segunda-feira, 17 de maio de 2010

[fanfic #001] [capítulo #003] [U2] EGB


CAPÍTULO 3

-- Agora, de quem foi a idéia, mesmo?
Fora Larry quem fizera a pergunta. Ele, Edge, Adam, Dick e Gavin estavam reunidos o mais próximo possível de uma pequena fogueira, que não era o bastante para afastar o frio congelante. Bono e Guggi estavam um pouco afastados, rindo e jogando neve um no outro.
-- Ah, Larry, isso é divertido! - Bono gritou, aproximando-se deles – Vão dizer que não estão gostando?
-- O que é isso, Bono. - disse Dick, com um ar de acusação – Fugir de casa para vir acampar durante um fim de semana inteiro em uma montanha coberta de neve, sem os mínimos recursos, é uma diversão maravilhosa!
-- Vamos lá, pessoal, onde estão os seus espíritos de aventura? Pensem na quantidade de coisas incríveis que podemos fazer aqui, sem que ninguém saiba!
Guggi pulou nas costas de Bono, e os dois caíram no chão, às gargalhadas. Adam acendeu um cigarro e disse, indiferente:
-- Se tivéssemos trago garotas, eu poderia entender o que você quer dizer com “coisas incríveis”, mas, como somos um grupo de sete homens solitários, a sua idéia de diversão me escapa um pouco, Paul.
-- Não me chama de Paul! Meu nome é Bono. - ele se levantou – E vou mostrar pra vocês qual é a minha idéia de diversão.
Ele foi até sua barraca e voltou trazendo uma bolsa. Guggi se sentou junto aos outros, e Edge pode ver que ele também tremia, mas de excitação. Bono também se sentou, e tirou de dentro da bolsa vários cigarros feitos à mão, que entregou para todos. Edge pegou o seu e ficou analisando, mas não era a primeira vez que manuseava um desses. Larry, pelo contrário, parecia confuso.
-- Então, viemos aqui pra fumar? Eu não fumo.
-- Isso não é um cigarro qualquer, Larry, minha garota. - disse Adam, piscando para Larry, que corou.
-- Não mesmo. - disse Bono, acendendo o seu e tragando, com um murmúrio de prazer – A mais pura erva que se consegue na Irlanda, vinda direta dos paraísos da América do Sul...
Adam também começou a fumar, no que foi seguido imediatamente por Guggi, que soltou a fumaça com uma exclamação de prazer, e por Gavin, que apreciava silenciosamente o prazer de seu cigarro. Edge, Dick e Larry continuavam olhando para os seus, como se não soubessem o que fazer com eles.
-- Vocês três. - disse Bono, apontando pra eles, já com os olhos um pouco injetados – Qual o problema? Não têm fogo?
Os quatro fumantes riram. Larry disse:
-- Eu não considero “divertido” ficar me drogando num lugar congelado durante três dias.
-- Qual é, Larry? - disse Adam – Se nunca experimentou, essa é a hora. Não custa nada, só uma tragada.
-- Não. - ele entregou o cigarro para Bono – Não quero.
Ele se levantou e saiu. Os que fumavam soltaram risos de deboche.
-- Covarde medroso. - disse Bono, com um ar de arrogante desprezo – Nunca vai ser um homem de verdade.
-- Se pra vocês, isso é ser um homem – disse Dick, também devolvendo seu cigarro intacto – eu prefiro ser uma bicha.
Dito isso, ele se levantou e entrou em sua barraca. Os outros deram de ombros.
-- Como se ele não tivesse feito isso antes. - disse Adam – Fumava sempre com o meu grupo. Só ficou metido a certinho depois que entrou pra universidade.
-- E você, Edge? - disse Bono – Também quer ser uma bicha?
Os outros riram. Edge continuava a olhar para seu cigarro intacto, como se estivesse diante de uma escolha entre morrer ou viver. Já fumara antes, há muito tempo atrás, uma única vez; e a experiência fora muito desagradável. Mas agora era mais velho. Talvez não fosse tão ruim.
-- Anda, Edge. - disse Bono novamente – Fuma logo. Ou aproveita a chance pra ir comer a bunda do Larry.
Todos explodiram em risos. Edge, por outro lado, estava à beira das lágrimas. Não queria parecer covarde, nem queria que o chamassem de criança como faziam com Larry, nem que falassem por suas costas, como faziam com seu irmão. Queria mostrar que era homem, que tinha coragem, que era rebelde como todo rock star devia ser.
Lentamente, tentando fazer suas mãos não tremerem, ele acendeu seu cigarro e o tragou. Os outros aplaudiram e gritaram como se ele acabasse de ganhar um grande prêmio. Edge ficou pensando no que seu irmão diria, se contaria para seus pais, se o reprovaria. Se as garotas o achariam interessante agora. Mas logo a fumaça pareceu inundar seu cérebro, e todas as preocupações desapareceram: ele fugiu para um mundo quente e bom, onde tudo era agradável, onde todos gostavam dele e tudo sempre daria certo.
* * * * *

-- Edge! - Dick segurava o irmão, que estava agachado, as mãos apoiadas no chão coberto de neve – Dave! Calma, cara, respira!
Edge vomitou de novo. Seus braços tremeram, e ele quase caiu sobre a poça suja no chão; Dick o segurou e o abraçou contra o peito, a despeito da possibilidade de ele continuar vomitando.
-- Você é um idiota, cara! - disse Dick, o rosto enterrado contra os cabelos do irmão – Um grande idiota!
-- D-d-des... Desculpe... - Edge murmurou, engasgando com uma nova onda de vômito; ele se inclinou para fora do aperto de Dick e vomitou sobre a neve.
-- Já tinha acontecido antes, imbecil, você não pode com isso! Eu tinha certeza de que você ia vir comigo, porque você ficou lá?
-- Eu... Não queria parecer... Covarde...
-- E grande coragem a sua, ficar se drogando com um bando de loucos! Isso é que é ser homem pra você? É isso?
-- Não... Dick... Me desculpe...
-- Pare de pedir desculpas. - ele afastou a neve dos cabelos de Edge – Vamos voltar para as barracas e dormir. Amanhã de manhã, nós vamos embora.
-- Mas... Os outros...
-- Foda-se os outros. Vamos embora, eu não quero saber o que vão pensar, se vão nos expulsar da banda. Eu vi Bono e Guggi mexendo naquela bolsa, não tem só cigarro lá dentro. Eles estão guardando o resto pra hoje à noite, querem esperar todos já estarem bêbados pra fazer coisas bem piores...
-- Piores?
-- Eles trouxeram drogas pesadas pra cá. Eu vi. Cara, não estou com medo só pela sua saúde. Se por acaso aparece alguém aqui e vê isso, estamos fodidos.
Ele soltou Edge, que passou alguns instantes respirando fundo.
-- Está certo. Nós... Nós vamos.
-- Você já está bem?
-- Acho que sim. Não tem mais nada no meu estômago pra eu vomitar. - ele parecia muito cansado – Vamos dormir, Dick. Não aguento mais.
-- Vamos, sim. Quer que eu passe a noite com você?
-- Já estou bem grandinho pra correr pra sua cama. O que os outros vão pensar?
-- Edge...
-- Não, Dick.
-- Certo, então. Mas, qualquer coisa, estou aqui. É só chamar.
-- Pode deixar. Obrigado.
* * * * *

Edge virava de um lado para o outro dentro de sua pequena barraca. Estava muito cansado, mas era incapaz de dormir. Seu estômago doía e sua cabeça latejava; o frio cortante atravessava suas roupas térmicas e o fazia bater os dentes. Ele não sentia mais as mãos nem os pés, achou que ia morrer congelado muito antes do nascer do dia. Pensou no irmão, em como seria bom dormir abraçado a ele, o calor de seu corpo o envolvendo, como ele fazia quando eram pequenos... No início, se recusou a ceder à idéia de ir procurá-lo como se ainda tivesse oito anos; mas, logo, o frio e o iminente congelamento venceram, e ele saiu da barraca.
Ele se aproximou da barraca de seu irmão. Abriu um pouco a entrada, e pode ver o vulto de Dick deitado, dormindo profundamente. Ele não queria acordá-lo, por isso olhou em volta, traçando a melhor estratégia para entrar e se aconchegar a ele sem acordá-lo. Já tinha o plano pronto em sua mente, e já estava prestes a entrar, quando por acaso olhou para o lado, e uma coisa desviou completamente sua atenção.
A barraca de Guggi estava aberta.
Intrigado, Edge fechou a barraca do irmão e se aproximou da de Guggi. Espiou para dentro, com sua pequena lanterna. Estava vazia: Guggi parecia nem ter entrado ali.
Edge olhou em volta, preocupado. Seria loucura sair no meio daquela nevasca. Talvez Guggi tivesse ido ao banheiro, mas mesmo isso seria arriscado: ele próprio não se arriscaria a colocar nada para fora das roupas, a não ser em caso de extrema necessidade.
Ele andou entre as barracas, olhando em volta, procurando Guggi. Chegou até a barraca de Bono, que era a mais afastada e a maior, mas não havia nem sinal de seu amigo nas proximidades. Resolveu, então, chamar Bono, para irem procurar juntos: ele era o melhor amigo de Guggi, e não se aborreceria com o chamado de Edge na madrugada. Convencido disso, Edge se abaixou e abriu a barraca de Bono, iluminando o interior com a lanterna.
O que viu o deixou estarrecido.
De fato, Bono estava ali. Dormia profundamente, e parecia estar sonhando, porque vez por outra seus lábios se moviam, sem produzir som. Mas ele não usava roupas térmicas, apenas uma camiseta, e seu braço nu era visível por cima das cobertas. Havia outra pessoa junto a ele. E essa pessoa era Guggi.
Guggi estava abraçado a Bono, com a cabeça apoiada em seu peito. Edge podia ver o contorno de seu braço ao redor do corpo de Bono, por baixo do cobertor. Bono, por sua vez, mantinha o braço visível ao redor do amigo, a mão mergulhada em seus cabelos loiros, e o queixo apoiado em sua cabeça. Estavam tão próximos que pareciam um só corpo sob o cobertor. Edge fez a lanterna iluminar mais para baixo, e pode perceber claramente que as pernas dos dois estavam entrelaçadas, Bono com uma coxa entre as de Guggi...
Edge deixou a lanterna cair. Rapidamente a pegou e se afastou, fechando a barraca sem dar uma última olhada nos dois amigos, tão indecentemente próximos. Sentiu o rosto quente, apesar do frio, e se afastou dali o mais depressa possível. A tempestade diminuíra, e, ao invés de ir para sua barraca ou a de Dick, ele se sentou, olhando a paisagem além do penhasco, e ficou tentando não pensar no que vira.
Não aconteceu nada, eu só saí pra respirar, não vi a barraca de Guggi aberta, não vi ele e Bono dormindo juntos, eles estão cada um em sua barraca, não aconteceu nada...
-- Edge?
Por muito pouco Edge não saltou penhasco abaixo. Virou-se, e viu Bono de pé atrás dele, fitando-o interrogativamente. Murmurou:
-- O... O que... O que está fazendo aqui?
-- Eu é que pergunto. O que está acontecendo? Está passando mal?
-- N-não! Eu... Só... Saí.
Para desespero absoluto de Edge, Bono se sentou ao seu lado. Disse:
-- Vamos, Edge. Qual é o problema? Você parece estranho. Eu tive a impressão de ouvir um barulho, e quando acordei vi você se afastando, achei que podia estar querendo falar alguma coisa...
-- Eu vi. - disse Edge, antes que pudesse se conter.
-- Viu o que?
-- Você. Guggi. - ele corou – Juntos.
-- O que? Não estou entendendo.
-- Eu vi que Guggi não estava na barraca, fiquei preocupado, fui chamar você para me ajudar a procurar ele. - ele fez uma pausa, e sentiu que, por algum motivo, estava quase chorando – E vi vocês dois dormindo juntos.
Houve um longo silêncio. Bono olhava para Edge, entre surpreso e confuso.
-- E daí?
-- O que?
-- E daí que estávamos dormindo juntos? Foi por isso que veio pra cá? Qual o problema? Eu não estou entendendo.
-- Como, não? - havia um tom profundamente acusador em sua voz – Você dorme com seu melhor amigo e acha isso normal? Costuma dormir sempre com ele?
-- Bom – disse Bono, e havia um tom ofendido em seu jeito de falar – se estivéssemos em uma praia quente, eu acho que não estaríamos dormindo juntos.
-- O... O que?
-- Com certeza estou muito melhor e mais aquecido abraçado lá com ele do que você está aqui. Não seja idiota, Edge. - ele se levantou – Eu não tenho nojo de tocar nos meus amigos.
Ele se levantou e se afastou. Edge o seguiu.
-- Espera! - Bono parou, e Edge baixou a cabeça – Então, vocês... Não... Ele só foi lá porque estava com frio?
-- Claro que não. Você não ouviu nossos gemidos e juras de amor? Estávamos fazendo sexo, e é claro que o fato de estarmos cercados por nossos amigos não foi algo que nos inibisse.
Edge ficou ainda mais vermelho por ver seus pensamentos expressos em voz alta.
-- Desculpe, eu... Eu sou um idiota.
-- Você está com frio?
-- O q... Bem, acho que sim.
-- Imaginei. Olha, sei que o Dick quer ir embora e quer te levar junto, mas não vá na dele. Não vamos te obrigar se drogar se ficar conosco. Queremos apenas nos divertir.
-- Eu... Eu sei.
-- Vai ficar com a gente?
-- Acho... Que sim.
-- Então, vem comigo. Você pode dormir conosco.
-- Que?
-- Três pessoas se aquecem melhor do que duas, e na minha barraca nós cabemos bem. Vem, o Guggi não vai se importar.
Como se estivesse possuído por algum feitiço, Edge seguiu Bono até sua barraca e entrou. Guggi murmurou, sonolento:
-- O que há?
-- Trouxe o Edge. - disse Bono – Ele estava congelando.
Ele se deitou e fez sinal para Edge se acomodar ao seu lado. Edge o fez, deitando um pouco sem jeito, com cuidado para não tocar em Bono. Este, por sua vez, se deitou de costas e estendeu o braço para Guggi, que deitou desinibidamente em seu peito. Bono o abraçou, e então fez o mesmo gesto para Edge, que hesitou.
-- Vem logo. - disse Bono, impaciente, ao perceber a insegurança de Edge – Eu não vou te morder. Vamos ficar mais aquecidos assim.
Totalmente constrangido, Edge imitou Guggi, deitando no peito de Bono. Era quente, ele podia sentir o calor através da camisa que Bono usava, e por algum motivo isso o fez corar. Sentiu que era abraçado, mas não teve coragem de olhar para Bono. Guggi, por sua vez, já estava quase adormecido, e Edge percebeu que ele acariciava levemente o peito de Bono, em um movimento quase instintivo. Já ele próprio não sabia o que fazer com as mãos. Bono apagou a lanterna e sussurrou:
-- Boa noite.
Guggi levantou os olhos para ele e sorriu, e Edge viu nele a devoção de um servo para com seu senhor.
-- Durma bem.
Bono deu um beijo leve na cabeça de Guggi, que retribuiu – e Edge sentiu que corava até a raiz dos cabelos quando ele fez isso – com um beijo em seu peito.
-- Boa noite. - Edge disse, e receou que Bono também o beijasse, mas o outro não o fez.
-- Boa noite, Edge. - disse Guggi, fechando os olhos e adormecendo quase imediatamente.
-- Boa noite. - Bono disse – Se não se sentir bem, pode me acordar.
-- Obrigado.
Edge ficou pensando se Bono o vira passando mal, mas chegou à conclusão de que era impossível. Depois, pensou no que seu irmão pensaria se o visse ali, no que os outros pensariam, mas nesse momento o sono o invadiu, e ele adormeceu sem chegar a nenhuma conclusão.
* * * * *

Não havia a menor possibilidade de que Bono e Guggi acordassem antes do meio-dia. Edge constatou isso quando despertou, ainda cedo, e viu os dois dormindo tão profundamente que pareciam desmaiados. Ele se levantou em silêncio e saiu.
Quando estava a caminho da sua barraca, ele avistou seu irmão, que gritou para ele assim que o viu.
-- David! - ele correu até Edge e o segurou pelos ombros – O que houve? Você passou mal de novo? Onde estava? Por que não me chamou?
-- Calma, Dick. - ele disse, ainda um pouco confuso pelo sono – Não aconteceu nada. Eu estou bem.
-- Eu te procurei na sua barraca, estou te procurando já faz meia hora, você sumiu! Onde esteve?
-- Eu estava... Na barraca do Bono.
-- Do Bono? - ele parecia confuso – Eu achei que ele ainda estivesse dormindo...
-- Ele está.
-- Então, o que você estava fazendo lá?
Edge se afastou sem responder. Dick foi atrás dele.
-- Edge? O que houve?
-- É que... Eu não sei como dizer isso.
-- Dizendo, oras. Você está me deixando preocupado.
-- Eu não quero que ninguém ouça isso. - ele parou em um lugar mais afastado e se virou para Dick – Promete que não conta pra ninguém?
-- Prometo. - ele suspirou – Você foi pegar mais? É isso?
-- Não, claro que não... Você sabe que não uso drogas.
-- O que foi, então? O que foi fazer lá, tão cedo, se o Bono estava dormindo?
-- Eu não fui pra lá hoje cedo.
-- Que?
-- Eu já estava lá. Desde ontem. - ele corou – Eu dormi lá.
-- Como assim?
-- Eu dormi lá. E o Guggi também. Dormimos os dois lá, com o Bono.
-- Eu... Não estou entendendo direito, Edge. Por que você foi dormir lá?
-- Eu não conseguia dormir, e fui procurar você, pra dormirmos juntos... Você estava dormindo, eu não queria te acordar, então estava pensando no melhor jeito de fazer isso, e aí olhei pro lado e vi que a barraca do Guggi estava aberta. Eu fui lá e vi que ele não estava, fiquei preocupado, estava nevando muito... Procurei ele, e como não encontrei, pensei em acordar o Bono para procurarmos juntos. Então, eu abri a barraca dele e vi ele dormindo com o Guggi.
-- Eles estavam... Como?
-- Como assim, como?
-- Digo, eles estavam... Longe, perto...
-- Perto. Muito perto. - ele corou mais ainda – Estavam dormindo abraçados.
Dick pareceu muito perturbado.
-- Você tem certeza? Pode ter se confundido, estava escuro...
-- Não, eu levei minha lanterna, eu vi. Eles estavam abraçados, o Guggi estava deitado no peito dele, e o Bono estava abraçando ele, com a mão no cabelo dele... E eu acho... Que uma das pernas do Bono estava entre as pernas do Guggi...
-- Meu Deus... Eles estavam... Sem roupa?
-- Não! Deus, não... Mas estavam com um cobertor por cima, então não sei como o Guggi estava vestido. O Bono usava só roupas normais, uma calça e uma camiseta.
-- Cara... Cara, mas que merda...
Por um momento, Dick pareceu ter se esquecido de que Edge dissera também ter dormido lá; mas essa informação voltou repentinamente ao seu cérebro.
-- Você disse... Que dormiu...
Edge se sentou sobre a neve, olhando as montanhas brancas ao longe.
-- Eu fiquei confuso, achei que estava vendo algo... Errado... Então eu saí, vim pra cá, e o Bono acordou e veio atrás de mim. Eu contei o que tinha visto, e ele ficou ofendido quando percebeu o que eu estava pensando que tinha acontecido. Ele disse que eu era um idiota, que ele e o Guggi só estavam tentando se aquecer. Eu me senti envergonhado por ter achado que eles... Enfim, eu pedi desculpas. Ele disse que sabia que nós estávamos planejando ir embora, pediu pra eu ficar, prometeu não me forçar a usar nada. Aí ele me chamou pra dormir com eles, disse que seria mais quente se nós três dormíssemos juntos, e eu... Eu fui.
Dick também se sentou. Havia um certo receio em sua voz quando perguntou:
-- E eles continuaram dormindo abraçados?
-- Sim. - ele baixou a cabeça, muito envergonhado – E eu também.
-- O que?
-- Eles agiam como se aquilo fosse uma coisa tão natural, e eu... Me senti tão constrangido, porque toda hora um monte de pensamentos errados vinha na minha cabeça... Então, o Bono chamou o Guggi pra junto dele, e ele deitou no peito do Bono, e para os dois aquilo parecia tão normal, eu pensei que talvez eles é que estivessem certos, que não tinha nada demais. Aí o Bono me chamou pra deitar no peito dele também, e eu fui, e deitei. Eu estava pouco à vontade, mas ele era tão... Quente... E eu me sentia tão sozinho... Quando ele me abraçou, foi uma sensação de proteção, sabe, como se eu finalmente tivesse alguém que gostasse de mim, e isso era tão bom. Só que aí ele disse “boa noite” pro Guggi, e deu um beijo na cabeça dele, e o Guggi beijou o peito dele, e eu me senti tão envergonhado quando eles fizeram isso...
-- Ele te beijou também?
-- Não. Nós dormimos logo, não aconteceu nada... Mas eu me senti mal quando acordei, como se eu tivesse feito algo tão... Errado...
-- Bem, é algo estranho, realmente... Mas, na prática, não foi nada demais. Sei lá, vai ver pra eles isso é normal, eles são amigos desde pequenos... E ele achou que não teria problema fazer com você. Mas se você não gostou, não deve fazer mais. E, quanto a essa história de você sentir que finalmente alguém gostava de você... Não seja imbecil, você sabe que todos nós te adoramos, e eu te amo, você é meu irmão e meu melhor amigo.
-- Eu sei. Eu não estava falando desse tipo de gostar.
-- Como assim? De que tipo, então?
-- É que, quando o Bono me abraçou, eu senti... Lembra de quando você começou a namorar? Você disse que soube que ela era a garota certa porque, quando ela encostou em você, você sentiu uma coisa muito forte, ao mesmo tempo calma e violenta, tão boa como você nunca tinha sentido na vida. Lembra disso?
-- Claro que lembro. - havia um tom de preocupação na voz de Dick.
-- Então... Eu acho... Que quando o Bono me abraçou, eu senti a mesma coisa.
Houve alguns instantes de silêncio. Podia ter sido muito tempo, ou só alguns segundos, nenhum dos dois tinha certeza. Finalmente, Dick disse:
-- O que você está querendo me dizer?
Edge ia dizer que não sabia, que se sentia confuso; mas, ao invés disso, disse:
-- Eu acho que estou apaixonado pelo Bono.
Dick baixou a cabeça, apoiando-a nas mãos, e murmurou:
-- Merda, Edge, que merda... O que está acontecendo?
-- Eu não sei... - Edge escondeu o rosto nas mãos – Estou tão confuso, Dick, tão... Envergonhado...
-- Você deve estar confundindo tudo. Você só se sentiu grato pelo Bono, e como era uma situação estranha, você se confundiu...
-- Você não entendeu? - Edge se viu expressando em voz alta aquilo que não queria dizer nem para si mesmo – Eu senti atração por ele, atração física!
-- Não! Você nem sabe o que é isso, ainda é muito novo! Esse lugar, isso tudo que está acontecendo, está confundindo você.
-- Eu penso nisso, eu já sonhei que beijava ele, já sonhei com outras coisas que não tenho coragem de dizer... Ah, meu Deus, eu não acredito que estou dizendo isso...
-- Você devia ter me dito quando começou, David! Eu sou seu irmão mais velho, podia ter te ajudado! Caramba, você gosta de meninas, eu tenho certeza absoluta disso! Não ia passar a gostar de homem de uma hora pra outra!
-- Então, porque esses pensamentos? Uma vez eu sonhei... - ele olhava para o chão enquanto falava – Foi logo que nos conhecemos... Sonhei que o Bono estava na minha cama, e estávamos sem roupa... E ele me beijava, e era tão bom... E então eu ia pra cima dele, e era como se ele fosse uma menina, eu...
-- Chega! Chega, eu entendi.
-- E se for isso, Dick? E se eu for...
-- Você não é.
-- Mas e se eu for? - ele passou a mão na cabeça, angustiado – Eu me mato, Dick... Me mato, mas não toco em outro garoto...
-- Nós vamos embora. Lá em casa vamos conversar melhor, vamos resolver isso juntos. Eu vou ajudar você, mas precisamos sair daqui.
-- Eu disse ao Bono que ficaria.
-- Mais um motivo para não ficar. Não sei se o Bono e o Guggi estavam inocentes ou não, mas esse clima vai acabar com você. Vamos arrumar nossas coisas e partir antes que os outros acordem.

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