terça-feira, 24 de setembro de 2013

[fanfic #008] [capítulo #001] [U2] Tão Perto, Tão Longe


TÃO PERTO, TÃO LONGE

CAPÍTULO 1

Eu estava esperando o ônibus quando o carro dele parou à minha frente. Ele baixou o vidro, e ouvi aquela linda voz dizer:
-- Oi, querida. Quer carona?
Abracei o livro com mais força contra o peito, sabendo que devia estar vermelha.
-- Quero, sim.
O motorista dirigia, como sempre. Bono nunca dirigia. Na época, eu achava que ele não sabia. Hoje, sei que ele dirige pior do que minha irmã de quinze anos.
-- Jordan não veio pra escola hoje...
-- Gripe. - disse ele, sem mais explicações – Gosta de brincos?
-- O quê?
-- Brincos. Gosta de usar?
-- Hum... Gosto sim.
Ele abriu uma caixinha e tirou um par de brincos.
-- Pra você.
Eu queria agradecer, mas só emiti murmúrios indefinidos. Ele riu, e pôs ele mesmo os brincos em mim.
-- Assim. - ele levantou meu rosto – Fica muito mais feminina.
Os olhos dele pareciam olhar dentro de mim, lendo todos os meus pensamentos. Achei que ia morrer ali.
-- Obrigada.
-- Não tem de quê. - o carro parou – Chegamos.
Quase disse “já?”, mas me contive. Abri a porta, e olhei uma última vez para aqueles olhos azuis.
-- Tchau.
-- Tchau, minha linda.
Antes que eu saísse, ele me deu um beijo no rosto, o que quase me fez quase chorar de alegria. Entrei correndo em casa, subi para o meu quarto e me joguei na cama, gritando:
-- Ele me ama! Ah, ele me ama!
Meu primo apareceu na porta, me olhando como se eu fosse louca.
-- Quem te ama, criança?
-- O Bono! - me agarrei ao travesseiro, rolando de um lado para o outro – Ele me trouxe da escola, me deu um brinco e depois me deu um beijo no rosto! Um beijo! Ah...
-- Ai, ai... E você deu um beijo nele também?
Larguei o travesseiro e parei, olhando atônita para o teto.
-- Não.
-- Tonta.
-- Não sou!
Joguei o travesseiro em meu primo, mas sabia que ele estava certo. Bono ia achar que eu não gostava dele. Chorei o resto do dia.
Nessa época, eu tinha catorze anos e nenhuma maturidade. Era tão infantil quanto uma criança de dez anos.

* * * * *

Eu tinha conhecido a Jordan aos doze anos, quando me mudei para Dublin. Ela era mais nova, mas estudávamos na mesma escola e nos tornamos amigas. Na época eu soube que o pai dela era um cantor famoso, e depois que era “o Bono, do U2”, mas não conhecia ele nem a banda.
Um dia, Bono veio buscar Jordan na escola, e ela nos apresentou. Foi amor à primeira vista.
Eu já tinha ido à casa de Jordan milhares de vezes, e sempre ficava nervosa. Era definitivamente uma família estranha. Eve, a irmã mais nova, na época era bem pequena, mas já dava pra perceber que não era muito normal. Alison sempre me tratava como criança, e eu era o mais simpática que conseguia ser com aquela que considerava minha rival.
Dificilmente eu encontrava Bono lá. Quando perguntava onde ele estava, Jordan sempre respondia que ele estava na casa do Edge, ou do Adam, ou do Larry, ou de um daqueles amigos estranhos dele. Eu não gostava muito desses amigos. Pareciam todos malucos.
Naquele dia, eu tinha passado a tarde inteira na casa da Jordan, mas, como sempre, Bono não estava. Eu já estava indo embora, a pé, quando ouvi alguém chamar meu nome. Era Bono, indo atrás de mim.
-- Você já vai? - ele perguntou.
-- Sim.
-- Que pena... Posso te acompanhar?
-- Pode.
Queria dizer algo mais inteligente, mas não consegui. Nós seguimos caminhando calmamente pela rua.
-- Está usando o brinco que eu te dei.
Sorri.
-- É. Eu uso sempre.
-- Que bom que gostou dele.
-- Eu vou gostar de qualquer coisa que você me der.
Nessa época, eu já estava ficando mais atrevida. Às vezes me jogava pra cima dele, abertamente. Sinais da adolescência.
-- Acho que qualquer presente se torna especial, se a pessoa que nos deu é especial.
Ele disse aquilo num tom natural, mas parecia um pouco triste, como se estivesse se lembrando de algo – ou de alguém. Aquilo me deixou curiosa, e eu disse:
-- Você é muito especial.
-- Para alguns. - ele sorriu – Não para todos.
-- Claro que é...
-- Claro que não. Pra muitas pessoas, o mundo seria melhor se eu não estivesse nele.
-- Quem pensa assim é um idiota.
Chegamos em frente à minha casa. Ele disse:
-- Você sim, é uma pessoa especial.
-- Eu? Não tenho nada de mais...
-- Tem, sim. Você tem alma. Um dia, você vai ser muito importante na vida de alguém.
Eu fiquei olhando para ele, sem saber o que dizer.
-- Eu queria poder te dar alguma coisa. - eu disse, meio hipnotizada por aqueles olhos – Um presente.
-- O seu sorriso já é um presente.
-- Mas é muito pouco. Eu quero te dar algo especial.
Em mais um sinal de que a adolescência finalmente tinha chegado para mim, eu me aproximei e o beijei no rosto. Quando o soltei, ele estava tão sério que achei que não tivesse gostado do que eu tinha feito. Mas logo ele sorriu.
-- Obrigado. - ele beijou minha mão, como um príncipe de contos de fadas – Foi o melhor presente que já recebi.
E assim nós nos despedimos, e eu entrei em casa flutuando.

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