terça-feira, 24 de setembro de 2013

[fanfic #008] [capítulo #009] [U2] Tão Perto, Tão Longe


TÃO PERTO, TÃO LONGE

CAPÍTULO 9

Meu primo estava deitado na cama, olhando o teto. Eram quatro horas da manhã e eu não tinha conseguido dormir, mas não imaginei que ele também estivesse acordado. Ou melhor, imaginar eu imaginei, porque senão não teria ido ao quarto dele; mas meu bom senso dizia que seria perda de tempo.
Mas não foi. Ele estava acordado, com a luz acesa e tudo. Eu abri a porta devagar, para não fazer barulho, mas ele logo me viu.
-- O que foi? – ele disse, e não parecia muito feliz por eu estar ali.
-- Hum... Eu... – entrei e fechei a porta – É que...
Cheguei perto e sentei na beira da cama. Ele ficou só olhando pra mim.
-- Primo... Eu... Hum... Eu queria...
A verdade é que eu não fazia a menor idéia de porque tinha ido ali. Nem de porquê não tinha dormido aquela noite, e nem porque as coisas que ele tinha me dito não saíam da minha cabeça.
-- E então? – ele disse, se sentando apoiado na cabeceira da cama.
-- Eu... Ahm... Nada não. – eu suspirei e levantei – Deixa pra lá.
Levantei, mas ele me segurou e me puxou pra baixo, me fazendo sentar de novo. Ficamos nos olhando por um tempo, e de repente ele me beijou.
Eu podia ter impedido ele, ou podia ter dado um tapa nele, ou qualquer coisa assim. Mas eu só fiquei ali, parada, deixando ele me beijar. Acho que teria deixado ele fazer qualquer coisa.
-- Você não podia ter feito isso. – eu disse, depois que ele me soltou.
-- Você deixou.
-- Mesmo assim. Eu sou sua prima.
-- E daí?
-- Você não pode...
Enquanto eu falava, ele me puxou e me fez deitar na cama dele. Mas assim já era demais.
-- O que você acha que...
-- Eu te mereço mais do que ele. – ele disse – Você pode gostar mais de mim do que dele.
Ele me beijou de novo, mas o empurrei antes que aquilo fosse longe demais.
-- Pára. – levantei – Não pode.
-- Você veio. – ele me segurou – Você sabe que é comigo que você tem que ficar.
-- Eu amo o Bono.
-- Tem certeza?
Eu me soltei dele e saí quase correndo para o meu quarto.

* * * * *

Acabei dormindo quando já estava quase amanhecendo. Minha mãe tentou me acordar para ir para a escola, mas obviamente foi inútil. Acordei já de tarde, e meu primo estava sentado na beira da minha cama, me olhando.
-- Hum? – demorei para entender onde estava e quem era eu – Primo?
-- Boa tarde.
-- Que que você tá fazendo aqui?
-- Sua mãe me pediu pra vir ver você. Tentar te acordar.
-- Mas você não me acordou...
-- Deixei você dormir mais um pouco. – ele passou os dedos levemente pelo meu rosto – Até dormindo você é linda.
-- Pára. – cobri a cabeça, envergonhada e de mau-humor – Não combina com você ficar dizendo essas coisas.
-- E o que você acha que combina comigo?
-- Ficar me importunando e implicando comigo.
-- As coisas mudam, sabia? As pessoas crescem. Embora você esteja tentando fugir dessa regra.
-- Agora sim, está parecendo meu primo.
Ele riu. Puxou meu cobertor, me descobrindo. Eu estava com uma camisola um pouco curta, e tentei me cobrir de novo, mas ele veio pra cima de mim e tentou me beijar. Eu tentei segurar ele, ele insistiu, ficamos assim por um tempo, meio brigando, meio brincando. No final ele ganhou e me roubou um beijo, mas então eu decidi que a brincadeira tinha acabado.
-- Pára. – eu o empurrei e me sentei na cama, séria – Eu não quero que você fique me beijando assim.
-- E quer que eu te beije como?
-- Não quero que me beije. Eu não vou parar de ver o Bono pra ficar com você. E nem vou ficar com você estando com o Bono.
Só assim consegui afastar ele. Ele me soltou, parecendo muito triste.
-- Você gosta de mim. Eu sei que gosta.
-- Gosto como um primo deve gostar de outro.
-- Mentira. Você foi no meu quarto ontem, deixou eu te beijar. Mas ao mesmo tempo você colocou na sua cabeça que o seu príncipe encantado é o Bono, e mesmo que você já tenha percebido que não quer ficar com ele, é teimosa demais pra dar o braço a torcer.
-- Não é verdade. Eu estou com o Bono porque amo ele.
-- E por que foi no meu quarto ontem?
-- Eu só queria conversar com você.
-- Por favor. – ele parecia impaciente – Você aparece no meu quarto de madrugada, de camisola, e quer que eu acredite que só queria conver...
Antes que ele terminasse, dei um tapa no braço dele, com tanta força que daria para ouvir do corredor.
-- Ai!
-- Olha lá o que fala de mim! Seu safado, cretino, pervertido...
-- Ei ei ei, eu não quis dizer que...
-- Então a única coisa que você está querendo é dormir comigo, não é? Igual ao Bono! É claro que você sabe exatamente o que ele quer, vocês são iguais! Eu nem pensei que você pudesse pensar uma coisa dessas de mim, só porque apareci no seu quarto! Eu só queria conversar com você, porque também estava confusa e achei que você poderia me ajudar a entender isso! Mas não, você me viu de camisola no seu quarto de madrugada, e a única coisa que você queria era me levar pra cama! E eu achei que você realmente gostasse de mim! Sai daqui! Sai!
-- Pára com isso! – ele me segurou – Não é nada disso. Não importa o que eu pensei ou não. Eu gosto de você de verdade.
-- Você não pode gostar de mim porque você é meu primo!
-- E daí? Muitas vezes acontece de primos se casarem. Eu amo você, não tenho culpa se somos primos e moramos na mesma casa.
Ele parecia estar sendo sincero. Parei de tentar bater nele, e ele me soltou.
-- Eu gosto do Bono. – eu disse.
-- E o que você sente por mim?
-- Eu não sei.
-- Isso é bom. Porque antes você dizia que com certeza não gostava de mim desse jeito, agora você já não sabe.
-- Eu estou confusa! Não era pra eu gostar de você.
-- Então, você gosta?
Fiquei olhando para ele, sem responder, com um olhar confuso. Já não sabia de mais nada. Acabei dizendo apenas, de cabeça baixa:
-- Sai daqui. Por favor. Estou ficando com dor de cabeça por causa disso tudo.
-- Tudo bem. Desculpe. – ele parecia meio triste, meio com raiva – Não vou mais te importunar com isso. Fique com o Bono, deve ser melhor pra você.
Quando ele estava prestes a sair, me lembrei de falar algo.
-- Eu contei pro Bono que você sabe sobre eu e ele.
-- É mesmo? E aí?
-- Ele ficou muito preocupado. Disse que tem medo de que você resolva fazer alguma coisa pra separar a gente. Que você pode ameaçar contar pra alguém sobre isso, pra prejudicar ele e obrigar a gente a se separar.
-- Ele ficou com medo de mim, então.
-- Ficou. – olhei para ele, com um olhar frágil – Você não faria isso, não é?
Ele não respondeu. Levantei e fui até ele, segurei sua mão.
-- Você sabe que eu ficaria muito triste se você fizesse isso, mesmo que fosse pro meu bem. E você nunca faria nada pra me machucar, não é?
-- Não. – ele disse afinal, olhando muito sério pra mim – Nunca.
-- Então, você não vai contar pra ninguém? Nem fazer nada pra tentar separar a gente?
-- Não – ele tocou no meu rosto – não vou.
Não sei se ele ia fazer ou dizer mais alguma coisa, mas nessa hora minha mãe apareceu do nada, dizendo:
-- O que vocês estão fazendo aí?
Meu primo se afastou de mim tão rápido que quase caiu.
-- Nada, tia. – ele disse – Ela estava me pedindo ajuda num dever de casa.
-- É. – eu disse – Ele estava só me dando umas dicas.
-- É, já que você não foi pra escola, vê se pelo menos faz seus deveres. – ela se voltou para o meu primo – Seu chefe acabou de ligar, disse que precisa falar com você e que é pra você ligar o quanto antes.
-- Ok, já vou.
Ele olhou brevemente pra mim, e saiu do quarto. Mamãe me olhou com um ar estranho; devia ter percebido que estávamos escondendo alguma coisa. Mas não tinha como imaginar o que era, por isso não perguntou nada, e me deixou sozinha com meus pensamentos.

* * * * *

Eu estava voltando a pé da escola, sozinha, quando o carro de Bono parou ao meu lado. Estava tão distraída que demorei para perceber que era ele.
-- Quer carona? – ele disse, e eu levei um susto quando o vi surgir aparentemente do nada.
Aceitei, e entrei no carro. Achei que Jordan e Eve estariam com ele, mas elas não estavam.
-- Cadê a Jojo e a Eve?
-- A Ali foi buscar elas, iam passar numas lojas. – ele fechou o vidro e tocou meu rosto, sorrindo pra mim – Vem cá.
Ele me beijou, o que me deixou com um pouco de medo, por estarmos na rua. Mas ninguém fora do carro podia nos ver. Ficamos ali por um tempo, até que eu disse:
-- É melhor a gente sair daqui. Não me parece muito seguro
-- Deixa que eu me preocupo com esse tipo de coisa. – ele me beijou de novo.
-- Para. – eu me afastei – Não quero.
Não sei direito porquê fugi dele daquele jeito, nem porquê não estava mais tão empolgada quanto antes. Eu tinha passado metade da minha vida sonhando com o Bono, e agora dizia que não queria beijar ele ali, dentro do carro, por medo de que nos vissem. Era muito estranho.
Aparentemente ele também não estava entendendo nada, e tive a impressão de que ficara chateado. Parou de tentar me beijar, mas não disse nada. Ligou o carro e fomos indo, em direção à minha casa.
-- Você vai me levar pra casa? – eu disse, um pouco decepcionada.
-- Claro. Pra aonde mais te levaria?
-- Não sei. Achei que quisesse ficar comigo um pouquinho.
Ele fez o carro ir mais devagar e olhou para mim, intrigado.
-- Você acabou de dizer que não quer.
-- Eu não quero ficar beijando você num lugar onde qualquer um pode ver.
-- Os vidros estão fechados, ninguém vai ver.
-- Não confio nos vidros.
-- Você quer ir pro Clarence? Tenho algum tempo livre, podemos ficar lá um pouquinho.
-- Ah, mas não tem nada pra fazer lá.
-- Como não? – ele passou a mão no meu rosto, depois encostou na minha perna – Podemos fazer muita coisa.
-- Mas você só pensa nisso? Eu queria sair com você pra um lugar legal.
-- Que lugar?
-- Sei lá, a gente podia sair pra... – pensei um pouco, indecisa. Não estava acostumada a encontros românticos – Pra tomar sorvete.
-- Sorvete.
-- É.
-- ... Ok então. Se é o que você quer, vamos tomar sorvete.
-- Eeeee...
Bono riu e balançou a cabeça. Não sei o que estava pensando de mim naquele momento, mas tenho certeza de que compartilhava alguns pensamentos em comum com meu primo a respeito do meu nível de maturidade. Ele parou o carro perto de uma praça e fomos até uma sorveteria. Eu não quis ficar parada, então fomos andando enquanto tomávamos nossos sorvetes.
Foi um dos melhores dias que passei com ele. Ficamos rindo, brincando um com o outro e falando sobre os assuntos mais diversos, sem nos aprofundar em nada. De vez em quando um ou outro fã ficava parado de longe, tirando fotos nossas, mas não estávamos nem um pouco preocupados: era só o Bono levando uma garotinha para passear pela cidade.
Ele não podia ficar muito tempo, então fomos embora quando ainda estava cedo. Mas eu me sentia feliz como nunca. Ele parou o carro em frente à minha casa, mas antes que eu descesse me deu um beijo longo, que dessa vez eu aceitei. Ficamos algum tempo ali, e foi a muito custo que consegui convencer eu mesma a descer. Me despedi dele e entrei em casa, sorrindo e saltitando.
Mas logo percebi que o clima dentro de casa era bem diferente do meu estado de espírito. Minha mãe falava com alguém no telefone, parecendo arrasada. Fiquei por perto, e assim que ela desligou eu perguntei com quem ela estava falando.
-- Com a sua tia. – ela disse, tristemente – Seu primo vai embora.
Foi como se toda a água gelada do mar fosse derramada sobre mim.
-- Como assim?
-- É, ele resolveu ir embora. Disse que vai largar a faculdade e voltar para a Inglaterra. Já está arrumando as malas, quer ir embora depois de amanhã.
-- Mas por quê?
-- Não sei. Ele disse que está com saudades dos pais, que quer ficar um tempo com eles.
Fui andando pelo corredor em um estado quase catatônico. Cheguei na porta do quarto do meu primo, que estava aberta. Ele estava lá dentro, mexendo no computador. Havia uma mala aberta em cima da cama, cheia de roupas, e outra fechada encostada em um canto.
-- Primo?
Ele virou pra mim, e ficou apenas me olhando, sem dizer nada. Eu também demorei pra dizer alguma coisa.
-- Por que você vai embora?
Sem responder, ele voltou a olhar para o computador. Apenas depois de um tempo disse:
-- Porque sim. Quero ir pra casa.
-- Aqui é sua casa.
-- Quero ir ver meus pais. Sinto saudades deles.
-- Você pode ir ver eles nas férias. É o que você sempre faz.
-- Olha, eu já agradeci à tia por tudo, mas eu vou embora e já está decidido. Vou depois de amanhã. Já liguei pros meus pais avisando.
Fui andando até ele e segurei sua mão. Ele me olhou como se eu tivesse batido nele.
-- Não vai não.
Por algum tempo ele ficou apenas me olhando; então se levantou e fechou a porta. Virou-se de novo para mim.
-- Pra que você quer que eu fique? Você não vai sentir minha falta. Você tem o Bono e acho que isso é mais do que suficiente.
-- Claro que não. Eu não quero que você vá embora. Nunca.
-- Por quê? Por que você não quer que eu vá embora? Pra ficar vendo você suspirando por causa dele? – agora, ele parecia furioso – Pra ficar vendo você andando pra cima e pra baixo com ele? Pra ficar imaginando o que vocês estão fazendo dentro daquele carro quando ele te traz em casa e você demora uma hora pra sair de lá? – recuei alguns passos e caí sentada na cama, e ele parecia prestes a me matar – Do que você acha que eu sou feito? Quer ver até onde eu agüento? Pois é, eu já cheguei no meu limite, já passei muito do meu limite, já se tornou mais do que insuportável ter que te ver todo dia e não poder ter você, não poder impedir que ele continue fazendo o que tem feito, não poder te fazer gostar menos dele! Eu prometi pra você que não ia mais me meter, que não ia contar pra ninguém nem fazer vocês se separarem, mas pare de brincar comigo desse jeito! Pare de ficar dizendo que se importa se eu estou aqui ou não, porque pode ter certeza de que ir embora está doendo muito mais em mim do que em você, mas eu vou acabar fazendo uma besteira por sua causa se continuar aqui!
Ele falara as últimas palavras quase gritando, e se afastou, indo até a janela e olhando lá pra fora, para que eu não percebesse como ele estava – embora eu já tivesse percebido. Parecia que ele ia começar a chorar a qualquer momento, e eu também sentia que começaria a chorar assim que ele olhasse de novo pra mim.
Mas ele não olhou pra mim. Ficou olhando para fora, e eu continuei sentada na cama. E então meu celular tocou.
Peguei o celular e olhei o visor, mas demorei um pouco para entender o que significava o nome “Bono” escrito nele. Continuei apenas olhando o visor, até que ele parasse de tocar. Meu primo disse, sem se voltar para mim:
-- Era ele?
-- Sim.
-- E por que você não atendeu?
Levantei e fiquei olhando para ele. Fui até ele e segurei sua mão. Não tinha muita certeza do que fazer, mas sentia que estava fazendo algo certo quando disse:
-- Porque você é mais importante do que ele.
Não sei quanto daquela afirmação era verdadeira; mas naquele momento, por algum motivo, nada era mais importante do que meu primo. Só de pensar em não ter ele ao meu lado todos os dias me dava um desespero muito maior do que eu sentia quando não via Bono.
Eu ainda estava tentando entender meus próprios sentimentos quando de repente meu primo me puxou para ele, e no segundo seguinte estávamos nos beijando, e eu não fiz nada para impedir. Um minuto depois estávamos deitados na cama dele, e eu também não fiz nada para impedir. Mesmo que fizesse, não tenho muita certeza de que ele me obedeceria, não no estado em que estava.
Na hora eu não pensei muito em nada do que estava acontecendo. Consequentemente pensei depois, o que me fez ficar uns bons dez minutos sem coragem de olhar para ele. Ele, por sua vez, me segurava com tanta força abraçada a ele que parecia que eu ia sufocar. Quando a consciência do que tinha acontecido caiu completamente sobre mim, eu comecei a chorar baixinho. Ele me apertou mais forte, se é que era possível, e percebi que estava chorando também. Demorou vários minutos para que qualquer um de nós tivesse coragem de dizer alguma coisa.
-- Desculpe. – ele disse, afinal – Desculpe por ter feito isso.
-- Não. – eu murmurei – Não pede desculpas.
-- Eu sinto muito.
-- Não pede desculpas! – eu dei um tapa nele, bem forte – Não fala como se não soubesse o que estava fazendo! Como se tivesse se arrependido!
Continuei batendo nele, até que ele me segurou, fazendo com que eu parasse. Parecia bastante surpreso pela minha reação, e não podia culpa-lo: eu estava quase histérica, e nem sabia o porquê.
-- Para. Para. – ele me sacudiu, mas em nenhum momento foi rude ou levantou a voz – Não foi isso o que eu quis dizer. Eu sabia o que estava fazendo e não me arrependi.
-- Então por que pediu desculpas?
-- Porque eu não tinha o direito de fazer isso. Eu praticamente te obriguei a...
-- Não obrigou! – abracei ele com força – Não obrigou a nada! Cala a boca!
-- Ok, ok, desculpa. – ele percebeu que o melhor era concordar com o que quer que eu dissesse – Eu não te obriguei a nada. Não vamos falar sobre isso agora.
-- Isso. – eu ainda soluçava, mas estava conseguindo parar de chorar – Fica quieto.
Ficamos os dois quietos durante algum tempo, mas aquela situação estava ficando perigosa: minha mãe estava em casa e podia bater na porta a qualquer momento. Eu ia falar isso, falar que era melhor levantarmos e nos vestirmos e ir cada um cuidar da sua vida e fingir que nada daquilo acontecera – aquilo o que?, não acontecera nada... – quando de repente ele disse, bem baixinho, no meu ouvido.
-- Eu te amo.
Demorei um pouco para pensar em algo pra dizer.
-- Eu... Eu... – senti que estava tremendo – Eu também... Eu também te amo.
A frase final saiu com relativa facilidade. Pude sentir o quanto o coração dele acelerou com o que eu dissera.
-- Fica comigo.
-- Eu estou com você.
-- Fica sempre comigo. – ele olhou para mim, e me fez olhar para ele – Quer namorar comigo?
-- A gente não pode. Você é meu primo.
-- E daí?
-- A gente se conhece desde que eu nasci. Você mora aqui. Mamãe vai ter um treco se souber.
-- Ela vai acabar aceitando.
-- E tem... O...
Não consegui dizer o nome, mas ele sabia muito bem de quem eu estava falando.
-- Você não ama ele. Você sabe que não ama. Sou eu quem você quer, é comigo que você tem que ficar. Você sabe disso.
-- Me dá um tempo. Por favor.
-- Eu vou ficar aqui mais uma semana, esperando você se decidir. Se no final você quiser ficar comigo, eu fico. Se você preferir o Bono, eu vou embora.
-- Mas isso não é justo! Você não pode ir embora, depois do que aconteceu hoje!
-- E você acha justo que depois do que aconteceu hoje, você aja comigo como se nada tivesse acontecido e continue com o Bono?
-- Ah, mas... Mas é diferente...
-- Diferente por quê? Eu também tenho sentimentos. Como acha que vou ficar se as coisas continuarem como estão entre a gente? Eu não vou suportar te ver com o Bono ou saber que vocês estão juntos, depois de ter feito amor com você. – fiquei vermelha, porque estava tentando não pensar no que havíamos acabado de fazer – Você tem o direito de continuar com ele, se quiser. Mas eu tenho o direito de me afastar daqui por causa disso.
-- Certo. – eu disse, após pensar um tempo – Daqui a uma semana, eu te digo qual foi a minha decisão. Mas até lá eu preciso pensar em paz. Preciso decidir o que eu quero da vida.
-- Fique à vontade. Vou estar te esperando.

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