segunda-feira, 17 de maio de 2010

[fanfic #001] [capítulo #013] [U2] EGB


CAPÍTULO 13

Dick tirou o terno preto e se jogou no sofá, com o rosto molhado por lágrimas. Edge se sentou em uma cadeira, sem tirar o terno, já acostumado com ele. Haviam acabado de sair do enterro da mãe de Larry, e fora a coisa mais triste que já vira na vida. Antes de irem embora, Larry fora até ele e dissera um “obrigado”, em seguida o abraçando, e Edge, que conseguira aguentar até aquele momento, se entregou às lágrimas e fora chorando por todo o caminho.
-- Você acha que ele vai ficar bem? - ele disse, para seu irmão.
-- Não sei. - Dick passou um lenço pelo rosto, se limpando – Não posso dizer que sei o que ele está passando, e agradeço a Deus por isso. Mas conheço várias pessoas que perderam os pais cedo assim, e superaram.
Edge pensou em Bono. Lembrou-se das confissões que o outro fizera, naquele dia fatídico, e a vontade de chorar aumentou. Tudo estava tão bem então, e as coisas haviam avançado tão rápido, tudo saíra do controle...
-- Quando você volta pra escola?
-- Daqui a uma semana. - Edge também enxugou o rosto com um lenço – A diretora conversou com mamãe. Acho que ela entendeu que eu não tive culpa no que aconteceu.
-- E os outros?
-- O Gavin teve uns problemas com o pai dele, mas também vai voltar semana que vem. O Guggi sumiu. Dizem que se trancou nas Seven Towers e fica o dia inteiro se drogando lá. A mãe dele foi na escola, disse que não sabe o que fazer, que perdeu o controle sobre ele totalmente.
-- O pai dele não é pastor evangélico?
-- É, sim.
-- E como é que tem um filho desse jeito?
-- Às vezes as pessoas não têm controle total sobre os filhos, não é? Quando... Quando eu e o Bono éramos amigos... - ele ficou vermelho – Ele me contou que o Guggi era considerado um menino-prodígio desde muito cedo, parecia meio super dotado, sabe? Mas não sabiam lidar com isso, e ele se sentia preso, sem ter como se expressar... Por isso ele começou a se drogar e a fazer aquelas loucuras com os Lypton Village.
-- Todos aqueles caras dessa gangue são problemáticos. Aliás, você falou com o Bono?
-- Não. Nem ele tentou falar comigo.
-- É um covarde mesmo. Ainda tem a coragem de mandar o amante dele te dar uma surra.
-- Ele não mandou. Pelo contrário, ele tentou me defender.
-- Mas foi por causa dele que o Guggi foi pra cima de você. Provavelmente ele contou o que aconteceu e o outro ficou com ciúmes, achou que você estava roubando o namorado dele ou coisa parecida.
-- É, deve ter sido... Sabe, eu fico vendo o Bono e a Ali, e ele parece tão apaixonado por ela... E ele sempre fica dando em cima de um monte de meninas... Eu não entendo.
-- Isso é pra disfarçar, ele não quer que saibam que ele é bicha. Ou então ele gosta dos dois. Tem cara que é pervertido, não pode ver um buraco que já quer enfiar.
-- É, ele parece ser meio assim, mesmo...
-- Olha, Edge, sexta que vem vai ter um show lá no centro, só punk rock, coisa fina. Você quer ir? Vão umas amigas minhas, meninas muito bonitas e todas solteiras.
-- Não sei, Dick.
-- Vai, cara. Você tá precisando relaxar um pouco. Se o Larry já estiver um pouco melhor, a gente pode chamar ele também. Vamos só a “turma do bem”.
-- É – Edge sorriu – pode ser.
-- Isso aí, irmão. Você vai se divertir.
* * * * *

Se não fosse por um motivo tão justo, Edge jamais sairia debaixo daquele sol. Mas haveria uma festa num clube aquela noite, e era uma ótima oportunidade de chamar Larry para se distrair. E ele não queria fazer aquele convite por telefone.
Desde que a mãe do garoto morrera, todos haviam se empenhado ao máximo para fazê-lo se sentir melhor: Edge desistira de sair da banda, Adam parara de ficar oferecendo drogas, Bono estava menos briguento, até Dick se tornara mais amável. Larry sempre ficava muito grato, mas estava longe de se sentir menos triste.
Edge chegou à casa do garoto, e estava prestes a tocar a campainha, quando o viu. Larry estava sentado na varanda, e não estava sozinho. Bono estava ao seu lado, conversando com ele. Edge suspirou: não iria lá se Bono estivesse perto. Teria que esperar até que o outro fosse embora.
Então, aconteceu. Muito lentamente, ele viu Larry se aproximar de Bono, e os dois se abraçaram. Ele não podia ver direito, estava longe, e por um segundo quase jurou que eles iam se beijar; mas, felizmente, fora só impressão. Eles ficaram abraçados por muito tempo, e quando se separaram, Bono ficou acariciando o rosto do garoto, passando a mão por seus cabelos. Depois voltou a abraçar Larry, apertando-o contra seu peito.
Aquilo fez Edge perder a respiração, ele tinha a sensação de que iria sufocar. Saiu correndo dali, com medo de que o vissem, amaldiçoando as lágrimas que transbordavam de seus olhos.
* * * * *

-- E aí, Edge, você chamou o...
Edge passou direto por Dick, indo se trancar no quarto. Após um momento, Dick o seguiu, aturdido.
-- O que houve? - ele se sentou na beira da cama e passou a mão pelos cabelos de Edge, que tinha a cabeça escondida no travesseiro – Edge?
-- Ele estava lá.
-- Quem?
-- O Bono. Com o Larry, na casa dele. - ele olhou para Dick – Estavam abraçados, estavam tão... Próximos...
Ele voltou a chorar. Dick não estava entendendo mais nada.
-- Eu não estou sacando.
-- Ele arrumou outro “amigo especial”... Aproveitou que o Larry estava carente, e se aproximou dele... Ele quer fazer com ele o mesmo que fez comigo...
-- O que é isso, Edge? O Larry? Ele nunca ia cair na conversa do Bono.
-- Você não conhece o Bono tão bem quanto eu, Dick, não sabe o quanto ele é persuasivo. - ele soluçava – Do jeito que o Larry está, não vai ser difícil... Ele primeiro vai se aproximar do Larry, conquistar a confiança dele, fazer o Larry acreditar que ele vai cuidar dele... E quando o Larry baixar a guarda, quando gostar de verdade dele, ele vai se aproveitar dele... Ah, não...
-- Calma, cara. - Dick segurou a mão de Edge, que chorava incontrolavelmente – Nós não vamos deixar isso acontecer, ok? Vamos proteger o Larry. Não vamos deixar o Bono machucar ele do jeito que te machucou.
-- Como é que pode, Dick? Há dois meses atrás, era eu quem ele estava abraçando, era eu quem ele estava protegendo... E agora está fazendo o mesmo com outro... Será que pra ele não importa quem seja? Ele só quer alguém na cama dele, é isso?
-- David – Dick ficou muito sério – me fala a verdade: você está preocupado com o Larry, ou está com ciúmes dele?
-- Que? - ele se sentou, indignado – Claro que não estou com ciúmes!
-- Você não sente mais nada pelo Bono?
-- Eu nunca senti nada pelo Bono! Aquilo foi só uma fase! Eu não sou... Isso!
-- Eu sei. Mas você era virgem quando o Bono se aproveitou de você. - Edge corou – Foi ele quem fez você descobrir o sexo. Se você disser que ainda se sente... Confuso quando o vê, eu não vou te culpar. É uma experiência muito forte, muito profunda.
-- Eu não era mais virgem quando aconteceu aquilo.
-- Não!?
-- Não. Quando eu fiz dezesseis anos, na noite do meu aniversário, o Bono me levou pra casa dele e... E chamou uma amiga dele, e ela... Eu dormi com ela.
-- Nossa, Edge, por que você não me contou?
-- Ah, sei lá, eu fiquei com vergonha... Ia te contar depois, só que eu fui adiando...
-- Que legal, cara... E teve mais alguém depois dela?
-- Não, foi só ela e o... Só ela. - ele ficou vermelho – E não foi tão legal, sabe, fazer isso, uma coisa tão íntima, com alguém que eu nem conhecia... E... Eu fiquei um pouco... Frustrado, porque... Eu achei... Quando o Bono começou a falar, eu achei que... Que ele é que fosse... Fazer isso por mim.
-- Você... Queria que ele...
-- E-eu não sei se queria... Mas acho que... Se ele tivesse feito, naquele dia, eu... Teria deixado.
-- Oh, Edge...
-- Eu ainda não entendo isso direito, Dick. Ainda estou confuso, tá legal? Não me pede pra explicar o que eu não sei. Eu não sei o que eu sentia ou sinto pelo Bono, o que eu quero ou não quero. Só sei que ele foi a primeira pessoa de quem eu gostei, isso é fato, não dá pra esconder. Mas também não quer dizer que eu goste de garotos, pode ter sido só uma fase, porque depois dele eu não gostei de mais ninguém.
-- Não fique pensando nisso, você não tem que decidir isso agora. Mas continue evitando o Bono. Eu acho que a convivência com ele, principalmente depois do que ele fez com você, só vai piorar a situação.
-- Pode deixar. Não vou mais falar com ele.

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