terça-feira, 21 de outubro de 2008

[poesia #009] Poema Noturno

Poema escrito em 01 de agosto de 2005

POEMA NOTURNO

Noite escuro vento ecos.
Sangue.
E nem que as lágrimas corressem eu poderia te salvar.
Grito medo ódio fome.
Morte.
Que me importa quem és ante o brilho dos teus olhos?
Frio...
Luzes.
Todos os anjos aprenderam a voar e caíram plumas sobre mim.
Uivos sono canções.
Tiros.
A lua goteja.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

[poesia #008] Primeira Noite do Fim do Outono

Poema escrito em 02 de junho de 2008

PRIMEIRA NOITE DO FIM DO OUTONO

De vez em quando é apenas uma escolha
o mundo roda de repente
quando estiver voltando
volte pra mim

É apenas uma sombra que se ilumina
isso sopra, isso é vento
apenas uma luz no fim do sonho

Às vezes ela não sabe como é
você nunca teve
não sabe sentir sem amar
Às vezes é só uma noite pintada de vinho

E ela gosta do sabor amargo na boca
ela não quer mas ela quer mais
ela nada em vermelho

Mas não a machuque
é só uma criança na noite
que não tem nada a perder a não ser ela mesma

Quando você voltar
volte pra mim

Sua alma pinga sangue e você ri
você corre para o fim do mundo
você quer cair fundo
Ela não sabe que não há nada lá
e depois das paredes há apenas um mundo vazio

Ela vai parar antes de ir
esperando os outros pássaros

Talvez eu demore um pouco
Talvez eu não volte mais

Tudo o que ela quer é o anjo do outro lado do mar
mas quem a quer
quer apenas uma gota de água

Ela é maior que o mundo e ninguém pode abraçá-la
você é o oceano

Quando quiser voltar, volte
mas volte por mim

terça-feira, 14 de outubro de 2008

[poesia #007] Revelação

Poema escrito em 25 de fevereiro de 2006.

REVELAÇÃO

Quem viveu nas sombras
passa a ter medo da luz
Eu, quando te vi, não acreditei
que você existia de verdade

Eu sonhava com sóis e céus azuis
com explosões de luzes e cores
com risos e alegria infinitos
Eu sempre acreditei que o amor fosse branco
ou vermelho
Mas você apareceu no escuro
em meio às sombras, negro,
como uma estrela

Hoje as estrelas caíram do céu
e minha alma se tornou eterna
se eu pudesse te tocar, talvez você soubesse
o que eu sinto

Foi numa daquelas noites
em que ninguém vê o sol
e estava tão escuro
e você chegou, alvoreceu
a noite
Você nunca esteve tão perto
mas eu nunca te senti tão longe...

Queria te levar
pra onde só eu pudesse te ver
Queria te tocar
pra saber que você existe e é verdade
que eu ainda estou viva

Naquela noite, as luzes falaram pro mundo
que você brilha ainda
e a vida inteira não era nada
porque de nada servia a minha existência
antes de ter te conhecido

Me desculpe se você não entende
minhas palavras; são poucas
as razões
mas eu só queria
que você soubesse
que os meus dias se tornaram ainda mais vazios
agora que você não está comigo
como sempre...

Era mais fácil te esquecer quando eu não sabia que você existia.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

[conto #005] Sobre o Mar

SOBRE O MAR

Ele estava me esperando no lugar de sempre. Tinha os olhos perdidos sobre o mar e nenhuma expressão em seu rosto. O dia estava da cor do gelo.
-- Demorei?
-- Não.
Silêncio, não fosse as ondas abaixo de nós. Eu queria dizer algo, mas tinha medo. Sabia porquê estávamos ali.
-- Eu...
Mas ele fez um sinal para que eu me calasse.
Quanto tempo passamos ali, eu e ele, em silêncio? Dez, quinze, vinte minutos. Mas pareceu uma vida. Sei que a areia era branca e a água do mar era dourada e azul. Sei que havia apenas as nossas pegadas na areia. Sei que me lembrei.
Lembrei... Lembrei de tudo, desde que o conheci. Nós dois tão sozinhos, e estava tão frio. A noite era escura. Ele me tomou em seus braços e me mostrou o mundo.
E agora, o silêncio.
-- Você sabe por que eu te chamei?
Balancei a cabeça. “Não”. Mas é claro que eu sabia.
-- Eu gosto muito de você. Você sabe disso. Mas você também sabe que isso não pode continuar.
Agora, o silêncio vinha de mim.
-- Não pode, entende? Não é certo. Isso tem que acabar.
Quando eu falei, minha voz era uma onda de tristeza e lágrimas.
-- Você quer terminar tudo comigo?
-- Não quero. Mas preciso.
Também havia lágrimas na voz dele, mas elas eram cristalinas. As minhas eram pesadas e negras.
Chorei com a cabeça baixa, o rosto oculto em minhas mãos. Sabia que ele estava fazendo o que era certo. Sabia também que ele nunca mais me acolheria em seus braços. Nunca mais me consolaria. O desespero fluiu para minha garganta.
-- Você é o homem da minha vida.
Não queria ter dito aquilo, não queria tornar tudo mais difícil. Mas era impossível controlar minha tristeza, e ele compreendeu.
-- Você também. - senti ele tocar meus cabelos carinhosamente, como fizera tantas vezes antes – Você também é o homem da minha vida.
Continuei chorando, mas minhas lágrimas foram diminuindo conforme ele tocava minha cabeça, meu pescoço, meus ombros. Foi a última vez que senti aquele toque.
-- Eu te amo.
Três palavras que pareciam tão límpidas vindas dele. Eu conseguir erguer o rosto e olhá-lo novamente. Também havia lágrimas em sua face.
-- Eu também te amo.
-- Mas não pode ser. Você sabe.
-- Eu sei.
Demos nosso último abraço, nosso último beijo. Ele se foi, e eu continuei sentado na areia, desejando mergulhar para sempre no mar. Mas não o fiz.
Nós tínhamos doze anos.


SOBRE A HISTÓRIA

Essa história não ficou tão boa quanto eu achei que ficaria, mas decidi publicá-la mesmo assim. A escrevi em homenagem a dois garotinhos muito especiais, que não vejo há algum tempo, mas dos quais tão cedo não me esquecerei. E as falas foram baseadas em uma conversa que eu mesma tive com um garoto, aos nove anos.