CAPÍTULO 6
Aquilo era tão surreal. A preparação para o show era uma verdadeira loucura. E eles nem ensaiavam: iam para o estádio, conversavam com os técnicos, tocavam alguns segundos para checar o som. Edge ficava andando pelo palco enquanto tocava, para conhecer o território. Já Bono não andava: ele corria, pulava, ia de um lado para o outro como se fosse maluco. Eu ficava assistindo, boquiaberta, e pensava em quantos homens da idade dele teriam tanto fôlego, tanta energia.
Quando acabava o trabalho, íamos todos para o hotel. Aqueles quatro, juntos, pareciam crianças. Brincavam, implicavam uns com os outros, falavam besteiras. Eu ria até chorar ouvindo as conversas absurdas deles.
Veio a noite do primeiro show. Foi incrível. Eu fiquei na área vip, cercada de celebridades orientais. Ver o Bono cantando ali, tão perto de mim... Saí dali me sentindo nas nuvens. Comemoramos depois do show em uma boate, na qual aceitei ir depois dos argumentos muito persuasivos dos quatro, e dali fomos todos para o hotel, onde fizemos uma verdadeira festa no quarto do Adam.
O show do dia seguinte não foi tão empolgante. Ou melhor, foi tão bom quanto o primeiro, mas não senti a mesma emoção. Ficar numa área exclusiva, sentada confortavelmente, não era o que eu queria.
-- Você quer ficar no meio do público? - disse Bono, surpreso com o meu pedido.
-- Isso. Quero ver vocês de perto, participar daquilo. Quero sentir o que os outros fãs sentem.
-- Bom, acho que tudo bem. Mas você vai ter que agüentar gente te empurrando, gritando do seu lado...
-- Ótimo.
* * * * *
No último show eu estava ali, na beira do palco. Havia milhares de pessoas ao meu redor, gritando, cantando. Bono passava toda hora na minha frente, e às vezes olhava para mim; eu morria de inveja quando outra menina tocava nele, ou quando ele dava a mão para alguém. Por algum motivo, ele evitava fazer o mesmo comigo.
Ele tinha começado a cantar With or Without You, e eu estava parada, em transe, olhando. Ele parou perto de onde eu estava e se abaixou, segurando a mão dos fãs, que deliravam. Então, ele olhou para mim. Sorriu, e eu sorri de volta. Estendeu a mão, e eu o toquei. Achei que ele ia me soltar, mas ele não o fez. Senti ele me puxar, e fui indo, sem tirar os olhos dos dele. As pessoas abriam caminho para mim, e um segurança me ajudou a me levantar. Quando dei por mim, estava no palco.
Por meio segundo eu fiquei sem ação, olhando admirada para ele. Então estendi os braços e o abracei, como toda fã sonharia em fazer. Ele me segurava contra si e cantava lindamente. Eu fiz a tolice de olhar para os lados, e vi cem mil pessoas olhando fixamente para nós. Fechei os olhos e escondi o rosto em seu peito, me agarrando a ele.
-- Bono...
Só quando disse isso eu senti que era realmente Bono quem estava ali. Não era como meu primo tinha dito: Bono era real, todo o sonho, toda a fantasia, estava ali de verdade na minha frente. Eu olhei em seus olhos e comecei a cantar com ele, nós dois dançando abraçados no palco.
Quando a música acabou, ele tocou meu rosto e beijou minha testa, e achei que ele ia me mandar de volta para a platéia. Mas Bono me abraçou pelos ombros e foi andando comigo pela passarela, em direção ao palco principal. Ele disse algo para Edge, que disse para Adam, que passou para Larry. E, a um sinal de Bono, eles começaram a tocar All I Want is You.
Eu senti meu coração acelerar, meus olhos se encheram de lágrimas. Bono me apertou contra ele, e nós dançamos suavemente enquanto ele cantava. Ele beijou minha mão e se ajoelhou, como um príncipe; eu fiquei passando as mãos por seus cabelos molhados de suor.
No fim da música, ele se levantou e tocou meu rosto. Fomos nos aproximando, devagar. Ele aproximou os lábios dos meus, e achei que fosse me dar um selinho, como costuma fazer com as fãs que leva para o palco.
Mas não. Seus lábios tocaram os meus, a princípio de leve, mas então aquilo se transformou em um beijo de verdade. De repente, não havia mais milhares de pessoas ali. De repente, só existíamos nós dois no mundo.
Quando ele me soltou, eu achei que não ia conseguir ficar de pé. Vi Edge sorrindo para nós, Adam rindo e Larry com um olhar que dizia “vocês são loucos, não me metam nisso”. E vi milhares de garotas desejando estar no meu lugar.
Fomos andando em direção ao lugar em que eu estava antes. Todas aquelas luzes, todo aquele som, me davam a impressão de estar dentro de um sonho. Bono murmurou em meu ouvido:
-- Depois do show, vou estar te esperando no meu camarim.
Senti o coração acelerar ainda mais, se é que era possível. Ele me desceu do palco, e quando eu já estava lá embaixo me mandou um último beijo, um aceno de despedida. E o show prosseguiu.
* * * * *
Bati na porta, sentindo o coração querendo sair pela boca. Eu ainda sentia a vibração do show no meu corpo, sentia o gosto de Bono em minha boca e o cheiro de seu perfume. Para a minha surpresa, quem abriu a porta foi Larry.
-- Bebê! - ele me puxou para dentro do camarim – E aí, gostou do show?
-- Claro! Foi ótimo, perfeito!
Ele riu.
-- Acho que nem preciso perguntar de qual parte você gostou mais, não é?
Fiquei vermelha, e ri. Nessa hora vi Bono, junto de Adam e Edge, rindo às gargalhadas. Me senti um pouco decepcionada: então, Bono só me chamara para uma festa com os outros, e não para uma comemoração a dois como eu tinha imaginado.
Bono me viu, e me chamou. Fui quase correndo para junto dele, e o abracei. De canto de olho, vi Adam e Edge trocarem um olhar e começarem a se afastar, não sem antes darem uma boa olhada em mim. Edge disse, já na porta:
-- Nós vamos estar esperando vocês no carro, ok?
-- Falou. - disse Bono, com um sorriso – Nós já vamos.
Eles saíram. Fiquei sozinha com o Bono.
-- Bono... Eu... Aquilo...
-- Você gostou?
-- Eu... Eu...
Lágrimas saíram dos meus olhos, e escondi o rosto em seu peito, chorando. Bono me abraçou, preocupado.
-- O que foi, querida? Você não se sente bem? Não gostou do que eu fiz, é isso? Diga alguma coisa, por favor...
Eu era incapaz de falar, então o agarrei e o beijei com desespero. Ele correspondeu, um pouco surpreso de início; eu beijei seu pescoço e agarrei seus cabelos, e logo minhas mãos tentavam arrancar sua camisa. Ele sorriu, e sussurrou:
-- Calma, querida... Vamos esperar um pouco...
-- Não posso! - eu o empurrei contra a parede – Não posso, Bono, não consigo esperar mais!
Passei a mão na calça dele, e ele suspirou. Me jogou no sofá e subiu em cima de mim, me beijando. Pegou o celular, dizendo:
-- Vou ligar para o Paul e dizer para irem sem a gente.
Parei.
-- Espera!
-- O que foi?
-- Eu... Não quero que os outros saibam.
-- Bem, querida, acho que, se nós não aparecermos em vinte minutos, eles vão acabar deduzindo.
-- Então... É melhor deixarmos pra depois.
Ele ficou indignado.
-- Então pra que me instigou desse jeito?
O tom dele fez meus olhos se encherem de lágrimas, e ele disse depressa:
-- Digo, eu não quis dizer... É claro, eu entendo sua preocupação, vai ser como você quiser...
Me acalmei, e alguns segundo depois estávamos nos juntando aos outros. Fomos eu, Bono, Larry, Edge, Adam e Paul Macguiness, em uma limusine, para um bar famoso, comemorar.
Acabei entrando no clima da comemoração, e bebi mais do que de costume. Chegou uma hora em que eu estava rindo e falando sem parar. Nessa hora, Bono me puxou para um canto e disse:
-- Vamos fugir?
-- O que?
-- Fugir. - ele sorria – Saímos pelo fundo, e eu te mostro a melhor parte de Tóquio.
Era loucura.
-- Vamos lá.
Nós aproveitamos que os outros estavam distraídos. Edge nos ajudou. E nós saímos pelos fundos, para o mundo maravilhoso de Tóquio.
* * * * *
-- Ah, Bono, isso foi ótimo...
-- Eu sabia que você ia amar, querida.
Ele trancou a porta. Estávamos na suíte dele. Já eram cinco horas da manhã, e nós tínhamos passado pelos lugares mais loucos de Tóquio.
-- Ai, acho que estou bêbada...
-- Isso é ótimo, porque eu também estou! - ele se jogou no sofá e desabotoou a camisa – E ainda agüento mais umas três noites como essa!
Me deitei em seu colo, e ele ficou mexendo no meu cabelo.
-- Estou cansada.
-- Quer tomar um banho?
-- Mas minhas roupas ficaram no meu quarto.
-- Pra que roupa? - eu o olhei assustada, e ele riu – Ok, eu te empresto uma camisa. É mais do que suficiente.
Acabei aceitando. Tomei banho e vesti uma camisa de Bono, que cobria o necessário. Fiquei deitada na cama, vendo tv, enquanto ele tomava seu banho.
Quando ele voltou, estava passando o clipe de One na tv. Bono balançou a cabeça e disse:
-- Ah, não, justo esse?
Eu ri.
-- Você fica uma gracinha vestido de mulher.
-- Eu sou lindo de qualquer jeito. - ele se sentou ao meu lado – Mas esse negócio de ficar duas horas se maquiando não é muito a minha.
-- De quem foi a idéia?
-- Sei lá, a gente devia estar bêbado... Olha lá, o Edge está igualzinho à irmã dele...
E estava mesmo. Quando o clipe acabou, Bono desligou a tv e se aproximou de mim. Desviei o olhar, tímida, mas ele levantou meu rosto e me beijou. Disse:
-- Você ainda é virgem?
-- Sim.
-- E você quer isso?
-- Quero.
Nos beijamos de novo, e me deixei levar. Não estava tão nervosa quanto achei que ficaria. E ele era muito carinhoso, fez de tudo para que eu me sentisse bem. Mas confesso que, quando o vi sem roupa, fiquei um pouco assustada.
-- Vem cá, meu anjo...
-- Espera... Bono... Eu...
-- Shhh... Calma. - ele sorriu – Eu juro que não vou te machucar. Você confia em mim?
-- Confio...
-- Então, não precisa ter medo. Eu não vou fazer nada que te assuste.
-- Promete?
-- Prometo.
No mais, tudo correu tranquilamente. O sol já nascera quando nós terminamos. Fiquei olhando para Bono, que acariciava meu rosto, e sorri. Ele disse:
-- Você gostou disso?
-- Sim.
-- Doeu?
-- Um pouco. Mas já passou.
Ele sorriu e me abraçou. Deitei em seu peito, e dormimos assim, nos braços um do outro.
* * * * *
Eu demorei para acreditar que aquilo tudo tinha realmente acontecido. Acordar ao lado do Bono, ainda mais com ele nu, era tão surreal. Nós tomamos café no quarto – café da tarde, pois já eram cinco horas – e depois descemos para o bar do hotel, onde estavam Edge, Adam e Larry. O olhar que eles lançaram para nós me fez corar.
-- E aí? - disse Adam – Dormiram bem?
-- Muito bem. - disse Bono, se sentando junto a eles.
Sentei entre Bono e Edge, que me olhava com um sorrisinho malicioso. Larry disse:
-- Bono, posso falar com você um minuto?
-- Fala.
-- Lá fora, Bono.
-- Ah, tá... Ok, vamos.
Eles saíram. Mal passaram pela porta, e Edge veio para cima de mim.
-- Você está tão bonita, hoje...
-- Obrigada.
-- Acho que o clima oriental te fez bem.
-- É, acho que sim.
-- O Bono te mostrou tudo, ontem?
-- Que?
-- A cidade. Ele te mostrou?
-- Ah... Mostrou...
-- E você achou bonita?
-- É, muito...
Ele chegou mais perto.
-- Ele te mostrou os melhores lugares?
-- Mostrou...
-- E você achou grande?
Corei. Que tipo de conversa era aquela?
-- É, achei...
-- Muito grande?
-- Enorme.
-- Hum... - ele bebeu um gole de cerveja – E você aproveitou bastante?
-- Acho que sim.
-- Quais os lugares que você mais gostou?
-- Acho que... Os que ficam mais... Escondidos.
-- E deu pra você conhecer tudo?
-- Dei, digo, deu...
Adam quase engasgou, por causa de uma crise de riso. Edge continuou:
-- Sabe... - ele tocou minha mão – Esse lugar não é tão grande. Há outros maiores.
-- Ah, é?
-- É, sim. - ele chegou mais perto – E eu posso te mostrar um muito grande.
Quando ele tocou meu rosto, eu me levantei, dizendo:
-- Ah, eu... Esqueci meu celular no quarto... Vou buscar...
Saí depressa dali. Que loucura... Desse jeito, eu ia acabar dormindo com todos da banda. Ok, isso não seria algo ruim, mas ia contra os meus princípios.
Quando eu ia entrar no elevador, ouvi Larry dizer meu nome, e parei. Cheguei perto da entrada do hall, onde ele e Bono conversavam, e o ouvi dizer:
-- ... Mais do que isso, foi irresponsável...
-- Não enche, Larry! Que saco, eu não obriguei ela a fazer nada! Ela fez porque quis!
-- Você está manipulando os sentimentos dela. Já estava fazendo isso quando a trouxe com você.
-- Foram Edge e Adam que deram a idéia...
-- É, mas a idéia de pegar ela no palco foi sua. Eu fui contra desde o início. Você beijou uma menor de idade em público! Você tirou a virgindade de uma menina de dezesseis anos!
-- O que é que tem? Noventa por cento das meninas de dezesseis anos não são virgens!
-- Ok, já que isso não entra na sua cabeça, vou apelar para o outro lado. E a sua mulher?
-- Ah, Larry...
-- Ah, nada. E a Ali, heim, Bono? Como vai ter coragem de olhar pra ela depois disso? Será que você não sente nenhum remorso?
-- Claro que sinto! Mas o que posso fazer? Eu sou homem, preciso dessas coisas.
Larry balançou a cabeça.
-- Você não era assim, cara. Não mesmo.
Ele saiu, indignado.
* * * * *
Aquela seria a nossa última noite no Japão.
Bono veio ao meu quarto, trazendo flores. Eu nunca o vira tão suave, carinhoso. Ou melhor, ele sempre era carinhoso, mas agora estava me tratando como um recém-nascido.
-- Oi, Bono!
-- Boa noite, bebê. - ele me beijou – Como você está?
-- Agora que você está aqui, estou ótima.
-- Você ainda está sentindo alguma dor?
-- Não, eu acho. – corei. Aquilo era tão constrangedor – Durante o dia, às vezes doía um pouco, ficava ardendo... Mas nada demais.
-- Hum... - ele me abraçou – Sabia que eu me preocupo muito com você?
-- Mesmo?
-- Sim. - ele olhou nos meus olhos – Se um dia eu fizer algo que você não queira, ou que te incomode, quero que você me diga.
-- Você nunca faz nada que eu não queira.
Nos beijamos. Confesso que ainda não estava acostumada com aquilo. Como assim, eu estava beijando o Bono? Como assim, eu tinha dormido com ele? Não, não era possível. Era como se o Japão fosse um mundo mágico, uma outra dimensão, onde todos os sonhos fossem possíveis.
-- Nós vamos sair?
-- Não. Essa é a nossa última noite em Tóquio, e ela será especial.
E foi. Nós tivemos um jantar romântico no quarto, à luz de velas. Dançamos juntos. Ele me beijou e me disse coisas bonitas, e nós fizemos amor. No fim da noite ficamos deitados de frente um para o outro, nos contemplando.
-- Eu te amo. – murmurei, e ele me beijou carinhosamente.
-- Você é muito especial para mim.
-- Você... Me ama?
-- Existem muitos tipos de amor, querida. E o que eu sinto por você é um tipo de amor. - eu ia falar, mas ele tocou meus lábios gentilmente, num sinal para que eu me calasse – Nós precisamos conversar.
-- Sobre o que?
Fiquei preocupada. Bono parecia tão sério.
-- Sobre nós dois. Sobre as coisas que aconteceram entre a gente.
-- Você está arrependido?
-- Não! Que bobagem, é claro que não. Mas nós precisamos resolver algumas coisas. Decidir como será daqui pra frente.
Nosso futuro. E eu tinha a impressão de que ele não ia me pedir em casamento.
-- Você sabe – ele começou – amanhã, vamos voltar para Dublin. E lá, as coisas não poderão ser do jeito que foram aqui.
-- Por quê?
-- Porque lá existem Ali, Jordan, Eve, meus meninos. E há os seus pais. Existe toda uma sociedade lá, existem regras, que não permitem que fiquemos juntos.
-- Então... Depois que estivermos na Irlanda... Acabou?
-- Não precisa acabar. Podemos nos ver de vez em quando, haverá oportunidades. Mas serão poucas, e você vai ter que aceitar isso. Nós continuaremos convivendo normalmente, e você vai ter que agir como se nada tivesse acontecido. Acha que consegue?
-- Não sei.
-- Você vai aprender. Nós vamos. - ele tocou meu rosto – Mas eu darei um jeito de ficar a sós com você sempre que puder.
-- Como?
-- Deixe isso por minha conta. Não se preocupe. - ele beijou minha testa – Agora vamos dormir. Amanhã será um dia cansativo.
Eu me aconcheguei nos braços dele, talvez pela última vez, e dormi.
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