DIÁRIOS DO GUARDIÃO
Existe uma criança que se perdeu.
Essa criança esteve em meus braços antes mesmo que seus olhos pudessem entender o que viam, antes mesmo que o mundo tivesse cor. Mas eu fingi não ver, fingi não saber que ela se perderia, e dessa forma não pude salva-la. Por quê?
Eu odeio pessoas fracas porque não posso protege-las, e todas as pessoas que eu amo são fracas. Eu as odeio, porque posso proteger qualquer um de quase tudo, mas não posso proteger alguém de si mesmo. Apenas a própria pessoa é capaz de se proteger de si, e para uma pessoa fraca, isso é impossível.
Existe uma criança que se perdeu.
E eu sou seu guardião.
Eu fingi não ver. Fingi que não havia sombras dentro dele. Fingi que elas não o comiam lentamente. E quando ele chegou à primeira encruzilhada, eu não estava lá e as sombras o levaram para o caminho mais escuro.
Eu estou acostumado a andar por caminhos desconhecidos. As sombras podem cobrir o que está iluminado, mas não podem tocar a luz.
Eu não tenho uma luz pra seguir porque eu sou a luz que guia. Não tenho um deus para amar porque eu sou o deus que é amado. Eu sou aquele que faz com que tristezas sejam esquecidas e sorrisos surjam, não importa a que preço, não importa que eu pague por pecados que não são meus.
Eu sou um guardião.
E minha criança se perdeu.
Quando minha criança chorou, eu a fiz sorrir. Quando o céu estava limpo, eu estava ao seu lado olhando o tempo. Quando ele caiu, eu o fiz se levantar.
Mas quando as sombras chegaram, eu não estava lá.
Você, criança perdida, apenas você, pode voltar pelo caminho errado que escolheu e passar a seguir o caminho certo. Mas não poderá fazer isso se não se transformar em luz. Porque de onde você está, nenhuma luz pode te alcançar e nenhum guardião pode lutar contra os demônios que estão dentro de você.
Eu quero a minha criança de volta. Porque, se durante o caminho as sombras o consumirem completamente, eu serei a responsável por dar fim a sua vida, assim como um certo guardião fez com outra criança perdida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário