sexta-feira, 1 de agosto de 2014

[fanfic #009] [capítulo #002] [U2] Ausência

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AVISOS:
  • História não recomendada para menores (temas adultos)
  • Contém sexo hétero e gay




AUSÊNCIA

CAPÍTULO 2

Três meses depois

Eu já vi isso antes, Bono pensou, quando desembarcou novamente na Inglaterra. Dezenas de repórteres e fãs gritavam seu nome. Dessa vez, o que o levava ali não era a música, e sim uma conferência das Nações Unidas, na qual ele era convidado especial.
Aquele dia e os dois seguintes foram tomados por entrevistas, longas reuniões e dezenas de conferências. No fim do terceiro dia, Bono estava exausto. Sabia que o que fazia era importante, e gostava de se sentir útil para o mundo; mas por vezes era cansativo demais, e não foi nem uma nem duas vezes que ele se sentiu tentado a abandonar tudo.
Ele ligou a tv e se deitou na cama. Apesar do cansaço, não sentia sono. Odiava dormir sozinho, mas Ali não quisera vir – eles estavam brigados há dois dias – e cada um da banda estava em um lugar diferente. Aquela seria uma semana solitária.
Ou não, ele pensou, desligando a tv. Na última vez em que estivera ali, ele conhecera uma bela garota, que o deixara intrigado. Angel. Era a prostituta mais bonita que ele já vira. Apesar da forma como ela o tratara – ou por causa disso – Bono não conseguia parar de pensar nela. E, além disso, o sexo com ela fora fenomenal. Ele tinha que vê-la de novo.
Dessa vez, ele foi de carro. A casa estava ainda mais cheia do que da outra vez. Dolly foi recebê-lo, como sempre.
— Bono, que prazer...
— Oi, Dolly. – ele olhava em volta, procurando – Eu quero aquela menina. A Angel.
— Ah, você não foi o único que se encantou por ela. Mas, infelizmente, ela não está mais aqui.
— Não? Pra aonde ela foi?
— Não sei. Ela sumiu já faz mais de dois meses. Foi pouco depois de você vir aqui pela última vez.
— Você não sabe onde eu posso encontra-la? Um endereço, qualquer coisa...
— Não, nada. Aliás, o agente também está louco atrás dela.
— Agente?
— É o cara que pôs ela aqui. Muitas chegam aqui assim. Fazem alguma coisa ilegal, ou pegam dinheiro emprestado com um cara, e depois são obrigadas a virarem putas para pagar o que devem.
— Então, ela não queria trabalhar aqui?
— É o que parece.
Bono se lembrou de como ela parecera triste naquela noite.
— Eu queria encontra-la de novo.
— Você não quer ver as outras meninas? Tenho outras que também são lindas...
— Não. Eu só queria ela.
— Você gostou mesmo dela, não é?
— Se tiver alguma notícia – ele entregou um papel para a mulher – ligue para esse telefone e fale com Paul.
— Quem é Paul?
— Sou eu.

* * * * *

Assim que ele chegou no hotel, o telefone tocou.
— Alô?
— Boa noite. – disse a voz da telefonista – Tem uma mulher na linha querendo falar com Paul.
— Pode passar.
Ouviu-se um estalo, e logo uma voz de mulher.
— Alô?
— Aqui é Paul.
— Aqui é Suzie. Eu trabalhei com a Angel.
Bono sentiu o coração acelerar, mas manteve o tom indiferente.
— É mesmo?
— Sim. Soube que ficou interessado nela. – ela fez uma pausa – Sei onde ela está.
— Onde?
— O que eu ganho se te disser?

* * * * *

Bono bateu na porta. Três batidas. O prédio era decadente e os apartamentos eram minúsculos. O bairro inteiro era muito suspeito. Um bom lugar para uma prostituta.
Não demorou muito para que a porta se abrisse. Angel surgiu, e Bono só a reconheceu pelos olhos azuis. Sem a maquiagem, o salto altíssimo e o vestido curto, ela parecia pouco mais que uma criança.
Ele, porém, foi imediatamente reconhecido. A garota deu um grito e saltou para trás, batendo a porta.
— Angel – ele bateu novamente – por favor, abra a porta.
— Vai embora! – ele a ouviu gritar.
— Por favor, querida. Eu quero conversar com você.
— Não! Eu sei o que você quer! Eu não faço mais isso!
— Eu prometo que não vou te fazer mal. Abra, meu anjo.
— Não!
Seria difícil. Bono respirou fundo. Mantenha a calma.
— Angel, eu não tenho pressa. Vou ficar aqui até falar com você, nem que tenha que esperar até amanhã.
Ele se apoiou na parede e esperou. Depois de meia hora, ele se sentou no chão empoeirado. Depois de uma hora, ele começou a se perguntar por que não ia embora. Mas os olhos assustados da menina dançavam à sua frente. Só queria vê-la mais uma vez.
Em algum apartamento um rádio anunciou seis horas. Já fazia quase três horas que ele estava ali. E, nessa hora, ele ouviu a porta ser destrancada. Levantou–se depressa, limpando a poeira das roupas, e esperou, ansioso. Devagar, bem lentamente, a porta se abriu. Um par de olhos azuis, emoldurados por fios de cabelos negros, espiou pela fresta, e pareceu surpreso ao vê-lo.
Os dois se olharam. Bono não disse nada; a menina era como um bichinho assustado, e fugiria ao menor movimento. Ela o fitou por um tempo, hesitou, quis voltar; mas acabou por abrir completamente a porta, permitindo que ele entrasse.
Bono entrou no pequeno apartamento. Era uma sala minúscula, com uma cadeira, algumas almofadas no chão, uma mesinha, um rádio e um pequeno armário de madeira. Do lado oposto havia um corredor, onde se via um banheiro minúsculo e uma porta fechada, que devia ser o quarto.
A garota trancou a porta e se virou para Bono.
— O que você quer?
— Há quanto tempo você mora aqui?
— Ahm... Uns dois meses... Mas o que você...
— Como você almoça? Não tem geladeira, nem fogão...
— Eu, hum... Não almoço.
— Não? – ele deixou de examinar o armário e se voltou para ela – Não come nada?
— Eu tomo café da manhã na padaria, e às vezes janto, nos fins de semana...
Ele a olhava incrédulo.
— Você não sente fome?
— Sinto, mas... – ela corou – Às vezes sobra dinheiro, eu posso comprar um salgado ou um biscoito... Dá pra passar...
— Você está trabalhando?
— Mais ou menos. Eu... Tem um cara que toca na praça ali embaixo, e às vezes ele me deixa ir junto, e divide o dinheiro comigo.
— Você toca o que?
— Violão, gaita... Às vezes eu canto... Mas não sou muito boa. Você, ahm... Pode sentar aqui...
Ela lhe ofereceu a cadeira, e se sentou no chão, sobre as almofadas. Parecia mais do que nunca uma criança, e Bono tinha dificuldade para acreditar que ela e a garota com quem fora para a cama eram a mesma pessoa.
— Como você me achou?
— Uma menina do bordel me deu esse endereço.
— E por que você veio?
Essa era uma pergunta difícil. Bono demorou a responder e ficou olhando para a janela, mas em nenhum momento a garota desviou o olhar dele. Finalmente, ele disse:
— Eu queria te ver de novo. Fui ao bordel, e Dolly me disse que você tinha sumido. Então resolvi te procurar.
O olhar dela mudou completamente.
— Perdeu o seu tempo. – ela se levantou – Eu não faço mais aquelas coisas.
— Por que você saiu de lá?
— Eu nunca quis estar lá.
— Então, por que foi trabalhar lá?
— Isso não é da sua conta. Você não vai conseguir o que queria. Vá embora, por favor. E não volte mais.
Bono se levantou e se dirigiu para a porta, mas parou a meio caminho. Olhou para Angel, que agora olhava para o chão. A menina sentiu que estava sendo observada, e olhou para ele. Tão pequena, com aquele rostinho delicado de criança. Aqueles olhos cor de céu.
Em um segundo, ele a agarrou e a imprensou contra a parede. Ela não gritou, mas havia terror em seus olhos.
— O que você está fazendo?
Outra pergunta difícil. Ele não sabia o que estava fazendo.
— Ninguém nunca me rejeitou desse jeito. – ele disse, e também não sabia o que estava dizendo – Por que você não me quer? Sabe quantas garotas dariam tudo por uma chance como essa?
— Me solta!
Ele a arrastou para o quarto. Ela lutou, mas era pequena, e ele era forte; a segurou firmemente e abriu a porta, a empurrando para dentro e fechando a porta atrás de si.
— Você é só uma prostituta. – ele a puxou para si – Por que me deixa assim?
Bono parou. Seu olhar se desviara da garota por um milésimo de segundo, mas fora o suficiente. E ele viu.
O quarto era pequeno, como todo o apartamento. Havia uma cama de solteiro e uma mesa pequena; eram os únicos móveis. Mas o quarto não estava de modo algum vazio.
Por todo lado, em todas as paredes, do chão até o teto, havia pôsteres. Não havia nem um milímetro que não houvesse sido revestido. Pôsteres grandes, pequenos, gigantes; recortes de jornal, capas de revista. Alguns cobriam parcialmente outros. Centenas, incontáveis pôsteres.
E todos, sem exceção, eram do U2.
Bono soltara Angel, e agora olhava em volta, boquiaberto. Sobre uma mesa havia discos e fitas de vídeo, todos do U2. Ele não se surpreenderia se ali houvesse a coleção completa, contando os singles e edições raras. Havia revistas espalhadas pelo chão, e ele pôde ver, sobre a cama, camisetas oficiais, inclusive uma com a foto dele estampada.
— Mas... – ele murmurou – Isso...
Agora, Angel apenas chorava. Bono se perguntou no que estava pensando quando a atacara daquela forma, e ficou horrorizado quando pensou no que poderia ter feito.
— Angel... – ele se aproximou lentamente dela – Me perdoe, eu não sei o que deu em mim... Eu não ia te machucar, me desculpe...
Ele tentou abraça-la, mas ela o repeliu.
— Não me toque! Sai daqui!
Ao invés de sair, ele se aproximou de uma das paredes e começou a examinar os pôsteres. Havia alguns raros, outros de que ele nem se lembrava. Vários estavam autografados por ele ou pelos outros.
— Deve ter demorado anos pra conseguir tudo isso.
Angel agora estava sentada na cama, chorando. Sobre a mesa, Bono viu o retrato de um casal, em cima de uma caixa de sapatos.
— São seus pais?
A garota correu até a caixa e a pegou, abraçando-a de encontro ao peito.
— Não interessa! Sai daqui!
— Angel, vamos conversar...
— Não! Eu te odeio!
— Se me odiasse, não teria todas essas coisas.
— Esse não é você! – ela apontou para um dos pôsteres – O Bono dessas fotos não é como você! Ele nunca faria as coisas horríveis que você fez!
Bono suspirou.
— Certo. Eu vou embora.
Angel ficou encostada à parede, com a caixa abraçada contra o peito. Dessa vez, não tirou os olhos de Bono até que ele saísse.

* * * * *

Três dias depois, Bono voltou ao apartamento. Prolongara sua estadia na Inglaterra apenas para falar com Angel. E agora tinha um bom motivo: ele precisava pedir desculpas.
Ele bateu na porta e esperou. Dessa vez levava flores, uma dúzia de rosas, e estava preparado para usar todas as suas técnicas de persuasão. Sua fama com as mulheres não era injustificada: ele tinha um invejável poder de sedução, e sabia usá-lo.
A porta se abriu, e novamente aquele doce rostinho rosado apareceu. Era impressão dele, ou ela parecia a cada dia mais nova? De qualquer forma, dessa vez ela não fugiu. Apenas olhou para ele, com um olhar triste e cansado.
— O que você quer?
Uma voz que era quase um sussurro.
— Eu vim te ver. Quero conversar com você, pedir desculpas.
— Desculpas?
— Sim. – ele ofereceu as flores – Tome, comprei pra você.
Para alívio dele, ela aceitou as flores, embora sem nenhum sorriso ou palavra de agradecimento. Apenas ficou olhando para elas, como se buscasse um sentido oculto.
— Eu posso entrar?
— Sim. Entra.
Estava sendo fácil demais, ele pensou. Havia algo errado. E por que ela parecia tão triste?
— É a primeira vez que eu ganho flores.
— Seus namorados nunca te deram?
— Eu nunca tive um namorado. – ela suspirou, triste – Vamos para o meu quarto, lá é melhor.
Bono estava definitivamente surpreso. Seguiu a garota até o quarto e se sentou ao lado dela na cama. Ela colocou as flores sobre o travesseiro, carinhosamente.
— Eu achei que você não fosse mais voltar aqui.
— E eu achei que você não fosse me receber.
— De que ia adiantar? Era capaz de você ficar sentado na beira da porta até eu sair. Por que fica vindo atrás de mim?
— Eu te devo um pedido de desculpas pelo meu comportamento, naquele dia. Além disso, você foi a primeira mulher que me rejeitou. Digo, outras já tinham recusado antes, mas sempre por algum motivo, e sempre ficavam tentadas. Você foi a primeira que simplesmente não quis dormir comigo. E eu precisava saber o porquê.
— Você não pode se conformar com o fato de uma garota simplesmente não te achar atraente?
— Não, não posso. E, se você não me achasse atraente, não teria todos esses pôsteres.
— O Adam é muito mais bonito do que você. – a expressão dele foi tão arrasada que ela logo disse – Não, estou brincando! Está certo, você é atraente. Mas isso não quer dizer que eu vou correr pra sua cama.
— Você deve estar me achando prepotente.
— Estou.
— Mas entenda o meu lado, querida. Eu te conheci como garota de programa, tive uma noite maravilhosa de sexo com você. E agora você age como uma mocinha virgem.
— Você acha que eu gostava de estar lá? – ela se levantou – Você não tem ideia do que é aquilo! Eu só estava lá porque era obrigada!
— Obrigada por quem?
— Pelo Diego. É um cara a quem devo dinheiro. Se ele me encontrar agora, ele me mata.
— Dolly me disse que você chegou virgem ao bordel.
A menina tentou falar, mas nenhum som saiu de sua boca. Apenas balançou a cabeça, assentindo. Bono se levantou e se aproximou dela.
— Quem foi seu primeiro cliente?
— Eu não posso dizer.
— Confie em mim, eu não vou contar pra ninguém.
— É que... É um homem importante...
Ele segurou as mãos dela.
— Me diz.
— Foi... O primeiro ministro...
— O que!? O primeiro ministro britânico?
— Sim.
Bono tinha se encontrado com ele há poucos dias, para negociar o aumento da ajuda a países africanos.
— Ele foi carinhoso com você?
— Não... – ela começou a chorar – Ele é horrível, eu tinha nojo dele... Ele me machucou tanto...
— Shh... Não chore... – Bono a abraçou – Já passou...
— Era tão horrível... Todos eles... Você foi o único que foi gentil comigo...
— Eu jamais te machucaria, querida. Mas... Você me rejeitou mesmo assim, recusou meu carinho.
— É que... Você não devia estar ali...
— Por quê?
— Você era... Eu achava que você era diferente dos outros... Quando eu vi você entrando naquele quarto, foi como se tudo em que eu acreditasse estivesse desabando. Descobrir que você era igual aos outros...
— Eu não sou igual aos outros.
— Você é mais carinhoso, só isso. Mas isso não muda nada. Você vai lá, faz sexo com uma pessoa, paga por isso e vai embora. Pra você não importa quem ela é, o que ela sente, se ela queria estar ali ou não. Eu não era a única que só estava ali porque era obrigada. Você já deve ter pagado por várias garotas iguais a mim, e nunca se importou. Pra você, nós não somos nada.
— Isso é mentira. Eu me importei com você. É por isso que estou aqui, agora.
Ela balançou a cabeça.
— Você só está aqui porque me achou bonita e queria dormir comigo de novo.
— Não! Digo, também, mas... Mas não foi só por isso. Olhe pra mim, eu posso ter quantas mulheres eu quiser... Mas estou aqui, me arrastando pra você! Acha que eu faria isso se você não fosse especial?
— E o que você quer de mim?
— Eu não sei o que eu quero, Angel... Não. – ele olhou por um momento para um pôster na parede, em que ele agarrava Edge – Esse não é o seu nome, não é mesmo?
— Não.
— Me diz o seu nome de verdade.
— Por quê?
— Porque você não é mais uma prostituta. Agora é só uma garota normal, uma linda garota, e é muito especial para mim. Eu quero saber o nome dessa garota, e não o nome que te deram no bordel.
Durante algum tempo ela manteve os olhos baixos, e Bono a deixou refletir; e então ela encontrou o seu olhar, azul no azul.
— Meu nome é Iris.
Bono perdeu a voz.
— Iris... Era o nome da minha mãe.
— Eu sei. Minha mãe me deu esse nome em homenagem a você.
Por um momento ele não soube o que dizer.
— Você é muito especial. – ele a abraçou – Mais do que eu imaginei que fosse.
Houve um momento de calma entre os dois. Iris se sentou no chão e Bono se sentou ao seu lado. A caixa de sapatos, com a foto do casal em cima, estava em frente a eles.
— O que aconteceu com seus pais?
— Eles morreram em um acidente de avião. Hoje faz um ano.
— Por isso você estava tão triste quando eu cheguei?
— É.
Ela abriu a caixa. Dentro, dezenas de fotos.
— Mamãe.
Uma bela mulher. E Bono sabia que já a vira antes.
— Qual era o nome dela?
— Leticia.
— Acho que a conheço de algum lugar.
— Nós íamos sempre aos shows. Ela sempre dava um jeito de chegar perto de vocês, conseguir um autógrafo...
— Seus pais também gostavam do U2?
— Sim. – ela sorriu, olhando uma foto – Mamãe dizia que, quando estava grávida, ela ficava ouvindo os discos o dia inteiro... Eu cresci ouvindo vocês. A primeira palavra que eu disse foi Bono.
Bono sorriu.
— Sério?
— Sério. E meus pais nem ficavam com ciúmes, porque eles também eram seus fãs. Aqui, olha essa foto.
Era Íris criança e sua mãe, em uma fila, à noite.
— Eu tinha uns seis ou sete anos. Essa foi a noite de lançamento do Joshua Tree. Eu lembro que eu fiquei um ano juntando o troco da padaria, só pra poder comprar esse disco. Quando a loja abriu foi um caos, mas eu e mamãe conseguimos ser as primeiras a comprar. Depois, eu consegui um autógrafo seu na capa. – ela mostrou outra foto, do próprio Bono a segurando no colo, enquanto ela exibia feliz a capa do Joshua Tree autografada – Esse é o disco mais especial pra mim.
Ele ficou olhando a foto. Era tão estranho, ele a pegara no colo quando pequena e depois fora para a cama com ela. E aquela nem era uma foto tão antiga, devia ter uns oito, nove anos...
Deus.
— Querida – ele disse de repente – quantos anos você tem? – eles se olharam – Porque, se nessa época você tinha seis anos, é impossível que hoje tenha dezoito.
Ela baixou a cabeça.
— Tenho quinze.
— Quinze. – ele repetiu, balançando a cabeça – É uma criança. Por que disse que tinha dezoito?
— Menores de idade não podem trabalhar no bordel, então Diego, o meu agente, falsificou uma identidade pra mim. Se eu contasse pra alguém, ele disse que ia me matar.
— Deus... Eu sinto muito... – ele passou a mão pelos cabelos dela – Você é só uma menina, e eu fui tão rude com você... Me perdoe...
— A culpa não é sua. Você não tinha como saber.
— Devia saber, você não poderia mesmo ser maior de idade... Me dê uma chance de consertar isso. Me conte o que aconteceu com você, talvez eu possa te ajudar.
— Foi tudo tão rápido. – ela olhava fixamente para uma foto de seus pais – Teve o acidente, e eu fui para a guarda do meu tio, irmão do meu pai. Eu nem conhecia ele. E ele parecia me odiar. Tanto ele quanto a mulher dele me tratavam mal, era horrível. Eu acabei fugindo, e como não tinha dinheiro, peguei carona com um cara e vim pra cá. Esse cara era o Diego. Ele se ofereceu pra me ajudar, me emprestou dinheiro, me fez assinar umas coisas... Depois de um tempo ele me cobrou, mas os juros tinham feito o valor aumentar de um jeito absurdo. Eu não tinha como pagar, e ele disse que ia me matar se eu não trabalhasse pra ele.
— E você sabia que tipo de trabalho era?
— Claro que não. Se soubesse, teria preferido morrer.
— E agora você fugiu.
— Fugi, mas o Diego está atrás de mim. Se ele me encontrar, ele me mata.
— Isso é loucura, você tem que sair daqui. Se eu te encontrei, ele também pode te encontrar.
— Eu não tenho pra aonde ir.
— Venha comigo. Eu estou hospedado em um hotel, é seguro lá. Você pode ficar comigo, pelo menos por enquanto.
— Não. Não posso.
— Por quê? O meu quarto é grande, confortável, você vai ter tudo o que precisa.
— Não posso ficar vivendo às suas custas. – ela se levantou – E não é certo ficar com você no seu quarto.
— Não confia em mim? – ele também se levantou – Acha que vou tentar alguma coisa?
— Não sei. Mas não é certo. E você é casado.
— Por favor, Iris. O que não é certo é você ficar morando em um lugar como esse. O inverno está chegando, e isso aqui não tem nem aquecedor. Se nevar, você vai congelar.
— Não. Eu não quero a sua ajuda. Você já me magoou muito, eu não quero me decepcionar de novo.
— Eu não vou te decepcionar. Prometo que vou te respeitar, não vou fazer nada que você não queira.
Iris colocou a caixa sobre a mesa e pegou uma foto, pensativamente.
— Essa foto é da minha mãe no primeiro show do U2 que ela viu.
— Deixa eu ver.
Bono pegou a foto. Era em preto e branco, e mostrava ele com uns vinte anos, abraçado a uma bela garota.
— Que estranho. – ele disse – Eu tenho a impressão de que realmente a conheço.
— Ela sempre conseguia tirar uma foto com você.
— Não falo disso. É como se eu a conhecesse de verdade, entende? Como se fossemos... Não sei, velhos amigos, talvez.
— Nossa, acho que era o sonho dela. A coisa que ela mais queria era ficar perto de você. Ah, e ela vivia dizendo que um dia você seria tão importante pra mim quanto era pra ela.
Ele olhou novamente para a foto, e depois para Iris.
— Eu gostaria de ser.
Iris ficou séria por um momento.
— Talvez seja.
— Venha comigo, Iris. Me deixa cuidar de você.
— Não. Eu não posso.
— Pelo menos pense. Aqui, esse é o telefone do hotel. – ele lhe entregou um cartão – Eu vou ficar aqui até a próxima sexta. Se mudar de ideia, basta me ligar.
Ela guardou o cartão, embora não desse nenhum sinal de que ia sequer pensar na proposta.

* * * * *

Bono saiu do banho e se jogou na cama, sentindo-se muito cansado. Iris não lhe saía da cabeça. Ele se sentia culpado por ter usado seus serviços de prostituta, e ao mesmo tempo tinha um desejo quase incontrolável de tê-la novamente.
Estava ele perdido em pensamentos, quando bateram na porta. Ele foi atender, rezando para que não fosse nenhuma fã oferecendo sua companhia noturna – se bem que não seria nada mal, se fosse uma garota bonita, ou duas...
Quando ele abriu a porta, viu que não era nenhuma fã. Era Edge.
— Serviço de quarto. – disse Edge, sorrindo.
— Edge!? O que você está...
— Acabei de me hospedar no quarto ao lado e vim te visitar.
Edge entrou no quarto. Bono ainda estava aturdido.
— O que veio fazer na Inglaterra?
— Vim te ver, sei que você não gosta de ficar sozinho. Mas se não gostou da surpresa, eu posso ir embora.
— Não! Não, é claro que gostei... Eu só não esperava, só isso. Quer beber um pouco?
— Não, quero beber muito. Uísque, por favor.
Os dois começaram a beber. Edge contou as novidades da Irlanda, e depois disse:
— Eu achei que você fosse voltar na semana passada.
— Eu ia, mas consegui uma reunião com o secretário do tesouro, não quis perder essa chance. – ele encheu novamente seu copo – Quer ver televisão?
— Não.
— E você...
Antes que Bono terminasse, Edge pousou uma mão em sua perna. Bono se levantou imediatamente, afastando-se.
— Qual o problema? – Edge o analisava.
— Oh, nada. Você quer chocolate? – ele pegou uma caixa de bombons – Eu ganhei do primeiro ministro...
— Bono – Edge se levantou e tirou a caixa das mãos de Bono, colocando-a sobre o sofá. Sua voz tinha um tom baixo e suave – eu não quero chocolate.
Bono desviou o olhar.
— Não.
— Eu não vim da Irlanda até aqui pra beber com você. Você sabe disso.
— Não, Edge. Por favor.
— O que está acontecendo?
Apesar do tom suave, Edge tinha um brilho decidido no olhar. Bono achou melhor dizer a verdade; se não pudesse contar isso para seu melhor amigo, para quem contaria?
— Eu conheci uma garota.
— Ah. – Edge balançou a cabeça – Uma fã?
— Mais ou menos. É alguém especial, Edge. Acho que estou apaixonado por ela.
Para alívio de Bono, Edge sorriu.
— Bonita?
— Linda.
— Me conte. – Edge se deitou na cama – Como vocês se conheceram?
Bono se deitou ao lado de Edge e lhe contou tudo.
— Ah, Bono, que lindo... O rock star e a prostituta. Daria um filme.
— Ex–prostituta.
— Eu quero conhecer essa menina.
— Estou fazendo de tudo para que ela aceite vir ficar aqui comigo. Se ela aceitar, penso em leva-la para os Estados Unidos.
— Mas a Ali não vai com você?
— Ela só vai por um tempo. Enquanto isso, a Iris pode fingir ser uma funcionária da equipe. Quando a Ali for embora, Iris se muda para o meu quarto.
— Mas e se ela não quiser ser sua amante? Se aceitar sua ajuda mas não quiser dar nada em troca?
— Edge, querido, você sabe que é impossível alguém dormir no meu quarto e não acabar na minha cama.
Edge riu.
— É, eu sei.

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