DEPOIS DE UM LONGO SONO
Estava começando a escurecer quando ela acordou. Estava meio calor e meio frio, como costuma estar quando acordamos de um sono profundo. Ela estava na beira de uma rua deserta.
Foi andando pela rua, até chegar a uma grande avenida. Carros estranhos, roupas estranhas. Mas a diferença não era tão grande quanto da última vez. Provavelmente, menos tempo havia se passado.
Então, na escadaria do teatro, ela o viu.
Ele estava quase igual a antes. Ao seu redor várias pessoas, uma mulher pendurada em seu braço. Ela foi andando até eles, e ele não demonstrou surpresa ao avista-la.
Cumprimentaram-se. Ele a apresentou aos outros e à namorada - a garota pequena pendurada em seu braço. Havia muita gente pela rua, uma movimentação claramente fora do normal. Muitas luzes no céu. Uma agitação ansiosa no ar.
Todos conversavam e ela conseguiu se aproximar dele.
-- Quanto tempo dormi?
-- Cinquenta anos.
-- Por quê...
-- Não sei. Você só dormiu e não acordou mais.
-- Nossos amigos?
-- A maioria morreu. Os outros estão velhos, tive que parar de ver eles.
-- Sua mulher sabe que você...
-- Não. - ele deu de ombros - É só uma mulher.
Ela entendia. Sabia como essas coisas funcionavam. Amigos, namorados, pessoas de que gostavam - e então o tempo passava, e viam todos ficarem mais velhos, decaírem, e se transformarem em pó. Todos iam embora, e eles ficavam, meros espectadores da vida.
Independentemente da atmosfera do lugar, ela estava ansiosa, agitada. Puxou-o pelo braço, e ele entendeu. Levou-a para trás do teatro, um lugar com poucas pessoas, mas com muitas luzes coloridas no céu. Ninguém percebeu quando eles saíram.
-- O que está acontecendo aqui?
-- Uma revolução. Estão prestes a fazer uma enorme passeata. Provavelmente vai haver uma revolta nas ruas.
-- Por quê?
-- Os motivos de sempre, nada importante.
Ela ficava cada vez mais agitada. Ele se apoiou na parede, ela ficou de frente para ele.
-- Do que está sentindo falta?
-- De sexo. Comida, talvez, mas mais de sexo.
Ele balançou a cabeça, entendendo, e abriu a calça. Ela o atacou como um andarilho perdido no deserto atacaria uma poça d'água. Havia pessoas em volta, mas nenhuma olhava para eles.
Ele não se preocupou em sentir qualquer coisa, estava apenas ajudando ela, como já haviam feito tantas vezes um com o outro. Mas era difícil, depois de tanto tempo, se satisfazer com tão pouco. Ela ainda estava agitada, faminta.
-- Depois. - ele disse, quando mais pessoas começaram a passar e eles corriam o risco de ser vistos - Quando as espumas acabarem.
Mal dissera isso, uma enorme onda de espuma varreu a rua. As pessoas começaram a pular sobre a espuma em tábuas de madeira, descendo a ladeira em direção ao centro, onde o exército aguardava. Ele correu para a namorada, pegou-a pela mão e os dois pularam também. Ela foi atrás, embora ainda estivesse meio tonta pelo sono. A espuma refletia as luzes coloridas no céu, como se eles estivessem deslizando em purpurina.
-- Você é legal. - ela disse, quando passou pela namorada dele - Gostei de você.
-- Obrigada. - a namorada sorriu, tímida, mas com o ar superior com que olharia para alguém alguns anos mais nova.
Se ela soubesse minha idade, as coisas seriam bem diferentes.
Mas ela olhou para o outro e soube que não deveria revelar nada.
Eles desceram a ladeira na onda de espuma, até que as tábuas de madeira bateram contra os postes e se quebraram. Eles caíram na espuma, que àquela altura já se espalhara e não oferecia perigo, e correram para os soldados. Uma luta começou.
No meio da confusão ela o encontrou e segurou sua mão.
-- Daqui a pouco. - ele disse, e correram em direção a um soldado, com cuidado para que a namorada não os visse.
Olhando para o rosto de todos, pois sabiam que em breve nenhum deles existiria.
Ele não se preocupou em sentir qualquer coisa, estava apenas ajudando ela, como já haviam feito tantas vezes um com o outro. Mas era difícil, depois de tanto tempo, se satisfazer com tão pouco. Ela ainda estava agitada, faminta.
-- Depois. - ele disse, quando mais pessoas começaram a passar e eles corriam o risco de ser vistos - Quando as espumas acabarem.
Mal dissera isso, uma enorme onda de espuma varreu a rua. As pessoas começaram a pular sobre a espuma em tábuas de madeira, descendo a ladeira em direção ao centro, onde o exército aguardava. Ele correu para a namorada, pegou-a pela mão e os dois pularam também. Ela foi atrás, embora ainda estivesse meio tonta pelo sono. A espuma refletia as luzes coloridas no céu, como se eles estivessem deslizando em purpurina.
-- Você é legal. - ela disse, quando passou pela namorada dele - Gostei de você.
-- Obrigada. - a namorada sorriu, tímida, mas com o ar superior com que olharia para alguém alguns anos mais nova.
Se ela soubesse minha idade, as coisas seriam bem diferentes.
Mas ela olhou para o outro e soube que não deveria revelar nada.
Eles desceram a ladeira na onda de espuma, até que as tábuas de madeira bateram contra os postes e se quebraram. Eles caíram na espuma, que àquela altura já se espalhara e não oferecia perigo, e correram para os soldados. Uma luta começou.
No meio da confusão ela o encontrou e segurou sua mão.
-- Daqui a pouco. - ele disse, e correram em direção a um soldado, com cuidado para que a namorada não os visse.
Olhando para o rosto de todos, pois sabiam que em breve nenhum deles existiria.
SOBRE A HISTÓRIA
Sei que a história não parece ter nenhum sentido, e isso não é a toa: ela foi totalmente baseada em um sonho. Não adicionei nem tirei nada (só a parte de sexo, que no sonho era mais, digamos, detalhada) porque achei que tiraria o ar bizarro e misterioso que o sonho tinha. É basicamente sobre duas pessoas imortais vivendo em um mundo mortal, e toda melancolia e solidão que isso gera. Independentemente do sonho, já estou com essa ideia na cabeça há muito tempo, e sinto que inevitavelmente acabarei escrevendo algo bem maior sobre isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário