terça-feira, 19 de agosto de 2014

[fanfic #009] [capítulo #004] [U2] Ausência

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AVISOS:
  • História não recomendada para menores (temas adultos)
  • Contém sexo hétero e gay

AUSÊNCIA

CAPÍTULO 4


Já era tarde quando alguém bateu na porta do quarto. Iris foi abrir, e se deparou com Bono, que lhe trazia um buquê de rosas.
— Pra você. – ele disse, lhe entregando as rosas.
— Obrigada. – ela pegou as flores, não parecendo nem feliz nem desapontada – Entra.
— Como você está? Passou bem o dia?
— Passei. O Edge e o Adam me levaram pra passear pela cidade, foi muito legal.
— Me desculpe ter ficado esses dias distante de você. Mas agora eu vou poder te dar toda a atenção que você merece.
— E a Ali?
— Ela já foi. Pegou o voo ainda há pouco para Dublin, eu fui levar ela no aeroporto. Somos só nós dois agora.
Iris sorriu levemente, mas não demonstrava a alegria que Bono esperava, e isso o deixou um pouco decepcionado. Mas achou que poderia ser o cansaço; durante os últimos dias, a menina ficara andando para cima e para baixo o dia inteiro, conhecendo a cidade e as pessoas da equipe.
— Você quer mudar para o meu quarto hoje mesmo? – disse Bono, se sentando no sofá e fazendo Iris se sentar ao seu lado – Ou quer esperar até amanhã? Eu gostaria que viesse hoje, mas se estiver cansada...
— Bono... – ela tinha um tom ligeiramente triste na voz – Eu andei pensando, e... Acho que não vou me mudar para o seu quarto.
— O que? – ele não esperava por isso – Por quê?
— Por nada. Eu só... Acho melhor ficar aqui.
— Iris, o que está havendo? Eu achei que estivesse ansiosa por poder ficar junto de mim de novo, achei que... Que fosse ficar feliz quando Ali fosse embora.
— Eu também achei. Mas... Bono, se você é casado com a Ali, porque quer tanto ficar comigo? Ou você gosta dela, ou gosta de mim. Eu não quero ficar com você sabendo que é a Ali quem você ama.
— Oh, querida... Eu amo a Ali, sim, mas também amo você.
— Mas isso não é certo! Quando a gente estava na Inglaterra, e eu ainda não tinha visto você com a Ali, era quase como se ela não existisse, e ficar com você parecia tão certo... Mas agora...
— Não tem que mudar nada, Iris. Você não vai nem lembrar da existência da Ali quando estiver comigo, eu prometo. Eu sei que é difícil entender isso, mas eu acredito que alguém pode amar duas pessoas ao mesmo tempo, da mesma forma. E eu amo você tanto quanto amo a Ali.
Ela se lembrou de quando Edge dissera a mesma coisa sobre alguém poder amar duas pessoas.
— Eu só vou para o seu quarto se você prometer que não vai falar da Ali. E que não vai me pressionar a dormir com você.
— Eu prometo. Jamais te pressionaria.

* * * * *

Iris se instalara na enorme suíte de Bono, e agora ele tentava convencê-la a compartilhar também sua cama.
— Já dormimos juntos tantas vezes...
— Não sei, Bono... Eu não consigo deixar de pensar que estou fazendo algo de errado.
— Mas nem fizemos amor ainda...
— Esse é o problema. Esse “ainda”. Eu nunca disse que ia fazer amor com você, mas sei que tudo o que está fazendo por mim é na esperança de ter alguma recompensa.
— Claro que não. Se no final você disser que decidiu não se deitar comigo, eu vou respeitar e não vou insistir. Claro que eu ficaria muito feliz se você decidisse fazer amor comigo, mas não vou usar o que estou fazendo por você como uma forma de pressão.
— Então, se dormirmos juntos, você não vai tentar...
— Claro que não.
Ela pensou um pouco, e por fim acabou se convencendo de que ele estava sendo sincero.
— Está bem. Mas se tentar qualquer coisa, eu vou embora.
— Não vou tentar nada, eu prometo.

* * * * *

Um mês depois

— Nada ainda?
— Nada. – Bono suspirou, olhando desanimado pela janela do restaurante – Nunca vi uma garota tão difícil. Acho que, quando conseguir dormir com ela, vou mandar fazerem uma queima de fogos para comemorar.
Edge riu.
— Que exagero, Bono. Você disse que ia ser paciente com ela.
— Mas eu estou sendo! – ele parecia desesperado – Edge, eu juro que não sei mais o que faço. Eu estou sendo mais carinhoso e romântico com ela do que já fui com qualquer outra mulher. Eu dou flores e presentes para ela todos os dias, nós saímos juntos, vamos aos lugares mais bonitos que eu consigo imaginar... Ela adora, claro. Está muito feliz, e eu fico feliz por isso. Mas ela não me dá nada em troca, nem um beijo! Estou começando a achar que estou fazendo tudo isso à toa. Não vou conseguir dormir com ela nunca.
— Há duas semanas você estava dizendo que esperaria a vida inteira por ela.
— Só que há duas semanas eu não estava há um mês sem sexo.
— Bem – Edge sorriu – eu já te disse que isso é muito fácil de resolver.
— Seria, se ela não estivesse no meu quarto.
— Você pode ir para o meu.
— E ela nem ia perceber a minha ausência durante duas horas. Não, Edge. É muito arriscado.
— Pra mim você está vendo empecilhos onde não tem. Se você quer sexo tanto assim, cinco minutos dentro de um camarim logo depois do show seriam suficientes.
— Não suficientes pra mim. Eu quero... – ele suspirou – Eu quero ela. E não por cinco minutos. Eu quero ela durante a noite inteira.
— Só que você não tem ela. – agora, era Edge que parecia cansado – E se continuar assim, vai acabar perdendo até o que já tem.
Ele se levantou e saiu do restaurante. Fora tão repentino que Bono demorou alguns instantes para reagir. Quando foi atrás dele, o encontrou já dentro do carro, no estacionamento.
— Ei. – Bono entrou no carro, mas não fechou a porta – O que foi?
— Nada. – Edge colocou o cinto e ligou o carro – Vamos?
Bono fechou sua porta, mas desligou o carro antes que Edge pudesse sair. Olhou em volta, para ter certeza de que não havia ninguém por perto – mesmo sabendo que ninguém poderia vê-los, por causa dos vidros escuros – e disse:
— Pare com isso. Você está sendo ridículo.
— E você está sendo egoísta! Só está pensando no seu lado! Não é só você que está há um mês sem sexo, Bono. Eu durmo sozinho todas as noites naquele maldito quarto de hotel, esperando que uma hora você tenha um tempo livre pra ir me ver. Mas você só tem olhos pra Iris.
— Não acredito que está com ciúmes dela.
— Eu não estaria se você não estivesse agindo como se ela fosse a única coisa que te importasse no mundo!
— Eu não estou agindo assim! – ele parou e respirou fundo, pois não queria começar a gritar – Desculpe. Eu sei que estou agindo como um... Um imbecil apaixonado. Não queria te deixar de lado. Mas eu quero tanto a Iris que... – ele suspirou – Não quero te usar como um substituto.
— Eu não me importo. Já me acostumei a ser tratado dessa forma, porque é sempre pra isso que você me usa, não é?
— Edge!
— Desculpe. – Edge percebeu que Bono se ofendera – Desculpe, não quis dizer isso. Esquece.
Os dois ficaram bastante tempo em silêncio, até que Bono disse:
— Eu posso dar um jeito de ir te ver, hoje. Posso dizer à Iris que tenho algum compromisso, e podemos ir para algum lugar.
— Não. – Edge ligou novamente o carro – Cuide primeiro dela.
— Mas...
— Não quero mais falar sobre isso, ok? Esqueça que eu disse qualquer coisa.
Bono acabou se calando, e eles saíram dali.

* * * * *

Iris estava no jardim do hotel, tirando fotos dos canteiros de flores e das pessoas que trabalhavam na equipe. Edge chegou e a pegou pelo braço, dizendo, com um sorriso:
— Iris, você quer sair comigo?
— Sair? – ela parecia imensamente feliz – Pra onde?
— Você vai ver quando chegarmos lá. Mas se preferir ficar...
— Não, não, eu vou sim! – ela entregou a câmera para outra garota – Vamos!
Edge a levou para uma sorveteria onde costumava ir com Morleigh, e lá eles ficaram conversando durante algum tempo. Ele sabia que Iris gostava de sua companhia tanto quanto gostava da de Bono, e mais do que gostava de estar com Adam e Larry.
Depois da sorveteria, eles foram para um parque. Mas não saíram do carro, pois estava começando a chover; ficaram ali dentro, debaixo de algumas árvores, apreciando a vista ao redor.
— Está gostando daqui? – disse Edge, mexendo nos cabelos dela.
— Estou! – ela deixou de olhar pela janela e olhou para ele – É lindo!
Ele sorriu.
— Sabe, Iris...
— O que?
Ao invés de dizer, ele ficou olhando para ela, em silêncio. Tocou o rosto dela, e ela olhava para ele com curiosidade.
— O que foi?
— Posso te pedir uma coisa?
— Claro!
— Eu quero que você feche os olhos.
— Ahm? Por quê?
— Porque sim. – ele afastou alguns fios de cabelo do rosto dela – Fecha.
Sem entender, mas curiosa para saber o que ele queria, Iris fechou os olhos. Por um momento, ele não disse ou fez nada; mas de repente ela sentiu o toque suave de outros lábios sobre os seus, e abriu os olhos, assustada. Edge a beijara.
— O-o-o que você...
— Calma. – ele a segurou suavemente, para que ela não se afastasse – Vem cá.
Ele tentou fazer aquilo de novo, mas Iris se afastou, parecendo quase em pânico.
— O que você tá fazendo? Por que você fez isso?
— Iris. – Edge riu e tocou no rosto dela – Eu sei que você quer isso.
— Não, eu não...
— Quer sim. – ele chegou mais perto dela – É tão óbvio. Você não precisa disfarçar.
— Não! – ela tentava de todas as formas impedir que ele a beijasse – Eu não posso fazer isso, o Bono...
— Ele não precisa saber.
— Eu não acredito que você está fazendo isso, Edge! O Bono é seu melhor amigo! Como pode trair ele assim?
— Você se importa tanto assim com ele?
— É claro! Eu amo ele! – ela ficou vermelha – É verdade que eu gosto de você também. Mas eu disse ao Bono que ficaria com ele, porque eu gosto dele, e nunca trairia ele, muito menos com você! Seria horrível, eu jamais faria isso!
— Você pode ficar comigo, então. Eu posso te dar tudo o que ele te dá. Posso te dar até mais. Afinal, eu não sou casado. Não teria que ficar escondendo que estamos juntos.
— Não não não! Eu não estou interessada no que você pode ou não me dar, nem no que ele faz ou não por mim. Eu estou com ele porque gosto dele, independente de qualquer coisa. Mesmo que você dissesse que quer se casar comigo e me dar o sol e a lua, eu não aceitaria.
Edge ficou olhando para ela durante algum tempo, a analisando.
— Tem certeza disso? Ele nunca saberia.
— Certeza absoluta.
— Ótimo. – ele sorriu, voltando ao que ela considerava seu estado normal – Eu acredito em você agora. Você é uma boa menina.
— Ahm?
— Eu antes achava que você só estava querendo se aproveitar do Bono. Que ficaria com qualquer cara que te oferecesse alguma coisa. Mas você me mostrou que não é assim, que realmente merece ele. – ele mexeu nos cabelos dela – Estou orgulhoso de você.
— V–você... Você estava me testando?
— Sim.
— Edge! Isso não se faz! – ela tinha lágrimas nos olhos – Eu levei um susto! Achei que você quisesse... Sei lá, achei que tudo o que eu pensava que você era estava errado!
— Desculpa. – ele sorria para ela – Mas eu precisava fazer isso. O Bono está completamente apaixonado por você, e eu sei como ele fica quando se envolve com alguém e essa pessoa o decepciona. Não queria que isso acontecesse.
Ela ficou em silêncio, ainda um pouco chateada pelo que Edge fizera. Os dois ficaram um tempo quietos, olhando pela janela para a chuva que aumentara. Edge ligou o rádio e disse:
— Vocês estão dormindo juntos?
— O que? – ela se voltou para ele.
— Você já dormiu com ele? Digo, depois que vieram para cá.
Iris ficou muito vermelha e olhou para o chão. Balançou a cabeça, dizendo que não.
— Eu imaginei que não. – disse Edge – O Bono não tem me parecido muito bem.
— Ele não comentou isso com você?
— Claro que não. Ele te respeita demais, não comenta essas coisas. Mas eu percebi que alguma coisa devia estar errada. Ele me parece muito triste. Talvez um pouco... Decepcionado.
— Mas... Ele disse que não ia me pressionar, que se eu não quisesse dormir com ele, tudo bem...
— E ele vai cumprir a promessa. Mas ele está triste porque está apaixonado por você, e você não sente o mesmo por ele.
— Claro que sinto! Eu já disse a ele que gosto dele. Só que acho que não preciso dormir com ele pra demonstrar isso.
— Eu sei o que você pensa. Mas tente entender o lado dele. Imagine que você sinta que finalmente está pronta para dormir com ele, e resolva que isso vai acontecer hoje à noite. Só que aí, quando você diz pra ele isso, ele diz que não quer. Você insiste, diz que sabe que ama ele e que quer ficar com ele para sempre. E ele diz que também gosta de você, mas que não quer fazer isso, seja lá por qual motivo. E você tenta várias vezes, você faz de tudo para que aconteça, porque você realmente quer isso... Afinal, você ama ele... Só que ele não aceita. Você não ficaria triste por isso? Não começaria a se perguntar se ele gosta mesmo de você, ou se só está fazendo um teste para ver se é isso mesmo que quer?
— Talvez... – ela estava pensativa.
— É exatamente isso o que ele está pensando agora. E ele está sofrendo por causa disso. Eu sei que você passou por coisas ruins e por um tempo você quis se preservar. Mas já faz semanas que você está com ele. Tudo o que você viveu é passado, não importa mais. Se você ama mesmo o Bono, demonstre isso, faça ele feliz. Ou vai acabar perdendo ele e passando o resto da vida lembrando só das coisas ruins que aconteceram.
A chuva diminuíra, mas agora fazia mais frio. Iris ficou olhando para fora, pensando no que Edge lhe dissera. Ele mexeu nos cabelos dela, dizendo:
— Eu não estou falando isso pra te pressionar. Eu me preocupo com você e não quero que faça nada de que se arrependa. Mas o Bono é muito importante pra mim e eu não quero que ele sofra. Tudo o que estou pedindo é que você seja justa com ele, Iris. Se você não o ama tanto assim, então diga isso para ele antes que ele se envolva mais. E se o ama, então pare de fugir, porque isso está machucando vocês dois.
— Eu amo ele. – ela suspirou – Eu só tinha medo de... De que ele me abandonasse depois de dormir comigo. De que não me amasse tanto assim.
— Eu tenho certeza de que ele te ama e que não vai te abandonar.
— Eu sei.
Ela não disse mais nada sobre aquilo, e Edge não insistiu.

* * * * *

Bono estava no quarto de Edge, e os dois conversavam.
— Mas pra aonde vocês foram? – disse Bono – Eu fiquei preocupado, vocês chegaram tarde.
— Depois eu explico. Mas não hoje. Hoje, você tem que cuidar dela.
— Como assim?
— Eu acho que ela vai dormir com você.
— O que!? Como? Por quê?
— É uma longa história, depois eu explico. Mas ela não vai se oferecer, você é que vai ter que pedir. E pedir direito. Faça alguma coisa especial, sei lá, leve ela pra jantar ou qualquer coisa assim. E peça, mas peça daquele jeito, você sabe como fazer. E mesmo que ela diga não, insista. Ela vai querer que você insista, mas de um jeito gentil. E se mostre muito, muito, muito paciente. Nada de pressa, ou pode estragar tudo.
— Claro, claro, eu vou ser paciente, vou... Mas você tem certeza que ela quer?
— Não certeza, mas acho que se você fizer tudo direito, ela vai. Eu conversei bastante com ela. Mas não fale sobre mim, nem cite o meu nome pra ela, ou ela vai achar que você só está fazendo isso porque eu mandei. Faça como se não soubesse de nada.
— Pode deixar.

* * * * *

Quando Iris terminou de se arrumar, Bono já estava esperando por ela há algum tempo. Ele a avisara de que eles sairiam para jantar fora, em um lugar especial, e ela sempre ficava um pouco nervosa em situações como aquela.
— Pra aonde a gente vai? – ela perguntou, quando eles saíram de mãos dadas do hotel e entraram no carro.
— Vamos jantar em um restaurante que eu gosto muito. É um pouco longe, mas é um lugar incrível. Acho que você vai gostar.
Eles foram para o restaurante, que era um dos mais bonitos a que Bono já a levara. Durante o jantar, ele a fez beber um pouco, embora a princípio ela recusasse.
— Eu não costumo beber.
— É só uma vez. – ele encheu o copo dela – Não vai fazer mal.
— Mas eu só vou tomar um pouquinho.
— Tudo bem. – eles brindaram – Me acompanhe.
Depois do jantar, os dois não voltaram imediatamente para o carro; preferiram ir andar um pouco ao redor do restaurante. Foram até uma praça, onde havia um enorme chafariz, e se sentaram em um dos bancos.
— Você está gostando da cidade? – ele disse.
— Sim! – ela sorriu, olhando para a água que caía do chafariz – É linda.
— Você já tinha estado nos Estados Unidos?
— Claro, eu nasci aqui.
— Sério? – ele estava surpreso – Onde?
— Na Califórnia. Mas me mudei pra Flórida quando era criança ainda.
— Nossa, eu achei que você fosse inglesa.
— A namorada do Edge também é da Califórnia, não é?
— É, acho até que está por lá agora. Ela ia aproveitar as férias para ir ver as irmãs.
— O Edge... – ela parou e ficou olhando a água cair – O Edge gosta mesmo dela, né?
— É, parece que sim.
— Eu acho que eles formam um casal muito bonito. Eu gosto mais dela do que gostava da Aisllin. Espero que eles fiquem juntos por bastante tempo.
— Eu também. Quero que eles sejam felizes. – ele a abraçou pela cintura – E espero que o mesmo aconteça com a gente.
Ela olhou para ele.
— Você quer ficar comigo por muito tempo?
— Sim. Pelo maior tempo possível.
— Mas você tem a Ali. E ama ela.
— Eu a amo sim. Ela é a mulher que mais amei a minha vida inteira. E mesmo assim, desde que te conheci, eu tenho pensado muito mais em você do que nela.
— Você gosta de mim?
— Eu te amo.
— Mesmo?
— Sim. – ele tocou no rosto dela, olhando em seus olhos – Te amo mais do que achei que fosse capaz de amar alguém. Eu daria minha vida e minha alma por você.
Os dois se olharam ainda por um tempo, e ela se sentia hipnotizada por aqueles olhos azuis, tão intensos; e então ele a beijou. Só pararam depois de muito tempo, e Bono encostou seu rosto no dela, os dois de olhos fechados, sentindo a respiração um do outro.
— Eu nunca... – ela murmurou – Nunca tinha beijado alguém que eu gostasse de verdade.
Ele sorriu e a beijou novamente. De repente, não fazia mais tanto frio; de repente, ela não se sentia mais sozinha, e não existia mais nada além de Bono. Tudo de ruim desaparecera.

* * * * *

Iris se sentou na cama, olhando pela janela para o céu nublado. Enquanto ela olhava, recomeçou a chover. Um vento frio entrou no quarto, e a fez se encolher.
— Quer que eu feche a janela? – Bono disse.
— Não precisa. – ela segurou a mão dele – Eu prefiro que você me esquente.
Aparentemente ela falara aquilo com um tom inocente, mas Bono sentiu o coração acelerar ainda mais. Sentou-se ao lado dela e a abraçou; logo, estavam se beijando de novo.
— Você se sente mais quente? – ele disse, suavemente a inclinando para a cama, fazendo-a se deitar.
— Acho que sim... – ela deixou que ele a deitasse, sem oferecer resistência.
— Posso te aquecer muito mais, se você quiser.
Ele voltou a beijá-la, mas Iris o afastou. Parecia estar bastante nervosa.
— Espera.
— Desculpe. – ele se afastou – Estou indo muito rápido.
— Um pouco. – ela se sentou, parecendo estar em dúvida do que devia ou não fazer – Estou com medo.
— Medo do que?
— Eu não sei.
— Eu não vou te machucar.
— Eu sei. Só estou um pouco... Nervosa.
— Eu te amo, Iris. – ele beijou o ombro dela – Eu te quero muito. Mas se você disser que quer parar agora, eu não vou insistir.
Ela olhou para ele, tentando se decidir; mas os olhos dele a prenderam de tal forma que ela se viu incapaz de dizer qualquer coisa. Ele tocou suavemente no rosto dela, mas não tentou beijá-la; suas mãos desceram por ela, tocando-a de forma suave. Uma das mãos de Bono tocou sua perna, enquanto a outra passeava suavemente por sua cintura, sua barriga, suas costas. Iris estava tão presa pelos olhos dele que mal percebeu quando a mão que estava em sua perna começou a subir, lentamente, para dentro do vestido. Só então Bono a beijou de novo, da mesma forma delicada.
Iris não protestou dessa vez, nem tentou fugir. Bono não precisou deitá-la; bastou incliná-la levemente, e ela se deitou, esperando por ele. Ele se deitou sobre ela, e logo não havia roupas entre eles; e tudo acontecia de forma tão suave que Iris não sentia mais medo, nem se assustava a cada novo toque, novo beijo.
Bono decidiu, depois de algum tempo, que uma das coisas que mais gostava nela eram as pernas. Apesar de pequena, ela tinha pernas longas, como as de uma modelo. Ele beijava cada centímetro das pernas dela. Seus quadris, sua cintura. Os seios grandes, fartos, onde ele se perdeu por um longo tempo. Seu pescoço pequeno. Seus cabelos, negros como a noite. Seus olhos azuis. Sua boca delicada. Ele se perdia em cada centímetro dela, não podendo decidir onde ficar, querendo passar a eternidade em cada lugar que seus lábios tocavam, mas sem poder resistir à tentação de explorar novos lugares.
Estar dentro dela, dessa vez, foi totalmente diferente de antes. Ele não tinha nenhuma pressa, nenhuma ânsia de terminar. Apenas mergulhava nela, devagar, em um ritmo lento e suave, como pequenas ondas na água calma de um rio. A princípio ela estava deitada, e ele estava sobre ela; mas acabaram por ficar sentados na cama, unidos em um abraço apertado, perdidos em pele e calor e suor, e sussurros tão baixos que eram como conversas mudas.
Para Bono, era como estar fazendo amor com uma pessoa completamente diferente. Iris abandonara o ar frio e distante de prostituta, abandonara a tristeza mal disfarçada; e ele tinha que confessar que até esperara, por um momento, que ela fosse agir como uma garotinha virgem. Obviamente, ela não só não era virgem como tinha uma vasta experiência, e a princípio ele ficou um pouco incomodado com isso; mas os conhecimentos dela acabaram por agradá-lo muito.
A madrugada veio encontra-los deitados de frente um para o outro, ela coberta pelo edredom, ele sem nada o cobrindo. Olhavam-se com o silêncio daqueles que podem ler as palavras nos olhos um do outro.
— Você vai estar aqui amanhã? – ela perguntou, mesmo sabendo a resposta.
— Na próxima e em todas as manhãs.
Satisfeita, ela fechou os olhos e adormeceu.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

[fanfic #009] [capítulo #003] [U2] Ausência

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AVISOS:
  • História não recomendada para menores (temas adultos)
  • Contém sexo hétero e gay


AUSÊNCIA

CAPÍTULO 3


Naquele dia, Bono acordou bem mais tarde do que o habitual, e com muito frio. Com esforço, levantou-se da cama e ligou o aquecedor. Enrolou-se no edredom e se arrastou até a janela. Quando abriu a cortina, deparou-se com uma Londres coberta de neve.
— O inverno chegou mais cedo. – disse Edge, saindo do banheiro – Está nevando desde de madrugada.
— Quantos graus está fazendo lá fora?
— Menos três, eu acho.
Edge deitou na cama e se cobriu, mas Bono disse:
— Vá para o seu quarto.
— Hum?
Bono começou a se vestir.
— Vista-se e vá para o seu quarto. Eu vou sair, e quando eu voltar você não pode estar aqui.
— O que está havendo? – Edge se sentou – Eu fiz alguma coisa? Porque na noite passada...
— Não, não é nada disso. Eu não estou te dispensando. – ele foi até a cama e abraçou Edge – Eu vou buscar a Iris. Vou trazer ela pra cá, nem que seja arrastada. Se ela ficar naquele apartamento, vai congelar.
— Está bem, então. Eu vou me arrumar e depois vou para o meu quarto.
— Não fique chateado.
— Não estou. Aliás, eu te chamaria de louco se você trocasse uma linda garota por mim. – ele passou a mão pelos cabelos de Bono e lhe deu um beijo no rosto – Vai lá.
— Depois eu vou te ver.
— Está bem. Vou te esperar.

* * * * *

Depois de dez minutos, Bono começou a se desesperar. Tentava afastar os maus pensamentos, dizia para si mesmo que talvez ela tivesse encontrado abrigo em outro lugar; mas seu instinto lhe dizia que algo estava errado.
— Iris! – ele bateu novamente – Iris, minha querida, sou eu, o Bono! Abra a porta, por favor! Iris!
O dono do prédio apareceu, dizendo:
— Algum problema?
— O senhor sabe se a Iris saiu?
— Eu não a vi sair. Ela costuma ficar em casa o dia todo.
— Vou arrombar essa porta!
— Ei, calma! Eu tenho a chave.
O homem abriu a porta. Bono entrou devagar, chamando:
— Iris? Você está aí?
Não havia ninguém na sala. Ele bateu levemente na porta do quarto e a abriu.
— Iris...
Então, ele a viu. Estava deitada na cama, coberta por um fino lençol, encolhida. Parecia estar dormindo. Ele podia sentir o ar congelante ao redor.
— Oh, não. – Bono ouviu o homem murmurar atrás dele, refletindo seus pensamentos.
Bono foi até a cama e tocou no rosto de Iris. A garota não reagiu. Estava pálida, e seus lábios estavam sem cor.
— Não. – ele puxou o lençol – Não, meu Deus, não.
Ela usava uma calça jeans e uma camiseta – naquele frio, era o mesmo que nada. Bono segurou seu pulso: ela tinha uma leve, quase imperceptível pulsação. Mas estava lá.
— Ela está...
— Não. – Bono tirou seu sobretudo e colocou sobre ela – Mas ela precisa sair daqui agora mesmo.
Ele a pegou no colo e a levou para fora. Antes de sair, disse:
— Tranque a porta e não deixe ninguém entrar. Eu mandarei alguém aqui depois.
— Sim, senhor.

* * * * *

Bono não saíra do lado dela nem por um momento. A princípio ela continuou mortalmente pálida e gelada, mas aos poucos sua pele foi adquirindo novamente um tom natural, levemente corado. Ele assistiu à temperatura dela voltar aos poucos ao normal, às batidas de seu coração se regularizarem. Mas ela continuava dormindo.
Iris era muito pequena. Pequena demais para passar por aquilo. Pequena demais para estar ali, naquela cama, depois de quase ter morrido congelada.
Pequena demais para mim, Bono pensou. Mas mal tivera esse pensamento, a lembrança de quando a conhecera voltou à sua mente, e ele se viu segurando a mão pequena e macia da menina, desejando que ela acordasse e o aceitasse mais uma vez.
Foi só depois de muito tempo que ela começou a despertar.
Primeiro ela apenas se moveu levemente. Depois de algum tempo, deu um longo suspiro e se mexeu mais uma vez. Por fim, abriu lentamente os olhos, piscou algumas vezes e olhou ao redor.
Bono ficara o tempo todo ali. Quando Iris olhou para ele, ele sorriu.
— Bom dia.
Iris abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu. Ela mordeu os lábios e seus olhos se encheram de lágrimas. Engoliu um soluço e murmurou:
— Eu achei... Que eu fosse morrer...
— Não pense nisso. – ele tocou os cabelos dela – Já passou. Eu te trouxe pro hospital, eles cuidaram de você. Você está bem agora.
— Estava tão frio...
— Shh... Querida... – ele a abraçou – Por que você não me ligou? Eu teria ido te buscar na mesma hora...
— Não era certo...
— Será que você não pode parar um minuto de pensar no que é certo ou não? Você podia ter morrido! Se algo acontecesse com você... – ele a abraçou com mais força – Você é importante demais pra mim, Iris. Não me pergunte o porquê, eu não sei. Mas sei que não quero ficar longe de você, e não vou te deixar fugir de novo. Eu vou te levar comigo pro hotel, e você vai ficar lá comigo, nem que eu tenha que te amarrar na cama.
— Eu não vou fugir. – ela passou os braços ao redor dele – Vou ficar com você.
— Mesmo? – ele estava muito surpreso – Você quer ficar comigo?
— Quero. Eu quero esquecer o que aconteceu, quero que tudo volte a ser como antes. – ela apoiou a cabeça no peito dele – Eu sou só a Iris, e você é o homem com quem sonhei a minha vida inteira. Nada poderia me deixar mais feliz do que ficar com você.
Ele sorriu e tocou no rosto dela. Se aproximou, buscando um beijo, mas ela o afastou.
— Não.
— Por quê? Achei que quisesse ficar comigo.
— Eu quero. Só... Só me dê um tempo. Por favor.
Como dizer “não” para aquele rostinho doce?
— Claro, vai ser como você quiser. Eu vou esperar o tempo que for preciso. – ele beijou a mão dela – Não quero te forçar a nada, nem quero que você se sinta pressionada. Vai ser quando você estiver pronta.
— Obrigada. – ela tocou no rosto dele – Bono.

* * * * *

Na manhã seguinte, Bono mandou algumas garotas da equipe comprarem roupas para Iris, pois ela não tinha nada adequado para o frio que fazia. Quando ela apareceu, arrumada e com um ar mais saudável, parecia um pouco menos frágil do que antes, embora não perdesse de todo o ar de garotinha.
— Iris, meu anjo. – ele a abraçou – Você está linda.
— Obrigada. – ela corou – Mas eu ainda tenho que voltar para o meu apartamento e pegar as minhas coisas.
— Eu já cuidei disso. Mandei algumas pessoas buscarem tudo.
— Mas os meus pôsteres...
— Chegarão aqui em perfeito estado. É uma promessa. Não se preocupe com isso. – ele lhe deu um beijo no rosto – Fique aqui, vendo tv. Eu tenho que sair, mas já volto.
— Está bem.
Ele voltou mais de uma hora depois. A encontrou sentada na cama, vendo um canal de clipes.
— Cheguei...
— Você demorou! Já passaram dois clipes do U2 na tv.
Bono riu.
— Me desculpe. É que eu fui conversar com um amigo meu que também está hospedado aqui.
— Amigo?
— É. Eu contei a ele sobre você, sabe. Sobre nós. E ele disse que gostaria de te conhecer.
— Me conhecer? Não sei...
— Ele está ali na sala. Se você não quiser vê-lo, eu o mando embora. Senão, eu o deixo entrar. Você é quem sabe.
Ela pensou um pouco. Não havia nada demais, afinal.
— Está bem. Pode deixar ele entrar.
Ele não pôde evitar um sorriso. Foi até a porta e se dirigiu à pessoa que aguardava na sala:
— Pode vir.
Iris esperou, curiosa, até que a pessoa entrasse no quarto. Quando o viu, ela tapou a boca com as mãos, abafando um grito. Bono sorria, e disse alegremente:
— Iris, esse é meu amigo Edge, creio que você já tenha ouvido falar dele. Edge, essa é a Iris, a menina de quem lhe falei.
Edge se aproximou dela, sorrindo ante a expressão de fascínio da garota. Sentou-se na cama e disse:
— Iris. – ele pegou a mão dela – Encantado.
Ele beijou a mão dela, e a menina corou profundamente.
— E-E-Edge... É... É você mesmo...
— Claro.
— Eu... Eu... Eu sempre quis te conhecer...
Bono apenas assistia, com um sorriso.
— Vou deixar vocês a sós, fiquem à vontade.
Iris mal se deu conta de que Bono saíra do quarto.
— Então, você é a garota que tem feito o Bono andar nas nuvens. – Edge tocou no rosto dela – Ele me falou muito de você, mas eu não imaginei que fosse tão bonita.
— Edge... Eu... – ela segurou a mão dele – Eu sei que você vai achar ridículo, mas quando eu tinha dez anos eu sonhava em casar com você...
Ele riu, e Iris chegou à conclusão de que não havia nenhum som mais belo do que aquele riso.
— Eu achei que o amor da sua vida fosse o Bono.
— E é! Eu sempre fiquei dividida entre vocês dois. Eu falava que queria os dois, e mamãe dizia que eu era muito possessiva.
— Não há nada de errado em se amar duas pessoas. E qualquer homem se sentiria honrado em ser amado por você.
— Talvez alguém se sinta honrado – ela baixou a cabeça – mas acho que ninguém nunca vai me amar desse jeito. Principalmente depois... Das coisas que eu fiz.
Edge pensou por algum tempo, e por fim disse:
— Bono está apaixonado por você.
Por alguns instantes, Iris ficou olhando para ele, como se não houvesse entendido suas palavras.
— O que?
— Bono está completamente apaixonado por você. Ele disse que “acha que está apaixonado”, mas eu o conheço o suficiente para saber que ele sente por você algo que nunca sentiu por nenhuma outra garota.
— V-você tem certeza? – ela chegou mais perto dele, os olhos brilhando de empolgação – Ele não está só... Só querendo se divertir, ou algo assim?
— Não. Ele está vivendo um sentimento que há anos não experimentava. Ele te ama, Iris.
Iris parecia quase brilhar de felicidade.
— Ah, Edge... Eu... Eu tenho tanto medo de me envolver com ele... Ele é casado, é vinte anos mais velho, tem duas filhas...
— E é louco por você.
— Mas eu sou só... Uma adolescente. Eu não sei nada da vida, nem namorado eu tive... E ele é tão mais velho...
— Então, deixe ele te ensinar. Você pode aprender coisas maravilhosas com ele. – Edge tocou nas mãos dela – O Bono é extraordinário, Iris. Todas as pessoas com quem ele se envolve passam momentos mágicos ao lado dele. Não perca a chance de se envolver com alguém assim.
Eles passaram muito tempo conversando. Edge dava conselhos a Iris, dicas de como agir em cada situação, de como lidar com Bono.
— Mas eu... Eu ainda não me sinto pronta pra fazer... Certas coisas com ele. Digo, eu já fiz, mas... Não sei, eu não me sinto pronta pra fazer de novo.
— Você passou por um trauma muito grande. É natural que veja o sexo como algo assustador. Mas eu tenho certeza de que isso vai passar conforme você for se relacionando com ele. O Bono é muito carinhoso, ele vai te fazer se sentir à vontade.
Nessa hora, Bono entrou no quarto.
— Voltei! – ele se aproximou da cama – O que as meninas estão conversando?
— Assuntos femininos. – disse Edge – Bom, eu tenho que ir. Depois nós conversamos mais, Iris.
— Tá bom. Tchau.
— Eu te levo até a porta. – disse Bono.
Os dois saíram do quarto. Bono saiu com Edge para o corredor, fechando a porta atrás de si.
— E então? O que vocês conversaram?
— Falamos de tudo. Principalmente sobre o relacionamento de vocês.
— E você acha que ela está afim?
— Tenho certeza. Mas vá com calma. Espere um pouco antes de levar ela pra cama. E ela precisa de muito carinho.
— Não se preocupe. Você sabe que sou carinhoso.
— É, sim. – Edge passou a mão pelos cabelos de Bono – Mas às vezes é impaciente. Eu conversei muito com ela, mas não espere que ela vá pra sua cama esta noite.
— Ela já está lá. Pelo jeito, eu é que não vou dormir na minha cama.
— Bom... Você sabe... Se você quiser, pode ir pro meu quarto... A minha cama é bem grande...
Bono sorriu.
— Me espere. Se eu não aparecer, é porque as coisas aqui correram bem.
— Ok. Vou estar te esperando.

* * * * *

Iris usava um pijama de Bono. Os dois ficaram sentados na cama, conversando, até quase meia-noite. Apesar de a menina estar adorando a conversa, Bono percebeu que ela estava muito cansada.
— Acho que é melhor nós dormirmos, querida. – ele passou os dedos pelo rosto dela – Você ainda não está totalmente recuperada.
— É, estou com sono... Mas é tão bom conversar com você... – ela o abraçou – Eu tenho medo de acordar e descobrir que foi tudo um sonho.
— Isso não é um sonho, meu amor. Não há nada tão real quanto nós dois, esse quarto, essa cama. Nem mesmo a cidade e as luzes lá fora são tão reais quanto o que está aqui.
— Você sempre fala umas coisas tão bonitas...
— Minhas palavras apenas refletem a beleza daquilo que vejo. Eu sou como o mar, Iris. Por maior que seja aquilo que digo, minhas palavras não são mais do que rios que desaguaram em mim.
Ela estava completamente fascinada. Bono, por sua vez, ainda não fizera nenhum movimento em direção a ela; sabia que, no momento certo, ela buscaria o contato. E, de fato, Iris moveu a mão, lentamente, quase sem perceber, e tocou a mão dele.
— Bono...
Ele segurou a mão dela.
— Você me assusta, Iris.
— Te assusto?
— Sim. Poucas mulheres conseguem me dominar tão completamente quanto você. E você é só uma menina.
— Eu não quero te dominar. Eu só queria... Ser especial pra você.
— Você é especial. – ele se aproximou – Eu queria poder te provar isso. Queria... Queria amar você, aqui, agora. Eu faria você se sentir a garota mais amada do mundo.
— Bono... Eu... Eu não sei...
— Me desculpe. Sei que estou sendo precipitado. Mas o amor que eu sinto me faz perder a cabeça. Você já roubou meu coração, querida, e está querendo roubar o meu juízo.
Por um momento ela parou, e Bono pôde ver milhões de dúvidas e pensamentos passando pelos olhos dela.
— Bono – ela disse, timidamente – você quer... Dormir ao meu lado?
Bono sorriu.
— Será um prazer.
— Mas eu digo só... Dormir.
— Eu sei. Não vou tentar me aproveitar da sua confiança. – ele beijou a mão dela – Eu prometo te amar, honrar e respeitar. Vou esperar até que você esteja pronta para ser minha.
Aquele tom formal e sério de Bono, aliado à sua voz grave e seu olhar intenso, fez Iris sentir arrepios. Ela se deitou, e quando Bono se deitou ao seu lado, olhando-a daquele jeito profundo, ela se lembrou involuntariamente de quando haviam se conhecido.
— Eu te quero tanto...
— Eu estou aqui. Basta você pedir, e eu serei seu.
— Me abraça...
Ele a abraçou, juntando seus corpos. Ela descansou a cabeça em seu peito nu, e ambos adormeceram em meio a um mar de fogo.

* * * * *

— E então? Como é que foi?
— Como é que foi o que?
— Como, o que? A Iris! Você transou com ela?
— Não. Nós ficamos conversando até tarde, depois deitamos abraçados e dormimos.
Por um momento Edge olhou para Bono, se perguntando se ele estava falando sério ou sendo irônico.
— Você está falando sério?
— Estou, oras. Você mesmo disse pra ir com calma.
— Sim, mas... Você disse que viria pra cá se ela não quisesse nada.
— Eu ia vir, mas ela pediu pra que eu ficasse.
— Ah, sim. E você preferiu ficar velando o sono dela do que vir me fazer companhia.
Algo no tom de Edge preocupou Bono.
— Edge – Bono tocou na mão dele – qual é o problema?
— Nada. – Edge olhou para o outro lado e cruzou os braços contra o peito – Eu só... Achei que você quisesse... Ah, não é nada. Eu só fiquei te esperando, só isso. – ele acendeu um cigarro – Eu sou um idiota.
— Me desculpe. – Bono segurou a mão de Edge – Eu devia ter vindo.
— Não, está tudo bem. Sério. Fico feliz por você.
— Escute, vamos deixar isso pra lá. Eu estou aqui agora.
— E a Iris?
— Foi com uma das meninas da equipe comprar umas coisas pra ela. Ela não tinha quase nada, pobrezinha. Só devem voltar no fim da tarde.
— Então, você vai passar o dia comigo?
— Se você quiser...
— É claro que eu quero.

* * * * *

— Então, eu vou ficar com a equipe de apoio...
— Isso. Eu vou para Dublin, e você vai para os Estados Unidos com o pessoal. Não precisa se preocupar, o Edge vai estar lá também. E eu devo chegar em quatro ou cinco dias.
— Mas vai estar com a Ali.
— Só por dez dias. Durante esse tempo, você vai fingir ser parte da equipe, só pra disfarçar. Mas eu vou te pôr em um ótimo quarto, não se preocupe. E, quando a Ali for embora, você pode se mudar pro meu quarto. Se você quiser, é claro.
— Eu queria trabalhar de verdade... Não acho certo ficar dependendo de você.
— Ora, querida, que bobagem. Você sabe que dinheiro está longe de ser um problema pra mim. Se posso doar alguns milhões para a África, posso muito bem cuidar de você. – ele lhe deu um beijo na testa – Além disso, o que uma garotinha como você vai poder fazer? Nós precisamos de profissionais, e você nem terminou o segundo grau.
Ela baixou a cabeça, vencida.
— Está bem.

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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

[fanfic #009] [capítulo #002] [U2] Ausência

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AVISOS:
  • História não recomendada para menores (temas adultos)
  • Contém sexo hétero e gay




AUSÊNCIA

CAPÍTULO 2

Três meses depois

Eu já vi isso antes, Bono pensou, quando desembarcou novamente na Inglaterra. Dezenas de repórteres e fãs gritavam seu nome. Dessa vez, o que o levava ali não era a música, e sim uma conferência das Nações Unidas, na qual ele era convidado especial.
Aquele dia e os dois seguintes foram tomados por entrevistas, longas reuniões e dezenas de conferências. No fim do terceiro dia, Bono estava exausto. Sabia que o que fazia era importante, e gostava de se sentir útil para o mundo; mas por vezes era cansativo demais, e não foi nem uma nem duas vezes que ele se sentiu tentado a abandonar tudo.
Ele ligou a tv e se deitou na cama. Apesar do cansaço, não sentia sono. Odiava dormir sozinho, mas Ali não quisera vir – eles estavam brigados há dois dias – e cada um da banda estava em um lugar diferente. Aquela seria uma semana solitária.
Ou não, ele pensou, desligando a tv. Na última vez em que estivera ali, ele conhecera uma bela garota, que o deixara intrigado. Angel. Era a prostituta mais bonita que ele já vira. Apesar da forma como ela o tratara – ou por causa disso – Bono não conseguia parar de pensar nela. E, além disso, o sexo com ela fora fenomenal. Ele tinha que vê-la de novo.
Dessa vez, ele foi de carro. A casa estava ainda mais cheia do que da outra vez. Dolly foi recebê-lo, como sempre.
— Bono, que prazer...
— Oi, Dolly. – ele olhava em volta, procurando – Eu quero aquela menina. A Angel.
— Ah, você não foi o único que se encantou por ela. Mas, infelizmente, ela não está mais aqui.
— Não? Pra aonde ela foi?
— Não sei. Ela sumiu já faz mais de dois meses. Foi pouco depois de você vir aqui pela última vez.
— Você não sabe onde eu posso encontra-la? Um endereço, qualquer coisa...
— Não, nada. Aliás, o agente também está louco atrás dela.
— Agente?
— É o cara que pôs ela aqui. Muitas chegam aqui assim. Fazem alguma coisa ilegal, ou pegam dinheiro emprestado com um cara, e depois são obrigadas a virarem putas para pagar o que devem.
— Então, ela não queria trabalhar aqui?
— É o que parece.
Bono se lembrou de como ela parecera triste naquela noite.
— Eu queria encontra-la de novo.
— Você não quer ver as outras meninas? Tenho outras que também são lindas...
— Não. Eu só queria ela.
— Você gostou mesmo dela, não é?
— Se tiver alguma notícia – ele entregou um papel para a mulher – ligue para esse telefone e fale com Paul.
— Quem é Paul?
— Sou eu.

* * * * *

Assim que ele chegou no hotel, o telefone tocou.
— Alô?
— Boa noite. – disse a voz da telefonista – Tem uma mulher na linha querendo falar com Paul.
— Pode passar.
Ouviu-se um estalo, e logo uma voz de mulher.
— Alô?
— Aqui é Paul.
— Aqui é Suzie. Eu trabalhei com a Angel.
Bono sentiu o coração acelerar, mas manteve o tom indiferente.
— É mesmo?
— Sim. Soube que ficou interessado nela. – ela fez uma pausa – Sei onde ela está.
— Onde?
— O que eu ganho se te disser?

* * * * *

Bono bateu na porta. Três batidas. O prédio era decadente e os apartamentos eram minúsculos. O bairro inteiro era muito suspeito. Um bom lugar para uma prostituta.
Não demorou muito para que a porta se abrisse. Angel surgiu, e Bono só a reconheceu pelos olhos azuis. Sem a maquiagem, o salto altíssimo e o vestido curto, ela parecia pouco mais que uma criança.
Ele, porém, foi imediatamente reconhecido. A garota deu um grito e saltou para trás, batendo a porta.
— Angel – ele bateu novamente – por favor, abra a porta.
— Vai embora! – ele a ouviu gritar.
— Por favor, querida. Eu quero conversar com você.
— Não! Eu sei o que você quer! Eu não faço mais isso!
— Eu prometo que não vou te fazer mal. Abra, meu anjo.
— Não!
Seria difícil. Bono respirou fundo. Mantenha a calma.
— Angel, eu não tenho pressa. Vou ficar aqui até falar com você, nem que tenha que esperar até amanhã.
Ele se apoiou na parede e esperou. Depois de meia hora, ele se sentou no chão empoeirado. Depois de uma hora, ele começou a se perguntar por que não ia embora. Mas os olhos assustados da menina dançavam à sua frente. Só queria vê-la mais uma vez.
Em algum apartamento um rádio anunciou seis horas. Já fazia quase três horas que ele estava ali. E, nessa hora, ele ouviu a porta ser destrancada. Levantou–se depressa, limpando a poeira das roupas, e esperou, ansioso. Devagar, bem lentamente, a porta se abriu. Um par de olhos azuis, emoldurados por fios de cabelos negros, espiou pela fresta, e pareceu surpreso ao vê-lo.
Os dois se olharam. Bono não disse nada; a menina era como um bichinho assustado, e fugiria ao menor movimento. Ela o fitou por um tempo, hesitou, quis voltar; mas acabou por abrir completamente a porta, permitindo que ele entrasse.
Bono entrou no pequeno apartamento. Era uma sala minúscula, com uma cadeira, algumas almofadas no chão, uma mesinha, um rádio e um pequeno armário de madeira. Do lado oposto havia um corredor, onde se via um banheiro minúsculo e uma porta fechada, que devia ser o quarto.
A garota trancou a porta e se virou para Bono.
— O que você quer?
— Há quanto tempo você mora aqui?
— Ahm... Uns dois meses... Mas o que você...
— Como você almoça? Não tem geladeira, nem fogão...
— Eu, hum... Não almoço.
— Não? – ele deixou de examinar o armário e se voltou para ela – Não come nada?
— Eu tomo café da manhã na padaria, e às vezes janto, nos fins de semana...
Ele a olhava incrédulo.
— Você não sente fome?
— Sinto, mas... – ela corou – Às vezes sobra dinheiro, eu posso comprar um salgado ou um biscoito... Dá pra passar...
— Você está trabalhando?
— Mais ou menos. Eu... Tem um cara que toca na praça ali embaixo, e às vezes ele me deixa ir junto, e divide o dinheiro comigo.
— Você toca o que?
— Violão, gaita... Às vezes eu canto... Mas não sou muito boa. Você, ahm... Pode sentar aqui...
Ela lhe ofereceu a cadeira, e se sentou no chão, sobre as almofadas. Parecia mais do que nunca uma criança, e Bono tinha dificuldade para acreditar que ela e a garota com quem fora para a cama eram a mesma pessoa.
— Como você me achou?
— Uma menina do bordel me deu esse endereço.
— E por que você veio?
Essa era uma pergunta difícil. Bono demorou a responder e ficou olhando para a janela, mas em nenhum momento a garota desviou o olhar dele. Finalmente, ele disse:
— Eu queria te ver de novo. Fui ao bordel, e Dolly me disse que você tinha sumido. Então resolvi te procurar.
O olhar dela mudou completamente.
— Perdeu o seu tempo. – ela se levantou – Eu não faço mais aquelas coisas.
— Por que você saiu de lá?
— Eu nunca quis estar lá.
— Então, por que foi trabalhar lá?
— Isso não é da sua conta. Você não vai conseguir o que queria. Vá embora, por favor. E não volte mais.
Bono se levantou e se dirigiu para a porta, mas parou a meio caminho. Olhou para Angel, que agora olhava para o chão. A menina sentiu que estava sendo observada, e olhou para ele. Tão pequena, com aquele rostinho delicado de criança. Aqueles olhos cor de céu.
Em um segundo, ele a agarrou e a imprensou contra a parede. Ela não gritou, mas havia terror em seus olhos.
— O que você está fazendo?
Outra pergunta difícil. Ele não sabia o que estava fazendo.
— Ninguém nunca me rejeitou desse jeito. – ele disse, e também não sabia o que estava dizendo – Por que você não me quer? Sabe quantas garotas dariam tudo por uma chance como essa?
— Me solta!
Ele a arrastou para o quarto. Ela lutou, mas era pequena, e ele era forte; a segurou firmemente e abriu a porta, a empurrando para dentro e fechando a porta atrás de si.
— Você é só uma prostituta. – ele a puxou para si – Por que me deixa assim?
Bono parou. Seu olhar se desviara da garota por um milésimo de segundo, mas fora o suficiente. E ele viu.
O quarto era pequeno, como todo o apartamento. Havia uma cama de solteiro e uma mesa pequena; eram os únicos móveis. Mas o quarto não estava de modo algum vazio.
Por todo lado, em todas as paredes, do chão até o teto, havia pôsteres. Não havia nem um milímetro que não houvesse sido revestido. Pôsteres grandes, pequenos, gigantes; recortes de jornal, capas de revista. Alguns cobriam parcialmente outros. Centenas, incontáveis pôsteres.
E todos, sem exceção, eram do U2.
Bono soltara Angel, e agora olhava em volta, boquiaberto. Sobre uma mesa havia discos e fitas de vídeo, todos do U2. Ele não se surpreenderia se ali houvesse a coleção completa, contando os singles e edições raras. Havia revistas espalhadas pelo chão, e ele pôde ver, sobre a cama, camisetas oficiais, inclusive uma com a foto dele estampada.
— Mas... – ele murmurou – Isso...
Agora, Angel apenas chorava. Bono se perguntou no que estava pensando quando a atacara daquela forma, e ficou horrorizado quando pensou no que poderia ter feito.
— Angel... – ele se aproximou lentamente dela – Me perdoe, eu não sei o que deu em mim... Eu não ia te machucar, me desculpe...
Ele tentou abraça-la, mas ela o repeliu.
— Não me toque! Sai daqui!
Ao invés de sair, ele se aproximou de uma das paredes e começou a examinar os pôsteres. Havia alguns raros, outros de que ele nem se lembrava. Vários estavam autografados por ele ou pelos outros.
— Deve ter demorado anos pra conseguir tudo isso.
Angel agora estava sentada na cama, chorando. Sobre a mesa, Bono viu o retrato de um casal, em cima de uma caixa de sapatos.
— São seus pais?
A garota correu até a caixa e a pegou, abraçando-a de encontro ao peito.
— Não interessa! Sai daqui!
— Angel, vamos conversar...
— Não! Eu te odeio!
— Se me odiasse, não teria todas essas coisas.
— Esse não é você! – ela apontou para um dos pôsteres – O Bono dessas fotos não é como você! Ele nunca faria as coisas horríveis que você fez!
Bono suspirou.
— Certo. Eu vou embora.
Angel ficou encostada à parede, com a caixa abraçada contra o peito. Dessa vez, não tirou os olhos de Bono até que ele saísse.

* * * * *

Três dias depois, Bono voltou ao apartamento. Prolongara sua estadia na Inglaterra apenas para falar com Angel. E agora tinha um bom motivo: ele precisava pedir desculpas.
Ele bateu na porta e esperou. Dessa vez levava flores, uma dúzia de rosas, e estava preparado para usar todas as suas técnicas de persuasão. Sua fama com as mulheres não era injustificada: ele tinha um invejável poder de sedução, e sabia usá-lo.
A porta se abriu, e novamente aquele doce rostinho rosado apareceu. Era impressão dele, ou ela parecia a cada dia mais nova? De qualquer forma, dessa vez ela não fugiu. Apenas olhou para ele, com um olhar triste e cansado.
— O que você quer?
Uma voz que era quase um sussurro.
— Eu vim te ver. Quero conversar com você, pedir desculpas.
— Desculpas?
— Sim. – ele ofereceu as flores – Tome, comprei pra você.
Para alívio dele, ela aceitou as flores, embora sem nenhum sorriso ou palavra de agradecimento. Apenas ficou olhando para elas, como se buscasse um sentido oculto.
— Eu posso entrar?
— Sim. Entra.
Estava sendo fácil demais, ele pensou. Havia algo errado. E por que ela parecia tão triste?
— É a primeira vez que eu ganho flores.
— Seus namorados nunca te deram?
— Eu nunca tive um namorado. – ela suspirou, triste – Vamos para o meu quarto, lá é melhor.
Bono estava definitivamente surpreso. Seguiu a garota até o quarto e se sentou ao lado dela na cama. Ela colocou as flores sobre o travesseiro, carinhosamente.
— Eu achei que você não fosse mais voltar aqui.
— E eu achei que você não fosse me receber.
— De que ia adiantar? Era capaz de você ficar sentado na beira da porta até eu sair. Por que fica vindo atrás de mim?
— Eu te devo um pedido de desculpas pelo meu comportamento, naquele dia. Além disso, você foi a primeira mulher que me rejeitou. Digo, outras já tinham recusado antes, mas sempre por algum motivo, e sempre ficavam tentadas. Você foi a primeira que simplesmente não quis dormir comigo. E eu precisava saber o porquê.
— Você não pode se conformar com o fato de uma garota simplesmente não te achar atraente?
— Não, não posso. E, se você não me achasse atraente, não teria todos esses pôsteres.
— O Adam é muito mais bonito do que você. – a expressão dele foi tão arrasada que ela logo disse – Não, estou brincando! Está certo, você é atraente. Mas isso não quer dizer que eu vou correr pra sua cama.
— Você deve estar me achando prepotente.
— Estou.
— Mas entenda o meu lado, querida. Eu te conheci como garota de programa, tive uma noite maravilhosa de sexo com você. E agora você age como uma mocinha virgem.
— Você acha que eu gostava de estar lá? – ela se levantou – Você não tem ideia do que é aquilo! Eu só estava lá porque era obrigada!
— Obrigada por quem?
— Pelo Diego. É um cara a quem devo dinheiro. Se ele me encontrar agora, ele me mata.
— Dolly me disse que você chegou virgem ao bordel.
A menina tentou falar, mas nenhum som saiu de sua boca. Apenas balançou a cabeça, assentindo. Bono se levantou e se aproximou dela.
— Quem foi seu primeiro cliente?
— Eu não posso dizer.
— Confie em mim, eu não vou contar pra ninguém.
— É que... É um homem importante...
Ele segurou as mãos dela.
— Me diz.
— Foi... O primeiro ministro...
— O que!? O primeiro ministro britânico?
— Sim.
Bono tinha se encontrado com ele há poucos dias, para negociar o aumento da ajuda a países africanos.
— Ele foi carinhoso com você?
— Não... – ela começou a chorar – Ele é horrível, eu tinha nojo dele... Ele me machucou tanto...
— Shh... Não chore... – Bono a abraçou – Já passou...
— Era tão horrível... Todos eles... Você foi o único que foi gentil comigo...
— Eu jamais te machucaria, querida. Mas... Você me rejeitou mesmo assim, recusou meu carinho.
— É que... Você não devia estar ali...
— Por quê?
— Você era... Eu achava que você era diferente dos outros... Quando eu vi você entrando naquele quarto, foi como se tudo em que eu acreditasse estivesse desabando. Descobrir que você era igual aos outros...
— Eu não sou igual aos outros.
— Você é mais carinhoso, só isso. Mas isso não muda nada. Você vai lá, faz sexo com uma pessoa, paga por isso e vai embora. Pra você não importa quem ela é, o que ela sente, se ela queria estar ali ou não. Eu não era a única que só estava ali porque era obrigada. Você já deve ter pagado por várias garotas iguais a mim, e nunca se importou. Pra você, nós não somos nada.
— Isso é mentira. Eu me importei com você. É por isso que estou aqui, agora.
Ela balançou a cabeça.
— Você só está aqui porque me achou bonita e queria dormir comigo de novo.
— Não! Digo, também, mas... Mas não foi só por isso. Olhe pra mim, eu posso ter quantas mulheres eu quiser... Mas estou aqui, me arrastando pra você! Acha que eu faria isso se você não fosse especial?
— E o que você quer de mim?
— Eu não sei o que eu quero, Angel... Não. – ele olhou por um momento para um pôster na parede, em que ele agarrava Edge – Esse não é o seu nome, não é mesmo?
— Não.
— Me diz o seu nome de verdade.
— Por quê?
— Porque você não é mais uma prostituta. Agora é só uma garota normal, uma linda garota, e é muito especial para mim. Eu quero saber o nome dessa garota, e não o nome que te deram no bordel.
Durante algum tempo ela manteve os olhos baixos, e Bono a deixou refletir; e então ela encontrou o seu olhar, azul no azul.
— Meu nome é Iris.
Bono perdeu a voz.
— Iris... Era o nome da minha mãe.
— Eu sei. Minha mãe me deu esse nome em homenagem a você.
Por um momento ele não soube o que dizer.
— Você é muito especial. – ele a abraçou – Mais do que eu imaginei que fosse.
Houve um momento de calma entre os dois. Iris se sentou no chão e Bono se sentou ao seu lado. A caixa de sapatos, com a foto do casal em cima, estava em frente a eles.
— O que aconteceu com seus pais?
— Eles morreram em um acidente de avião. Hoje faz um ano.
— Por isso você estava tão triste quando eu cheguei?
— É.
Ela abriu a caixa. Dentro, dezenas de fotos.
— Mamãe.
Uma bela mulher. E Bono sabia que já a vira antes.
— Qual era o nome dela?
— Leticia.
— Acho que a conheço de algum lugar.
— Nós íamos sempre aos shows. Ela sempre dava um jeito de chegar perto de vocês, conseguir um autógrafo...
— Seus pais também gostavam do U2?
— Sim. – ela sorriu, olhando uma foto – Mamãe dizia que, quando estava grávida, ela ficava ouvindo os discos o dia inteiro... Eu cresci ouvindo vocês. A primeira palavra que eu disse foi Bono.
Bono sorriu.
— Sério?
— Sério. E meus pais nem ficavam com ciúmes, porque eles também eram seus fãs. Aqui, olha essa foto.
Era Íris criança e sua mãe, em uma fila, à noite.
— Eu tinha uns seis ou sete anos. Essa foi a noite de lançamento do Joshua Tree. Eu lembro que eu fiquei um ano juntando o troco da padaria, só pra poder comprar esse disco. Quando a loja abriu foi um caos, mas eu e mamãe conseguimos ser as primeiras a comprar. Depois, eu consegui um autógrafo seu na capa. – ela mostrou outra foto, do próprio Bono a segurando no colo, enquanto ela exibia feliz a capa do Joshua Tree autografada – Esse é o disco mais especial pra mim.
Ele ficou olhando a foto. Era tão estranho, ele a pegara no colo quando pequena e depois fora para a cama com ela. E aquela nem era uma foto tão antiga, devia ter uns oito, nove anos...
Deus.
— Querida – ele disse de repente – quantos anos você tem? – eles se olharam – Porque, se nessa época você tinha seis anos, é impossível que hoje tenha dezoito.
Ela baixou a cabeça.
— Tenho quinze.
— Quinze. – ele repetiu, balançando a cabeça – É uma criança. Por que disse que tinha dezoito?
— Menores de idade não podem trabalhar no bordel, então Diego, o meu agente, falsificou uma identidade pra mim. Se eu contasse pra alguém, ele disse que ia me matar.
— Deus... Eu sinto muito... – ele passou a mão pelos cabelos dela – Você é só uma menina, e eu fui tão rude com você... Me perdoe...
— A culpa não é sua. Você não tinha como saber.
— Devia saber, você não poderia mesmo ser maior de idade... Me dê uma chance de consertar isso. Me conte o que aconteceu com você, talvez eu possa te ajudar.
— Foi tudo tão rápido. – ela olhava fixamente para uma foto de seus pais – Teve o acidente, e eu fui para a guarda do meu tio, irmão do meu pai. Eu nem conhecia ele. E ele parecia me odiar. Tanto ele quanto a mulher dele me tratavam mal, era horrível. Eu acabei fugindo, e como não tinha dinheiro, peguei carona com um cara e vim pra cá. Esse cara era o Diego. Ele se ofereceu pra me ajudar, me emprestou dinheiro, me fez assinar umas coisas... Depois de um tempo ele me cobrou, mas os juros tinham feito o valor aumentar de um jeito absurdo. Eu não tinha como pagar, e ele disse que ia me matar se eu não trabalhasse pra ele.
— E você sabia que tipo de trabalho era?
— Claro que não. Se soubesse, teria preferido morrer.
— E agora você fugiu.
— Fugi, mas o Diego está atrás de mim. Se ele me encontrar, ele me mata.
— Isso é loucura, você tem que sair daqui. Se eu te encontrei, ele também pode te encontrar.
— Eu não tenho pra aonde ir.
— Venha comigo. Eu estou hospedado em um hotel, é seguro lá. Você pode ficar comigo, pelo menos por enquanto.
— Não. Não posso.
— Por quê? O meu quarto é grande, confortável, você vai ter tudo o que precisa.
— Não posso ficar vivendo às suas custas. – ela se levantou – E não é certo ficar com você no seu quarto.
— Não confia em mim? – ele também se levantou – Acha que vou tentar alguma coisa?
— Não sei. Mas não é certo. E você é casado.
— Por favor, Iris. O que não é certo é você ficar morando em um lugar como esse. O inverno está chegando, e isso aqui não tem nem aquecedor. Se nevar, você vai congelar.
— Não. Eu não quero a sua ajuda. Você já me magoou muito, eu não quero me decepcionar de novo.
— Eu não vou te decepcionar. Prometo que vou te respeitar, não vou fazer nada que você não queira.
Iris colocou a caixa sobre a mesa e pegou uma foto, pensativamente.
— Essa foto é da minha mãe no primeiro show do U2 que ela viu.
— Deixa eu ver.
Bono pegou a foto. Era em preto e branco, e mostrava ele com uns vinte anos, abraçado a uma bela garota.
— Que estranho. – ele disse – Eu tenho a impressão de que realmente a conheço.
— Ela sempre conseguia tirar uma foto com você.
— Não falo disso. É como se eu a conhecesse de verdade, entende? Como se fossemos... Não sei, velhos amigos, talvez.
— Nossa, acho que era o sonho dela. A coisa que ela mais queria era ficar perto de você. Ah, e ela vivia dizendo que um dia você seria tão importante pra mim quanto era pra ela.
Ele olhou novamente para a foto, e depois para Iris.
— Eu gostaria de ser.
Iris ficou séria por um momento.
— Talvez seja.
— Venha comigo, Iris. Me deixa cuidar de você.
— Não. Eu não posso.
— Pelo menos pense. Aqui, esse é o telefone do hotel. – ele lhe entregou um cartão – Eu vou ficar aqui até a próxima sexta. Se mudar de ideia, basta me ligar.
Ela guardou o cartão, embora não desse nenhum sinal de que ia sequer pensar na proposta.

* * * * *

Bono saiu do banho e se jogou na cama, sentindo-se muito cansado. Iris não lhe saía da cabeça. Ele se sentia culpado por ter usado seus serviços de prostituta, e ao mesmo tempo tinha um desejo quase incontrolável de tê-la novamente.
Estava ele perdido em pensamentos, quando bateram na porta. Ele foi atender, rezando para que não fosse nenhuma fã oferecendo sua companhia noturna – se bem que não seria nada mal, se fosse uma garota bonita, ou duas...
Quando ele abriu a porta, viu que não era nenhuma fã. Era Edge.
— Serviço de quarto. – disse Edge, sorrindo.
— Edge!? O que você está...
— Acabei de me hospedar no quarto ao lado e vim te visitar.
Edge entrou no quarto. Bono ainda estava aturdido.
— O que veio fazer na Inglaterra?
— Vim te ver, sei que você não gosta de ficar sozinho. Mas se não gostou da surpresa, eu posso ir embora.
— Não! Não, é claro que gostei... Eu só não esperava, só isso. Quer beber um pouco?
— Não, quero beber muito. Uísque, por favor.
Os dois começaram a beber. Edge contou as novidades da Irlanda, e depois disse:
— Eu achei que você fosse voltar na semana passada.
— Eu ia, mas consegui uma reunião com o secretário do tesouro, não quis perder essa chance. – ele encheu novamente seu copo – Quer ver televisão?
— Não.
— E você...
Antes que Bono terminasse, Edge pousou uma mão em sua perna. Bono se levantou imediatamente, afastando-se.
— Qual o problema? – Edge o analisava.
— Oh, nada. Você quer chocolate? – ele pegou uma caixa de bombons – Eu ganhei do primeiro ministro...
— Bono – Edge se levantou e tirou a caixa das mãos de Bono, colocando-a sobre o sofá. Sua voz tinha um tom baixo e suave – eu não quero chocolate.
Bono desviou o olhar.
— Não.
— Eu não vim da Irlanda até aqui pra beber com você. Você sabe disso.
— Não, Edge. Por favor.
— O que está acontecendo?
Apesar do tom suave, Edge tinha um brilho decidido no olhar. Bono achou melhor dizer a verdade; se não pudesse contar isso para seu melhor amigo, para quem contaria?
— Eu conheci uma garota.
— Ah. – Edge balançou a cabeça – Uma fã?
— Mais ou menos. É alguém especial, Edge. Acho que estou apaixonado por ela.
Para alívio de Bono, Edge sorriu.
— Bonita?
— Linda.
— Me conte. – Edge se deitou na cama – Como vocês se conheceram?
Bono se deitou ao lado de Edge e lhe contou tudo.
— Ah, Bono, que lindo... O rock star e a prostituta. Daria um filme.
— Ex–prostituta.
— Eu quero conhecer essa menina.
— Estou fazendo de tudo para que ela aceite vir ficar aqui comigo. Se ela aceitar, penso em leva-la para os Estados Unidos.
— Mas a Ali não vai com você?
— Ela só vai por um tempo. Enquanto isso, a Iris pode fingir ser uma funcionária da equipe. Quando a Ali for embora, Iris se muda para o meu quarto.
— Mas e se ela não quiser ser sua amante? Se aceitar sua ajuda mas não quiser dar nada em troca?
— Edge, querido, você sabe que é impossível alguém dormir no meu quarto e não acabar na minha cama.
Edge riu.
— É, eu sei.