CAPÍTULO 15
“Edge?”
“Edge, acorda.”
“David?”
“Esquece, morreu.”
“Que horas ele chegou?”
“Quase sete e meia.”
“Eu não sei o que faço com esse menino, desde que virou roqueiro...”
“Deixa ele, mamãe.”
“Edge.”
“Edge.”
“Ei, Edge.”
Com muito esforço, Edge abriu os olhos.
-- Hum?
-- Olha, acordou!
-- Que bom, ele está vivo...
-- Que... Dick? - ele olhou em volta – Gill? Que foi?
-- Bom dia, Edge. - disse Dick, sorrindo – Ou melhor, boa noite.
-- O que...
-- Edge – disse Gill, olhando para ele – São quase oito horas.
-- Qual é, gente, tá cedo...
-- Oito horas da noite, Edge.
-- O QUE!?
Ele se sentou na cama, despertando. Olhou pela janela, e viu que já estava escuro. Quando fora dormir, o dia já estava claro.
-- Caramba, maninho. - disse Gill – Você foi atacado por leões?
-- Ahm?
-- David! - disse a mãe de Edge, que acabara de entrar no quarto – Meu filhinho, o que é isso?
Edge olhou para o espelho ao lado da cama, e então entendeu: ele estava sem camisa, e havia em seu peito e pescoço tantos arranhões e mordidas que ele realmente parecia ter sido vítima de algum animal selvagem.
-- Isso... - ele murmurou, tentando se lembrar do que acontecera – Isso é...
Demorou um pouco, mas ele se lembrou. Vieram, uma a uma, as lembranças de ele e Bono fazendo as pazes, se abraçando, chorando juntos; e depois, um beijo inocente de reconciliação, e Bono o levando pela mão para dentro do beco, onde a luz não batia...
-- Conta. - disse Gill, sentando-se na beira da cama – Foi um leão ou um urso?
-- Nenhum dos dois. - ele se deitou novamente, sorrindo – Foi um lobo.
-- Um lobo?
-- É, um lobo muito mau... Um lobo selvagem...
-- Dick, do que ele está falando?
-- Não faço a menor idéia.
Mas o jeito como Dick o olhava fez Edge ter a certeza de que ele sabia.
* * * * *
-- E então? - disse Dick, se sentando ao lado de Edge no sofá.
-- Então o que?
-- Eu tenho a impressão de que você tem algo pra me contar.
-- Algo pra contar? Sobre o que?
-- Sobre, por exemplo, a sua chegada em casa depois do sol nascer, e às marcas do pescoço pra baixo.
-- Ah, isso... Não foi nada.
-- Você mesmo disse que foi um lobo mau.
-- É, pode ser.
-- E por acaso esse lobo tem nome?
-- Talvez tenha.
-- E qual é o possível nome dele?
Edge suspirou. Era melhor contar logo.
-- Bono.
-- Bono.
-- É, ele.
-- E devo supor que esse... Ataque do Bono não foi exatamente à força, não é?
-- Não, não foi.
-- Então...
-- Nós... - ele corou – Nós fizemos às pazes.
-- Fizeram as pazes.
-- É, nós... Voltamos a ser amigos.
-- Amigos.
-- Grandes amigos.
-- Imagino.
-- Pára de me olhar desse jeito.
-- Como você quer que eu te olhe?
-- De um jeito normal, e não como se eu tivesse acabado de...
-- De transar com o Bono.
-- Eu achei que você tivesse dito que não iria me julgar.
-- Não estou te julgando. Mas...
-- Mas?
-- Mas eu acho que, depois de tudo o que aconteceu...
-- Eu e o Bono conversamos, ele pediu desculpas, eu pedi desculpas... Nos explicamos... Nós chegamos à conclusão de que nós dois estávamos errados. Ele se precipitou, e eu fui embora daquele jeito... Mas conversamos muito, entendemos um ao outro, e fizemos as pazes.
-- Você dormiu na casa dele?
-- Não.
-- Onde vocês... Onde vocês estavam?
-- Na rua.
-- Na rua? Mas...
-- Em... Em um beco, perto da Church's Street.
-- Um... Beco? Você transou com ele dentro de um beco?
-- Não tinha ninguém na rua, Dick...
-- Não é essa a questão! Vocês... Deus... Edge, você parou pra pensar no que estava fazendo?
-- Se eu parasse, não fazia.
-- Era o que você devia ter feito. Devia ter pensado por um segundo no que estava fazendo, ao invés de ir para o canto de um beco de madrugada com outro garoto e... Ah, Edge...
-- Pára com isso, tá legal? Eu to muito bem com o que aconteceu. Estou muito feliz.
-- Feliz? Vai compartilhar o Bono com o Guggi, a Ali e o Larry, e está feliz? Eu não estou falando essas coisas só por ele ser um menino, estou falando por ser o Bono! Você sabe que ele não vai ser fiel a você. Aliás, nem a você, nem a ninguém. É contra a natureza dele.
-- Não tem problema. Nós somos amigos, não... Não namorados. E a gente não vai... Ficar fazendo essas coisas, só quando não tiver outro jeito. A gente só fez ontem porque estávamos muito carentes, e precisávamos de carinho...
-- Carinho.
-- Quer parar de repetir tudo o que eu falo?
-- Ele... Ele se cuidou?
-- Como assim?
-- Você sabe. Ele... Tomou certos... Cuidados, pra... Ele... Usou...
-- Camisinha?
-- É. Isso.
-- Não.
-- Não!? Edge, seu louco, você não sabe como é perigoso fazer sem? Ainda mais com ele, você sabe que pode...
-- Calma, Dick. - ele deu um risinho malicioso – Ele não usou porque não precisava. Quem usou fui eu.
Dick abriu a boca, mas demorou alguns segundo para emitir algum som.
-- Foi... Foi você quem...
-- Foi. - o sorriso dele aumentou – E foi bom...
-- Pára. - ele balançou a cabeça – Que nojo.
-- Sabe, eu não queria fazer, queria ficar só brincando, mas ele queria tanto... Quando ele disse que ia dar pra mim, eu fiquei com medo, porque lembrei de como tinha doído, e não queria machucar ele... Mas... - ele se lembrou de Bono abaixo dele, dos dois se olhando, do sorriso e do suor em seus rostos – Mas ele disse que queria me mostrar o quanto podia ser bom... E foi... Foi tão bom, pra nós dois...
-- Tá, tá, eu entendi. Não precisa entrar em detalhes.
-- Ai, Dick... Estou tão feliz...
-- Você é quem sabe o que anda fazendo. Só não vai se arrepender depois.
-- Não se preocupe. Eu não vou.
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