sexta-feira, 28 de junho de 2013

[fanfic #007] [07 Ghost] Segunda Vez

AVISOS:
  • História não recomendada para menores (sexo, pedofilia)
  • Esta fanfic é baseada no manga 07 Ghost
  • Fanfic yaoi, ou seja, contém relacionamentos homossexuais (Frau/Gido)
  • Para melhor entendimento desta fanfic, recomendo que acompanhe o manga e leia também o especial 07 Ghost Children

SEGUNDA VEZ

Frau passara o dia todo consertando Hawkzilles, como castigo por ter se envolvido em uma briga no dia anterior. Agora, cansado e um pouco aborrecido, estava trancado no quarto, estudando.
-- Hey, pirralho maldito. - veio a voz da porta do quarto, e Frau quase caiu da cadeira - Estudando até essa hora?
-- G-Gido! Não entre assim! - ele estava um pouco vermelho - Eu só estou revisando algumas coisas.
Gido deu um breve riso e acendeu um cigarro. Ficou parado ali, encostado no batente da porta, olhando para Frau em silêncio. Um pouco perturbado, Frau desviou o olhar e voltou a ler os livros.
-- Já basta de estudos por hoje. - disse Gido - Venha beber comigo.
-- Não, obrigado.
-- Vamos Frau. Você trabalhou muito hoje, merece relaxar um pouco.
-- Não quero.
-- Ainda está bravo por ter sido castigado? - Frau não respondeu, e Gido suspirou - Ok, eu vou estar no meu quarto se mudar de ideia.
Com isso ele se foi, deixando para trás uma linha de fumaça.

* * * * *

Finalmente, Frau se levantou.
Ele passara as últimas duas horas tentando dormir, sem sucesso. Sentia o corpo agitado, o coração acelerado, uma ansiedade quase insuportável. Dando-se por vencido, ele saiu do quarto.
Já era tarde, mas ele sabia que Gido não estaria dormindo. Bateu na porta do quarto e ouviu um "entre". Abriu a porta com certo receio, esperando que não houvesse mais ninguém ali. Felizmente, no quarto só estava Gido, sentado na escrivaninha, bebendo uma garrafa de rum.
-- Hey pirralho, achei que já estivesse dormindo. - disse Gido - Resolveu aceitar meu convite?
-- N-não estou com sono. - foi a única resposta de Frau, antes de ir decidido até a mesa e pegar a garrafa.
Frau tomou um gole grande demais de rum e engasgou; Gido começou a rir tanto que quase derrubou sua garrafa. Frau lhe lançou um olhar mortal.
-- Ainda não aprendeu a beber como homem, pirralho?
Como resposta, Frau deu um gole ainda maior na bebida, dessa vez sem engasgar. Gido riu, dessa vez com um ar de aprovação. Fez um sinal para que Frau se aproximasse; o garoto se sentou ao seu lado, e os dois ficaram conversando e bebendo. Ficaram ali até que houvesse meia dúzia de garrafas vazias no chão, até que as estrelas começassem a sumir no céu, até que o cheiro de álcool e cigarro no quarto fosse quase sólido.
-- Chega de festa por hoje. - Gido disse, jogando a última garrafa vazia no chão - Vá dormir.
Frau pareceu surpreso por um momento, então abaixou a cabeça, muito vermelho. Gido se jogou na cama e ficou olhando para Frau. O garoto se levantou, mas ao invés de ir embora, sentou-se na beira da cama. Só então Gido percebeu como ele estava vermelho.
-- O que você quer, pirralho maldito?
Frau ficou em silêncio olhando para um ponto qualquer no chão, olhou para Gido, pareceu prestes a falar, mas de repente se levantou.
-- Boa noite, Gido.
Mas antes que ele desse um passo, Gido o puxou e o jogou na cama. Frau gritou, e Gido riu, subindo nele.
-- Parece que alguém aqui está sentindo falta de alguma coisa.
-- D-do que está falando? Sai de cima de mim!
-- Eu achei que você não tivesse gostado... Mas se queria mais, podia ter dito logo. Pirralho. - ele se sentou e puxou Frau para o seu colo - Com um rostinho tão lindo...
Gido tocou no rosto dele, admirando-o por um momento, antes de mergulhar o rosto em seus cabelos e morder de leve seu pescoço. Frau deixou escapar um meio-gemido.
-- Pare! - ele tentou, sem muita convicção, empurrar Gido - Você está bêbado.
-- Eu sempre estou bêbado.
Os protestos de Frau foram calados com um beijo suave, que Frau retribuiu em seguida com um beijo apaixonado, quase desesperado; mas então o garoto se afastou, tentando sair do colo de Gido.
-- Aonde você pensa que vai, pirralho?
-- Eu quero ir pro meu quarto.
-- É claro que você não vai; você ficaria muito decepcionado se eu te deixasse ir. - ele sorria de forma maligna - Um moleque como você, deve ser difícil lidar com essas... Energias acumuladas. - ele deitou Frau novamente - Vamos cuidar disso.
Ele deu mais um beijo apaixonado em Frau, em seguida se afastando e tirando a camisa. Voltou para cima do garoto e levantou a camisa dele, beijando seu peito. Frau virou o rosto, muito vermelho, e se deixou ficar inerte enquanto Gido explorava seu corpo.
-- Está gostando disso, moleque? - disse Gido, enquanto fazia Frau tirar a camisa - Se você ficar aí parado, eu não vou saber o que é bom pra você ou não. Ou, se não estiver bom... - ele passou um dedo pelo rosto de Frau, e então correu a mão pelo corpo do garoto até sua barriga, parando na barra de sua calça - Nós podemos parar...
Como resposta, Frau segurou a mão dele e o beijou, com um desespero que Gido não esperava. Continuou o beijando até ficar sem ar, e no segundo em que eles se afastaram para respirar, Gido novamente assumiu o controle, prendendo Frau com seu corpo e terminando de despir o garoto.
Frau lutou para se soltar, mas Gido era bem mais forte e o manteve quase imobilizado. Sem solta-lo completamente, tirou suas próprias roupas e se deitou sobre o garoto, puxando-o para si em um abraço apertado. Frau estremeceu dos pés à cabeça.
-- V-você... - o garoto murmurou - Você está frio...
-- Me esquente. - ele murmurou no ouvido de Frau, e riu com o novo tremor que passou pelo corpo do garoto.
Os dois se perderam em beijos, e então Gido levou sua mão para baixo, tocando de leve entre as pernas do garoto. Frau quase deu um grito, e segurou com força nos lençóis. Gido sorriu, e bastou apenas um pouco mais de força no toque para o garoto perder completamente o controle, e logo ele estava caído inerte na cama, sem forças.
-- Pirralho. - Gido limpou a mão no lençol - Isso é tudo o que você aguenta?
Frau tentou pensar em alguma resposta, mas sua mente simplesmente não funcionava; e de qualquer forma, falar naquele momento teria sido impossível. Gido ficou olhando para ele, parecendo satisfeito, e então se levantou da cama. Frau fez menção de se levantar também, mas Gido o deteve dizendo:
-- Aonde você pensa que vai?
-- ... Vou para o meu quarto.
-- Você só vai quando eu deixar. - ele sorriu de uma forma que deixou Frau preocupado - Nós não terminamos ainda.
Um pouco receoso, Frau voltou a se acomodar na cama. Lembrava-se da outra vez em que aquilo acontecera, e o que Gido fizera; não queria fazer aquilo de novo.
-- Não quero... - ele não soube o que dizer, e parou um momento, sentindo o rosto ficar vermelho quando Gido olhou para ele - Não quero que você me machuque.
Por um segundo Gido pareceu surpreso, e então riu.
-- Eu só vou saber o que te machuca se você me falar. - ele voltou para a cama, e quando falou de novo, foi em um tom mais suave - Eu não vou fazer nada que você não queira.
Embora Frau não estivesse mais tão disposto quanto antes, ele aceitou os beijos de Gido. Deixou que o outro passeasse por seu corpo, e mesmo sabendo que Gido merecia retribuição pelo que lhe dera, ele não conseguia deixar de manter um ar distante e indiferente. Tentava ao máximo não pensar no que estava fazendo.
-- Frau. - ele ouviu Gido sussurrar, e olhou para ele. Gido o olhava atentamente, e sorriu quando Frau olhou para ele - Você está lindo.
Frau ficou muito vermelho. O jeito como Gido o tocava logo fez com que ele ficasse excitado novamente, e aos poucos ele começou a retribuir o que recebia, tocando em Gido com certa curiosidade.
-- Isso é bom, Frau. - Gido sussurrou - Você é melhor do que eu esperava.
-- G-Gido! Não fale assim...
Gido parecia se divertir imensamente quando Frau ficava constrangido. Sem aviso, virou o garoto e o jogou de bruços na cama, subindo nele. Frau tentou se soltar.
-- Eu não quero isso!
-- Não reclame antes da hora, moleque. - Gido beijava o pescoço e as costas dele - Eu nem comecei. Se você não gostar, eu paro.
-- Mas da outra vez...
-- Não vai ser igual à outra vez.
Ele mordeu as costas de Frau, e o segurou pelos quadris. Frau parou de tentar fugir, mas continuava muito tenso. E então sentiu alguma espécie de óleo ser derramado sobre suas costas, um líquido suave que o aquecia.
-- O que é isso?
-- Cale a boca e relaxe.
Gido acariciava as costas de Frau, espalhando o óleo, e aos poucos Frau acabou relaxando. Começou a se sentir tão bem que achava que poderia dormir ali mesmo. E então, sem aviso, veio a invasão e a dor, uma sensação que ele já conhecera uma vez.
-- Gido! - por muito pouco ele não gritou - Pare... P- por favor, pare...
Gido o ignorou, e só parou quando já estava completamente dentro dele. Mas então não se moveu, e se manteve deitado sobre o garoto, o imobilizando com seu peso. Frau parecia prestes a chorar.
-- Por favor... Gido...
-- Sabe - Gido sussurrou, em um tom suave e casual - dois mercadores vieram conversar comigo hoje. Sobre você. Eles queriam elogiar o "garotinho que sabe tudo sobre Hawkzilles". Disseram que nunca viram uma criança tão inteligente e dedicada. Também ficaram impressionados quando eu contei sobre a sua dedicação nos estudos. - ele beijou as costas de Frau, seu pescoço, mordeu sua orelha - A cada vez que alguém elogia você dessa forma, eu me encho de orgulho. Você é meu maior orgulho, Frau.
Uma felicidade tão grande se apossou de Frau, que por um momento ele esqueceu a dor. Gido começou a se mover, bem devagar. O garoto murmurou, um pouco incomodado, mas não gritou nem tentou fugir. Naquele momento, sentia que era capaz de fazer qualquer coisa por Gido. Qualquer coisa.
Aos poucos, Frau começou a gostar daquilo. Deixou de ficar tão inerte e passou a ajudar Gido, embora a dor ainda o impedisse de fazer muita coisa.
-- Isso está bom, moleque?
-- Sim. - Frau olhou para Gido, e pela primeira vez sorriu - Está, sim.
-- Eu amo o seu sorriso. - Gido fez Frau virar o rosto e o beijou - Você é um garotinho lindo.
Após alguns minutos, Frau estava no colo de Gido, as pernas ao redor de sua cintura, e eles se beijavam desesperadamente. Então Frau escondeu o rosto no peito do outro e gritou; Gido sorriu, e no instante seguinte estava apertando Frau em um abraço sufocante, perdido em um êxtase silencioso.
Por um momento os dois se mantiveram abraçados, ofegantes, satisfeitos demais para fazer ou falar qualquer coisa. E então Gido lentamente deitou Frau, em seguida se deitando ao seu lado e o abraçando. Eles continuaram em silêncio, até que Frau disse:
-- Gido...
-- O que foi, pirralho?
-- ... - parecia que ele ia falar algo importante, mas mudou de ideia - Eu vou para o meu quarto.
-- Não vai não. - ele abraçou Frau com mais força - Eu quero que você esteja ao meu lado quando eu acordar.
-- Mas e se alguém perceber?
-- Não se preocupe com isso.
Frau acabou desistindo de protestar, e se acomodou melhor ao outro.
-- Boa noite. - Frau murmurou.
-- Boa noite, pirralho. - Gido respondeu, já fechando os olhos.
Logo, Gido estava dormindo. Frau ainda demorou um pouco para fechar os olhos, seus pensamentos o impedindo de dormir. Ao ter certeza de que Gido estava dormindo profundamente, ele se ergueu um pouco e ficou olhando o rosto do outro.
-- Eu te amo. - ele sussurrou, muito baixo.
Então deitou-se novamente, abraçou-se a Gido e finalmente adormeceu.


SOBRE A HISTÓRIA

Essa é a segunda fanfic de 07 Ghost que eu publico.
Fiz essa fanfic em um momento de desespero, pois o último capítulo (kapitel 95) acabou de uma forma tenho-que-saber-o-que-acontece e deve demorar um mês para sair o próximo. Para controlar minha ânsia por histórias, resolvi escrever uma baseada no relacionamento entre o Frau e o Gido. Nunca encontrei nenhuma fanfic yaoi com esses dois, e o relacionamento deles é tão bonito quanto o Frau X Teito.
Como deu pra perceber, essa fic não tem realmente uma história, é só uma cena de sexo entre os dois, mostrando um pouco dos sentimentos do Frau. A linha que separa o "erótico" do "pornográfico" é muito tênue, e embora eu tenha tentado não fazer uma cena de sexo explícito, acho que posso ter exagerado em alguns momentos. Por algum motivo, não gosto de ler cenas de sexo em português, então não sei dizer se ficou bom ou não.
O título ficou imbecil, mas por falta de uma história de verdade, não consegui encontrar um melhor.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

[carta #004]

Para alguém que foi embora,

Você se foi para sempre.
Você, que era minha luz, meu motivo para viver, meu Deus pessoal. Você, que fez eu me sentir especial, fez eu acreditar que podia ser amado. Você que segurou minha mão quando eu me encontrava na mais completa escuridão. Você, que eu amei mais do que minha própria vida.
Eu te disse tantas vezes o quanto eu te amo, mas nenhuma palavra, nenhuma frase, é capaz de te dizer a verdadeira grandeza, a verdadeira profundidade do meu amor por você. Você fez tanto por mim, e eu fui incapaz de fazer algo por você, incapaz de retribuir o amor que você me dedicou tão abertamente. Eu gostaria que você soubesse que sem você, minha vida não faz nenhum sentido.
Me pergunto se, onde quer que você esteja, você se lembra de mim, se lembra de todos os momentos que passamos juntos. De como fomos nos descobrindo aos poucos. De como você se entregou tão completamente a mim, quando mal nos conhecíamos. Você sempre aberto, sempre me dizendo sobre o quanto você me amava, e eu sempre fugindo, sempre com medo, evitando você, raramente te dizendo o que eu sentia. Só quando o que eu sentia era grande demais para ser contido eu finalmente desisti, e entreguei minha alma a você.
Me sinto tão tolo ao pensar no quanto eu resisti a você.
Ao menos eu tive a chance de te dizer meus sentimentos. Como se soubesse que o fim estava chegando, eu te contei tudo sobre mim, sobre quem eu era, sobre o que eu sentia. E você me aceitou completamente. Você, que era a única pessoa no mundo que realmente me conhecia, me aceitou completamente. Com todos os meus defeitos, com todo o horror em meu passado, com todo o sangue em minhas mãos. Você aceitou minha traição, meus pecados, a insignificância da minha existência perante o mundo. Você me aceitou completamente. Você abriu mão da sua própria vida por mim. Você me deu a suprema prova de amor que alguém poderia dar.
Mas eu abriria mão de qualquer prova, abriria mão até do seu amor, para que você estivesse ao meu lado hoje.
Você teve uma escolha, e escolheu me deixar para que eu pudesse viver. Por quê? Eu grito para o vazio, esperando que você me responda, de onde quer que esteja. Por quê? Mas eu me coloco em seu lugar, e vejo que eu faria exatamente igual. Meu amigo, meu amor, a pessoa mais importante da minha vida. Eu morreria mil vezes a mais cruel das mortes, apenas para que você pudesse viver.
Mas você não me deu essa escolha, não é? Você tomou todas as decisões para você, e decidiu que seria eu a viver no seu lugar. Escolheu o que achava ser o melhor para mim. E me deixou aqui, vivo. Vivo e sozinho. Me condenou a uma vida solitária, uma vida de dor, uma vida sem você.
Eu te amo.
Gostaria que você estivesse aqui. Tudo seria mais fácil se você estivesse aqui. Mas sem você ao meu lado, eu vivo em completa escuridão; porque você é minha luz, minha razão de viver. Onde quer que esteja, saiba que sinto sua falta, que queria que você estivesse aqui. Que te amo mais do que tudo na vida. Vou continuar a seguir a estrada que você escolheu para mim, em busca da felicidade, pois foi pela minha felicidade que você se sacrificou; mas nenhuma felicidade é completa, e nenhum amor é possível, sem você ao meu lado.
Te amarei para sempre, e nunca te esquecerei.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

[conto #044] Depois de um Longo Sono

DEPOIS DE UM LONGO SONO

Estava começando a escurecer quando ela acordou. Estava meio calor e meio frio, como costuma estar quando acordamos de um sono profundo. Ela estava na beira de uma rua deserta.
Foi andando pela rua, até chegar a uma grande avenida. Carros estranhos, roupas estranhas. Mas a diferença não era tão grande quanto da última vez. Provavelmente, menos tempo havia se passado.
Então, na escadaria do teatro, ela o viu.
Ele estava quase igual a antes. Ao seu redor várias pessoas, uma mulher pendurada em seu braço. Ela foi andando até eles, e ele não demonstrou surpresa ao avista-la.
Cumprimentaram-se. Ele a apresentou aos outros e à namorada - a garota pequena pendurada em seu braço. Havia muita gente pela rua, uma movimentação claramente fora do normal. Muitas luzes no céu. Uma agitação ansiosa no ar.
Todos conversavam e ela conseguiu se aproximar dele.
-- Quanto tempo dormi?
-- Cinquenta anos.
-- Por quê...
-- Não sei. Você só dormiu e não acordou mais.
-- Nossos amigos?
-- A maioria morreu. Os outros estão velhos, tive que parar de ver eles.
-- Sua mulher sabe que você...
-- Não. - ele deu de ombros - É só uma mulher.
Ela entendia. Sabia como essas coisas funcionavam. Amigos, namorados, pessoas de que gostavam - e então o tempo passava, e viam todos ficarem mais velhos, decaírem, e se transformarem em pó. Todos iam embora, e eles ficavam, meros espectadores da vida.
Independentemente da atmosfera do lugar, ela estava ansiosa, agitada. Puxou-o pelo braço, e ele entendeu. Levou-a para trás do teatro, um lugar com poucas pessoas, mas com muitas luzes coloridas no céu. Ninguém percebeu quando eles saíram.
-- O que está acontecendo aqui?
-- Uma revolução. Estão prestes a fazer uma enorme passeata. Provavelmente vai haver uma revolta nas ruas.
-- Por quê?
-- Os motivos de sempre, nada importante.
Ela ficava cada vez mais agitada. Ele se apoiou na parede, ela ficou de frente para ele.
-- Do que está sentindo falta?
-- De sexo. Comida, talvez, mas mais de sexo.
Ele balançou a cabeça, entendendo, e abriu a calça. Ela o atacou como um andarilho perdido no deserto atacaria uma poça d'água. Havia pessoas em volta, mas nenhuma olhava para eles.
Ele não se preocupou em sentir qualquer coisa, estava apenas ajudando ela, como já haviam feito tantas vezes um com o outro. Mas era difícil, depois de tanto tempo, se satisfazer com tão pouco. Ela ainda estava agitada, faminta.
-- Depois. - ele disse, quando mais pessoas começaram a passar e eles corriam o risco de ser vistos - Quando as espumas acabarem.
Mal dissera isso, uma enorme onda de espuma varreu a rua. As pessoas começaram a pular sobre a espuma em tábuas de madeira, descendo a ladeira em direção ao centro, onde o exército aguardava. Ele correu para a namorada, pegou-a pela mão e os dois pularam também. Ela foi atrás, embora ainda estivesse meio tonta pelo sono. A espuma refletia as luzes coloridas no céu, como se eles estivessem deslizando em purpurina.
-- Você é legal. - ela disse, quando passou pela namorada dele - Gostei de você.
-- Obrigada. - a namorada sorriu, tímida, mas com o ar superior com que olharia para alguém alguns anos mais nova.
Se ela soubesse minha idade, as coisas seriam bem diferentes.
Mas ela olhou para o outro e soube que não deveria revelar nada.
Eles desceram a ladeira na onda de espuma, até que as tábuas de madeira bateram contra os postes e se quebraram. Eles caíram na espuma, que àquela altura já se espalhara e não oferecia perigo, e correram para os soldados. Uma luta começou.
No meio da confusão ela o encontrou e segurou sua mão.
-- Daqui a pouco. - ele disse, e correram em direção a um soldado, com cuidado para que a namorada não os visse.
Olhando para o rosto de todos, pois sabiam que em breve nenhum deles existiria.


SOBRE A HISTÓRIA

Sei que a história não parece ter nenhum sentido, e isso não é a toa: ela foi totalmente baseada em um sonho. Não adicionei nem tirei nada (só a parte de sexo, que no sonho era mais, digamos, detalhada) porque achei que tiraria o ar bizarro e misterioso que o sonho tinha. É basicamente sobre duas pessoas imortais vivendo em um mundo mortal, e toda melancolia e solidão que isso gera. Independentemente do sonho, já estou com essa ideia na cabeça há muito tempo, e sinto que inevitavelmente acabarei escrevendo algo bem maior sobre isso.