CAPÍTULO 12
Edge acabara de se sentar no seu lugar, quando Adam surgiu do nada diante dele, dizendo:
-- Olha, ele está vivo! Já estava escolhendo a roupa pro seu enterro, The Edge.
-- Não enche, Adam.
-- O que houve? Estava doente? Gill disse que você só ficava deitado o dia inteiro...
-- Não estava a fim de vir. Só isso.
-- Po, cara, tivemos três ensaios sem o nosso guitarrista! Já tava todo mundo surtando.
-- O Dick pode tocar tão bem quanto eu.
-- É, mas ele é muito mais velho que o Larry e os dois não andam se dando muito bem. E o Bono não funciona sem você, cara, ele tá cantando pior do que o normal, se é que é possível.
-- Acho que vou sair da banda.
-- O que???
-- Acho que vou dar um tempo. Ando pensando umas coisas, sei lá... Não sei mais se é isso o que eu quero.
-- O que é isso, Edge? Por que isso, de repente?
-- Eu não sei... Acho que quero me dedicar mais aos estudos, sabe. Quero ter notas boas, voltar a ser um dos melhores alunos. Você sabe que eu quero ir pra faculdade.
-- Se a banda der certo, você vai ganhar muito mais do que qualquer engenheirozinho.
-- É pra isso que você está na banda? Pra ganhar dinheiro? Me desculpe, mas eu toco guitarra porque eu gosto, e não é meu objetivo na vida ficar rico com isso. Aliás, a possibilidade de que isso aconteça é minúscula.
-- Eu não to na banda só por dinheiro, mas acho que existe a possibilidade de fazermos sucesso, sim.
-- Claro. Quando tivermos um cantor, um guitarrista, um baixista e um baterista, poderemos fazer muito sucesso.
-- Está sendo injusto com a gente e com você mesmo. Todos nós temos potencial, você sabe disso.
-- Eu não sei de nada, Adam. - ele suspirou, tristemente, e abaixou a cabeça – Só sei que nada sei.
-- Agora está igualzinho ao Guggi.
Ele levantou a cabeça, assustado.
-- Por que está me comparando ao Guggi?
-- Ele disse isso, uma vez. Esse negócio de saber que não sabe, ou seja lá o que for.
-- Ah, sim... - ele corou – Essa é uma frase muito conhecida...
-- Eu não conhecia.
Para alívio de Edge, o professor entrou na sala, e Adam teve que voltar para seu lugar, nos fundos. Os dois não se falaram durante o resto da aula.
* * * * *
-- Edge!
Edge parou. Larry correu até ele, ofegante.
-- Cara, que bom que você voltou! Eu tava preocupado, você não aparece há uma semana... Estava doente?
-- Não, eu... Andava indisposto. Mas já passou.
-- Nossa, eu fiquei preocupado... Aqui, tem ensaio hoje, você vem, não vem?
-- Olha, Larry... Eu queria mesmo conversar sobre isso... - ele perdia sua coragem a cada vez que falava aquilo para alguém – Eu acho que vou dar um tempo com a banda.
-- Como assim?
-- Acho... Que vou ficar um tempo sem tocar.
-- Você está querendo sair? É isso?
-- Eu não tenho certeza. Talvez.
Larry ficou um tempo olhando para o chão, sem saber o que dizer.
-- Poxa, Edge... Isso não é justo...
-- Olha, vocês ainda têm o Dick, ele é muito melhor do que eu...
-- Não é questão de ter alguém melhor ou não. - ele olhou para Edge – O Bono sempre disse que a banda era quase uma família, e é assim que eu vejo, minha segunda família. E você não pode simplesmente dar um tempo na família, não é?
-- Não acredite em tudo o que o Bono diz, Larry. Você pode se machucar muito.
-- Você brigou com ele? Outro dia eu perguntei a ele se sabia o que tinha acontecido com você, e ele ficou todo esquisito, saiu sem me responder. É por isso que você quer sair da banda?
-- Esquece isso. Eu... Eu ainda não tomei uma decisão, tenho que pensar a respeito.
-- Não sai não, Edge. A gente é amigo, poxa. Todos nós. Eu nunca tive amigos como tenho agora, e é tão bom. Mesmo com as loucuras do Bono e do Adam, e as implicâncias do Dick, eu nunca gostei tanto de alguém quanto gosto de vocês.
-- É – Edge baixou os olhos – eu também nunca tive tantos amigos.
-- Então, cara, fica. Você nem precisa olhar pra cara do Bono.
-- Vou pensar. Só... Só me dá um tempo, tá?
-- Tá bom.
* * * * *
Era hora do recreio. Edge estava sentado em um banco, conversando com Adam e Larry sobre a banda, quando eles ouviram um barulho de gente falando alto. De repente, Gill apareceu correndo, falando:
-- Dave, acho melhor você sair daqui!
-- Que? - ele se levantou – Por quê?
-- Aquele Derek tá...
Antes que ela terminasse de falar, Guggi apareceu, indo direto para Edge. Gill gritou e saiu correndo. Adam e Larry se levantaram, assustados.
-- O que é que tá pegando? - disse Larry, mas sua pergunta foi imediatamente respondida: Guggi acertou um soco no estômago de Edge, que quase caiu no chão. Em seguida o agarrou pela camisa e o arrastou para o meio do pátio. Os outros alunos se afastaram correndo, e formaram um círculo ao redor dos dois.
-- O que você tá... - Edge começou, mas Guggi lhe deu outro soco, que o derrubou.
-- Você deve estar se sentindo o máximo, não é? - Guggi o levantou e o encostou contra uma pilastra – Sente orgulho do que fez, seu cachorro miserável?
Mais um soco. Edge não conseguia se defender.
-- Me larga, seu louco! Eu não sei do que você está falando!
-- Ah, sabe! Sabe muito bem! - mais dois socos no estômago, e Edge não podia respirar – Como pôde fazer isso? Teve o que queria e se mandou, não é, seu safado? Covarde!
Outro soco, e Edge caiu no chão, sentindo o sangue escorrer pelo nariz e pela boca. Pessoas gritaram; Gill correu até eles, com um pedaço de pau, e tentou acertar Guggi. O garoto a empurrou com tanta força que ela caiu a quase dois metros de distância. Edge sentiu uma força se apoderar dele de repente, e se levantou atacando Guggi.
-- Não toca na minha irmã! - ele agarrou Guggi pela camisa e começou a lhe dar socos – Nunca mais encosta nela!
Guggi caiu no chão, mas em seguida se levantou e avançou para Edge, lhe dando um chute. Edge o agarrou e o levou para o chão, e os dois rolaram, lutando. No meio da confusão, Edge pôde ver alguém abrindo caminho entre os alunos, e viu Bono surgir ao lado deles.
Foi como se o tempo parasse por um momento. Edge olhou para Bono, que olhava para ele, incrédulo. Esse instante de distração foi fatal: Guggi lhe deu um chute entre as pernas. Edge caiu no chão, gritando, e o outro se jogou sobre ele, lhe batendo.
-- Não! - veio a voz de Bono, mais alta do que os gritos – Guggi, não!
Mas Guggi não o ouvia, ou não prestava atenção, porque continuou a bater em Edge. Este encostou, sem querer, no pedaço de pau que Gill tinha levado até ali, e o segurou. Era sua última chance.
A pancada atingiu Guggi em cheio na cabeça. O garoto caiu, zonzo, com sangue escorrendo pelos cabelos loiros. Edge se jogou sobre ele e continuou a lhe bater, sem parar, até que Guggi mal pudesse se mexer.
-- Edge, não! - Larry gritou – Vai matar ele!
Antes que Edge pudesse ouvir o que Larry dissera, duas mãos o agarraram e o jogaram longe. Ele bateu contra a pilastra, e teve a impressão de que quebrara alguma coisa. Abriu os olhos, e viu Gavin avançando para cima dele, com o pedaço de pau na mão. Se desviou na última hora; Gavin errou por milímetros, acertando a pilastra, e quebrando o pedaço de pau ao meio. Em seguida pulou sobre Edge, que já estava cansado demais para se defender. Os dois começaram a lutar, Edge em nítida desvantagem, e ele viu Guggi se levantar e vir se juntar a Gavin, os dois batendo nele...
-- NÃO!!!!
Edge abriu os olhos, assustado com aquele grito tão desesperado. Guggi não estava mais em cima dele, nem Gavin. Bono estava ali, na sua frente, segurando os dois, os olhos cheios de lágrimas.
-- Por favor, Guggi! - Bono implorou – Pelo amor de Deus, não faz isso!
-- Ele merece! - Guggi tentava afastar Bono – Ele merece morrer depois do que fez com você!
-- Não, por favor, por favor... Já basta, acabou...
-- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?
O grito da diretora foi como uma mágica: os alunos ao redor desapareceram quase imediatamente. Só sobraram os envolvidos na briga, além de Gill, Ali, Adam e Larry.
-- Mas o que... - disse a mulher – Isso é... A coisa mais...
-- A culpa é do Guggi, diretora! - disse Gill – Todo mundo viu, ele veio pra cima do Dave e começou a bater nele sem motivo nenhum!
-- É, fui eu. - Guggi se levantou, ensanguentado, e encarou a diretora com ar de desafio – E daí?
-- Vocês... Vocês passaram de todos os limites... Senhores Evans, Hewson, Rowan e Friday! Vão para a enfermaria, e depois direto para a minha sala!
Edge se levantou, cabisbaixo, e foi seguido por Bono e Gavin. Guggi parecia prestes a atacá-lo de novo, a despeito de a diretora estar ali. Nesse momento ela se virou para os outros, que apenas assistiam, e disse, no mesmo tom:
-- Senhor Mullen!
-- O que? - Larry deu um pulo pra trás – Eu não fiz nada! Tava quieto aqui!
-- Sim, sim, eu sei. - ela passou a mão pela cabeça, tentando se acalmar – Me desculpe. Eu preciso falar com você. Vá para a minha sala, por favor.
-- Falar comigo? O que eu fiz?
-- Nada. Gillian, pegue as coisas do Larry e leve lá na minha sala. Ele vai pra casa.
-- Tá bom. - disse Gill, indo correndo para a sala de aula.
-- Eu vou pra casa? - disse Larry, cada vez mais confuso – Por quê?
-- Vamos pra lá, eu te explico. Vocês quatro, quero vocês na minha sala daqui a meia hora, ouviram?
Ela foi com Larry para a sua sala, e os outros quatro foram para a enfermaria, seguidos por Adam e Ali.
-- Deixa esse cara longe de mim. - disse Edge, quando a enfermeira mandou que eles se sentassem ao lado um do outro, e foi se sentar o mais longe possível.
-- Está com medo? - disse Guggi, com um ar arrogante – Covarde.
-- O que é que aconteceu? - disse Adam – Por que isso?
Guggi não respondeu. Quando a enfermeira começou a passar um remédio sobre seus machucados, ele gritou, e Gavin segurou sua mão, carinhosamente. Bono fez o mesmo, segurando sua outra mão, e Guggi olhou para ele com lágrimas nos olhos.
-- Não devia ter entrado na frente dele. - disse Guggi – Devia ter me deixado cuidar disso.
-- Eu não podia. - Bono o abraçou – Dói demais.
Edge olhava para os dois, sentindo raiva, tristeza e nojo, tudo ao mesmo tempo. Sim, é claro, provavelmente naquela noite Bono agradeceria a Guggi o que ele fizera, “daria tudo o que ele precisasse”...
De repente, Gill apareceu na porta. Tinha lágrimas nos olhos.
-- Gill? - disse Edge, quando ela correu para ele e o abraçou – O que foi?
-- V-você tá bem?
-- To, não tá doendo nada... - a enfermeira começou a passar mercúrio sobre um corte em seu lábio – Ai!
-- Q-que bom... - ela passou a mão pelos olhos – Ai, gente...
-- Ah, e o Larry? - disse Adam – Descobriu o que a diretora queria com ele?
-- É mesmo – disse Bono – acho que é a primeira vez que a diretora chama ele.
-- Ele foi embora... O motorista da escola levou ele... Gente... - ela procurava as palavras – A... A m-m-mãe dele... A mãe dele morreu...
-- QUÊ!? - todos gritaram.
-- Como? - disse Edge, sem acreditar no que acabara de ouvir.
-- P-parece que foi um a-a-acidente... D-de carro...
-- Meu Deus... Meu Deus... - disse Adam, andando de um lado para o outro – Como ele está?
-- Ele tava chorando quando eu entrei na sala... Pobrezinho... Eu nunca tinha visto alguém chorar daquele jeito...
Bono escondeu o rosto nas mãos e começou a chorar. Ali o abraçou, e Guggi passava a mão por seus cabelos. Edge também estava chorando.
-- Eu... Eu não acredito... - Adam se sentou, e seus olhos estavam vermelhos – Eu vi ela ontem... Estive lá, na casa dele, ela serviu um café pra gente, estava tudo bem...
-- Acho que a gente devia ir lá, falar com ele. - disse Ali.
-- Não. - disse Bono, erguendo o rosto, sem tentar esconder suas lágrimas – Ele precisa ficar sozinho. Vai querer ficar sozinho. Mas daqui a três ou quatro dias, vai precisar de alguém ao lado dele. Aí nós podemos procurá-lo.
Ninguém contestou: sabiam que Bono já passara por aquilo, ele entendia o que Larry estava sentindo. A diretora apareceu na porta da enfermaria, dizendo:
-- Parece que vocês já sabem da notícia. - eles apenas balançaram a cabeça, concordando – Venham, para a minha sala. Preciso decidir o que fazer com vocês.
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