sexta-feira, 20 de novembro de 2009

[poesia #011] Sem Título I

Poema feito por mim em 05 de março de 2007. Originalmente, este poema não possui um título.

Crianças morrendo de fome rasgam seus corpos escuros
E a febre dá força aos ossos ocos
As veias secas visíveis na pele torrada
Servem apenas para lembrar ao mundo a morte que não houve
As crianças que secam sob o sol do deserto e sorriem
São o espetáculo que leva o mundo a chorar
E se vão
Jogar as migalhas diminui a culpa
Talvez a morte seja menos sofrida
Mas já não há dor
As mulheres morrem de fome
E as meninas estão doentes
Velhas de vinte anos arrastam seus ossos escuros
Para as valas quentes no meio do inferno
Aqui começastes, e aqui
Terminarás
Morra devagar
Para que todos tenham pena
E tempo de assistir
E, quando seu corpo começar a secar,
Você ainda vai ver
Mas ninguém escutará seu coração
E você não terá voz para gritar
As pessoas que sentem pena
Não sabem que, à noite,
Você chama por sua mãe
Mas você é forte, muito, muito, muito forte
E eles são fortes
E a morte é apenas mais uma
E não há mais medo de nada
Porque as crianças não sabem o que é ter medo
E as crianças gostam do escuro
E sabem matar
Elas esperam pela morte
Como quem espera o último trem
Que leva à velha cidade natal...