A ESTRADA
Havia uma estrada, próxima à casa, por onde éramos proibidos de passar.
Era uma estrada antiga, de terra, afastada da estrada principal. Entrava pela floresta e ia dar na cidade vizinha. Imaginávamos que era um atalho, mas não tínhamos como ter certeza. Não conhecíamos ninguém que tivesse passado por ali.
Ninguém nos dizia porquê não podíamos passar por aquela estrada. Apenas éramos proibidos. Assim era desde sempre.
Mas crianças de doze anos são difíceis de controlar. E não era tão difícil assim fugir dos pais. Dessa forma, um dia me vi, sozinha com minha bicicleta, na entrada da estrada proibida.
Dali, podia ver uns duzentos metros do caminho, até onde havia uma curva. Apesar de não ser usada, a estrada estava limpa. A floresta à esquerda era de eucaliptos, aberta e clara; à direita era de mata nativa, fechada e escura. Era uma tarde de verão, o céu estava azul, havia flores por todos os lados. Era um lugar bonito, e não parecia perigoso. Subi na bicicleta e avancei lentamente pela trilha.
Segui pedalando, a princípio lentamente, mas logo mais rápido. Era um caminho lindo, repleto de curvas, mas sem subidas ou descidas. Depois de um tempo, comecei a perceber que era um lugar muito silencioso: não havia canto de pássaros, nem qualquer barulho de bichos andando, nada. Era algo curioso que logo se tornou aflitivo. Acelerei, achando que devia estar perto do fim da estrada.
Então, ao virar em uma curva, me deparei com um trecho do caminho que era reto, e que seguia por pelo menos cinco quilômetros. Por algum motivo parei ali, e fiquei olhando para a frente. Olhei para os lados. Como sempre, à esquerda havia a floresta de eucaliptos, e eu podia ver, quilômetros depois dela, a estrada principal; e à direita, havia a outra mata, fechada, densa, e da qual o pouco interior que eu via era escuro e misterioso. Eu sentia vontade de voltar.
Mas não voltei. Já havia chegado até ali, o fim da estrada não devia estar distante. Subi de novo na bicicleta e avancei.
Devo ter pedalado por pelo menos cinco minutos. Olhei para cima, para o céu muito azul e claro. Quando olhei novamente para a frente, havia uma pessoa na estrada.
Freei com tanta força que a bicicleta derrapou e eu quase caí. Havia uma pessoa na estrada. Uma maldita pessoa parada, um quilômetro à frente, bem no meio da estrada. Não estava lá um segundo antes. Era uma mulher com um vestido claro e comprido. Não sei se era por ter ficado olhando para o sol, mas eu não conseguia vê-la claramente. Como se ela estivesse embaçada.
Fiquei parada ali. A mulher também estava parada. Não se movia, como se fosse uma estátua. Até seus cabelos pareciam estar completamente parados, embora eu não pudesse ter certeza. Eu estava com medo, mas gritei um "oi!". Devia ser só uma pessoa que saíra sabe deus de onde.
Mas ela não respondeu ao meu grito, nem se moveu. Chamei "moça!", chamei de novo, e nada. Ela não se movia. Eu decidi que não queria chegar mais perto dela. Mesmo que fosse só uma pessoa, não parecia me querer por perto. Dei meia volta e voltei pela estrada o mais rápido que podia.
Eu estava prestes a me aproximar da curva por onde passara cinco minutos antes, quando a mesma mulher surgiu à minha frente, no meio do estrada e a menos de dez metros de mim. Eu dei o maior grito que já havia dado em toda a minha vida e acelerei o máximo que pude. Desviei da mulher, mas passei tão perto que pude vê-la claramente - cabelos compridos e castanhos, rosto branco, olhos negros - e segui correndo pela trilha.
Na próxima curva, ela estava ali de novo.
Não havia nada que eu pudesse fazer. Entrar na floresta seria muito pior. Eu gritei com toda a força "Sai daqui!" e comecei a gritar uma ave-maria, depois um pai-nosso, e depois a ave-maria de novo. Gritava e gritava, e a cada curva, ela surgia à minha frente, cada vez mais perto. Até que na última curva, ela surgiu exatamente na minha frente, e eu passei por dentro dela.
Foi como atravessar um vapor extremamente gelado.
Eu gritei ainda mais alto do que já tinha gritado, com tanta força que achei que minha garganta fosse sangrar. Pedalava tão rápido que podia perder o controle da bicicleta a qualquer momento. Até que cheguei ao fim da estrada, e continuei pedalando com a mesma velocidade até chegar em casa, e mesmo depois de entrar em casa e correr para o meu quarto eu não tinha coragem de olhar para trás.
Apenas três dias depois tive coragem de contar para os meus pais o que havia acontecido. Eles trocaram um olhar entre si, mas nunca falaram do que se tratava, e nunca mais tocamos no assunto.
Eu nunca mais passei perto daquela estrada.
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