terça-feira, 24 de setembro de 2013

[fanfic #008] [capítulo #008] [U2] Tão Perto, Tão Longe


TÃO PERTO, TÃO LONGE

CAPÍTULO 8

Alguns dias são definitivamente melhores do que outros.
Era pra ser só uma festa da escola. Uma coisa boba. Iam os alunos, os pais, os professores. Teoricamente, nada que pudesse matar alguém. Visto isso, lá estava eu, com meus pais, meu primo e meus tios, sentada na mesma mesa que Jordan, Eve, Elijah, John, Ali e Bono. Duas famílias amigas, divertindo-se juntas.
Bono estava sentado de frente para mim.
Graças a deus a conversa na mesa estava animada, caso contrário meu nervosismo teria chamado tanta atenção quanto a roupa de Jordan. Bono parecia tranqüilo, conversava naturalmente, sem me evitar nem ficar muito em cima de mim. Eu, por outro lado, não conseguia sequer olhar pra ele. Meu primo, do outro lado da mesa, não tirava os olhos de nós dois.
Bono disse algo que fez todos rirem, e Ali lhe deu um beijo. Só isso já seria suficiente para me fazer chorar; para completar, quando eles pararam, Bono ficou olhando para ela com um ar completamente apaixonado. Me levantei e disse:
-- Vou encontrar umas amigas minhas.
Antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, eu já estava longe dali. Atravessei o salão sem ver ninguém, e fui para o estacionamento. Fiquei encolhida em um canto, com frio, olhando o céu escuro e nublado.
Devo ter ficado ali por mais de meia hora. Estava tão distraída que não ouvi os passos próximos a mim, e levei um susto quando ouvi a voz de meu primo ao meu lado:
-- Não acha que isso aqui está um pouco frio?
Olhei para ele, assustada.
-- De onde você saiu?
-- Da festa. - ele apontou para o salão, a alguns metros de nós – Muita gente. Não é a minha.
Ele se sentou ao meu lado. Eu disse:
-- Quero ficar sozinha.
-- Que coincidência. Eu também.
-- Então por que veio pra junto de mim?
-- Não estou junto de você. Você está lá, com o Bono. Não tem ninguém aqui.
Não respondi. Sabia que ele queria me provocar.
-- E então – ele disse, após um tempo em silêncio – está satisfeita com seu relacionamento?
-- Vai se ferrar.
-- Isso é um “não”?
-- Você está muito feliz, não é? - me virei pra ele, chorando – Pois é, o Bono ama a mulher dele e só quer brincar comigo, então pode ficar feliz, primo, você conseguiu o que queria! Conseguiu me ver triste e chorando, que é o que você sempre quis, então pode se considerar satisfeito!
-- Não diga besteiras. Eu nunca quis ver você triste.
-- Claro que quis! Sabia que eu só poderia ser feliz se o Bono gostasse de mim, e mesmo assim sempre quis que as coisas entre eu e ele dessem errado! Você sempre quis o pior pra mim!
-- Não seja burra! - ele perdera a paciência de vez – Eu só quero o melhor pra você! Se não aprovo o seu caso com o Bono, é porque sei que ele só vai te fazer mal. E estava certo, não é? Você acabou de ver que ele não se importa com você.
-- Nem ele, nem ninguém. - baixei a cabeça – Ninguém se importa comigo.
-- Eu me importo. Não estou aqui, com você?
-- Por que você veio? Pra rir de mim?
-- Claro que não.
-- Então por quê? - olhei novamente para ele – Por que não me deixa em paz? O que você quer?
Ao invés de responder, ele me segurou e me deu um beijo. Foi por puro impulso; logo depois ele se arrependeu, e me soltou.
-- Me desculpe, sinto muito...
Tentei falar alguma coisa, mas esqueci como. Me levantei e saí correndo, com mil sentimentos se misturando em mim e com a sensação de que o mundo estava desabando.

* * * * *

Ainda era cedo quando meu primo apareceu no meu quarto, no dia seguinte. Eu estava sentada na cama, ouvindo música.
-- Posso falar com você?
-- Já está falando.
-- Prima... Olha... Aquilo de ontem, na festa...
-- Por que você fez aquilo?
-- Eu não sei. Foi... Foi uma idiotice. Sinto muito.
-- Se fosse o Bono que tivesse feito aquilo, você ia dizer que ele não presta, que é um aproveitador e etc e tal. Mas você pode fazer a mesma coisa e depois dizer que sente muito, não é?
-- É diferente.
-- Por quê? Por acaso você é melhor do que ele?
-- Sou. - ele se sentou perto de mim na cama – Eu nunca te machucaria.
-- Me machucou, ontem. Me beijou sem que eu deixasse. Sua própria prima! Por que fez aquilo? Foi só pra ver a minha cara?
-- Não, sua burra, fiz aquilo porque... - ele parou de falar e balançou a cabeça – Porque eu gosto de você, mas você está ocupada demais pensando no Bono pra perceber isso.
Devo ter ficado uns dez minutos parada, olhando para ele.
-- Você gosta... De mim?
-- É, eu gosto, estou apaixonado pela minha própria prima, uma criança de dezesseis anos que tem um caso com um homem mais velho e casado. Mas isso não importa pra você, não é? - ele se levantou – Eu nunca vou ser o Bono.
-- Por que você está dizendo isso agora?
-- Por causa do beijo de ontem, pra que você não pense que só quis me aproveitar de você, do mesmo jeito que ele fez. Aquilo foi... Você não imagina o quanto eu queria aquilo. Mas... Não devia ter feito.
-- E... Por que não disse antes?
-- Faria alguma diferença?
-- Não sei. Talvez fizesse.
Ficamos nos olhando, ele se sentou de novo.
-- Eu acho que...
Nessa hora, meu celular tocou. Nós dois levamos um susto; eu o peguei e disse, sem pensar:
-- É o Bono.
Meu primo se levantou e disse:
-- Atenda. O que ele tem pra dizer com certeza é mais importante pra você do que qualquer coisa que eu diga.
Ele saiu antes que eu pudesse responder. Atendi o telefone, um pouco tonta.
-- Alô...
-- Oi, querida, sou eu. - disse Bono – Tudo bem com você?
-- Ahm... Tudo.
-- Eu te liguei porque você sumiu ontem, eu fiquei preocupado... Aconteceu alguma coisa?
Ah, é. Eu já tinha até esquecido daquilo.
-- Aconteceu. Eu vi você beijando a Ali e depois olhando para ela com uma cara de bobo apaixonado, e isso me deixou muito triste e eu achei melhor ir para algum lugar bem longe de você.
Ouvi ele suspirar do outro lado da linha.
-- Oh, querida, eu sinto muito por aquilo... Mas ela é minha esposa, você sabe que eu a amo. E tinha que agir da forma mais natural possível, mesmo você estando lá. Se alguém desconfiar, as coisas podem ficar muito complicadas para a gente.
-- Eu sei. Você tem que disfarçar.
-- Isso. Você ficou sozinha na festa?
-- Não. Fiquei com um menino.
-- Um menino?
-- É, alguém que eu conheço.
-- Ah, sim...
-- Ele viu que eu estava triste, então me deu um beijo e se declarou pra mim.
Houve um longo silêncio do outro lado da linha.
-- Quem é ele?
-- Um menino que eu conheço.
-- Você... Está com ele? Estão namorando?
-- Não. Eu... Estou pensando.
-- Ah, claro...
-- Você se importaria se eu namorasse?
-- Não, claro que não... É um direito seu.
-- Acho que, se começar a namorar com ele, vou ter que parar de me encontrar com você.
-- Espera, por quê? Uma coisa não impede a outra.
-- Eu nunca trairia uma pessoa que eu amasse.
-- Não é questão de traição... E a mim? Você não me ama? Ficando com outro, vai estar me traindo.
-- Você me trai com a Ali.
-- Não, eu traio a Ali com você.
-- Dá no mesmo.
-- Olha, não vamos discutir isso por telefone. Eu quero conversar com você pessoalmente. Você pode me encontrar... Deixe-me ver... Daqui à uma hora, naquele pub onde eu passei meu aniversário?
-- Posso, sim.
-- Certo, eu vou estar te esperando. Só tome cuidado pra não chamar muita atenção quando vier pra cá. Não é bom que vejam a gente a sós num bar. Podem pensar coisas erradas.
-- Coisas erradas ou coisas certas?
-- Bem, vou estar te esperando. Por favor, não se atrase.

* * * * *

Me atrasei. E o pior é que foi de propósito. Não queria ir correndo encontrar o Bono, como se fosse um bichinho de estimação dele. Queria deixá-lo preocupado, de preferência fazê-lo sofrer. Estava com muita raiva.
Quando cheguei, Bono parecia prestes a ter um ataque. Eu, por outro lado, estava um poço de tranqüilidade. Adolescentes apaixonadas podem ser cruéis.
-- Oi.
-- Querida, você demorou... - ele tentava parecer calmo, mas não estava – Aconteceu alguma coisa?
-- Estava me arrumando.
-- Certo, pelo menos você veio... Quer tomar alguma coisa?
-- Uma cerveja.
-- Acho que um refrigerante vai ser melhor.
Ele pediu o refrigerante. Eu me irritei – estava num estado de espírito facilmente irritável.
-- Eu queria cerveja!
-- Você é menor de idade, não pode tomar bebida alcoólica.
-- Ninguém ia ligar se você pedisse.
-- Eu não vou te dar álcool pra beber. Você ainda é muito criança pra ficar bebendo assim.
Aí eu estourei de vez.
-- Sou muito criança pra beber, mas pra transar com você eu não sou, não é? - bati o copo na mesa – Hipócrita!
Bono ficou me olhando como se de repente eu tivesse me transformado em outra pessoa.
-- O que deu em você?
-- Eu estou cheia disso! - eu estava a ponto de chorar – Você me enche de carinhos, diz que gosta de mim e tudo, só pra conseguir me levar pra cama! Depois que consegue o que quer, você mal olha pra mim! E agora apareceu outra pessoa que disse que gosta de mim muito mais do que você parece gostar, e eu nunca tinha pensado nele desse jeito, mas estou confusa! Estou cheia de todo mundo me tratar como se eu fosse uma idiota, principalmente você! Você acha que eu não sei que você só está se divertindo comigo? Na hora que aparecer outra bonequinha mais interessante do que eu, você vai dar uma desculpa qualquer e vai me dispensar, igual já deve ter feito com um milhão de outras garotas!
Foi uma sorte que o bar estivesse praticamente vazio, caso contrário tenho certeza de que no dia seguinte meu escândalo seria a principal notícia nas revistas de fofocas. Eu cheguei a me levantar, mas Bono me segurou pelo braço.
-- Me solta!
-- Quieta! - ele se levantou também e me segurou com ainda mais força – Torça pra ninguém ter prestado atenção no que você disse.
-- Não to nem aí. Não ia acontecer nada comigo se soubessem. Você é que ia perder sua mulher e ainda ia ser preso por abuso de menor, e ia ser bem feito!
Ele pagou a conta e me arrastou para fora dali.
-- Se der mais um pio, nem sei o que faço com você. - ele me empurrou para dentro do carro – Entra.
-- Aonde nós vamos?
-- Pra um lugar em que possamos conversar sem que metade de Dublin ouça você gritando.
-- Você vai dirigir?
-- Vou, dispensei o motorista hoje. Posso muito bem dirigir meu próprio carro.

* * * * *

Se o que ele queria era me assustar, conseguiu. Andar de carro com o Bono dirigindo pode ser uma coisa muito emocionante. Quando saímos do carro, no estacionamento do Clarence Hotel, eu estava branca como uma vela.
-- Como você tirou carteira...?
-- Provavelmente do mesmo jeito que você.
-- O que estamos fazendo aqui?
-- Preciso ter uma conversa muito séria e totalmente particular com você.
Fomos para um quarto. Eu estava um pouco assustada: ele parecia estar realmente bravo comigo.
-- Senta. - ele disse, e praticamente me empurrou para a cama, me fazendo sentar – Escute bem: desde o início eu deixei bem claro toda a minha situação e como seria o nosso relacionamento. Se você...
-- O problema é que a gente não tem nenhum relacionamento! Você me chama de vez em quando, faz o que quer comigo e depois me dispensa!
-- Não fale bobagens! Você sabe que não é assim. Sabe que gosto de você e que temos um relacionamento, sim, mesmo que seja escondido. Você não é só uma fã que eu levo pra cama, você é...
-- Então você leva suas fãs pra cama? Por acaso anda fazendo isso mesmo estando comigo?
-- Pare de me interromper! Escute o que estou dizendo. Eu em nenhum momento prometi algo que não tenha cumprido. Te dou tudo o que você quer e nunca disse que faria algo que não fiz. Sempre te disse sobre o meu amor pela Ali, e que não iria deixar ela nunca. E você sempre aceitou isso. Não estou entendendo essa sua crise agora, não aconteceu nada que justificasse isso.
-- Como, não? Você beijou a Ali na minha frente!
-- Já tinha feito isso antes e vou continuar fazendo sempre que for preciso. E que diferença faz se não beijar ela na sua frente? Você sabe que durmo com ela todas as noites, ela é minha esposa. Você está sendo infantil. Não acredito que estamos brigando por causa de uma bobagem como essa.
-- Pode ser bobagem pra você, mas pra mim não é! Você acha que não dói pensar em você com ela? Você acha, Bono? - eu estava começando a chorar – Eu sei que pra você eu sou só uma menininha bonita, mas você é a pessoa que eu mais amo! Eu sei que você beija ela estando eu perto ou não, mas não gosto de ver isso, não gosto nem de pensar nisso!
Parei de falar porque não conseguia mais. Só fiquei chorando, de cabeça baixa, igualzinho a uma criança. Ele ficou um tempo parado, provavelmente pensando no que se passava na minha cabeça, e então me abraçou.
-- Me desculpe, bebê. Droga, me desculpe. - ele beijou minha cabeça – Eu fui muito... Grosso com você. Não era minha intenção, me desculpe.
-- Me solta.
-- Não, não vou te soltar, e sabe porquê? - ele levantou meu rosto – Porque eu te amo. Está ouvindo? Eu-te-amo. De verdade. E não quero ver você chorando, ouviu? Eu quero te ver bem, te ver feliz. Vamos, pare de chorar. Pare...
Ele me beijou, e eu deixei. E quem é que iria dizer “não” para Bono? Quem é que olharia para aqueles olhos azuis, ouviria aquela voz dizendo “eu te amo”, e iria negar um beijo? Mesmo que tudo o que ele estivesse dizendo fosse mentira – e eu estava seriamente desconfiada de que era – eu não poderia. Ali que me perdoasse, eu era só uma criança.
Fizemos as pazes – e como – e, algum tempo depois, estávamos almoçando juntos, no quarto, e ele me enchia de mimos e carinhos.
-- Está gostando da comida, meu amor?
-- Estou, está uma delícia...
-- E o que você vai querer de sobremesa? Pode pedir o que quiser, eu vou te dar tudo...
-- Eu quero musse de chocolate com morangos!
-- Hum, eu adoro isso... Vou mandar trazer pra você, e vou pedir também rosas, três dúzias de rosas amarelas, eu sei que são as suas preferidas...
Depois disso tudo, de termos comido e de eu ter ficado admirando as rosas, nós dormimos. Quando acordei, já estava quase anoitecendo, e Bono estava de pé, se vestindo. Fiquei um pouco triste por já ser hora de ir embora. Me espreguicei, e ele veio até mim, sorrindo.
-- Temos que ir. - ele se sentou na cama e se debruçou sobre mim – Já está tarde, seus pais vão ficar preocupados.
-- Não quero ir... Quero ficar aqui, com você, pra sempre...
-- Eu também quero, mas não podemos. Temos que ir agora, não podemos demorar.
Mas, ao contrário do que ele dizia, ele me beijou, e de uma forma que demonstrava que a última coisa que ele queria era ir embora. Não vou entrar em detalhes, mas adianto que não existe nada melhor, pelo menos na minha opinião, do que abrir os botões daquela camisa verde que ele estava usando.
-- Você tinha dito que um garoto tinha se declarado pra você.
Já tinha anoitecido há algum tempo, mas nenhum de nós estava muito disposto a ir embora. Era tão bom fazer as pazes.
-- Foi sim.
-- Estava falando a verdade ou só quis me fazer ciúmes?
-- As duas coisas.
-- Então, alguém se declarou pra você na festa?
-- Sim.
-- E... Quem é? É alguém que eu conheço? Algum garoto da sua sala?
-- Não. É o meu... - eu fiquei vermelha, e não sabia se devia dizer ou não, mas acabei dizendo – O meu primo.
-- Seu primo!? Aquele que vive na sua casa?
-- É, ele. Nós estávamos conversando, e nem lembro mais o que foi que eu disse, só sei que ele chegou e me deu um beijo. Depois ele pediu desculpas e tudo, e hoje disse que gosta de mim.
-- Ele parece ser bem mais velho que você.
-- Ele é cinco anos mais velho... Parece mais porque ele é grande, e ele já trabalha e tudo...
-- Mas cinco anos é uma diferença muito grande na sua idade.
-- Bem, é menor do que a diferença entre eu e você.
-- É, claro... Eu tenho idade pra ser seu pai. - ele não parecia muito feliz com isso – Mas de qualquer forma... Não acho certo o que ele fez. Mais velho ou não, vocês são primos.
-- Pelo menos ele é solteiro.
-- Está gostando dele?
-- Eu não sei. Mas não acho que ele vai querer namorar comigo, ainda mais eu estando com você.
-- Que!? Ele sabe sobre nós dois?
-- Sabe, ué...
-- Como ele soube?
-- Ele me pressionou um dia e eu acabei contando, foi meio sem querer, ele fez um drama enorme...
-- Você ficou louca? Como é que você conta uma coisa dessas pra ele? Se deixou escapar, devia ter me dito imediatamente. - ele se sentou na cama – Isso é muito, muito sério. Ainda mais ele gostando de você.
-- Calma, ele não vai contar pra ninguém.
-- Não por enquanto, mas tenho certeza de que, se surgir a chance, ele vai acabar usando isso como uma arma contra nós dois. Não percebe o perigo? Ele pode me obrigar a parar de te ver se ameaçar divulgar isso. Aliás, nem precisa divulgar, é só ameaçar contar para a Ali... Isso se não fizer isso sem nem ameaçar... Quanto ele sabe sobre a gente?
-- Ah, sei lá, um monte de coisas.
-- Sabe sobre as coisas que aconteceram no Japão? Sabe que eu tirei sua virgindade?
-- Sabe.
-- Meu Deus... Meu anjo, isso é muito grave. Você é muito inocente, não tem idéia... Não sabe o que um homem apaixonado pode fazer. A paixão pode fazer coisas horríveis até com a melhor das pessoas.
-- Eu tenho certeza de que ele não vai fazer nada. Não se preocupa, Bono.
-- Tenho que me preocupar. Vou falar com esse rapaz, tenho que ter uma conversa muito séria com ele. E tome muito cuidado com o que faz com ele, querida, não fale muito a nosso respeito, vai ser pior. Agora, quero que você seja muito sincera comigo – ele segurou minhas mãos – o que você sente por ele?
-- O que eu sinto? Ah, não sei... Eu adoro ele, a gente cresceu junto, né? E ele é meu primo.
-- Você sabe que não estou falando desse tipo de sentimento. Ele está apaixonado por você. Quero saber se você corresponde a esse sentimento de alguma forma. Se está apaixonada por ele também.
-- Eu, apaixonada por ele? Não, claro que não... Ele é meu primo.
-- Você não sentiu nada quando ele te beijou? Não ficou balançada?
-- Não, eu acho... Digo... Eu fiquei, sei lá, confusa... Mas acho que é porque foi uma coisa inesperada, eu nunca tinha pensado nele dessa forma.
-- Eu vou conversar com ele. Preciso saber o que ele pretende.
-- Não! Não faz isso, vai ser pior. Ele te mata se você citar o meu nome pra ele. Você não faz idéia de como ele fica quando me vê conversando com você.
-- É claro, ele fica com ciúmes... Mas tome muito, muito cuidado, meu anjo. Ele sabe que você veio me ver?
-- Não, ele nem me viu sair, acho que não estava em casa.
-- Sempre que vier me encontrar, tome muito cuidado para que ele não te veja sair. E quando chegar em casa, não deixe ele desconfiar aonde você foi, nem o que ficou fazendo. Quanto menos você provocar ele, melhor.
-- Pode deixar. Mas eu acho que você está se preocupando à toa, ele nunca ia fazer nada de realmente ruim. Nada que me fizesse ficar triste. Pelo menos é o que ele vive dizendo.
-- Mas talvez o que ele ache certo não seja exatamente o melhor para nós. Ele pode arrumar um jeito de me obrigar a me separar de você. Não esqueça que eu sou uma pessoa pública. Se uma história dessas cai na imprensa, ia acabar com a minha imagem.
-- Você se importa tanto assim com a sua imagem?
-- É claro, é graças a ela que estou aqui hoje.

* * * * *

Cheguei em casa naquela noite e encontrei meu primo no meu quarto, deitado na minha cama, totalmente à vontade.
-- Ei! - joguei meu casaco em cima dele – Minha cama!
-- É boa, mas prefiro a minha. - ele se sentou – E aí? Como foi?
-- Como foi o que?
-- O encontro.
-- Tá doido? Não sei do que está falando.
-- Não se faça de boba. Eu sei que você saiu pra encontrar o Bono.
-- Não, não saí. Estava com umas amigas minhas.
-- Mentira. Você estava com o Bono em um pub há dez minutos daqui, depois vocês foram para o Clarence Hotel e ficaram lá até agora.
Fiquei olhando meia hora para ele.
-- Como você...
-- Por puro acaso eu estava na loja em frente ao pub quando vocês saíram. A parte do hotel foi só um palpite.
-- A gente só tava... A gente tava só conversando.
-- Claro. E eu sou virgem.
-- Estou falando sério! A gente... Você não é virgem?
Ele me olhou de um jeito que me fez corar.
-- Não seja inocente. Tenho vinte e um anos.
-- Ué, e não existe gente de vinte e um anos que é virgem?
-- Claro que existe, mas... Olha, eu não sou virgem, ok? Mas não estamos falando disso. Eu sei muito bem o que você estava fazendo com o Bono.
-- Você tinha dito que não ia mais se meter nisso.
-- E não vou. Mas acho muito estranho você ver ele aos beijos com a esposa num dia e correr para os braços dele no dia seguinte.
-- Eu não corri para os braços dele! - me sentei na cama, triste – Nós brigamos.
-- Brigaram?
-- É. Eu fiz um escândalo, comecei a gritar que ele só queria dormir comigo e depois me largar. Ele ficou muito bravo.
-- Mas então por que foi com ele pro hotel?
-- Ele queria conversar a sós comigo, acho que tinha medo de que eu fizesse um estrago...
-- E ficaram conversando até essa hora?
-- É... Nós... Fizemos às pazes.
-- Imagino. - ele se levantou – To indo, tenho que estudar pra prova de amanhã.
-- Você não vai brigar comigo?
-- Por que eu brigaria? Você tem dezesseis anos, faz o que quiser. Não sou seu pai.
-- Mas... Se você gosta de mim, devia se importar, não?
-- Eu gosto de você, mas como é um amor impossível, uma vez que você é minha prima e gosta de outro, o que posso fazer é deixar isso pra lá e esperar até me interessar por outra. Boa sorte com o Bono.
Foi com essas palavras que ele saiu, e foram essas palavras que ficaram ecoando na minha cabeça a noite inteira, me impedindo de dormir.

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