DE CHAPÉU VERMELHO
Em um lugar muito distante daqui, havia uma mulher que morava no meio da floresta, tendo apenas o filho como companhia. Ele era um garoto ainda jovem, que gostava de brincar pelos campos e auxiliar no trabalho dos camponeses. Embora ainda pequeno, se empenhava tanto em ajudar e era tão bom com todos, que com frequência ganhava presentes, como doces e brinquedos. Um dia, como fizera doze anos, um dos camponeses lhe dera um chapéu vermelho, dizendo:
-- Já és um homem e deves abandonar as brincadeiras de menino; toma este chapéu e o usa, como prova de que estás crescendo.
De forma que o garoto passou a usar sempre o chapéu. O usava com tanta frequência, que as pessoas passaram a chama-lo de O Garoto de Chapéu Vermelho.
Um dia, enquanto O Garoto de Chapéu Vermelho brincava perto de casa, sua mãe o chamou da porta de casa. Trazia na mão uma cesta de piquenique, de onde vinha um cheiro delicioso. Quando o Garoto se aproximou, ela disse:
-- Meu filho, chegou hoje uma carta de sua avó, onde ela diz que está doente. Preparei alguns remédios e estou enviando a ela junto de uma carta e um pouco de comida. Você pode leva-los para mim?
-- Claro, mamãe. - o Garoto pegou a cesta - Vou agora mesmo.
-- Não se demore, para que chegue lá antes do anoitecer. E não se desvie do caminho nem fale com estranhos. E nem coma os doces que estou enviando para a sua avó.
-- Pode deixar, mamãe.
-- E lembre-se de sempre ir pela estrada principal. O caminho que passa por dentro do bosque é perigoso.
-- Sim senhora.
O Garoto seguiu pelo caminho que levava à estrada. Mas quando chegou à encruzilhada, decidiu que iria seguir pela estrada do bosque enquanto ainda era de manhã, e quando chegasse a tarde voltaria para a estrada principal. O caminho do bosque era muito mais bonito, mais fresco, e mais rápido - seguia em linha reta, enquanto a estrada grande fazia diversas curvas e desvios. Por isso adentrou o bosque, cantarolando alegremente.
Enquanto andava, ele ia colhendo algumas flores e frutas silvestres para dar para a avó. Em um momento avistou um lugar em que cresciam lindas rosas vermelhas, e foi pegar algumas. Quando voltou para a trilha, havia um homem sentado sobre um tronco, observando-o.
A princípio o Garoto se assustou, por achar que fosse um fantasma; mas logo percebeu que era apenas uma pessoa comum, e ficou mais tranquilo.
-- Bom dia. - disse o Garoto.
-- Bom dia. - disse o homem.
O Garoto estava a ponto de seguir seu caminho, mas o homem o deteve, dizendo:
-- O que faz um garoto tão pequeno andando sozinho pelo bosque?
-- Estou indo para a casa da minha avó.
-- E ela mora perto daqui?
-- Mais ou menos. Se for por esse caminho até o meio do dia, e voltar para a estrada grande à tarde, devo chegar antes de anoitecer.
-- É um pouco longe, então. Eu estou indo para esse lado também, posso te acompanhar?
-- Claro.
O homem passou a caminhar ao lado do Garoto, que continuava cantarolando e colhendo flores.
-- Belo chapéu, esse seu.
-- Foi um presente de um camponês, amigo de minha mãe. Ando sempre com ele.
-- Se usa um chapéu como esse, é porque já não é um menino. Quantos anos você tem?
-- Farei treze em breve.
-- E já tem uma prometida?
-- Não, não tenho.
Continuaram seguindo, até que chegou o meio do dia e eles chegaram a uma das trilhas que levaria de volta à estrada principal. Os dois pararam, e o homem disse:
-- Nossa jornada juntos termina aqui. Meu caminho continua pela floresta.
-- Sim, senhor.
-- Apenas por curiosidade, me diga: a casa da sua avó fica na primeira vila no caminho da estrada principal?
-- Não, fica um pouco antes. Na verdade, é fora da estrada, em uma clareira na floresta. Se eu fosse direto por esse caminho, chegaria direto a ela; indo pela estrada, terei que tomar uma trilha em determinado ponto. Mas é o caminho mais seguro.
-- Sim, é verdade. E a sua avó é muito velha? Não é ruim para ela morar sozinha?
-- Não sei quantos anos ela tem, mas muitas mulheres da idade dela ainda têm filhos pequenos, portanto não é vellha; mas está doente, e por isso estou levando remédios e coisas gostosas para alegra-la.
-- Entendo. Enfim, adeus, garoto. Muito cuidado na sua jornada.
-- Terei cuidado.
E eles seguiram por caminhos diferentes.
* * * * *
A avó do Garoto de Chapéu Vermelho estava na cozinha da casa, preparando um chá, quando bateram na porta. Pensando que podia ser seu neto, mas estranhando que ele chegasse tão cedo, ela abriu a porta e se deparou com um homem desconhecido - o mesmo homem que o Garoto encontrara no bosque.
-- Boa tarde. - ele disse, tirando o chapéu - Estava procurando o caminho para a estrada, mas me perdi. A senhora poderia me indicar o caminho? É a primeira casa que encontro em horas de caminhada.
-- Oh, sinto muito por ter se perdido. - ela o olhou com pena - Vê esse caminho à direita? Basta segui-lo, e chegará na estrada. Se seguir à esquerda, em mais uma hora encontrará uma vila.
-- Ah, que bom... Acho que consigo chegar antes do anoitecer. A senhora poderia me dar um pouco de água? Não quero abusar da sua boa vontade, mas estou andando há horas e...
-- Claro, sem problemas. - ela entrou em casa - Espere um momento.
Ele viu, pela porta, ela entrar na cozinha e abrir o barril onde ficava a água. Tossia um pouco e estava pálida, mas era realmente jovem, apenas alguns anos mais velha do que ele. Então ele entrou silenciosamente e, antes que ela o percebesse, a agarrou com força e pressionou uma faca contra seu pescoço.
-- Se se mexer ou gritar, eu te mato. - ele disse, e ela parou de lutar, aterrorizada - Muito bem. Agora tranque a porta.
Seguida por ele, ela foi até a porta e a fechou. Ele a agarrou novamente e a arrastou para o quarto.
-- Muito bem. - ele a jogou na cama - Vamos nos divertir um pouquinho, enquanto aquele lindo garotinho não chega.
* * * * *
O Garoto de Chapéu Vermelho chegou à casa da avó pouco antes do anoitecer. Estava cansado, mas quando avistou a casa foi correndo pelo caminho até ela; mas chegando na entrada conteve sua vontade de gritar pela avó e bater na porta desesperadamente; afinal, já era um homem. Por isso respirou fundo e bateu na porta com calma, como sua mãe lhe ensinara a fazer.
-- Entre. - ele ouviu uma voz indefinida dizer, e empurrou a porta, que não estava trancada. Entrou e foi para o quarto, seguindo a voz que o chamava. Havia uma pessoa deitada na cama, completamente coberta pelos lençóis.
-- Oi meu querido. - a pessoa disse, com uma voz fraca e rouca - Como você cresceu.
-- Vovó? - o Garoto receava em chegar perto, pois estava achando que havia algo errado com a avó, algo que ele não sabia definir.
-- Venha aqui, meu netinho. Me deixa ver o que a sua mãe mandou para mim.
-- Ela mandou uns remédios para que a senhora melhore mais rápido... - ele se aproximou, com cautela - E também tem bolinhos e geléia...
Quando ele se aproximou da cama, a pessoa que estava deitada o puxou bruscamente, se revelando: era o homem que ele encontrara na floresta.
-- Você!
-- Muito obrigado pelos doces, netinho. - ele jogou o Garoto na cama - Mas agora eu quero comer você.
* * * * *
Quando o Garoto acordou, estava preso dentro da despensa, com as mãos e os pés amarrados. Sua avó estava ao seu lado, também amarrada, mas desmaiada.
-- Vovó! Vovó! - ele tentou chegar até ela, mas não conseguiu, e começou a chorar - Vovó, acorda!
Mas ela não se movia. O Garoto ficou chorando sozinho, no escuro, por um longo tempo; até que a porta se abriu, e o homem apareceu, dizendo:
-- A vovó ainda está dormindo? Que pena... Eu queria ter mais uma conversinha com ela, mas acho que vou ter que ficar com você mesmo.
Ele agarrou o Garoto pelo braço e o arrastou para fora dali. O Garoto gritava e se debatia, mas amarrado como estava jamais conseguiria fugir. O homem o levou novamente para o quarto, mas o menino gritava tanto e tão alto que o irritou: ele pegou a faca e a encostou na garganta do garoto, fazendo com que ele se calasse.
-- Escute bem. - ele disse - Se você ficar quietinho e fizer tudo o que eu mandar, eu prometo que vou ser muito bonzinho e vou matar vocês bem rápido quando me cansar de brincar. Agora, se você for um mau menino, eu vou te machucar tanto que...
Mas ele foi interrompido por um som alto de tiro e por uma bala que lhe atravessou a cabeça e o deixou caído no chão em meio a uma poça de sangue.
Aterrorizado, o Garoto recuou e acabou caindo no chão. Olhava fixamente para o corpo no meio da poça de sangue, até que ouviu uma voz vinda da janela:
-- Essa foi por pouco heim. - ele se virou, e viu uma garota na janela, segurando uma espingarda - Você está bem?
O Garoto tentou responder, mas percebeu que não controlava sua voz. A garota pulou a janela e olhou para o corpo, sem muito interesse.
-- Já tinha visto esse cara andando pela floresta, achei ele bem suspeito. Como ele conseguiu entrar aqui? Ele te conhecia? - o Garoto apenas balbuciou sons sem sentido - O que foi? O gato comeu sua língua?
Ele respirou fundo, tentando parar de tremer, e afinal conseguiu falar:
-- E-eu encontrei ele na floresta...
E ele contou o que acontecera. A garota balançou a cabeça.
-- Você é estúpido? Fica contando sua vida para um estranho que conhece na floresta? Sua mãe não te ensinou nada?
-- Ele... Ele não parecia mau...
-- Eles nunca parecem. Preste atenção nas coisas ao seu redor, você não é mais uma criança. - ela olhou em volta - Então, onde está sua avó?
Eles soltaram a avó do Garoto, que já recobrara a consciência. A garota se livrou do corpo do homem, e no fim da tarde, disse que iria partir.
-- Fique mais um pouco. - disse a avó - Ainda não te agradecemos por ter salvado nossas vidas.
-- Não precisa agradecer. E tenho que ir, meus pais estão me esperando.
-- Afinal - disse o Garoto - o que você estava fazendo por aqui?
-- Sou caçadora, filha de caçadores. Estava caçando na floresta aqui perto quando ouvi seus gritos. Você teve muita sorte.
-- Quantos anos você tem?
-- Quinze, por quê?
-- Eu posso me casar com você em agradecimento.
Ela riu.
-- Quem sabe, quando se tornar um homem de verdade. - ela foi andando pelo caminho que levava à estrada priincipal - Adeus, Garoto de Chapéu Vermelho. Cuide da sua avó.
-- Cuidarei.
E ela se foi.
Aterrorizado, o Garoto recuou e acabou caindo no chão. Olhava fixamente para o corpo no meio da poça de sangue, até que ouviu uma voz vinda da janela:
-- Essa foi por pouco heim. - ele se virou, e viu uma garota na janela, segurando uma espingarda - Você está bem?
O Garoto tentou responder, mas percebeu que não controlava sua voz. A garota pulou a janela e olhou para o corpo, sem muito interesse.
-- Já tinha visto esse cara andando pela floresta, achei ele bem suspeito. Como ele conseguiu entrar aqui? Ele te conhecia? - o Garoto apenas balbuciou sons sem sentido - O que foi? O gato comeu sua língua?
Ele respirou fundo, tentando parar de tremer, e afinal conseguiu falar:
-- E-eu encontrei ele na floresta...
E ele contou o que acontecera. A garota balançou a cabeça.
-- Você é estúpido? Fica contando sua vida para um estranho que conhece na floresta? Sua mãe não te ensinou nada?
-- Ele... Ele não parecia mau...
-- Eles nunca parecem. Preste atenção nas coisas ao seu redor, você não é mais uma criança. - ela olhou em volta - Então, onde está sua avó?
Eles soltaram a avó do Garoto, que já recobrara a consciência. A garota se livrou do corpo do homem, e no fim da tarde, disse que iria partir.
-- Fique mais um pouco. - disse a avó - Ainda não te agradecemos por ter salvado nossas vidas.
-- Não precisa agradecer. E tenho que ir, meus pais estão me esperando.
-- Afinal - disse o Garoto - o que você estava fazendo por aqui?
-- Sou caçadora, filha de caçadores. Estava caçando na floresta aqui perto quando ouvi seus gritos. Você teve muita sorte.
-- Quantos anos você tem?
-- Quinze, por quê?
-- Eu posso me casar com você em agradecimento.
Ela riu.
-- Quem sabe, quando se tornar um homem de verdade. - ela foi andando pelo caminho que levava à estrada priincipal - Adeus, Garoto de Chapéu Vermelho. Cuide da sua avó.
-- Cuidarei.
E ela se foi.