segunda-feira, 17 de maio de 2010

[fanfic #001] [capítulo #010] [U2] EGB


CAPÍTULO 10

Pouco antes das sete horas, Edge decidiu levantar. Passara a noite em claro, e se sentia muito cansado, mas não podia dormir. Bono, pelo contrário, dormia tranquilamente, e parecia estar tendo um lindo sonho, pois tinha um leve sorriso em seus lábios.
Edge teve que se levantar com muito cuidado, para que Bono não acordasse. Quando conseguiu sair da cama, pisou em algo que parecia um papel, e quando olhou percebeu que era uma embalagem vazia de camisinha. Lembrou-se de Bono falando com Gavin, no hospital: “Nós sempre tomamos todos os cuidados necessários”. Teve a sensação de que tudo o que acontecera na noite anterior passava diante dele, toda a dor e vergonha que sentira, e seus olhos se encheram de lágrimas. Estava tão confuso.
Ele não sabia o que fazer, se devia ir embora ou esperar Bono acordar. Talvez houvesse uma explicação, talvez ele dissesse que, na verdade, estava apaixonado, que o amava, por isso fizera aquilo... Talvez ele não tivesse feito por mal, talvez pedisse desculpas...
Bono se mexeu, e o lençol escorregou de seu corpo, mostrando que ele estava tendo um sonho definitivamente animado. Edge corou, mas não pôde deixar de olhar. Tentou visualizar a cena da noite anterior, quando Bono o machucara, mas só de começar já sentia nojo, não queria nem pensar nisso. Se Bono dissesse que estava apaixonado, ele ia impor como condição que nunca mais fizessem aquilo nem tocassem naquele assunto.
-- Ahhh... - Bono murmurou, sonhando – Ali...
As lágrimas transbordaram dos olhos de Edge, e ele começou a chorar. Não, Bono não o amava e não ia pedir desculpas. Ele começou a se vestir, tentando sufocar os soluços. Bono só usara aquela história de amizade para se aproveitar dele. Olhou uma última vez para o outro. Provavelmente, na noite seguinte, seria Guggi quem estaria deitado naquela cama, deixando que Bono fizesse aquelas coisas. Ele saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.
* * * * *

Edge trancou a porta do quarto, coisa que raramente fazia, e começou a tirar a roupa. Queria se livrar de tudo o que pudesse lembrá-lo da noite anterior. Nunca mais usaria aquelas roupas, iria pôr fogo, tinha vontade de arrancar a própria pele e pôr fogo nela também. Sentia nojo de si mesmo.
Quando tirou a cueca, viu que havia pequenas gotinhas de sangue nela, e entrou em desespero. É claro, pela dor que sentira, era um milagre que não estivesse com uma hemorragia. Mas aquilo era como uma prova incontestável de seu pecado, sua dor, seu crime. Jogou a roupa longe e foi correndo para o banheiro, onde tomou um banho gelado, para se punir e purificar.
Ele demorou quase uma hora no banho. Quando saiu, se sentia um pouco mais limpo, mas sabia que os pecados continuavam sujando sua alma – e ela antes era tão pura... Pegou suas roupas, levou para o quintal e colocou fogo. Ficou olhando as chamas subirem, e um pensamento absurdo veio à sua mente, de que o mesmo aconteceria com sua alma quando ele morresse.
-- Dave! - ele ouviu Gill falar, aparecendo no quintal – O que você tá fazendo?
-- Pondo fogo nas roupas.
-- Por quê?
-- Elas estão sujas.
Gill o olhou como se ele fosse louco. Edge não se importou; voltou para o quarto, ainda usando só uma toalha, e se ajoelhou em frente a uma imagem de santa que sua mãe lhe dera. Começou a rezar, entre lágrimas.
-- David? - ele ouviu seu irmão dizer, e se voltou – O que está fazendo?
-- Rezando. - ele fez o sinal da cruz e abriu a bíblia, procurando algum versículo adequado.
-- A Gill me disse que você estava estranho.
-- Impressão dela.
-- Ela contou que você pôs fogo na sua roupa.
-- É, coloquei.
-- Por quê?
Edge não respondeu; se sentou na cama, com a bíblia no colo, e começou a ler. Dick se sentou ao seu lado.
-- Eu achei que você tivesse dormido na casa do Bono.
-- Dormi.
-- E por que chegou tão cedo?
-- Porque sim.
-- Edge...
-- Me deixa sozinho, Dick. - as lágrimas voltaram a cair de seus olhos – Por favor.
Dick abriu a boca, mas desistiu de falar. Passou as mãos pelos cabelos de Edge, afetuosamente, e saiu do quarto. Edge tentou continuar a leitura, mas não encontrava o trecho certo, aquilo não lhe dizia nada. Fechou a bíblia e se deitou na cama, sentindo a dor como uma recordação constante do que acontecera, sentindo suas lágrimas ameaçarem afogá-lo em seus pecados.
* * * * *

-- Bom dia, David.
-- Oi, mãe.
-- Filho, você está tão abatido... Vem, toma um café.
-- To sem fome. Mãe, você tem algum remédio pra dor?
-- Pra dor? Tenho esse aqui... Você está sentindo dor onde?
-- Obrigado, mãe.
* * * * *

-- Dave, por que você não foi pra escola hoje?
-- Me deixa, Gill.
-- Seus amigos perguntaram por você. Falaram que ia ter ensaio hoje, queriam saber se você ia.
-- Não vou.
-- Aquele seu amigo gostoso, de olho azul, disse que...
-- Se manda, Gill. Quero dormir.
-- Ta bom, vai ficar sem saber o que ele disse.
-- Foda-se.
-- Mamãe, o Dave falou palavrão!
-- David! Não fale essas coisas na frente da sua irmã!
-- Ela não me deixa, mãe.
-- Você está doente, meu filho?
-- Não. Me deixa.
-- Qualquer coisa me chama, viu? Ou, se preferir, chama o seu irmão.
-- Não esquenta.
* * * * *

Quando Dick entrou no quarto e trancou a porta, Edge já imaginava o que viria. Tentou fingir que estava dormindo, mas não adiantou: Dick jogou um travesseiro em cima dele e disse:
-- Você vai me contar o que aconteceu por vontade própria ou vou ter que te torturar até a morte?
-- Não aconteceu nada.
-- Bem, eu acabei de vir do ensaio e o Adam me disse que faz uma semana que você não vai na escola. E Gill me disse que faz mais de dez dias que você não sai dessa cama nem come direito. Ah, mamãe está muito feliz porque agora você está lendo a bíblia mais ou menos vinte e duas horas por dia. Agora me conta, quando foi que Deus apareceu na sua frente e te revelou o Grande Segredo? Acho que você devia compartilhar isso com o mundo.
-- Não enche, Dick. Só quero ficar aqui, quieto, em paz. Não posso?
-- Não. Você devia estar na escola cuidando do seu futuro, ou nos ensaios tentando se tornar um grande guitarrista, que é o que todos acham que você pode ser.
-- Eles estão errados. Eu não sou nada. Não tenho talento nenhum. - ele cobriu a cabeça com a coberta – Sou uma vergonha pra mim mesmo.
-- Qual é, Edge? O que que tá pegando?
-- Quero morrer.
-- Por quê? O que aconteceu? Tá afim de uma menina e ela te deu um fora, foi isso?
Ao ouvir a palavra “menina”, Edge começou a chorar. Dick ficou ainda mais preocupado.
-- Edge, tá tudo mundo perguntando o que houve com você. O Larry quase me bateu quando eu apareci sozinho, e o Bono pergunta de você toda hora.
-- Pare! - ele tampou os ouvidos – Não quero saber do Bono, nem o que ele pergunta, nem qualquer coisa que venha dele!
-- Ah, estou chegando. Foi isso, então? Vocês brigaram? Eu achei ele um pouco estranho também, anda meio calado, fala menos de mil palavras por minuto...
-- Chega, Dick. - ele estava quase implorando – Eu não quero falar sobre isso.
-- Pois agora eu não saio daqui sem que você me diga o que está acontecendo.
-- Não está acontecendo nada...
-- Edge, em dezesseis anos de irmandade, eu nunca vi você me escondendo um segredo. Vou ficar muito magoado se você não confiar em mim agora.
-- Você não entende, Dick. Eu não posso te contar. Você vai ficar muito decepcionado, vai ter vergonha de mim...
Dick ficou olhando para ele por alguns segundos.
-- Eu nunca teria vergonha de você, mesmo se você tivesse matado alguém.
-- Antes fosse... Foi muito pior, Dick, muito pior...
-- Você está me deixando preocupado. O que foi que aconteceu?
-- Eu... Eu...
-- Diz, Edge. Po, eu sou seu irmão, você sabe que pode contar sempre comigo.
-- V-você se lembra daquela vez... - ele tremia – Quando eu te disse que achava que estava... Apaixonado pelo Bono?
-- Claro que lembro.
-- Eu... E-eu... Ai, meu Deus...
-- Edge, eu já to pensando um monte de besteiras aqui, então por favor me diz logo o que foi que houve, ou eu vou ter um troço.
-- Semana passada, eu fui dormir na casa do Bono, e... Aconteceu... Uma coisa...
-- Pelo amor de Deus, Edge – ele se ajoelhou ao lado da cama e segurou a mão de Edge – o que aconteceu?
Edge teve que fazer um grande esforço para falar, e suas palavras saíram quase gritadas:
-- Eu transei com ele.
Os dois ficaram tanto tempo em silêncio que Edge parecia ouvir suas palavras ecoando pelas paredes. Dick se levantou e se afastou, cobrindo o rosto com as mãos. Edge ouviu seus soluços, e percebeu que ele estava chorando.
-- Eu disse que você ia ficar decepcionado... Eu sinto muito, Dick, sinto tanto...
-- Se essa foi a sua decisão – disse Dick, apoiado na parede, de costas para Edge – eu não vou poder te censurar. Eu disse que sempre ia estar ao seu lado, e se você tem certeza de que é isso o que quer, eu vou ficar triste, vou ficar realmente muito triste, porque nunca quis que meu irmão fosse... Enfim... Mas vou continuar ao seu lado, te apoiando, como sempre fiz. Você continua sendo o meu melhor amigo, meu irmãozinho, e não quero que isso atrapalhe nossa relação.
-- Ah, Dick... Você é tão bonzinho...
-- Sou seu irmão, só isso. - ele finalmente olhou para Edge – Então, você e o Bono estão... Juntos?
-- Não.
-- Como, não? Vocês não... Vocês brigaram, depois do que aconteceu?
-- Não. Eu... Eu fui embora no dia seguinte sem falar com ele. Ele ainda estava dormindo, nem me viu sair.
-- Mas por que você fez isso?
-- Ele... Naquela noite... As coisas foram tão confusas... Eu não queria que tivesse acontecido, Dick. Mas o Bono começou a falar umas coisas, sobre amizade... Ele dizia que eu era um amigo especial para ele, assim como o Guggi, e que amigos especiais sempre faziam tudo um pelo outro. E ele fez coisas pra mim... E eu sabia que era errado, mas não conseguia mandar ele parar, estava tão bom... Só que depois... Ele quis que eu fizesse coisas por ele, também... Coisas muito piores... Eu não queria, mas ele praticamente me obrigou, eu chorava, queria pedir para ele parar, porque doía tanto... Mas ele não parou, ele nem se importou, acho que se eu tivesse morrido ali ele nem teria percebido. Eu nem consegui dormir naquela noite, de tão mal que me sentia... E no dia seguinte, de manhã, ele estava dormindo e falando o nome da Ali... Ele tinha acabado de transar comigo e estava sonhando com ela, e eu percebi que ele só tinha me usado, aquela história toda de amizade era só uma desculpa pra ele poder transar com outros meninos. E o Guggi é igual a ele, eu tenho certeza de que os dois fazem um com o outro o mesmo que ele fez comigo... Eu me senti tão... Sujo, pecaminoso... Eu não queria isso, nunca quis, não quero tocar em nenhum menino, não quero...
-- Oh, Edge – Dick abraçou ele – meu Deus, você devia ter me contado, eu... Eu podia ter feito alguma coisa, sei lá... Eu vou dar uma surra nesse pervertido...
-- Não, Dick... Eu só quero ficar longe dele, só isso. Não quero nunca mais chegar perto dele, nem dos amigos dele, nem quero tocar na banda nem falar com ninguém. Eu só quero... Sumir.
-- Você está se sentindo culpado, mas não foi culpa sua. Você tem que superar isso, tem que voltar a ir pra escola, conhecer pessoas... Tenho certeza de que, assim que aparecer uma garota legal pra você, você vai esquecer tudo isso. Vem cá – ele se deitou ao lado de Edge e pegou a bíblia – vamos ler juntos. Conheço uns versículos muito bonitos.
-- Você... Não sente nojo de mim?
-- Desde que você não babe em cima de mim, é claro que não. Agora vem aqui, vamos rezar um pouco.
Eles se encostaram, e Edge deitou apoiado em seu irmão, que começou a contar uma linda história bíblica do Novo Testamento.

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