segunda-feira, 17 de maio de 2010

[fanfic #001] [capítulo #014] [U2] EGB


CAPÍTULO 14

Estava cedo, Edge pensou. Não eram nem três horas da manhã. A padaria ainda não abrira, o que era uma pena, porque ele pensara em passar lá e levar pão para casa. Mas o show acabara cedo porque uma das bandas  não fora, e ele não queria ficar sozinho na rua àquela hora. De forma que ia andando pela rua deserta, tranquilamente.
Tinha bebido um pouco, não muito. Estava alegre, mas não bêbado. Apesar disso, quando viu Bono, a alguns metros de onde ele estava, achou que estava vendo coisas.
Logo ele percebeu que não era nenhuma visão, era real. Bono estava ali, logo a frente, com Guggi. Os dois andavam aos tropeços, se apoiando um no outro, e rindo como dois loucos. Era impossível saber qual estava mais bêbado.
Edge parou, sem saber o que fazer. Não queria passar por eles, nem queria que o vissem. E as lembranças da briga com Guggi ainda estavam vivas em sua mente; se o outro o atacasse ali, ele teria sérios problemas. Por isso, entrou em um beco minúsculo entre duas lojas, e ficou espiando os dois, esperando a hora em que eles iriam embora.
Os dois riam e falavam alto, gritando coisas totalmente sem sentido. Bono começou a cantar uma música dos Rolling Stones, e Guggi fez coro, em seguida o agarrando pela camisa e o arrastando para dentro de um beco logo a frente. Edge achou que eles fossem voltar, e esperou algum tempo, mas eles não apareceram mais.
Talvez, ele pensou, eles tivessem saído pelo outro lado. Com essa esperança, ele saiu de seu esconderijo e seguiu andando, mas logo percebeu que se enganara: as vozes e risos dos dois ainda eram claramente audíveis, eles pareciam estar logo no início do beco. Ele continuou a andar, pensando que podia passar depressa pela frente do beco, sem ser visto.
Quando chegou à frente da pequena passagem, se apoiou na parede e olhou cautelosamente para o interior. Era um beco grande, quase uma rua, e não tinha iluminação; mas, graças ao poste que ficava bem em frente à entrada, era possível ver quase até a metade dele. Bono e Guggi estavam poucos metros para dentro, mas não riam nem falavam mais. Estavam abraçados, Bono encostado na parede e Guggi colado a ele, e Edge sentiu um nó no estômago quando viu isso.
Ele sabia que era sua chance de passar correndo e ir embora, mas descobriu que era incapaz de se mover. Seus pés pareciam colados no chão, e ele não conseguia desviar os olhos dos dois garotos à sua frente. Viu quando Guggi segurou o rosto de Bono e se aproximou, para roubar um beijo; lágrimas saltaram dos olhos de Edge, mas nem assim ele conseguiu deixar de olhar.
Mas, ao contrário do que ele imaginara, Bono não beijou Guggi. Afastou o garoto, meio rindo, e disse:
-- Pára, Guggi.
-- Não. - Guggi voltou a tentar beijá-lo – Eu quero.
Bono virou o rosto novamente, mas Guggi insistiu, tentando alcançar sua boca de qualquer jeito. Bono disse:
-- Eu não quero.
-- Eu preciso.
-- Você acabou de pegar a Patrícia.
-- Foi pouco. - ele segurou o rosto de Bono com as duas mãos e o virou para si – Pára de fugir, Bono.
Guggi conseguiu encostar seus lábios nos de Bono, mas este o empurrou, sem retribuir ao beijo.
-- Eu te arrumo uma menina.
-- Não quero menina nenhuma. Quero você. - ele quase beijou Bono, mas este se afastou – Me deixa comer você.
-- Não to bom pra isso. Po, Guggi, vai comer uma menina, eu quero ir pra casa e ficar com a Ali.
-- Mas ela não dá pra você.
-- Não tem problema. Eu não to com vontade de transar agora.
-- Merda, Bono! - ele bateu na parede – Eu to precisando disso!
-- Eu já disse que te arrumo uma menina! Eu não to bom hoje, que droga!
-- Foda-se. - Guggi desistiu de tentar agarrar Bono, e se sentou em uma caixa no chão – Eu nunca nego quando você quer me comer.
-- Mas eu só peço se não tiver outro jeito. Qual é, a gente nunca teve esse tipo de discussão.
-- Porque você nunca me negou desse jeito.
-- Mas você sempre aceitava pegar uma menina. Virou bicha, é?
-- Vai se ferrar.
Edge olhava a cena, atônito. Era a discussão mais absurda que ele já ouvira. Nesse momento, Guggi tirou algo de dentro do casaco, que ele logo percebeu ser uma seringa.
-- Toma. - Guggi disse, para Bono.
-- O que é isso?
-- O que você acha?
-- A gente usou ontem.
-- Ontem já passou. Quero usar de novo.
-- Pra que? Pára com isso, Guggi. Você já fumou maconha lá na festa, não acha que já tá bom?
-- Não. Vem logo, Bono, to com pressa!
-- Eu não vou usar isso.
-- Mas que droga, o que é que você tem? Não quer dar pra mim, não quer usar comigo... O que é que tá pegando?
-- Eu é que pergunto! O que é que tá acontecendo com você? Olha, eu não quis acreditar quando o Gavin me disse, mas sou obrigado a admitir que ele estava certo! Você está virando um viciado!
-- Viciado? - ele deu uma risada debochada – Viciados são aqueles infelizes que moram no meu prédio. Eu não roubo ninguém pra comprar droga nem fico escondendo heroína no...
-- Mas tá quase lá! Tá no caminho! Olha o que você tá fazendo, você nunca me tratou assim! E o Gavin disse que você tá estranho com ele também, e eu sei que você tá faltando aulas porque está dopado demais pra ir pra escola... Cara, olha o que você tá fazendo. Eu não quero perder você, Guggi. Não quero ver você se tornar como aqueles caras.
-- Eu sou muito diferente daqueles caras, tá ouvindo? - ele se levantou – Eu tenho controle sobre mim! Uso o que quero, quando eu quero! Se você não quer usar comigo, nem quer deixar eu comer você, então pro inferno, eu arrumo quem queira!
-- Não fala isso nem de brincadeira. Guggi, você não anda fazendo isso com mais ninguém, não é?
O outro não respondeu; começou a se afastar, indo para a outra saída do beco. Bono correu até ele e o segurou pelo braço.
-- Guggi! Responde! Você anda dividindo seringa com mais alguém? Ou dormindo com outro cara? Pelo amor de Deus, fala a verdade, eu sou seu melhor amigo!
-- Me solta! - ele empurrou Bono com violência – Eu não te devo satisfações! Nem preciso de amigos!
Ele foi embora. Bono ficou olhando ele se afastar, e então se sentou sobre uma caixa de madeira e começou a chorar. Sem nem perceber o que estava fazendo, Edge entrou no beco e foi até ele. Bono não o viu até que ele estivesse a menos de um metro de distância.
-- Brigou com seu namoradinho?
A reação do outro foi a que ele queria: Bono olhou para ele, com susto e choque no olhar. Demorou alguns segundos até que ele conseguisse reagir.
-- Me deixa em paz. - ele se levantou e começou a se afastar – Já tenho muitos problemas.
-- Já descobriu se os pêlos do Larry são claros ou escuros?
O outro parou como se tivesse batido em um poste. Virou-se para Edge, e seu rosto estava pálido como cera.
-- O que disse?
-- O Larry tem os pêlos loiros como os do Guggi? Ou são como os meus? - ele se aproximou – Você também levou ele pra sua casa, ou pegou ele na casa dele mesmo?
Bono o agarrou pela camisa e o jogou na parede.
-- Do que está falando?
-- Eu vi, Bono! - Edge não fazia esforço algum pra se soltar – Vi você abraçando o Larry, na frente da casa dele! Você não perde tempo pra encontrar “amigos especiais” pra você, não é? E aí, ele é bom de cama ou você teve que dar umas aulinhas?
-- Cala a boca! - ele deu um soco em Edge – Cala a boca! Como tem coragem de falar assim comigo? Depois de tudo o que você fez...
-- Eu? Eu não fiz nada, quem fez foi você! - ele empurrou Bono com força – Você me usou, me fez acreditar em um milhão de mentiras!
-- Eu te usei? Foi você quem transou comigo e sumiu no dia seguinte!
Edge não pensara nas coisas sob aquele ângulo, e ficou alguns instantes sem ter o que dizer.
-- Você queria o que? - ele finalmente disse – Que eu acordasse nos seus braços e dissesse “bom dia, meu querido”? Ou que te despertasse com um beijo? O que você pensa que eu sou?
-- Me poupe dessa sua conversinha, tá legal? Seu irmão já me disse tudo o que você queria que ele dissesse!
-- Eu não sei o que Dick te disse, mas tenho certeza de que foi menos do que você mereceu! Você foi um... Um cafajeste, um sedutor barato...
-- Oh, pobrezinho! E eu te obriguei a transar comigo, não foi? Eu te obriguei a gemer daquele jeito e a gozar na minha boca!
-- Você me induziu àquilo! Eu estava confuso, eu... Eu não queria nada daquilo!
-- É claro que queria! Eu não teria feito se você não quisesse! Aliás, você foi um ótimo ator, Edge, tenho que admitir que me enganou direitinho. Eu realmente acreditei que você fosse meu amigo. - ele riu, irônico – Sou um imbecil, não sou? Achei que aquilo tivesse significado alguma coisa pra você. Mas é claro que não, você armou tudo, sabia como conseguir o que queria. Fez eu confiar em você, e depois que transou comigo se mandou! E ainda teve a coragem de mandar o seu irmão pra cima de mim! Você não passa de um covarde, que não tem coragem de assumir a responsabilidade por seus atos!
-- Não! Eu não fiz nada disso! Eu não sei o que eu queria, mas sei que nunca em minha vida me arrependi tanto de alguma coisa quanto me arrependi de transar com você! Foi a pior experiência que eu já tive, preferia ter morrido a ter passado por aquilo! Eu nunca senti tanta raiva de mim mesmo, tanto... Tanto nojo!
Parecia que Bono ia falar, mas ele não conseguiu. Começou a chorar, e virou o rosto. Edge continuou, a raiva fazendo seus ouvidos zumbirem.
-- Eu sei que podia ter te parado, mas não posso mentir, no início foi bom! Eu estava com vergonha, estava com medo, mas não podia te mandar parar porque era bom, e eu achei que você estivesse fazendo aquilo porque me amasse! Eu sou um idiota mesmo, devia ter visto desde o início que você era incapaz de amar alguém!
-- Mas eu te amei! Te amei ali, naquela hora! Eu não teria feito aquilo se não te amasse!
-- Mentira! Você só queria se aproveitar de mim! Me deu o que eu precisava, mas depois cobrou o seu preço, não é? Você não se preocupou em nenhum momento se eu queria ou não, se eu estava bem ou não! Eu podia ter morrido enquanto você metia em mim, que nem assim você ia parar!
-- Mas você deixou! Você queria aquilo também!
-- É claro que não! Como alguém podia querer aquilo? Só se eu fosse masoquista!
-- Você... - ele parecia realmente surpreso – Você não gostou?
-- De você meter em mim? É claro que não! Eu nunca senti tanta dor na minha vida!
-- M-mas eu achei... Mas... Se estava ruim, por que você não me pediu pra parar? Eu ia ter parado assim que você pedisse!
-- E deu? Eu estava com medo, Bono, estava em pânico! Eu não conseguia falar, se eu abrisse a boca eu ia gritar tão alto que a cidade inteira ia ouvir! E você estava ocupado demais pra prestar atenção em mim, você nem percebeu que eu estava chorando e sentindo dor, você nunca se importou comigo!
-- Mas eu achei que você estava gostando!
-- Como é que eu ia gostar de uma coisa como essa? Ninguém normal poderia gostar disso!
-- Eu gosto!
Os dois pararam. Ambos estavam vermelhos, Bono pelo que dissera, Edge pelo que acabara de ouvir. Foi Edge quem quebrou o silêncio:
-- Você é louco.
Bono soluçava, e foi com muita dificuldade que conseguiu dizer:
-- Isso não justifica... Nada disso justifica você ter ido embora no dia seguinte. - ele respirou fundo, tentando se acalmar – Você devia ter ficado, nós dois íamos conversar, íamos... Nos explicar... Se você dissesse que não queria aquilo, eu nunca mais... Você acha que é só isso? Que eu só queria transar com você? É claro que não! Se você dissesse que não queria, eu nunca mais teria tocado em você!
-- Não foi só isso. - Edge falava com um pouco mais de calma na voz – Eu ia ficar, ainda tinha a esperança de que... De que você tivesse feito aquilo por amor, que quisesse... Algo a mais... Mas... Quando eu acordei, quando eu estava tentando decidir o que fazer, você estava sonhando e... Você estava duro... E você disse... O nome da Ali. - ele sentia dor só de se lembrar disso – E eu percebi que você estava pensando nela enquanto estava transando comigo, e que eu não significava nada pra você. Você só queria ter alguém pra transar enquanto ela não faz isso por você, e aquela história de amigo especial é só uma desculpa pra você transar com um homem e não se sentir culpado.
-- Claro que não! Meu Deus, não! Eu não estava pensando na Ali quando transei com você, não tenho culpa se depois sonhei com ela! E eu nunca na minha vida toquei em outro cara além de você e do Guggi, e não me sinto nem um pouco culpado em relação a isso, porque eu faço por amor!
-- Chega. Isso não importa mais. Você me magoou muito, Bono, nada do que você disser vai
poder apagar a dor que eu senti.
Ele começou a se afastar, mas Bono o chamou:
-- Edge!
Edge parou por um instante, mas então voltou a andar, sem olhar para trás. Bono correu até ele e o segurou.
-- Espera!
-- Me solta!
-- Edge... Eu sinto muito, eu não pensei que... Eu achei... Eu só queria te fazer feliz, eu sinto muito... Que droga, por que você foi embora aquele dia? Você podia ter ficado, íamos ter conversado, nada disso teria acontecido...
-- Você acha que foi fácil pra mim ir embora? Eu estava tão confuso, Bono, estava tão triste... Sabe o quanto me machucou? Eu estava sangrando quando cheguei em casa, e...
-- Sangrando? Você diz... Lá?
-- É, lá.
-- M-mas sangrou muito?
-- Não, foi só um pouquinho... Mas doeu muito, ficou dolorido por uns dois dias.
-- Nossa... Eu... Eu estava tão excitado, eu... Acabei exagerando... Droga, Edge... Você devia ter me dito...
-- E você devia ter conversado melhor comigo antes de fazer aquilo... - ele estava chorando também – Eu sofri tanto, fiquei tão confuso...
-- E como você acha que eu fiquei? Eu acordei naquele dia, e você não estava ao meu lado... Eu não entendi, fiquei confuso, mas depois pensei que você talvez tivesse acordado mais cedo e estivesse, sei lá, no banheiro, então fui te procurar, e o Norman me disse que você tinha ido embora... Eu não quis acreditar, falei que não era possível, que você não iria embora sem se despedir, não depois do que aconteceu. Porque eu achei que tinha sido tudo bem, que você tinha gostado tanto quanto eu. E o Norman começou a brigar comigo... Disse um monte de coisas, que eu devia aprender a não confiar desse jeito nas pessoas, que era bem feito... Que eu ia me dar muito mal por causa disso...
-- E-espera. Espera, o seu irmão sabe o que...
-- Sabe... Ele já viu eu e o Guggi se beijando, dormindo juntos... Eu expliquei pra ele que nós somos amigos especiais, e ele não me enche muito, mas fica falando essas coisas, diz que o Guggi se aproveita de mim... Mas não é verdade, a gente é amigo...
-- Se ele é mesmo seu amigo, porque te tratou daquele jeito? Porque foi embora assim?
-- Ele está com um problema! Não tem controle sobre ele mesmo, não sabe o que diz! Eu sei que, quando ele estiver normal, vai chorar muito quando se lembrar do que fez, vai ficar muito arrependido...
-- E o Larry, Bono? Como você explica o que eu vi? Vocês dois abraçados, tão próximos...
-- Nós nos aproximamos muito depois que a mãe dele morreu, eu senti que ele precisava de um amigo mais velho, mais experiente, que tivesse passado pelas mesmas coisas. Ele se tornou muito especial pra mim, quase tanto quanto o Guggi ou... Ou você. - ele desviou o olhar – Mas a gente nunca se beijou nem nada, e isso nunca vai acontecer, porque não é disso que o Larry gosta. Não é disso que ele precisa. Eu só faço pelo Guggi porque ele quer, só fiz por você porque você queria. Ser amigo não é fazer sexo, Edge, isso é só uma coisinha no meio de um milhão de coisas muito maiores.
Os dois ficaram em silêncio. Edge olhou para Bono e se aproximou.
-- Eu... Eu queria tanto... Que nada daquilo tivesse acontecido...
-- Você acha que a gente pode começar de novo?
-- Eu queria muito.
-- Podemos ser amigos?
-- Sim.
-- Amigos especiais?
-- Sim, Bono. - ele soluçou – Podemos.
Bono o abraçou, e Edge o apertou contra si, percebendo pela primeira vez o quanto ele era pequeno.

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