terça-feira, 24 de setembro de 2013

[fanfic #008] [capítulo #007] [U2] Tão Perto, Tão Longe


TÃO PERTO, TÃO LONGE

CAPÍTULO 7

Um mês na Irlanda era como um ano. Eu me arrastava pelos dias conforme o verão declinava para o outono. Tudo era tão vazio, dentro e fora de mim.
O telefonema veio numa tarde vazia de domingo. Quase morri ao ver o nome “Bono” no visor do celular.
-- Alô?
-- Alô, querida. Sou eu.
-- Bono... - comecei a chorar – Eu achei que você tinha se esquecido de mim...
-- Oh, bebê, não chore... Vamos... Depois do que aconteceu entre a gente, você acha que eu te esqueceria?
-- Eu penso em você todo dia, toda hora, todo segundo...
-- Eu também penso muito em você. - ele baixou a voz – Essa noite eu sonhei com você.
-- Mesmo?
-- Sim, meu anjo. Sonhei com algumas coisas que fizemos no Japão. E com algumas coisas que ainda quero fazer com você.
-- Ah, Bono... Eu quero tanto te ver de novo...
-- Me escute, querida. Eu estou sozinho em casa. Ali saiu com a irmã e as crianças, e só deve voltar à noite. Você pode vir pra cá?
-- Posso sim! Eu já estou indo!
-- Estou te esperando.
Me arrumei em cinco minutos, e em mais quinze eu estava na casa de Bono. Quase comecei a chorar de novo quando ele abriu a porta.
-- Bono...
-- Entre, bebê.
Ele parecia tão tranqüilo, quase frio. Não era bem a recepção que eu esperava. Nós entramos na sala, e ele disse:
-- Como você passou esse mês?
-- Ahm... Bem. Normal. Com saudades de você.
-- Eu também senti sua falta. - ele me abraçou – Eu quero ter você de novo. Quero fazer amor com você, e não posso esperar nem mais um segundo.
Não era bem daquilo que eu sentia saudades, mas tudo bem. Não que eu não gostasse de fazer amor com Bono; é só que aquilo não tinha tanta importância. E, mesmo com ele caído sobre mim, coberto de suor, eu não o sentia realmente perto de mim. Faltava algo, como se alguma parte dele ficasse só assistindo de algum planeta distante.
Quando acabamos, eu fui tomar banho, enquanto Bono ficou no quarto. Eu ainda não entendia direito o porquê de ele ficar tão cansado, enquanto eu ainda podia fazer mais umas dez vezes e depois ir disputar uma maratona. Mistérios.
Eu estava me enxugando, com a porta entreaberta, quando ouvi ele no telefone, falando com Ali:
-- Claro, querida... E as crianças? - ele riu – Não, não faça isso, pobrezinho... Certo, vai ser a minha vez. Mas você lembra o que aconteceu naquele dia...
Ele riu. Ele amava Ali, a amava de um jeito que nunca iria me amar. Então, por que estava comigo? Olhei em volta: tudo naquele lugar tinha a presença de Ali. A cama em que eu acabara de fazer amor com ele era onde eles dormiam juntos todas as noites. Eu era só um pequeno ponto em sua vida.
Bono entrou no banheiro, dizendo:
-- Bebê, eu...
Mas ele parou. Eu estava chorando.
-- O que houve? - ele me virou para ele e passou a mão por meu rosto – Querida? Aconteceu alguma coisa?
-- Não. - eu enxuguei minhas lágrimas – Eu tenho que ir.
Ele estava definitivamente confuso. Eu fui para o quarto e comecei a me vestir, mas ele veio atrás de mim.
-- Não vá, bebê. Me diz o que aconteceu. Eu te machuquei? Fiz algo que você não gostou? Me diz o que foi, eu juro que não faço mais...
Eu finalmente olhei para ele.
-- Isso não é certo! Você ama a Ali! Essa é a casa dela, a cama dela... Por que faz isso comigo?
Bono pareceu primeiro surpreso, mas então suspirou.
-- É isso, então. Você está com ciúmes da Ali.
-- Não é ciúmes. Eu só não acho isso certo.
-- Eu já conversei com você sobre isso.
-- Você me falou do quanto ama a Ali, do quanto ela é importante para você. Mas não me disse porquê está fazendo essas coisas comigo.
-- Não é óbvio? - ele me segurou e olhou nos meus olhos – Eu estou apaixonado por você.
Como desarmar uma adolescente, parte um.
-- Você... Está falando sério?
-- Eu achei que fosse desnecessário dizer isso. É tão óbvio, querida. Já faz mais de um ano, desde aquele dia da festa, mesmo antes... Tenho que me controlar para não olhar demais para você, mas às vezes eu não posso evitar. Por Deus, eu te levei pro Japão, te mostrei o mundo! Foi amor o que fizemos no Japão, e foi amor o que fizemos aqui. Acha que eu traria qualquer uma para a minha cama? Acha que você estaria aqui se eu só quisesse sexo? É claro que não.
Verdade ou não, ele era muito convincente.
-- Então, você... Você me ama?
-- É claro que sim. Achei que você percebesse.
-- Mas... Mas às vezes eu sinto você tão distante...
-- Eu preciso ficar distante. Não posso me envolver demais com você, entende? Não posso amar você. Se eu me entregar completamente na hora do sexo, isso vai acabar acontecendo.
-- Bono... Eu... Eu queria que você me amasse...
-- Não posso, querida, por favor... Se isso acontecer, eu vou ter que perder você ou perder tudo o que tenho, e nós dois vamos nos machucar.
-- Eu te amo.
-- Eu...
Ele me agarrou e me beijou, e qualquer chance que eu tinha de acabar com aquilo, ali, foi destruída.
No fim da tarde, eu tinha que ir embora. Minha mãe estava me esperando, e Ali em breve chegaria. Me vesti e me arrumei, enquanto Bono cuidava para que todo vestígio do que acontecera desaparecesse.
-- Eu tenho que ir, Bono.
-- Espere um pouco. Você quer comer alguma coisa?
-- Não, obrigada.
-- Vamos, posso preparar um lanche para nós. Você gastou muita energia, tem que se alimentar.
Acabei aceitando. Nós lanchamos juntos, trocamos mais alguns beijos e carinhos, e eu finalmente saí. O sol já estava se pondo.
Eu mal andara alguns metros quando um carro parou ao meu lado. Era meu primo.
-- Entra aí.
Entrei. Ele estava chegando da faculdade, e parecia muito cansado. Nós não nos víamos muito nos últimos tempos, por causa dos compromissos dele com os estudos e com o trabalho.
-- Como você está?
-- Bem e exausto. O que você estava fazendo na casa do Bono?
-- Ah... Eu... Fui visitar a Jojo, ué.
-- E você está aí há quanto tempo?
-- Desde as três horas.
-- E ficou esse tempo todo com a Jordan?
-- Fiquei.
-- Sabe, isso é realmente interessante. Porque eu passei pelo shopping por volta das quatro e meia, e encontrei a Jordan, com a mãe e os irmãos, e eles me disseram que estavam ali desde cedo e que só iam voltar pra casa à noite.
Por um momento eu parei, e devo ter ficado púrpura. Pega em flagrante.
-- Certo. - respirei fundo – Eu estava com o Bono. Fui ver a Jordan mas ela não estava, então eu fiquei lá perturbando ele.
-- Por que você mentiu?
-- Porque eu sei que você não gosta que eu fique sozinha com ele.
-- E eu tenho razão, não é? Você sabe que é perigoso.
-- Não é perigoso!
-- Claro que é. Ou já esqueceu o que aconteceu naquela festa? Pode ter certeza de que ele só está esperando uma chance pra te agarrar.
-- Claro que não! Ele gosta de conversar comigo, de me dizer coisas bonitas...
-- Oh, claro. Coisas bonitas. É melhor você não acreditar em tudo o que ele diz. Ele é um ator, e vai interpretar muito bem o papel de homem apaixonado se quiser te conquistar. Pode ter certeza de que, se você cair na conversa dele, ele vai se aproveitar de você e te largar um dia depois. Ele não presta.
Perdi a cabeça. Malditas explosões da adolescência.
-- Claro que não! Ele gosta de mim! E ele não vai me largar, eu pensei que isso fosse acontecer depois que a gente voltasse do Japão, mas ele disse que vai continuar comigo e...
Parei quando vi o olhar do meu primo, e só então percebi o que tinha dito. Eu acabara de contar tudo.
-- O que aconteceu no Japão?
Havia algo no tom de voz dele, entre a raiva e o pânico, que me fez recuar.
-- Nada... Não houve nada...
Ele parou o carro. Suas mãos tremiam sobre o volante.
-- O que você fez?
-- Eu não fiz nada...
-- Não minta pra mim!
-- Eu... Eu...
-- Você dormiu com ele? É isso? - ele segurou meu braço – Você deixou ele se aproveitar de você?
-- Ele não se aproveitou de mim! Ele disse que está apaixonado, e eu sei que é verdade!
-- Você não tem vergonha? Está tendo um caso com um homem casado, muito mais velho que você, e que todo mundo sabe que vive atrás de outras mulheres! Onde está o seu orgulho? Ou será que resolveu agir como uma piranha agora? Primeiro foi o Bono, e quem vai ser depois? O Edge ou o Adam? O Larry eu creio que não, ele parece ser um homem decente. Vai escolher o que for mais rico ou vai preferir o mais bonito?
-- Pára! Não fala assim comigo! Eu não sou nada disso!
-- É, sim! Se comporta como uma vagabunda! Você está dando ao Bono e a qualquer homem o direito de te tratar como quiser!
-- Não! Cala a boca!
Consegui me soltar dele e saí do carro, indo correndo para casa. Ele não me seguiu, e não olhei para trás. Entrei em casa, me tranquei no quarto e chorei o resto do dia.

* * * * *

-- Você está brigada com o seu primo?
-- Estou.
-- Por quê?
-- Porque ele é um idiota e eu não quero mais falar com ele.
-- Ai, ai... Por que é que vocês vivem brigando? Não podem conversar em paz?
-- Não, mãe. Agora me deixa fazer o dever.
Minha mãe saiu, murmurando algo como “infantilidade”. Eu dei de ombros e continuei a fazer o dever de matemática. Já fazia duas semanas que eu brigara com meu primo e duas semanas que eu não via Bono, e as duas coisas me deixavam com um péssimo humor.
Pouco depois, meu primo apareceu no quarto.
-- Posso falar com você?
-- Não.
-- Prima...
-- Some.
-- Escuta...
-- Eu não quero falar com você! - levantei e tentei empurrar ele para fora do quarto - Sai!
Como resposta, ele me empurrou sem nenhum esforço, e eu caí na cama.
-- Ai!
-- Criança. - ele se sentou em uma cadeira, de frente para mim – Me deixa falar. Eu vim te pedir desculpas.
-- Não quero suas desculpas! Eu te odeio!
-- Que droga, será que você não consegue nem por um segundo deixar de ser tão infantil? Nunca vai ter um relacionamento sério com o Bono se ficar agindo assim.
-- Eu tenho um relacionamento sério com ele!
-- Claro que não tem. Ele te chama, você vai lá, faz o que ele quer, e depois vai embora. Grande relacionamento.
-- Não é assim! Ele conversa comigo, me pergunta como eu estou... Na última vez nós até lanchamos juntos.
-- Isso não é nada. Você não tem idéia do que é um compromisso, um namoro de verdade. Ele não pode te dar isso.
-- Eu não me importo.
-- Por que está com ele?
-- Ahm?
-- Por que você está com ele?
-- Ah, porque... Porque sim, ué. Porque eu gosto dele... Porque ele gosta de mim...
-- E por que você gosta dele?
-- Ora, porque... Ele é bonito... É carinhoso... Me trata bem... - suspirei, apaixonada – Eu gosto do jeito dele, gosto do modo como ele fala, gosto de ouvir a voz dele... Acho tão bonito quando ele começa a falar das idéias dele. Eu amo tudo nele, tudo... Primo?
Ele estava tão estranho. O jeito como olhava pra mim parecia tão sério.
-- Primo? – levantei e fui até ele – O que foi?
Tentei tocar nele, mas ele se levantou como se tivesse medo de mim. Fiquei olhando, confusa, enquanto ele se recompunha.
-- Nada. - ele disse vagamente – Você... Você quer mesmo ficar com o Bono?
-- Claro!
-- Certo. Está por sua conta, então. Mas se algo acontecer, não venha me pedir ajuda.
-- E por que eu te pediria ajuda?
-- É mesmo, não é? - ele se afastou – Por quê?
E ele saiu. Eu não estava entendendo absolutamente nada.

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