. Bono ia ao seu lado, e eu estava entre Edge e Adam. Viemos todos conversando, como se eles fossem pessoas normais e não os integrantes da melhor banda de rock do mundo. Eu me sentia mergulhada em um sonho.
Para a minha tristeza, chegamos ao hotel. Eles pediram os quartos, e eu me vi tristemente despertando.
-- Bom, eu tenho que ir. - eu disse – Boa viagem pra vocês.
-- Obrigado, querida. - disse Edge – Você foi muito gentil com a gente.
Para meu deleite, recebi um caloroso abraço de Edge, Adam e Larry – caloroso demais, diga-se de passagem. Mas, quando fui abraçar Bono, ele disse:
-- Sua casa fica perto daqui?
-- Fica, ahm, uns quinze minutos andando...
-- Eu te levo.
-- Que?
-- Eu te levo de carro. Não é bom uma moça ficar andando sozinha à noite.
Eu ia dizer que não precisava, para ele não se incomodar; mas algo no jeito como ele me olhava me fez apenas murmurar:
-- Obrigada.
Ele sorriu. Pegou as chaves com Larry e disse para os outros:
-- Eu já volto.
Os outros sorriram. Adam sussurrou algo no ouvido de Bono que o fez rir alto. Então, nós voltamos para o carro.
Andar de carro com Bono como motorista era definitivamente emocionante. Mas, apesar da minha contínua sensação de que ele não tinha a menor idéia do que estava fazendo, nós conseguimos chegar à minha casa inteiros.
Quando o motor parou, o silêncio da noite invadiu meus ouvidos. Olhei para Bono, que me observava com um olhar penetrante. Ali estava eu, sozinha com o homem com quem sonhara a vida inteira, dentro de um carro, em uma rua deserta. E tinha que ir.
-- Eu... Ahm... Obrigada por me trazer até aqui.
-- Foi um prazer.
-- Bono...
-- Sim?
Eu não sabia o que dizer. Ele sorriu e tocou meus cabelos. Só então percebi que não o tocara ainda, e precisava consertar isso. Me aproximei mais e toquei em seus cabelos: eram tão macios quanto eu sonhara. Minhas mãos escorregaram para seu rosto, e eu senti sua pele quente, sua barba, seus lábios. Ele segurou minha mão e a beijou suavemente. Eu sabia que aquele era um momento importante, tinha que dizer alguma coisa.
-- Bono... Eu... Eu sonho com você desde os meus doze anos...
Ele riu. Deus, como eu amava aquele riso.
-- Quando você me conheceu?
-- Foi no show do Live 8. Desde que eu te vi naquele show, não teve um único dia da minha vida que eu não tenha sonhado com você.
-- E com o que você sonha?
-- Ah, com... Com tudo o que as fãs sonham...
-- E com o que as fãs sonham?
-- Ah, você sabe... Ver você, te abraçar, te tocar... Subir no palco com você, ganhar um beijo seu... Ganhar um autógrafo...
-- Hum... - ele riu – Vamos ver... Infelizmente não temos um palco aqui, mas quanto ao resto acho que podemos dar um jeito. Vejamos, abraço...
Com um sorriso, ele se inclinou para mim e me abraçou. Um abraço ainda mais caloroso do que os que eu tinha recebido dos outros. Quando ele me soltou, eu estava tonta.
-- Bem – disse ele – abraçar e tocar já foram. Ah, sim, o autógrafo...
Ele pegou um papel e uma caneta e escreveu algo, que me entregou. Eu li: “para minha querida Ellen, com amor, Bono”. Sorri.
-- Obrigada.
-- De nada. - ele sorria – Mas acho que ainda falta algo, deixe-me ver... Oh, sim... O beijo...
Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, Bono estava segurando meu rosto e me dando um suave beijo. Foi muito leve, mas o suficiente para que eu sentisse o calor dos seus lábios, e foi como se eu tivesse recebido um choque elétrico.
-- Shhh... - ele sussurrou em meu ouvido, enquanto acariciava meus cabelos – Você está tão tensa... Se acalme, meu anjo...
Toquei nos cabelos dele e beijei seu rosto. Bono se virou para mim, e nossos lábios se encontraram em um casto mas poderoso beijo.
Ele se afastou de mim, e eu permaneci ainda algum tempo de olhos fechados, gravando em minha mente a sensação de seus lábios contra os meus. Quando abri os olhos, ele estava sorrindo.
-- Realizei seus sonhos?
Abri a boca, mas descobri que era incapaz de falar. Fiz então a única coisa que podia fazer: o abracei e apoiei a cabeça em seu peito. Ele correspondeu ao abraço, e ficou acariciando meus cabelos.
-- Obrigada. - eu consegui dizer bem baixinho, e ele beijou minha cabeça.
Era hora de ir. Me afastei dele, com lágrimas nos olhos, e disse:
-- Acho... Que tenho que ir...
Ele não sorria mais, mas tinha uma expressão branda no rosto e um brilho intenso no olhar. E eu senti que ainda havia algo a ser feito.
-- Bono...
-- Sim?
-- Você... Você quer... Entrar?
Pronto. Estava dito. O que quer que ele pensasse de mim, eu não podia voltar atrás.
-- Você quer que eu entre?
-- Quero.
Um sorriso surgiu em seu rosto, mas era diferente dos outros: havia algo por trás dele, uma intensão, uma malícia. Entramos em casa, e eu disse, um pouco nervosa:
-- Você... Quer beber alguma coisa?
-- Você tem Guiness?
-- Tenho, sim. É a minha preferida. Sente-se, eu já trago.
Deixei ele na sala, e fui buscar a cerveja. Voltei logo, trazendo duas garrafas e dois copos. Nos servi e sentei ao lado dele, dizendo:
-- Quer ver tv?
-- Não. - ele tocou meu rosto – Quero ver você.
Não sei por quanto tempo ficamos conversando e bebendo. Chegou ao ponto em que ríamos como duas crianças.
-- Então, Ellen – ele disse – você e aquele rapaz sempre ficam até mais tarde na lanchonete?
-- Ah, não... Nós saímos com os outros, às onze. Mas hoje o movimento foi grande, então ficamos até mais tarde. Quando isso acontece, nós geralmente somos os únicos dispostos a fazer hora extra.
-- E aí ele volta com você?
-- Sim, ele sempre me acompanha até em casa.
-- Hum... Vocês estão juntos?
-- Juntos?
-- Juntos. Namorados. Amantes.
-- Oh, não... - fiquei um pouco sem jeito – Não... Eu e o Dominic somos só amigos.
-- E nunca rolou nada? Ele parece gostar de você.
-- Ele é meu melhor amigo. Mas nunca rolou nada.
-- Por quê? Ele não faz seu tipo?
-- Ele é gay.
-- Oh... Entendo. Ninguém é perfeito. Mas e você? - ele se inclinou para mim – Tem namorado?
-- Não. Já faz um tempo que estou sozinha.
-- Por quê? - ele chegou mais perto – Uma garota como você pode ter o homem que quiser.
Senti que estava ficando vermelha.
-- Não é bem assim. Eu namorei com uns caras legais, mas... Não era eles quem eu queria.
Ele estava agora muito perto de mim. Eu podia ver cada detalhe em sua pele, sentir o cheiro de seu perfume...
-- E quem você queria?
-- Você.
Bono tocou meu rosto.
-- Essa noite você pode ter tudo o que quiser.
Antes que eu pudesse sequer entender o que ele tinha dito, ele me abraçou e me beijou. Senti que perdia completamente as forças. Ele passou a língua por meus lábios, e eu os abri, lhe entregando minha boca.
O beijo, que antes era calmo, tornava-se selvagem conforme ele explorava minha boca. Escorreguei sobre o sofá, e ele se deitou sobre mim. Eu agarrei seus cabelos, e ele beijou meu pescoço, me arrancando suspiros. Mas então um fragmento de realidade se infiltrou em minha mente, e eu disse:
-- Pare!
Ele parou, bastante surpreso.
-- O que houve?
-- Eu... Eu não posso.
-- Por quê?
-- Eu... Você... Não é certo. Você é casado, tem duas filhas...
-- Isso não importa.
-- Claro que importa! A Ali... As meninas...
-- Eu as amo. - ele tocou meu rosto – Mas elas estão na Irlanda, e eu não as vejo já a um mês. Eu estou tão sozinho, Ellen... - ele beijou meu pescoço – Eu preciso tanto de você...
Aquilo era tortura. Murmurei:
-- Bono... Não...
-- Esqueça tudo, meu amor... - ele olhou em meus olhos – Nessa noite não existe mais nada, só você e eu, e o que nós dois desejamos. É a noite para realizarmos todos os nossos sonhos.
-- Os meus... Sonhos...
Deus, ele era tão persuasivo, tão sedutor. E eu era só uma mulher solitária, pouco mais que uma menina, que o amava e que ainda trazia consigo os sonhos adolescentes. No fundo, eu sempre soube que não tinha a menor chance de resistir.
Eu o abracei, me entregando a seus beijos.
Não sei por quanto tempo ficamos naquele sofá, perdidos nos braços um do outro. Por muito tempo só nos beijamos, beijos cada vez mais quentes, mas apenas beijos. Mas uma hora ele tentaria mais, e de fato aconteceu: eu mordi seu pescoço de leve, e ele gemeu, levando uma mão para meu seio. Eu suspirei, mas novamente uma parte da realidade surgiu na minha mente: eu estava prestes à me entregar àquele homem maravilhoso, e estava vestindo um uniforme de garçonete, tinha trabalhado o dia inteiro e cheirava a fritura. Não podia ser assim.
-- Espera! - eu disse, o afastando.
-- Algum problema?
-- Não assim! - eu me levantei – Eu preciso... Preciso tomar um banho, me arrumar...
-- E isso não vai demorar muito, vai?
-- N- não. Fique... Fique aí, eu já volto.
Corri para o quarto, joguei a roupa em um canto e entrei no banheiro. Depois escolheria uma roupa. Abri o chuveiro e deixei a água quente cair sobre mim.
Tentei organizar os pensamentos. Eu encontrara Bono, ele se interessara por mim e agora estava ali, na minha sala. Nós tinhamos trocado beijos apaixonados. Nós íamos fazer amor. Eu iria fazer amor com ele, e ele estava esperando por mim. Era tão louco. Eu sempre falara mal de mulheres que dormiam com homens casados, ou com homens bem mais velhos. E ali estava eu, prestes a fazer a mesma coisa. Mas aquele não era só um homem: era Bono. E ele nem era tão mais velho, só doze anos...
Quase dei um grito quando me virei e vi Bono ali, apoiado na parede, me engolindo com os olhos. Eu tinha deixado a porta aberta por costume, mas nunca imaginei que ele se aproveitaria disso.
-- Sabe – ele disse – acho que também preciso de um banho.
Eu assisti enquanto ele se despia, incapaz de me mover. Sua camisa foi para o chão, revelando seu peito forte, sua barriga. Eu passei a língua pelos lábios quando ele desafivelou o cinto e desabotoôu a calça, em seguida abrindo o zíper, bem lentamente. Deus do céu. Sua roupa estava no chão, e o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça foi que, afinal, a lenda de que ele não usava cueca era verdadeira. Que bela visão.
Ele entrou no chuveiro comigo. Estavamos tão perto agora, e eu me vi desprovida de toda a capacidade de raciocínio. Bono me puxou para si, e nos perdemos em beijos e carinhos.
Foi o melhor banho da minha vida. As mãos dele correndo por meu corpo, esfregando o sabonete em mim, me fizeram ver estrelas. E quando eu fiz o mesmo nele, o jeito como ele gemia me fez acompanhar seus ruídos – Deus, ele era capaz de fazer alguém ter um orgasmo apenas com sua voz.
-- Você tem camisinha?
Ops.
-- Não... Faz tanto tempo que...
Ele suspirou e balançou a cabeça.
-- Tsc. Menina má. Isso podia acabar com a nossa noite. - ele sorriu – A nossa sorte é que eu sou um rapaz precavido.
Saindo do chuveiro, ele foi até suas roupas e tirou, de dentro do bolso da calça, três camisinhas.
-- Você sempre anda com isso?
-- Claro. - ele deixou duas camisinhas na pia e voltou para o chuveiro – Nunca se sabe quando eu vou encontrar alguma linda garçonete em um posto de beira de estrada.
Eu ri. Ele me abraçou e beijou meu pescoço, enquanto tocava meu seio com uma das mãos. Logo, ele substituiu a mão pela boca. Eu agarrei seus cabelos quando sua mão foi para entre as minhas pernas.
-- Bono... Deus, Bono...
Era delicioso falar aquele nome, depois de tanto tempo tomando cuidado para não dizê-lo em vóz alta. E eu gritei alto quando Bono me pegou no colo e me fez colocar uma perna ao redor de sua cintura. Eu nem tinha visto ele colocar a camisinha. Ele devia ter umas quatro mãos, no mínimo.
Quando eu senti ele entrando em mim, achei que fosse desmaiar de prazer. Eu implorava por ele, agarrando os pêlos de seu peito, e ele se movia lentamente dentro de mim.
-- Você gosta disso?
-- Oh, sim...
Ele aumentou a força, e eu gemi alto.
-- Você acha grande?
-- Deus, sim... É enorme... Ah...
Bono deu uma risada rouca, os olhos brilhando de prazer e orgulho. Eu não tinha dito aquilo só pra agradar, e ele sabia disso. Era a primeira vez que eu via um tão grande, e o jeito como ele se encaixava em mim estava me deixando louca.
-- Ah... Ah, Deus... Bono, não pára... Não pára...
O ritmo dele era cada vez mais rápido e mais forte, e eu não pude mais me conter: agarrei seus cabelos e gritei alto, sentindo ele empurrar dentro de mim com tanta força que chegava a doer – não que eu reclamasse.
Desabei sobre ele, apoiando a cabeça em seu ombro, e deixando que ele me amparasse. Tinha apenas uma leve consciência de ele ainda se movendo dentro de mim, e fiquei apenas esperando que ele terminasse.
Para a minha surpresa, ele saiu de mim sem ter terminado. Levantei a cabeça, confusa, e disse:
-- O que houve?
-- Espere. - ele murmurou com dificuldade, a respiração tão rápida que quase o impedia de falar.
Esperei até que ele tivesse recuperado o controle, o que demorou algum tempo. Por duas vezes um tremor passou por seu corpo, e tive a certeza de que ele não conseguiria. Mas ele conseguiu se controlar, e sua respiração se regularizou.
-- Por que você não...
-- A noite é longa, querida. - ele fechou o chuveiro – E ainda é cedo. Vamos para o quarto.
Fomos para o quarto. Bono tirara a camisinha, e se deitou ao meu lado na cama, me abraçando. Eu passei a mão por seu rosto, por seu peito, saboreando a presença daquele homem incrível.
-- Eu mal posso acreditar que você está aqui, comigo... - eu estava emocionada – Me diz que não é um sonho...
Ele sorriu, afastando uma lágrima que caíra pelo canto do meu olho.
-- Isso é real, Ellen. Eu estou aqui. - ele colocou minha mão sobre seu coração – Sinta.
-- Bono... - eu o beijei – Eu te amo, te amo mais do que tudo, eu daria minha vida pra você...
Deitei em seu peito, ouvindo as batidas fortes de seu coração.
-- Você é uma garota especial. Me sinto honrado por ter o seu amor.
Eu beijei os mamilos dele, mordendo de leve, e ele gemeu. Beijei seu pescoço, e então disse:
-- Eu quero chupar você.
Ele abriu um enorme sorriso.
-- À vontade, querida.
Comecei a beijar o corpo dele, descendo lentamente, e fiz o que tinha dito. Bono amava aquilo, e eu amava as coisas absurdas que ele falava. Mas, de repente, ele saiu da minha boca, dizendo:
-- Pare! Espere, espere!
Parei.
-- O que foi?
-- Eu quero entrar em você de novo.
Já que ele queria tanto... Ele colocou outra camisinha, subiu em mim, e logo estava dentro de mim novamente. Mas, ao contrário do que eu imaginara, aquilo se estendeu por muito tempo. Ele se movia bem devagar, e eu amava isso. Amava tudo o que ele fazia.
Ele segurou meus quadris em um ângulo diferente e empurrou fundo dentro de mim. Eu gritei; nunca tinha sido penetrada tão profundamente. E Bono parecia saber disso, porque disse:
-- Você gosta disso assim?
-- Oh... Sim...
-- Eu não te machuco?
-- Não, é... É incrível... Deus, Bono, mais...
Bono me atendeu, mantendo o ritmo forte dos quadris, a penetração muito profunda. Eu mordi os lábios, sentindo que estava prestes a ir de novo. E ele também sentia.
-- Isso, querida... Oh, céus... Eu amo isso, amo estar dentro de você... Sua boca é maravilhosa, mas aqui embaixo é... É divino... Ohhh... Aaaah...
Com aquela voz maravilhosamente rouca, dizendo aquelas coisas, eu poderia ter um orgasmo só de ouví-lo. Com ele se movendo daquela forma, me tocando daquele jeito, só havia um final possível para mim.
Eu me agarrei a ele, arranhando suas costas, e tive o maior orgasmo da minha vida.
Só me lembro de depois abrir os olhos lentamente, com a leve sensação de estar voltando a mim. Bono ainda se movia de forma selvagem. Deus, ele não se cansava nunca? Mas assim que pensei isso, ele disse:
-- Oh... Eu... Eu estou perto...
E ele estava, estava muito perto, bastava olhar para seu rosto para perceber isso. Sua expressão era de alguém que estava recebendo um prazer extremo, insuportável. Ele não aguentaria nem mais um segundo.
A mais bela visão da minha vida. Bono gritando, os olhos semi-abertos, o suor brilhando em sua pele, os cabelos grudados ao rosto como rios negros.
Em seguida o silêncio, quebrado apenas pela respiração ainda forte de Bono. Ele estava caído sobre mim, totalmente inerte, e não havia nada melhor do que sentir o peso dele sobre meu corpo.
Quando ele se recuperou, deslizou para o lado, passou um braço ao meu redor e disse:
-- Você gostou?
-- Sim. - eu apoiei a cabeça em seu peito – Foi a melhor noite da minha vida.
-- Também foi especial para mim. - ele beijou minha cabeça – Obrigado por isso.
Eu o abracei, e logo nós dois dormiamos.

* * * * *

Não sei que horas eram quando acordei, mas o sol já estava alto. Bono não estava ao meu lado. Sentei na cama, um pouco confusa. Será que tinha sido um sonho?
Nessa hora a porta do banheiro se abriu, e Bono apareceu. Estava vestido, e a camisa estava aberta, revelando seu peito, aqueles pêlos que eu tinha agarrado com tanto desespero na noite anterior.
-- Bom dia, querida. - ele disse, vindo em minha direção – Já acordou?
-- Já está tarde pra mim. - segurei a mão dele – Você ia embora sem se despedir?
-- Claro que não. - ele beijou meu rosto – Eu jamais faria isso.
Um dia abro um curso chamado “Como Saber se um Homem está Mentindo”. Tenho certeza de que, se eu não tivesse acordado, ele teria ido embora me deixando apenas um bilhete.
Levantei-me, sonolenta, e fui andando para o banheiro. Mal registrei o fato de que estava nua, mas Bono o registrou, e veio atrás de mim. Eu ri quando ele me abraçou, e disse:
-- Não, Bono... Eu tenho que me lavar...
-- Sim... Eu quero, querida, e quero agora...
Adorei ver ele se impôr daquele jeito. Nos beijamos, e logo ele me empurrou para baixo, me fazendo ficar de joelhos. Ele apenas abriu o zíper da calça, e eu fiz o resto. Em dez minutos, o gosto dele estava em minha boca, e pela primeira vez na vida eu fiquei feliz em sentir aquilo.
-- Posso me arrumar agora?
Ele apenas fez que sim com a cabeça, incapaz de falar qualquer coisa. Eu fui tomar banho, e quando saí, Bono não estava no quarto. Me vesti e fui para a sala, onde ele estava sentado no sofá, lendo o jornal. Passei os braços ao redor de seu pescoço e beijei seu rosto, e ele sorriu. Eu disse:
-- Vamos tomar café da manhã?
-- Vamos. - ele pôs o jornal de lado – Estou morrendo de fome.
Tomamos café juntos, e ele realmente estava com muita fome. Depois que terminamos, eu pedi para que ele ficasse ainda algum tempo, mas ele disse que tinha que ir.
-- Sinto muito, querida. - ele me abraçou pela cintura – Os outros devem estar me esperando. Temos compromissos em Berlim, e amanhã tenho uma reunião em Roma.
-- Tudo bem... Eu nunca vou esquecer isso, Bono. Foram os melhores momentos da minha vida, e eu nunca vou encontrar um amante como você.
Quase pude ver o orgulho transbordando dele e caindo no tapete.
-- Também foi uma noite incrível para mim. Poucas vezes eu gostei tando de fazer amor com alguém quanto gostei com você. Eu prometo que nunca vou te esquecer. - ele me beijou – Ellen.
-- Eu te amo.
Trocamos um longo beijo de despedida. Quando ele foi embora, fiquei assistindo da porta até que seu carro sumisse, me perguntando quanto tempo iria demorar para ele esquecer meu nome.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

[conto #011] Espíritos dos Natais Passados


ESPÍRITOS DOS NATAIS PASSADOS

1958:
Como se já não bastasse a neve, o frio, e os desprazeres de andar de moto sob uma nevasca, tinha que dar problema no motor. Era claro, Willian pensou, se fosse qualquer outro que estivesse com a moto, aquilo não teria acontecido. Mas com ele, se algo podia dar errado, então com certeza iria dar errado.
Ele desistiu de consertar o motor. Estava muito frio, e suas mãos estavam congelando. Ele foi arrastando a moto pelo acostamento, até parar num estacionamento. Apesar de já serem dez horas, todas as lojas estavam abertas e havia muita gente na rua. Claro, era véspera de Natal; todos estavam felizes fazendo compras, e logo estariam em suas casas com as famílias cantando alegremente. Só ele, Willian, não tinha ninguém.
Não havia condições de arrastar a moto até sua casa. A solução era procurar um lugar seguro para deixá-la até o dia seguinte, e ir embora de táxi. Ele olhou em volta; havia uma loja que ficava junto a uma casa, logo adiante, e que tinha uma garagem. Ele foi até lá, conversar com o dono, e ver se não teria problema deixar a moto ali. Afinal, era Natal: as pessoas costumavam ajudar umas as outras nessa época.
Era uma loja de flores. Ele entrou, e um sininho tocou quando abriu a porta. Era um lugar muito bonito, mas ele achou “fofo” demais, com as flores e os enfeites de madeira e ursinhos de pelúcia e um monte de coisas inúteis mas bonitinhas. Não era o estilo dele, definitivamente.
Quando ele entrou, não havia ninguém. Ele ficou olhando os arranjos de flores, esperando para ver se alguém apareceria. Depois de alguns instantes, ouviu passos que se aproximavam, e uma vozinha disse:
-- Olá, bem vindo, desculpe a demora...
Ele se virou para a pessoa que falara, certo que se tratava de uma criança. Mas não era uma criança, embora não fosse uma adulta. Era uma garotinha de uns catorze ou quinze anos, com um vestido curto – apesar do frio – vermelho, de natal, todo rendado e enfeitado. Era pequena, com longos cabelos dourados que caíam em grandes cachos pelos ombros, e ar infantil.
-- Ahm... - ele disse – Eu... Eu estou... Minha moto quebrou, e... Eu queria saber se não poderia deixá-la na garagem ao lado, até amanhã, porque moro longe e não tenho como consertá-la...
-- Claro! Digo, tenho que pedir pro papai... Mas ele vai deixar, tenho certeza! Você quer biscoitinho?
-- Que?
-- Biscoitinho! - ela pegou um pote de biscoitos e estendeu pra ele – Eu que fiz! É de nata!
-- Ah... Obrigado...
-- Qual o seu nome?
-- Willian Hawseen.
-- Meu nome é Bianca Ksysthirryaen! Mas como o sobrenome é estranho, pode me chamar só de Bianca! Muito prazer, senhor Hawseen!
-- Muito prazer... Bianca.
Ela tinha olhos como os de um bebê, curiosos e castanhos. Havia um pote de mel no balcão, e a cor do mel era exatamente igual à cor dos olhos dela.
-- O senhor estava fazendo as compras de Natal quando sua moto quebrou?
-- Sim... Digo, não, eu... Eu estava trabalhando.
-- O senhor trabalha em que?
-- Eu sou entregador, vim trazer uma encomenda.
-- E agora o senhor vai passar o Natal onde?
-- Na minha casa.
-- O senhor...
-- Não. - ele interrompeu – Não precisa me chamar de senhor.
-- Ah, é que o senhor é mais velho... - ela riu, e ele ficou tentando entender do que ela ria – Então tá! Você é casado? Vai passar o Natal com sua esposa?
-- Não, eu... Eu não sou casado.
-- Então, vai passar com seus pais?
-- Meus pais moram muito longe. Faz anos que não os vejo.
-- Ah, tadinho... Vai ficar com quem, então?
-- Com ninguém. Devo ir pra um desses bares de pessoas solitárias que têm por aí.
-- Você não tem ninguém?
-- Não. Digo, tenho amigos, mas eles estão com as famílias deles. Eu não tenho ninguém pra mim.
-- Ah... - ela segurou a mão dele – Tadinho...
Por um momento, quando ela tocou na mão dele, ele teve a nítida impressão de que o mundo estava rodando um pouco mais rápido do que de costume. Mas nessa hora um homem mais velho apareceu, vindo dos fundos da loja.
-- Papai! - ela disse, soltando a mão dele e se virando para o homem – Esse moço se chama Willian Hawseen e está com a moto quebrada, e perguntou se pode deixar a moto na garagem de casa até amanhã!
O homem olhou para Willian, analisando-o.
-- Claro, por que não? O senhor estava fazendo compras de Natal?
Antes que Willian pudesse abrir a boca, Bianca falou:
-- Não, ele estava trabalhando, ele é entregador, e veio aqui trazer uma encomenda, mas aí a moto dele quebrou, e ele vai voltar pra casa e...
-- Bianca – disse o homem – eu perguntei pra ele.
-- Ah, foi mal...
-- Desculpe a minha filha, senhor Hawseen. Ela não tem muito juízo.
-- Não, não, tudo bem... É uma garota adorável. Foi muito gentil comigo.
-- Imagino. Ela é um doce.
Bianca deu um risinho.
-- Ah, gente, que é isso...
-- Mas então, o senhor quer deixar a moto aqui e vir pegar ela amanhã?
-- Se não for incômodo, senhor...
-- Pode me chamar de Dom. Não é meu nome mas todos me chamam assim, de qualquer forma. É claro que não vai ser incômodo, a garagem está vazia... Mas não vai ser ruim pra você? Amanhã é Natal, deve querer ficar com sua família. Pode vir pegá-la depois de amanhã, se quiser.
-- Ah, eu não tenho família. Não é problema pra mim, vou ficar à toa em casa, mesmo.
-- Olha, papai, ele vai passar o natal sozinho! Que triste!
-- Nem todas as pessoas têm família, Bianca.
-- Então, por que não chama ele pra passar o Natal com a gente?
Por um segundo, os dois ficaram olhando para ela, atônitos.
-- Não, obrigado. - disse Willian, poupando o outro de ser obrigado a convidá-lo – Eu gosto de ir a um bar nessa época, há muitas pessoas como eu por aí.
-- Bem, ela gostou de você. - disse Dom – Se quiser, pode vir amanhã almoçar com a gente. Somos só eu, minha esposa e Bianca. Será divertido ter mais alguém conosco.
-- Eu realmente agradeço, mas não posso aceitar. Venho amanhã de manhã pegar minha moto, e tenho que estar com ela pronta depois de amanhã.
-- Bem, o convite está feito. Se mudar de idéia...
-- Obrigado.

* * * * *

Willian achou que seria deselegante aparecer muito cedo para buscar sua moto, embora tivesse certa pressa em consertá-la; por isso, só apareceu na casa da floricultura por volta das nove e meia.
-- Oi, Willian! - disse Bianca, abrindo a porta para ele – Feliz Natal!
-- Bom dia, feliz Natal.
-- Entra, entra! - ela o puxou pela mão para dentro da casa – Fique à vontade! Quer tomar café? Eu que fiz!
-- Muito obrigado, mas eu já comi. Só vim para pegar minha moto.
-- Tá bom... - ela parecia um pouco decepcionada – Vem, ela tá aqui atrás...
-- Seus pais estão?
-- Eles foram para a casa da minha tia na rua ao lado, mas disseram para você ficar à vontade!
Ela o levou até a garagem, onde a moto estava. Willian foi até ela e deu uma olhada geral.
-- Talvez eu possa fazer ela pegar, pra pelo menos chegar em casa com ela.
-- Willian...
-- Sim?
Como ela não disse mais nada, ele olhou para ela, interrogativamente. Surpreendeu-se ao perceber um ar triste naqueles olhos de mel.
-- O que foi?
-- Você não quer ficar pra almoçar?
-- Muito obrigado, mas eu não posso. - ele voltou a examinar o motor – Tenho que consertar isso, vou trabalhar amanhã cedo.
-- Você não gostou de mim?
Ele parou de mexer no motor e olhou para ela.
-- Do que está falando?
-- Você não gosta de mim?
-- Eu... Ora, Bianca... - ele riu, sem jeito – Por que eu não gostaria de você?
-- Eu gosto de você. - ela parecia ainda mais triste – Você é muito bonitinho.
Willian não pôde deixar de rir, e se levantou. Fazia no mínimo vinte anos que ninguém dizia que ele era “bonitinho”.
-- Obrigado. Você também é uma menina muito bonita.
-- Só isso?
-- E o que mais você quer?
-- Não sei. - ela baixou a cabeça – Ontem, quando você estava na floricultura, você pareceu ter me achado mais do que “uma menina bonita”.
-- Certo. Você é mais do que isso. É linda. É a garota mais bonita que eu já vi na minha vida, e juro que ontem, enquanto estive com você, foi como se tivesse entrado em algum mundo estranho que eu não conhecia. Chego a ficar tonto quando estou perto de você, é como se de repente eu voltasse a ser um adolescente de dezesseis anos que está se apaixonando pela primeira vez. Chego a ter medo de olhar para você.
Dessa vez, quem pareceu surpresa foi ela. Não esperava que ele falasse dessa forma. 
-- Nossa... - ela ficou vermelha – Obrigada.
-- Só estou dizendo a verdade. - ele se aproximou dela – Há tempos nenhuma garota me deixa como você me deixou.
Ele tocou no rosto dela, mas ela se afastou, parecendo um bichinho assustado.
-- Qual o problema?
-- Nada... - ela não olhava para ele – É que você falando assim me deixa com vergonha...
-- Você não tem que ter vergonha do que você é.
Novamente ele se aproximou, e tentou beijá-la. Ela virou o rosto no último instante.
-- Não.
-- Deixa...
-- Pára.
-- Eu achei que você quisesse.
-- Eu não disse isso.
-- Mas deu a entender. Não disse que gostou de mim?
-- Mas eu não preciso te beijar só por causa disso.
Com um suspiro, ele se afastou. Voltou a examinar a moto, ignorando Bianca. Ela se apoiou na parede, e ficou um tempo em silêncio. Então disse, subitamente: 
-- Você é mau.
Ele parou de mexer na moto, mas não olhou para ela. 
-- O que você quer? Fica se insinuando pra mim, depois foge, e agora age como se a culpa fosse minha.
-- Eu não fugi de você.
-- Eu tentei te beijar, e você não quis.
-- Eu deixo você me beijar. - ele olhou para ela – Mas só se você disser que casa comigo.
-- O que?
-- Se você casar comigo, eu te beijo.
-- Por favor. - ele se levantou novamente, olhando para ela – Esse negócio de só beijar depois do casamento é coisa do século passado.
-- Não estou dizendo que só vou te beijar depois do casamento. Disse que vou te beijar se você jurar casar comigo.
-- Não me diga que nunca beijou ninguém.
-- Uns três ou quatro.
-- E todos eles disseram que iam casar com você?
-- Não. Mas eu não amava nenhum deles do jeito que amei você quando te conheci.
Dessa vez, o silêncio durou um pouco mais.
-- Você nem me conhece.
-- Você também não me conhece. Mas você me ama.
-- Por que acha que eu te amo? Só por que eu disse que você é bonita?
-- Não. Porque eu sei. - ela sorriu – Uma vez eu sonhei com alguém com os olhos iguais aos seus.
-- Sonhou?
-- É. E eu acho que a gente vai casar, vamos ter um filhinho e vamos ser muito felizes.
-- Por que você acha isso?
-- Porque é o que eu gostaria que acontecesse.
-- Quantos anos você tem?
-- Quinze.
-- Eu tenho vinte e seis. Seus pais nunca iam deixar a gente se casar. Talvez não deixassem nem mesmo nós namorarmos agora.
-- E se deixassem?
Ao invés de responder, ele voltou a mexer na moto, e disse, após um tempo:
-- Está pronto. Acho que consigo ligar.
Ele deu partida, e a moto ligou. Fez isso algumas vezes, para ter certeza de que estava tudo certo, e então a desligou.
-- Está funcionando. Acho que consigo chegar em casa.
-- Que bom.
Por um momento, os dois ficaram parados, em silêncio. Então, ele se aproximou dela e tocou em seu rosto.
-- Casa comigo?
-- Sim.
E eles se beijaram pela primeira vez.


SOBRE A HISTÓRIA

Este conto originalmente faz parte de uma série que estou escrevendo para minha irmã, sendo um capítulo especial desta. Por causa do motivo pelo qual foi escrito, ele é totalmente sem pretensões. A personagem feminina do conto tem uma personalidade muito próxima à minha quando eu tinha quinze anos. 

terça-feira, 12 de maio de 2009

[conto #010] Breve Visão

BREVE VISÃO

Ela está parada no ponto, esperando o ônibus. São quatro horas da tarde. Às quatro e quinze, ela deve estar no consultório do médico. O ônibus vai demorar trinta minutos do ponto até o consultório. Há algo errado nisso.
O calor é insuportável, e ela olha saudosa para a barraquinha de água de coco. Se comprar uma, pode não dar tempo de beber antes do ônibus chegar; se não comprar, vai morrer de sede antes de chegar no médico. Se comprar, não vai ter dinheiro para comer depois, caso fique com fome; se não comprar, vai ter que beber água no bebedouro do terminal...
Perdida nesse dilema, ela demora para perceber o homem. Ele já devia estar ali há uns cinco minutos quando ela o vê. Deve ter uns setenta, setenta e poucos anos; está parado, perto dela, olhando fixamente para ela. Quando o vê, ela desvia o olhar, finge que não o viu. A última coisa que precisa é ganhar uma cantada de um velho no meio da rua.
Quando volta a olhar - talvez ele já tenha ido - ele está bem mais perto dela. Continua se aproximando; ela dá um passo para trás, mas ele toca em seu braço e diz:
-- Você é tão bonita... - ela pensa em como lhe dar um fora de forma educada, mas ele continua - Você se parece com a minha neta.
Isso não parece uma cantada. O velho olha para ela como se estivesse tendo uma visão mística. Ela quer dizer alguma coisa interessante:
-- Ah é?
Isso não foi interessante. O velho continua olhando fixo para ela, e aquilo a constrange. Ok, vovô, eu pareço a sua neta, não precisa ficar aí olhando pra mim assim. E então ele diz, mais para si mesmo do que para ela:
-- Ela morreu há três anos...
Ótimo. Agora, a vontade dela é sair correndo. O homem está vendo nela a imagem da neta morta. Muito bem. Onde está o maldito ônibus?
-- Ela era muito bonita. - o velho continua murmurando, e sorri - Você é idêntica a ela.
Ela sorri de volta. O que dizer numa hora como essa? O velho tem os olhos vermelhos, parece prestes a chorar. Continua murmurando:
-- Você é muito bonita... Muito parecida...
-- Obrigada. - ela diz, sem saber se era isso o que devia dizer. O velho sorri e finalmente a solta.
-- Ela era tão bonita... - ele sai, murmurando pela rua - Minha neta... Tão parecida...
O ônibus chega.


SOBRE A HISTÓRIA

Como algumas pessoas perceberam, esse conto foi baseado em uma situação real pela qual eu passei. As coisas aconteceram basicamente como foram escritas, e tudo o que posso dizer é que foi profundamente perturbador.