CAPÍTULO 5
Edge nem teve tempo de atravessar o pátio. Sentiu duas mãos o agarrando pela camisa e o virando, e em seguida um soco o atingiu no estômago, fazendo lágrimas saírem de seus olhos.
-- Que... Bono!?
-- Seu estúpido idiota! - Bono o atirou contra a parede – Onde se meteu?
-- Q-que...
-- Bebê, larga ele! - era Ali gritando, e Edge pôde ver suas mãozinhas no braço de Bono, tentando fazê-lo soltar Edge – Vai matar ele!
-- Eu quero matar ele! Como teve a coragem de sumir daquele jeito? Você disse que ia ficar!
-- Eu mudei de idéia! - Edge finalmente entendeu do que se tratava – O Dick me convenceu de que era melhor ir embora, e eu fui! E não tinha prometido nada!
-- Você disse! Você disse que ficaria! - ele deu mais um soco em Edge – Você é um grande idiota! Como pôde?
Ele largou Edge tão subitamente quanto o atacara, e sumiu, seguido por Ali. Edge ficou caído no chão, atônito. Passou a mão na boca, para limpar o sangue, e se levantou, sem olhar para os outros estudantes que assistiam à cena. Foi quase correndo para o banheiro, onde se trancou e foi lavar o rosto.
-- Eu odeio ele! - lágrimas caíam por seu rosto, e ele se olhava no espelho – Odeio! Quem ele pensa que é?
-- Edge?
Com um sobressalto, Edge se voltou. Adam estava ali, saído de uma das cabines.
-- Ah... Eu achei que não tivesse ninguém...
-- O que é que tá pegando? Quem te bateu assim?
-- O Bono! - ele deu um soco na pia – Aquele imbecil descontrolado! Ele chegou e começou a gritar e me bater, sem motivo nenhum!
-- Acho que ele está com raiva porque você foi embora aquele dia.
-- E daí? Eu não tenho que ficar me drogando com vocês só porque ele quer! E eu tinha avisado a ele que talvez fosse embora!
-- Pelo que ele falou, você deu a entender que ficaria.
-- Mesmo que tenha sido, e daí se fui embora? Isso não justifica o descontrole dele!
-- Olha, não defendendo o Bono, eu não acho que ele devia ter te batido... - ele se sentou em um dos bancos – Mas o cara ficou arrasado quando você foi embora.
-- Que?
-- Ele saiu te procurando, e quando a gente viu que você e o Dick tinham ido, ele não quis acreditar, disse que tinha confiado em você e que você tinha enganado ele, começou a chorar...
-- Ele... Chorou?
-- Chorou, estava arrasado. Aquilo acabou com ele, nós acabamos indo embora no mesmo dia. Eu nunca tinha visto ele daquele jeito, parecia até que tinha pegado você e a Ali aos beijos.
-- Nossa... Mas... Por quê? Por que ele se importou tanto? Ele estava com o Guggi...
-- Eu sei lá. Ele deve gostar muito de você, imagino. - ele se encostou na parede e começou a fumar – Se vocês até dormiram juntos...
-- Ele te contou!?!?!?!?
Adam começou a rir.
-- Então você dormiu com ele mesmo?
Edge percebeu o que Adam tinha feito, e se sentiu ligeiramente estúpido.
-- N-n-não...
-- Pode contar, Edge, eu não conto pra ninguém. - ele sorriu, malicioso – E aí? Foi bom?
-- Cala a boca! Não é nada disso! Eu estava com frio, ele já estava lá com o Guggi, foi muito gentil da parte dele me deixar ficar com eles!
-- Calma, calma, eu só to brincando... É claro que eu sei disso, não vou achar que vocês três ficaram transando, né? Eu tenho o mínimo de senso. - ele riu – Você é muito ingênuo, The Edge.
-- Ingênuo? Eu? Claro que não!
-- Claro que é. Mas isso é normal, você é virgem.
-- Como você sabe???
O outro começou a rir, e Edge teve vontade de se dar um tiro.
-- Não disse? - Adam falou, ainda rindo – Você é uma criança inocente.
-- Cala a boca.
-- Então você dormiu com ele mesmo?
Edge percebeu o que Adam tinha feito, e se sentiu ligeiramente estúpido.
-- N-n-não...
-- Pode contar, Edge, eu não conto pra ninguém. - ele sorriu, malicioso – E aí? Foi bom?
-- Cala a boca! Não é nada disso! Eu estava com frio, ele já estava lá com o Guggi, foi muito gentil da parte dele me deixar ficar com eles!
-- Calma, calma, eu só to brincando... É claro que eu sei disso, não vou achar que vocês três ficaram transando, né? Eu tenho o mínimo de senso. - ele riu – Você é muito ingênuo, The Edge.
-- Ingênuo? Eu? Claro que não!
-- Claro que é. Mas isso é normal, você é virgem.
-- Como você sabe???
O outro começou a rir, e Edge teve vontade de se dar um tiro.
-- Não disse? - Adam falou, ainda rindo – Você é uma criança inocente.
-- Cala a boca.
* * * * *
Bono estava sentado em cima de uma lata de lixo virada pra baixo, fumando e conversando com Guggi e Gavin. Edge se aproximou timidamente; os três pararam de falar quando o viram, e ficaram olhando pra ele.
-- É... - ele murmurou – Ahm...
-- O que você quer? - disse Guggi, dando um passo à frente de forma ameaçadora.
O desafio de Guggi pareceu dar mais coragem a Edge, e ele conseguiu dizer:
-- Bono, eu preciso conversar com você.
-- Fale. - disse Bono, indiferente – Estou ouvindo.
-- A sós.
-- Não tenho nada pra esconder do Guggi e do Gavin.
-- Mas eu não vou falar na frente deles.
-- Então, não fale. - ele deu de ombros e jogou seu cigarro no chão – Não me importo com você.
-- Se não se importa, porque chorou como um bebê quando eu fui embora aquele dia?
Por um segundo, Edge achou que Bono fosse espancá-lo, tal foi a forma como ele o olhou. No instante seguinte, porém, foram as mãos de Guggi que o agarraram pela camisa e o imprensaram contra a parede, e a única coisa que Edge pôde fazer pra se defender foi fechar os olhos quando o soco o acertou em cheio.
-- Desgraçado! - disse Guggi – Eu vou te matar!
-- Me solta! - Edge tentava se soltar – Eu não quero machucar você!
-- Ah, mas eu quero muito machucar você, seu filho da puta miserável...
-- Guggi – disse Bono – solta ele.
-- Não vou deixar esse cara sair andando daqui.
-- Não, eu vou ouvir ele. Nos deixem a sós, por favor.
Guggi olhou para Bono, surpreso.
-- Vai conversar com ele? Depois do que ele fez? Eu não vou deixar, Bono, não posso te deixar sozinho com ele!
-- Eu sei me defender sozinho. Me deixe conversar com ele.
Com a raiva ainda brilhando em seus olhos, Guggi soltou Edge, que quase caiu no chão. Gavin lhe lançou um olhar de desprezo, e saiu. Antes de o seguir, Guggi foi até Bono e o abraçou. Edge ficou olhando para os dois, atônito.
-- Tem certeza de que quer fazer isso? - disse Guggi, olhando para Bono com tal fervor que Edge achou que eles fossem se beijar.
-- Tenho. Eu sei o que estou fazendo, não se preocupe. - ele segurou o rosto de Guggi e sorriu – Muito obrigado.
Bono deu um beijo na testa de Guggi, que sorriu. Em seguida ele se foi, e Edge ficou ainda um tempo parado, tentando absorver as imagens de carinho que acabara de presenciar.
-- E então? - disse Bono – O que você quer falar?
-- Eu... - ele se levantou e se aproximou de Bono – Eu não achei que você fosse ficar tão chateado por eu ter ido embora. Sinto muito.
-- Sente. - ele riu com desprezo – É, eu fiquei chateado. Acho que alguém já lhe disse isso.
-- O Adam. Ele me disse que você... Chorou.
-- E se tiver chorado? Pelo jeito não faz diferença pra você, não é?
-- Claro que faz! Por que você chorou? Você estava com o Guggi, achei que ele fosse muito mais importante do que eu!
-- Eu chorei porque sou um estúpido idiota e sentimental, que acha que as pessoas dão valor a coisas ridículas como palavra e amizade! Pelo jeito, essas coisas não significam nada pra você, não é?
-- É claro que significam! Mas o Dick também foi embora, e você não tentou espancar ele no pátio da escola! É isso o que estou tentando entender, Bono! Por que esse drama todo só porque eu fui embora? Todos os outros estavam ali, você podia muito bem...
-- Eu podia muito bem ter ficado e me divertido com eles, mas eu não consegui, porque eu tinha confiado em uma pessoa e essa pessoa tinha me traído!
-- Eu te traí? Do que está falando?
-- Estou falando de você ter passado a noite dormindo nos meus braços e ido embora no dia seguinte sem nem dizer “adeus”!
Ambos se calaram. Edge ouvia os carros passando, na rua ao lado do terreno. Parecia que o mundo inteiro tinha escutado as palavras gritadas por Bono.
-- D-d-do jeito que você está falando – disse Edge, muito vermelho – parece até que transamos.
-- Pra mim, é como se fosse.
-- O-o que?
O coração de Edge batia com tanta força que ameaçava explodir em seu peito. Será que Bono estava dizendo o que ele achava que estava?
-- Você acha que eu chamaria qualquer um pra dormir ao meu lado? Acha que eu chamaria o Dick ou o Larry? É claro que não. Nem mesmo o Gavin já dormiu comigo assim. Até aquela noite, o único que tinha feito isso era o Guggi.
-- M-m-mas você disse... Você disse que não era... Você disse que era só por causa do frio! Disse que era normal, que não tinha nojo de tocar nos seus amigos!
-- E não tenho, eu abraço, eu beijo, eu mordo os meus amigos, mas passar uma noite como aquela é algo que eu só faço com amigos muito especiais! Nunca tinha tido um outro amigo especial como o Guggi! Ele tem o Gavin, os dois se entendem quando eu não estou junto, mas eu não tinha mais ninguém! Eu achei que você pudesse ser como nós, que fosse se tornar especial... - lágrimas surgiram em seus olhos, mas ele mantinha a voz firme – Achei que pudéssemos ser especiais um para o outro, eu gostei tanto de você... Mas é óbvio que eu me enganei. Aquilo não significou nada pra você, não é? Eu sou só mais um dos seus amigos, sem nada especial...
-- Bono – Edge interrompeu, quase desesperado – o que, pelo amor de Deus, você quer dizer com “amigos especiais”?
Bono pareceu confuso com aquela pergunta.
-- Ora, Edge, você sabe do que estou falando. Você também já teve um amigo assim.
-- Não, não sei, não tenho a menor idéia. Eu e o Shane éramos muito pequenos, eu não lembro mais o que fazíamos que tornava a nossa amizade especial. O que você e o Guggi fazem? Por que ele é especial?
-- Então você... Não... - ele estava decididamente surpreso – Quando você aceitou dormir com a gente, você não sabia que aquilo seria algo que te tornaria especial?
-- É claro que não, como poderia saber? É isso, então? Vocês dormem abraçados de vez em quando, e é por isso que ele é especial?
-- Claro que não. - ele deu um breve riso – Isso é só uma coisa pequena. Há coisas muito maiores.
-- Que coisas?
-- Eu... Acho melhor deixar isso pra lá. Se você realmente não sabe, talvez... Seja melhor você descobrir sozinho.
-- Mas talvez eu já esteja descobrindo! - ele segurou a mão de Bono, implorando – Eu preciso saber, Bono, por favor, me diga! Eu quero muito ser seu amigo especial, mas pra isso eu preciso saber o que os amigos especiais fazem, ou vou acabar te magoando de novo, ou entendendo as coisas erradas! Por favor, me diz...
-- Não são coisas que se diz assim, Edge. E varia muito de pessoa pra pessoa. Eu e o Guggi fazemos coisas que talvez ele não faça com o Gavin, e talvez os dois façam coisas que ele não faça comigo. Não importa tanto o que você faz, é mais um sentimento do que os atos em si.
-- Então me diga o que você gostaria de fazer comigo.
-- Eu já te disse que são coisas que não se diz. Segredos. Coisas para serem feitas em momentos especiais, com pessoas especiais. São coisas mágicas, e dizer em voz alta é quase um... Um pecado, ou algo assim.
-- Então, faça comigo. Me deixe ser seu amigo especial.
-- Não dá mais. Você me magoou muito.
-- Mas eu não sabia!
-- Se eu fosse especial pra você, você saberia. Ninguém precisou me dizer que o Guggi era especial, nem que as coisas que nós fazíamos eram coisas especiais. Eu simplesmente soube.
-- Você está dizendo que é como... - ele resolveu arriscar – Como se apaixonar?
-- Apaixonar? - ele pensou um pouco – É, se for pensar por esse lado, é parecido. Você sabe que é a pessoa certa, como se uma luz aparecesse em você e te desse todas as respostas que você precisa.
-- Bono... Eu...
-- O que?
-- Eu gosto muito de você.
Ele ficou comovido.
-- Eu também gosto de você, The Edge. Olha, eu entendo que você não fez aquilo por mal. Eu te perdôo.
-- Perdoa? Mesmo?
-- Claro. Somos amigos.
-- E... Podemos ser amigos especiais?
Dessa vez, Bono não pareceu muito seguro.
-- Quem sabe um dia? Vamos deixar as coisas correrem, não é? Talvez a gente acabe se tornando grandes amigos.
-- É. - ele baixou a cabeça – Talvez.
-- Agora, eu tenho que ir. O Guggi deve estar me esperando.
-- Tá bom. Até amanhã.
-- Até amanhã. Te vejo no ensaio.
Bono saiu. Edge ficou parado no mesmo lugar, olhando para baixo. Quase podia ver os caquinhos de seu coração caindo aos seus pés, como pingos vermelhos de chuva.
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