MENINO
Era afinal um bom jardineiro. Minha mulher se encantou pelo trabalho dele, e o contratei para vir duas vezes por semana. Era um homem da minha idade, imagino que ela estivesse interessada em outras coisas além da habilidade dele com as plantas; mas, enfim, ela que dê para quem quiser. Eu tinha problemas maiores.
E, se ela estava interessada nele, eu estava interessado em outra coisa. O jardineiro tinha um filho. Menino bonito, uns dez anos. Ficava correndo atrás do cachorro enquanto o pai trabalhava. Eu ficava na varanda, olhando. Esperando.
Não demorou nem um mês para que surgisse a chance, e eu realmente não tinha pressa. O pai estava cuidando do quintal, o filho ficou sozinho no jardim. Eu estava sentado na porta, e o chamei. Ele foi até mim, amedrontado.
-- O que é?
-- Está com fome?
-- Não, senhor.
-- Quer bolo de chocolate?
-- Não, senhor.
Mas ele queria. Sorri e passei a mão pelos cabelos dele.
-- Vem, pode comer.
-- Papai falou pra eu não incomodar o senhor nem a sua mulher.
-- Você não incomoda. E eu não conto pro seu pai.
Peguei-o pela mão e o levei para dentro de casa. Ele comeu o bolo, feliz como um bichinho. Eu só olhava.
-- Quantos anos você tem?
-- Vou fazer dez mês que vem.
Como eu imaginara. Ele acabou de comer e já se levantou para ir embora. Eu o detive.
-- Ei, não vai me agradecer?
Apesar de não ser muito educado, ele me respeitava. Parou e se virou para mim.
-- Obrigado, senhor.
-- Vem aqui.
O menino chegou perto; eu o segurei de leve, para evitar que ele fugisse.
-- Gostou do bolo?
-- Gostei.
-- Muito?
-- Sim.
-- Então, me dá um beijo.
Ele achou aquilo estranho, mas me deu um beijo no rosto. Eu ri.
-- Acho que o bolo estava melhor do que isso, não?
Como ele não entendesse, peguei a mão dele e a coloquei sobre meus lábios.
-- Quero um beijo aqui.
Aquilo o assustou, ele balançou a cabeça, quis se afastar; eu o segurei com mais força e sorri.
-- Vamos, é só um beijinho. Ninguém vai saber.
-- Não quero.
Fiquei sério, assumi um ar mais severo.
-- Eu te fiz um agrado e você não quer retribuir. Então, vou dizer ao seu pai que você me desobedeceu e se comportou mal, e ele vai te castigar.
Quase senti pena do menino. Estava perdido, não sabia o que fazer. Olhava para os lados, buscando ajuda, mas não havia nada nem ninguém ali que pudesse ajudá-lo. Seu pai estava no quintal, minha mulher tinha ido fazer compras; ninguém ia aparecer tão cedo.
-- Não precisa ter medo. - eu o puxei para perto – É só um beijinho.
Segurei seu rosto e cheguei perto. Ele não fugiu, mas fechou os olhos, e estava quase chorando.
Afinal, o beijei. Ele tinha um cheiro bom de criança, e gosto de chocolate. No início ele não queria abrir a boca, mas acabou cedendo. Me afastei para que ele pudesse respirar, e depois o beijei de novo; dessa vez foi mais fácil, ele viu que não era tão ruim, e não tentou fugir mais.
Não avancei mais do que isso, seria imprudente. Quando o soltei, ele estava vermelho.
-- Viu? Não foi tão difícil. E foi bom, não foi?
Ele balançou a cabeça.
-- Foi nojento.
Eu ri.
-- Pode ser. Mas foi gostoso.
-- Posso ir?
-- Você vai contar isso pro seu pai? Ou pra alguém?
-- Não.
-- Não mesmo?
-- Não, senhor.
-- Então, pode ir.
E ele saiu correndo pela porta.
* * * * *
O menino ficou bastante tempo sem aparecer. Fiquei preocupado: se ele não viesse, não poderia ir atrás dele. E não queria desistir.
Mas minhas preocupações, afinal, não eram necessárias. Um dia, três semanas depois do ocorrido, levantei-me de manhã e fui até a varanda. Lá estava o menino, sentado em um banquinho, fitando o pai, que podava uma árvore.
Naquele dia, o menino não desgrudou do pai nem por um segundo. No outro também não. Um dia, ao chegar em casa, vi minha mulher e o jardineiro aos beijos. Fingi não ter visto nada, e contratei o homem para vir diariamente, de segunda a sexta.
Só depois de dois meses surgiu outra chance, mas essa foi a melhor que eu poderia ter. Minha mulher tinha viajado, o jardineiro saíra para comprar adubo e deixou o filho sozinho, brincando no jardim. Cinco minutos depois, começou a chover.
Eu estava na janela do quarto, vendo tudo. Vi quando o menino correu para a varanda, tentando se proteger da chuva forte. Era a hora. Desci e abri a porta da sala, dizendo:
-- Entre, você está se molhando.
O menino me olhou, amedrontado, e não se moveu. Eu suspirei e disse, tentando não parecer impaciente:
-- Está todo molhado. Vamos, entre. Depois você pega uma gripe e vai dar trabalho para o seu pai.
Parecia que o ponto fraco dele era o pai. Ele hesitou por um momento, mas acabou entrando.
-- Viu, se molhou todo. Vem cá, vamos trocar essa roupa.
Ele me seguiu até meu quarto, inocentemente. Assim que entramos, tranquei a porta: sabia que ninguém iria chegar, mas ele podia tentar fugir. Guardei a chave no bolso, sem que ele percebesse, e disse:
-- Tire a roupa.
O menino me olhou assustado.
-- Pra quê?
-- Pra tomar banho. Você pegou friagem, é bom tomar um banho quente. - abri a porta do banheiro e apontei para a banheira – Já usou uma dessas?
-- Não, senhor.
-- Você vai adorar. Vai tirando a roupa enquanto eu preparo o seu banho.
Enquanto eu enchia a banheira, fiquei assistindo a ele se despir. Tinha um corpinho delicioso, e tive que usar todo o meu auto-controle para não ficar excitado.
-- Pode vir.
Ele veio, tímido. Entrou na banheira com certo temor, mas logo viu que era bom, e sorriu de satisfação. Eu também estava satisfeito: queria que ele relaxasse, não queria machucá-lo. E nada melhor para isso do que um banho quente.
Fechei as cortinas enquanto ele se secava no banheiro. O chamei para o quarto, e ele veio, enrolado na toalha.
Eu sentei na cama e o chamei para perto. Ele veio sem hesitar: todo o seu receio desaparecera. Coloquei as mãos sobre seus ombros e disse:
-- Está melhor agora?
-- Sim, senhor.
-- Gostou do banho?
-- Sim.
As coisas estavam indo muito bem, e eu não queria estragar tudo sendo impaciente. Por isso, fui muito suave quando disse:
-- Eu ficaria muito feliz se você retribuísse o que eu te fiz.
O menino ainda permaneceu de cabeça baixa por um tempo; e, então, olhou para mim.
-- O que o senhor quer que eu faça?
-- Sente na cama.
Ele obedeceu. Eu sorri e passei a mão por seu rosto.
-- Quero que você me beije.
Provavelmente ele já esperava aquilo. Sentou-se muito reto e olhou para mim.
-- Sim, senhor.
Eu o abracei com carinho. Passei a mão por seu rosto, delicadamente, e fiquei olhando para ele por alguns momentos. Então ele fechou os olhos, e eu o beijei.
Dessa vez foi ainda melhor. Ele retribuiu ao beijo, e ficamos vários minutos naquilo. Então abri meu zíper e baixei a calça. Peguei a mão dele e disse:
-- Segura isso aqui.
Ele se afastou imediatamente.
-- Não! Isso não!
-- Ande, querido, não é nada demais, você só tem que segurar...
-- Eu sei o que o senhor vai querer depois! - ele se afastou antes que eu pudesse segurá-lo – Não vou fazer isso!
Deixei que ele corresse para a porta. Ele tentou abrí-la, e se desesperou quando não conseguiu.
-- Deixa eu sair!
-- Você nem se vestiu. Vai sair pelado pela casa?
Fui até ele, calmamente. Seria difícil fazê-lo colaborar, mas não iria deixar passar daquele dia. Se fosse preciso, seria do pior jeito.
-- Vem cá.
-- Me solta!
O segurei e o arrastei de volta para a cama. Ele tentava se soltar de qualquer jeito, mas era muito pequeno. Tive vontade de rir do seu desespero. Claro que seria muito mais excitante com ele lutando, mas eu realmente não queria ter que machucá-lo. Seria uma pena.
* * * * *
Passou-se algum tempo; um dia, cheguei em casa mais cedo e peguei minha mulher na nossa cama, com o jardineiro. Ótimo, estava esperando por isso. Fiquei assistindo, parado na porta, e só depois de alguns minutos os dois perceberam minha presença. Tentaram falar qualquer coisa, inventaram desculpas; eu quase ri da cena, era tão rídiculo.
-- Você. - disse para o jardineiro – Lá para baixo. Agora.
Desci e esperei. Logo, o homem desceu também. O menino, que estava brincando no quintal, vira a cena e correra para junto do pai.
-- Você está demitido. - eu disse, calmamente – Tem sorte de eu não te dar um tiro.
-- Senhor, eu...
-- Só estou sendo generoso com você – interrompi – porque seu filho já pagou no seu lugar. Agora, vá embora.
Ele olhou para mim e para o menino, sem entender. O garoto estava agarrado na calça do pai, olhando para o chão. Logo iria começar a chorar. O jardineiro o pegou no colo e foi embora. Mais tarde, em casa, talvez o garoto tenha contado tudo, talvez não; mas isso não era importante. Depois desse dia, nunca mais os vi; nem o pai, nem o filho.
SOBRE A HISTÓRIA
Esse conto é horrível. Na época em que o escrevi gostei muito, porque foi um dos primeiros em que escrevi explicitamente com a temática de pedofilia, mas agora acho que ficou um pouco cru demais e a reação dos personagens ficou pouco natural. Tive muitas dificuldades para escreve-lo, e não o escrevi todo de uma vez, o que talvez explique os problemas em sua estrutura final. Não foi inspirado por nada específico, apenas levemente baseado em outra coisa que escrevi anteriormente.
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