segunda-feira, 17 de maio de 2010

[fanfic #001] [U2] EGB - Lista de Capítulos

EGB

LISTA DE CAPÍTULOS


[fanfic #001] [capítulo #001] [U2] EGB


CAPÍTULO 1

-- ... e eles saíram correndo. - disse Bono, rindo – Vocês tinham que ver, aqueles três caras enormes fugindo como duas mocinhas! Eu e o Guggi ficamos rindo o resto do dia...
-- Vocês são doidos! - disse Adam, rindo – A arma estava carregada?
-- Claro que não, era uma pistola velha que o pai do Guggi tinha, ficava como enfeite em cima da lareira... Mas os caras nem perceberam, o Guggi só precisou tirar ela de dentro da jaqueta, e eles saíram desesperados! Caras, foi muito engraçado...
Todos riram. Edge disse:
-- Eu tinha vontade de conhecer esse Guggi. Você fala tanto dele...
-- Pois eu nem conheço – disse Larry – e já tenho medo dele.
-- Caras, vocês vão adorar ele. - disse Bono, empolgado – Vou trazer ele qualquer dia para ver a gente tocando. É um cara brilhante!
-- Vocês são amigos há muito tempo, não é? - disse Adam.
-- Desde que tínhamos uns três anos. Ele é um dos meus melhores amigos. É uma pessoa incrível. Vou trazer ele no nosso próximo ensaio.
-- Traz sim. E traz o Gavin também. Eu gostei das idéias musicais dele.
-- O Gavin tá viajando até o mês que vem... Mas vou trazer o Guggi. Vocês vão gostar dele.
Quando o ensaio acabou, Bono e Edge foram embora juntos, andando. Bono costumava ir e voltar de carona ou de ônibus, mas esquecera o dinheiro, e era um longo caminho até sua casa.
-- Você parece gostar muito desse seu amigo Guggi. - disse Edge – Fala tanto dele...
-- Ah, cara, eu gosto. Gosto mesmo. Ele é um amigo muito especial.
-- Quando eu era pequeno, também tinha um amigo de quem eu gostava muito. O nome dele era Shane. Eu e ele éramos amigos desde que tínhamos uns dois anos, talvez menos... Fomos amigos durante muitos anos, mas quando ele se mudou nós acabamos nos distanciando um pouco.
-- Como é que ele era? Parecia com você?
-- Não, de jeito nenhum... Ele era o meu oposto, sabe? Era popular, ótimo em todos os esportes, bonitão... Parecia uma versão infantil do Paul Newman. Loiro, forte, olhos azuis... Todo mundo gostava dele. Mas ele era o único que gostava de mim. - Edge suspirou – Não sei como um cara perfeito como ele acabou se tornando meu melhor amigo.
Bono colocou a mão no ombro de Edge.
-- Talvez porque ele tenha percebido que você é uma pessoa especial.
-- Especial? Eu? - Edge riu – Qual é... Ultimamente eu até posso ter alguma coisa de interessante, porque desde que entrei na banda as garotas começaram a perceber que eu existo. Mas, fora isso... Eu estou muito longe de ser especial.
-- Olha, teve uma época em que eu também me senti assim.
-- Você? Qual é, Bono, você é super popular, já pegou todas as meninas da escola...
-- Às vezes, isso não significa nada. Pra mim, não era ser popular ou fazer sucesso com as garotas que me tornaria especial. Eu me senti muito deslocado, sabe? Quando... Quando eu perdi minha mãe. - ele pareceu distante por um momento – Se não fossem os meus amigos, eu não teria conseguido superar isso. O Guggi foi incrível. Sempre tem uma pessoa que vai amar você como você é, Edge. Alguém que vai ver todas as suas qualidades, e vai achar que seus defeitos são “bonitinhos”.
-- Talvez. - ele pensou um pouco – Acho que o Shane gostava muito de mim naquela época.
Eles chegaram ao ponto em que teriam que seguir por caminhos diferentes, e pararam. Bono disse:
-- Tenho certeza de que, se vocês não tivessem se separado, seriam grandes amigos até hoje.
-- É, eu acho que sim.
-- O que vocês faziam juntos?
-- Ahm? Como assim?
-- Existem coisas que só fazemos com amigos muito especiais. - Bono olhava para Edge de um jeito misterioso – Ele era especial?
-- Era, eu acho que sim... - Edge estava confuso – Mas o que você quer dizer com...
-- Bono!
Os dois olharam. Era Ali, que saía de uma loja do outro lado da rua, e acenava para Bono. A postura dele mudou completamente, e seus olhos adquiriram um brilho intenso.
-- Já vou! - ele acenou para ela, sorrindo – Tchau, Edge. O amor me chama.
-- Tchau.
Bono atravessou a rua. Edge seguiu seu caminho, e olhou para trás apenas uma vez. Bono estava aos beijos com Ali. Ele suspirou, pensando se um dia conseguiria também encontrar uma namorada.

[fanfic #001] [capítulo #002] [U2] EGB


CAPÍTULO 2

-- Onde é que está o Bono? - disse Larry, impaciente – Já está atrasado meia hora!
-- Vai ver ele não conseguiu carona. - disse Adam.
-- Não – disse Edge – se fosse, ele ligava. Está atrasado, mesmo.
-- Vamos começar sem ele. - disse Larry – Edge, você canta. Ah, quando ele chegar aqui...
Mal ele falara, a campainha soou. Larry gritou um “Finalmente!”, e foi atender. Voltou seguido por Bono, e outro garoto que ninguém ali nunca vira.
-- Gente – disse Bono, parecendo radiante – esse é meu amigo Guggi.
Todos cumprimentaram o garoto. Edge estava surpreso: era um rapaz completamente diferente do que ele imaginara. Não era forte e com um ar perigoso, como fazia crer pelas descrições feitas por Bono de suas desventuras. Pelo contrário: era um garoto pequeno, loiro, de feições delicadas e ar curioso. Edge não pôde deixar de pensar que parecia uma criança muito bonita.
-- O que você achou do amigo do Bono? - Edge perguntou para Dick, quando ambos saíram do ensaio.
-- Um cara legal. Mas bem diferente do que eu tinha imaginado.
-- É mesmo. - ele fez uma pausa – Ele é muito bonito.
-- Bonito demais, até.
-- Ahm? Como assim?
-- Você não reparou?
-- No que?
-- No jeito dele.
-- Que jeito?
-- Ele é... Sei lá. Ele é estranho, Edge. Você sabe. Um menino... Delicado demais.
-- Você acha que ele...
-- Eu não acho nada. Só digo que parece. Pode não ter nada a ver. Sei lá, isso não é problema meu.
-- É, tá certo. Mas sei lá, eu gostei dele.
-- Cuidado, heim.
-- Cuidado com o que?
-- Cuidado pra não gostar demais dele.
-- Ah, qual é?
Edge deu um soco em Dick, que riu e tentou revidar. Os dois saíram correndo um atrás do outro pela rua, rindo.

[fanfic #001] [capítulo #007] [U2] EGB


CAPÍTULO 7

Estava um calor insuportável no quarto, e Edge acordou sentindo o corpo todo queimando como se estivesse pegando fogo. Jogou as cobertas todas para um lado, e percebeu que estava sem roupa, o que não era habitual. Devia ter tirado de madrugada. Levantou-se, ainda meio dormindo, e foi caminhando aos tropeços para o banheiro. No meio do caminho, encontrou Dick.
-- Edge! - ele deu um pulo para trás – O que está fazendo?
-- To indo no banheiro...
-- Desse jeito?
-- Ah, Dick, tá calor...
-- Edge, olhe para baixo.
-- Ahm?
Edge olhou, e demorou ainda alguns instantes para perceber do que Dick estava falando. Quando percebeu, porém, ele só conseguiu murmurar um “oh!”, e correu de volta para o quarto, se trancando lá dentro.
-- Edge – Dick bateu na porta – quando fizer esse negócio diminuir, vá lá no meu quarto, eu quero falar com você.
-- Tá bom.
Alguns minutos depois, Edge saiu do quarto, já vestido, e sem nenhum problema abaixo da cintura. Foi para o quarto do irmão, um pouco constrangido.
-- O que você queria falar comigo?
-- Em primeiro lugar, não saia mais assim do quarto, eu realmente acho muito desagradável... - Edge ficou vermelho e baixou a cabeça, murmurando um “foi mal” - E, em segundo lugar... - ele se jogou em cima de Edge, o abraçando – Parabéns!
-- O que... Ah! Eu tinha esquecido!
-- Dezesseis anos, heim? Já tá virando homem! Por isso... - ele pegou um embrulho de presente – Acho que já posso te dar isso.
-- O que é isso?
-- O tipo de presente que um cara como eu daria para o irmão que está amadurecendo. - ele riu – Espero que goste.
Bastante curioso, Edge abriu o embrulho. Dentro, havia um livro enorme, com o título “Eletrônica: os grandes segredos da montagem de circuitos analógicos e digitais”. Edge ficou olhando o livro por mais ou menos cinco minutos.
-- É o livro...
-- Dos irmãos Thomas. Esse mesmo. Aquele livro.
-- Cara... Dick, eu não acredito... Eu sonho com esse livro desde... - ele abraçou Dick, com lágrimas nos olhos – Nossa, maninho, obrigado... Eu nem sei o que dizer...
-- Eu não sabia o que te dar, então lembrei de quando você ficava parado duas horas em frente à vitrine da livraria, namorando esse livro. Achei que seria um presente adequado.
-- Nossa, obrigado... - ele estava chorando – Foi o melhor presente que já ganhei, cara... Obrigado mesmo...
-- Não foi nada. Eu queria que fosse algo de útil, e sei que esse vai ser. Aliás, tenho mais um presente pra você, que espero que também seja muito útil.
-- Mais um? O que é?
-- Toma – ele entregou um embrulho menor para Edge – espero que sirva.
De dentro do embrulho, Edge tirou uma caixinha. Dentro dela, havia um livrinho intitulado “Sexo para Iniciantes: Manual de Instruções” e várias camisinhas, de todos os tipos. Ele começou a rir.
-- Po, valeu... Mas acho que vai demorar um pouco para eu usar.
-- Claro que não, cara. - ele deu um tapinha nas costas de Edge – Antes do fim desse ano, eu quero ver pelo menos uma camisinha a menos nessa caixa, ouviu?
-- Vou fazer o possível.
O telefone tocou. Edge correu para atender.
-- Alô?
-- Parabéns pra você... - vieram as vozes de Bono, Larry, Adam, Guggi e Gavin, do outro lado da linha.
-- Obrigado, obrigado...
-- Senhor Dezesseis Anos – disse Bono – nós, da banda punk The Hype, o convocamos para sua celebração de aniversário, hoje, às duas horas, com início na casa do senhor Adam Clayton e posterior clímax no pub mais próximo, e provável prolongamento na casa daquele que estiver sóbrio o suficiente para enfiar a chave na fechadura.
-- Convite analisado, votado e aceito por unanimidade, senhor Bono Vox of O'Connel Street.
-- E o convite é extensível para a bela dama que compartilha com você laços sanguíneos fraternos, de nome Gillian Evans...
-- Mas nem em sonho.
-- Ok, ok, foi só uma idéia... Nós estaremos te esperando, Senhor Dezesseis!
-- Estarei aí.
* * * * *

Se Bono não o estivesse segurando, Edge provavelmente teria batido em um poste ou deitado no primeiro banco que visse. Mas, por milagre, Bono conseguia achar o caminho para casa mesmo em estado de total embriaguez, e eles lá chegaram, depois de alguns tropeços. Os outros haviam ido embora, ou ficado no bar.
-- Ah, o lar. - disse Bono, quando eles entraram – Ainda bem que meu pai e o Norman não estão esse fim de semana. Temos a casa só pra nós.
-- Poxa, os outros podiam ter vindo... - Edge se largou no sofá – Podíamos ficar bebendo aqui.
-- Bem, agora que já chegamos, devo lhe avisar que você caiu numa armadilha, Senhor Dezesseis. - ele trancou a porta e se virou para Edge, com um sorriso maligno – Era parte do plano que só viéssemos os dois.
-- Plano? - Edge levantou a cabeça – Por quê?
-- Eu preparei uma surpresa, e é algo que os outros não podem ver. Muito menos o Larry, pobrezinho. Ia ficar assustado.
-- Ai, Bono, você e suas surpresas... O que é?
Bono se sentou em frente à Edge.
-- Eu sei que você é virgem.
-- Como...
-- É mais do que óbvio, Edge. - ele segurou a mão de Edge – Não precisa ter vergonha.
-- Mas o que isso tem a ver com...
-- Tem tudo a ver. - ele chegou mais perto, ainda segurando a mão de Edge – Lembra aquela vez, quando nós brigamos por causa do que aconteceu no acampamento, e eu disse que tinha a esperança de que você se tornasse um amigo especial?
O coração de Edge começou a bater mais rápido.
-- Claro que lembro.
-- Então... Eu sinto – ele falava em um tom mais suave do que de costume – sinto de verdade, que nós estamos nos tornando especiais um para o outro. Nos últimos meses, temos convivido de uma forma diferente, temos nos tratado de uma forma diferente, uma forma boa. Eu sinto que surgiu uma ligação muito forte entre a gente.
-- Eu... Eu também sinto isso.
-- Eu sabia que você sentia, sabia que você poderia ser especial para mim. E eu quero que passemos a agir como amigos especiais, a partir de hoje. Quero fazer com você o que os amigos especiais fazem.
-- Como... Como você e o Guggi?
-- Isso. - ele sorriu – Como eu e o Guggi, ou como o Guggi e o Gavin.
-- E... O que os amigos especiais fazem?
-- Coisas que não fariam por outros amigos. Coisas íntimas. Ser um amigo especial é fazer pelo outro aquilo que acha que deve fazer, por mais estranho ou absurdo que pareça. É dar ao outro tudo o que o outro precisa, é entender o que ele pensa e sente, sem que ele precise te dizer.
-- Adivinhar o que o outro precisa, e dar isso a ele...
-- Sem importar o que seja. Exatamente isso.
-- E... O que isso tem a ver com a tal surpresa?
-- Eu sei o que você precisa, Edge. Aquilo que você mais quer. - ele estava muito próximo – E vou dar isso a você. Aqui. Hoje.
-- O... O que... O que eu preciso?
-- Se eu fosse virgem até hoje, já teria explodido, ou surtado... - ele pôs a mão por baixo da camisa de Edge, em sua barriga – Eu sinto os hormônios transbordando do seu corpo, a pele implorando por calor, por sexo...
-- E... E você...
-- Eu vou te dar isso. Hoje.
-- Vai... Me dar... - ele engoliu em seco – Você está falando sério?
-- É claro. Somos amigos íntimos, agora. Eu sei que é isso que você precisa, e é isso o que eu vou te dar. Você vai perder sua virgindade hoje.
-- Bono... Espera, Bono... Eu não sei se... Estou pronto pra isso...
-- Não se preocupe. Você vai relaxar, vai ficar à vontade. Na minha primeira vez, eu também estava tenso, mas o Guggi...
-- F-foi o Guggi que...
-- Claro que foi. - ele riu – E ele foi muito compreensivo comigo. Quero fazer com você o mesmo que ele fez comigo.
-- E... Você... O que você sentiu, quando o Guggi fez isso pra você?
-- Ah, nem sei dizer. Foi a coisa mais incrível que já me aconteceu. Ele sabia que eu precisava muito daquilo, e ele me deu exatamente o que eu queria. É incrível, ele sabia perfeitamente o que seria bom pra mim, mesmo sem eu ter dito.
-- E você não ficou com medo?
-- Ah, claro que fiquei. Tem sempre aquela coisa, né? Tipo, o que minha mãe ia dizer se me visse aqui...
-- É, eu... Tenho tanto medo, Bono. Se o meu irmão descobrir, se meus pais descobrirem...
-- Eles não precisam saber. Mas eu acho que, com o tempo, eles vão se conformar. Você não é mais uma criança, já está na hora de descobrir essas coisas.
-- Mas acho que nenhum pai espera uma coisa dessas, não é?
-- É, eles acham que seremos menininhos inocentes a vida inteira... Bem, talvez os meus não pensassem isso de mim, mas...
-- Eles sabem que você...?
-- Sabem, eu contei pro meu irmão e ele contou pro meu pai. Minha mãe já tinha morrido. - ele colocou a mão no ombro de Edge – Então, você está pronto?
-- Acho que estou.
-- Você quer isso?
-- Quero. Muito.
-- Se tiver algum problema, se as coisas não funcionarem muito bem, não precisa ficar com vergonha, ok? Você não tem que ser perfeito logo na primeira vez.
-- E... Como vai ser? Digo... Vai ser... Aqui?
-- No meu quarto. A cama é pequena, mas assim é até melhor, dá pra ficar mais juntinho...
-- Eu quero tanto ficar bem pertinho...
-- Ah, você vai ficar. Vai ficar mais perto do que já esteve de qualquer outra pessoa.
-- E... Vai ser como? Digo... Eu não tenho muita idéia, sabe... Tipo, posições, esse tipo de coisa...
-- Vai ser como você quiser. Basta dizer o que te deixa mais a vontade. Na hora você vai saber o que fazer, é só seguir seus instintos.
-- E você, Bono? Você tem certeza de que quer fazer isso?
-- Claro, meu amor. Eu faço qualquer coisa pra ver meus amigos felizes.
Edge sentia um aumento de volume em sua calça. Não podia acreditar que ia mesmo fazer aquilo, que Bono ia fazer aquilo... E podia pedir o que quisesse, que o outro faria...
-- Nós... Vamos fazer agora?
-- Agorinha. - ele olhou no relógio – Mais uns cinco minutos, e ela vai estar aqui.
-- Ela?
-- Você vai gostar dela. Fiz questão de escolher a mais bonita. É minha amiga há muito tempo, e a conheço muito bem, se é que me entende. Você vai gostar.
-- Mas o que...
Subitamente, Edge entendeu. Ela. A menina que Bono arrumara para ele.
-- Ah... Ah, então... Claro, claro, é lógico... A menina...
-- O nome dela é Danny. Você vai gostar, é linda. - a campainha tocou – Chegou.
Ele foi atender, e voltou com uma linda garota, um pouco mais velha do que os dois. Bono os apresentou.
-- Danny, esse é o Edge. Edge, essa é a Danny. Bom, creio que vocês vão acabar se conhecendo, então... Vou estar por aqui, qualquer coisa me chamem.
-- Olá, Edge. - disse Danny, dando um beijo no rosto de Edge – Você é mesmo muito bonito.
-- Ahm... Obrigado, você também é...
-- Então – ela pegou ele pela mão – vamos?
-- É, vamos...
Ela o levou para o quarto. Antes de entrarem, Edge olhou uma última vez para Bono, que acenou para ele, radiante.
-- Podem ficar à vontade! - disse Bono – Tem camisinhas na primeira gaveta da cômoda! E podem ficar o tempo que quiserem, eu vou dormir no quarto do Norman.
Edge fez um sinal de positivo, e no instante seguinte se viu sozinho no quarto de Bono, com uma garota que nunca vira na vida.
-- Então, The Edge – ela se sentou na cama, cruzando as pernas – me fale mais sobre você.
-- Sobre... Mim?
-- É, eu quero te conhecer melhor. - ela o pegou pela mão e o fez se sentar ao seu lado – O Bono me disse que você está fazendo aniversário.
-- É, eu... Estou fazendo dezesseis anos...
-- Que gracinha. - ela sorriu e passou a mão pelo rosto dele – Tão novinho...
-- Você tem quantos anos?
-- Dezenove.
-- E... Você conhece o Bono há muito tempo?
-- Desde que ele tinha uns catorze, quinze anos. Mas não vamos falar do Bono. - ela passou a mão pelos cabelos dele – Vamos falar de você.
-- Eu... Não tenho muito o que dizer sobre mim.
-- Ah, tenho certeza de que tem. Você é guitarrista, não é?
-- Sou, eu e o Bono estamos numa banda...
-- Hum... - ela segurou as mãos dele, analisando – Guitarristas sempre têm mãos perfeitas. Só de olhar para as suas, dá pra perceber que você toca muito bem.
Ele corou.
-- É, um pouco... Não muito...
-- Bono me disse que você também canta.
-- Ah, eu só faço segunda voz... O cantor principal é ele.
-- Mas ele me disse que você canta muito melhor do que ele.
-- Ah, que é isso, modéstia dele... Mesmo que fosse, eu nunca seria cantor, sou muito tímido...
-- Eu percebi. - ela riu – Sabe, eu acho os garotos tímidos uma gracinha.
-- Ah, é?
-- É, sim.
Ela segurou o rosto dele e se aproximou. Ele fechou os olhos e se deixou beijar, um pouco sem jeito. Achava aquilo tudo muito estranho.
-- E-espera. - ele disse, quando ela tentou beijá-lo de novo – Espera um pouco.
-- O que foi?
-- Nada, eu só... - ele se levantou – Estou um pouco... Inseguro.
-- Eu sei que você está nervoso. - ela foi até ele e o abraçou – Não precisa ficar com medo. Vai ser bom, vai dar tudo certo.
-- E... E se eu... Não conseguir?
-- Vai conseguir. E, se não der certo, não tem problema. Ninguém vai saber, e podemos tentar de novo. - ela passou a mão pelo peito dele – Você é tão bonito, Edge...
Dessa vez, quando ela o beijou, ele não fugiu. Deixou que ela o encaminhasse para a cama, e eles fizeram o que tinham que fazer.
* * * * *

-- E aí? - disse Bono – Como é que foi?
-- Ah, foi... Foi bom.
-- Bom?
-- É, Bono. Foi... Muito bom.
-- Foi tudo bem? Ou teve algum imprevisto?
-- Não, não, foi tudo bem... Digo, no início eu tava bastante nervoso, demorei um pouco pra... Pra ligar, entende? Mas depois ela foi fazendo uns negócios e... Funcionou.
-- E o que vocês fizeram? Conta tudo!
-- Tudo?
-- É, eu quero saber detalhes, cada gemido! Conta, conta!
-- Ah... Ah, Bono... Sei lá, ficar falando essas coisas...
-- Edge – ele segurou as mãos de Edge – esqueceu que agora somos amigos íntimos? Temos que nos abrir um com o outro!
-- A-abrir? Ah, claro...
-- Então vai, conta!
-- B-bem... Primeiro, a gente ficou conversando, né...
-- Hum.
-- Aí, ela me perguntou sobre mim... Eu perguntei sobre ela...
-- Edge, pula essa parte! Vai logo pra parte quente!
-- Ah, tá... Bom... Ela me beijou... Aí, primeiro eu tava um pouco nervoso, e falei isso pra ela... Aí ela foi falando uns negócios, pra eu ficar mais calmo, e me beijou de novo... Aí a gente deitou na cama, né...
-- Hum...
-- Aí... A gente foi tirando a roupa...
-- To gostando.
-- Aí a gente ficou se beijando, e eu ainda não tinha ligado direito, aí ela fez... Coisas...
-- Que coisas?
-- Coisas... Pra eu ligar.
-- Que coisas, Edge? Eu quero detalhes!
-- Ah, ela... Foi beijando... Outros lugares...
-- Ela te chupou?
Edge ficou profundamente vermelho.
-- É.
-- Uau! E aí?
-- Bem... Aí eu liguei, né... Aí a gente ficou se agarrando um tempão, aí... Eu comecei a gostar daquilo... Aí ela... Subiu em cima de mim... E... Ah, você entendeu.
-- Oh, Edge, conta direito! Tipo, você pegou ali, ela pegou lá, aí você pegou o seu pau e...
-- Tá! Tá, eu entendi.
-- Então conta.
Incentivado por Bono, Edge acabou contando. Quando terminou, Bono estava super empolgado.
-- Então, deu tudo certo!
-- É, acho que deu...
-- Que bom! Eu fiquei com medo de que desse alguma coisa errada, que você não gostasse dela... Mas que bom que foi tudo bem. - ele sorriu – Eu queria muito te fazer feliz.
-- É, eu acho... Que você me fez feliz.
-- Que bom! - ele abraçou Edge – Parabéns, Edge! Agora, você já é um homem!
-- É, imagino que sim...
-- Vamos ter muitas outras vezes como essa. Eu prometo.
-- Obrigado.

[fanfic #001] [capítulo #006] [U2] EGB


CAPÍTULO 6

-- E então? - disse Adam – Qual é a tal surpresa?
-- Espera! - Bono gritou, do quarto.
-- Conta aí, Gavin. - disse Larry, curioso – O que é que o Bono está aprontando?
-- Não tenho nem idéia. - disse Gavin – Ele só me disse que queria que todo mundo viesse pra casa dele, e que tinha uma “surpresa”. Parece que é algo pra gente se distrair.
-- Pelo que ele me falou, imagino que seja. - disse Edge, estirado no sofá, com as pernas apoiadas no colo de Larry – Ele disse que nós estávamos precisando esfriar um pouco a cabeça.
-- Desde que não seja um balde de gelo... - disse Adam.
-- Não mesmo. - disse Guggi, deitado no chão, sobre almofadas – Pelo contrário.
-- Eu tenho certeza de que você sabe o que é, Guggi. - disse Gavin – Conta aí.
-- Eu? - ele riu – Tudo o que sei é que nada sei.
-- Gente, esse clima de mistério está me matando!
-- Eu to é ficando preocupado... - disse Edge – Vindo do Bono, eu imagino o que...
Nesse momento, Bono voltou, com um sorriso radiante no rosto. Parecia uma criança prestes a contar aos pais que fora o melhor aluno da classe. Disse:
-- Prontinho! Achei!
-- Achou o que? - disse Larry, olhando curioso para algo que Bono trazia nas mãos.
Sem uma palavra, como se seu sorriso fosse o suficiente para explicar tudo, Bono entregou para Gavin o que trazia na mão. Edge viu que parecia ser uma fita de vídeo, mas não pôde ver exatamente o que era. Gavin riu.
-- Fantástico! É o meu preferido!
-- Também é o meu. Até hoje só consegui ver os primeiros dez ou quinze minutos.
-- O que é? - disse Larry, esticando o pescoço – Deixa eu ver!
Gavin passou a fita para Adam, que sorriu, radiante.
-- Caramba, onde arrumou?
-- Ah, querido, tenho uma coleção respeitável, coisa de especialista...
-- O que? - Larry estava agoniado – Mostra pra mim!
Adam passou a fita para Guggi, que riu.
-- Ah, que maravilha... Só de olhar a capa já dá pra ter uma idéia.
-- Uma ótima idéia. - disse Adam, rindo.
Guggi passou a fita para Edge. Este a pegou, curioso, e corou assim que pôs os olhos na capa. Realmente, dava pra ter uma boa idéia do filme inteiro só de olhar para aquilo.
-- É. - ele estava completamente sem graça – Legal.
-- Legal? Legal? - Bono jogou uma almofada em cima dele – Uma obra-prima, uma obra de arte, uma das fitas mais raras do ramo... Cobiçada pelos maiores entendidos no assunto... E você só consegue dizer “legal”?
-- O que quer que eu diga? Que a vista é linda?
Os outros riram. Larry estava quase tomando a fita das mãos de Edge.
-- Me dá, deixa eu ver!
Edge entregou a fita para Larry. Este a pegou, ansioso, mas, assim que viu o que era, deixou de sorrir. Parecia chocado, para dizer o mínimo.
-- O que é isso?
Todos riram. Ele ficou ainda mais vermelho.
-- Oh, seus maus, não riam! - disse Bono, lutando para se conter – Não estão vendo que se trata de um menino inocente? - ele pôs a mão no ombro de Larry – Lawrence, tenho uma notícia muito triste pra você. Lembra quando sua mãe te disse que era a cegonha que trazia os bebês? Então – ele falou quase sussurrando, como se contasse um grande segredo – é mentira.
Os outros explodiram em gargalhadas. Larry estava da cor de um tomate.
-- Imbecil! - ele jogou uma almofada em cima de Bono – Eu sei o que é isso!
-- Então, por que perguntou?
-- O que estou querendo dizer é – ele olhou novamente para a fita – nós vamos... Assistir isso?
-- Não, vamos guardar na geladeira. - disse Gavin – Larry, é claro que vamos assistir.
-- M-m-mas todo mundo junto?
-- Claro que não, você não está vendo as seis cabines individuais que nós vamos ocupar? - disse Adam – Larry, deixa de ser fresco. Nunca assistiu um filme pornô com uns amigos?
-- Claro que não! Nem com amigos, nem com ninguém. - ele entregou a fita pra Bono, sem olhar para ele – Eu... Não vejo essas coisas.
-- Ohhh, tadinho... - disse Bono, se ajoelhando no chão e se apoiando nas pernas de Larry – Larry, meu bebê, você nunca viu uma mulher pelada?
-- Claro que já! Mas só em foto.
-- Então, está tendo uma chance incrível. Olha, eu prometo que você vai gostar. Não vai doer nada. - ele deu um sorriso afetado para Larry – Se doer, eu paro.
Adam ria tanto que tinha lágrimas nos olhos. O único que não ria era Edge, e Larry tentou buscar apoio nele.
-- Edge, você vai ver isso também?
-- Eu... Ahm... - ele ficou vermelho – Bom... Se todo mundo vai... Eu acho que não tem nada demais...
-- Viu, bebê? - Bono se sentou no colo de Larry, e passou a mão por seus cabelos – O Edge tem quase a mesma idade que você, e não está com medo. Relaxa, vai ser bom pra todo mundo.
-- Pára de falar assim! - ele empurrou Bono, que caiu no chão – Eu sei disso, só fiquei... Eu não esperava! Mas se vocês podem ver, eu também posso! Não sou nenhuma criança.
-- Isso! - todos aplaudiram, e Bono se levantou – Bom, agora que todos estão de acordo... - ele colocou a fita no vídeo – Eu tinha percebido que a banda andava meio tensa, os nervos muito à flor da pele, e achei que vocês precisavam de um pouco de sexo pra relaxar. Minha idéia original era trazer garotas também, mas, em respeito à virgindade das duas mocinhas aqui – ele apontou para Edge e Larry, que coraram – e, claro, à minha querida e amada Ali, eu achei que um bom filminho já resolveria o problema. É uma pena que o Dick esteja trabalhando, ele é um dos que mais precisa de uma coisa assim. Bem, estão todos prontos?
-- Põe logo isso, Bono! - disse Guggi, que parecia o mais empolgado.
-- Relaxa, amor, a antecipação é o que torna melhor. Tem almofadas para todos?
-- Preciso de uma! - disse Adam, e Edge lhe atirou uma almofada extra que estava em suas costas.
-- Larry, pega. - disse Gavin, dando uma almofada para Larry, quando Edge tirou as pernas de seu colo e se ajeitou no sofá.
-- Peraí, eu não entendi. - disse Larry, olhando para a almofada – Pra que isso?
Todos olharam para ele.
-- Larry – disse Edge – até eu sei isso.
Larry ainda pensou um pouco, e então teve um estalo.
-- Ah! M-mas... Nós não vamos ficar... Vamos?
-- Bem, Larry, querido – disse Gavin – eu não sei o que acontece quando você vê cenas de sexo, mas a maioria dos homens costuma ter um certo aumento de volume na frente da calça, então, por favor, fique com essa almofada por medida de segurança.
-- Mas... Peraí, pessoal, eu não estou entendendo direito o objetivo disso...
-- Lawrence Mullen – disse Adam, perdendo a paciência – não sei se você sabe, mas os homens têm o estranho e agradável hábito de segurar o próprio pau e ficar balançando até chegar ao orgasmo, e costumam fazer isso incentivados por cenas de sexo em vídeos ou revistas.
-- Mas nós não vamos fazer isso aqui, vamos? - era mais um pedido do que uma pergunta.
-- Quem se sentir inibido – disse Bono – pode fazer uma visita ao banheiro no fim do corredor. Só peço que o mantenham do jeito que o encontrarem, por favor. E sem gemidos altos, tira a minha concentração. Agora, se ninguém mais tem objeções...
Bono ligou o vídeo e se deitou no chão, ao lado de Gavin, que estava sentado apoiado no sofá, e de Guggi, que estava deitado. O filme começou.
Mal haviam se passado cinco minutos, e Edge já sentia um calor inexplicável que parecia vir de dentro para fora. Tomava o cuidado de não desviar os olhos da televisão nem por um segundo: tinha medo do que veria se olhasse para os outros. De vez em quando alguém dizia um “uau” ou “nossa” em voz baixa, e um ou outro ria, mas no geral se mantinham em silêncio. Ele arriscou um olhar para Larry, e percebeu que o garoto parecia paralisado, os olhos fixos e imóveis na tela. Olhou para Adam, que estava deitado no outro sofá; ele parecia estar desfrutando tranquilamente do filme, e às vezes sorria. Todos mantinham as almofadas em seus colos, e, quando Edge olhou para Bono, percebeu que ele colocara a mão por baixo dela, entre as pernas. Ele voltou a olhar para a televisão, tentando manter o olhar tão fixo quanto Larry.
Todos estavam concentradíssimos no que se passava na tela, quando o telefone tocou. Edge se assustou, e Larry deu um grito. Bono se sentou depressa.
-- Ah, merda. - ele pausou o vídeo – Na melhor parte.
Ele levantou, segurando a almofada, e correu para o telefone. Os outros se olharam, quebrando um pouco o clima de tensão.
-- Estão gostando? - disse Guggi, com um sorriso malicioso.
-- Claro que não. - disse Adam, acendendo um cigarro – Meu pau está duro porque eu estou com sono.
Larry olhou para ele, curioso.
-- Fica quando você tá com sono?
-- Claro que não, seu tonto, eu to brincando...
-- E você, Edge? - disse Gavin – Está tão quieto...
-- Ah, eu... Eu to bem.
-- Tá gostando do filme?
-- To, claro...
-- Vocês ainda não viram nada. - disse Guggi – A melhor parte vem agora.
-- Você já viu esse, Guggi?
-- Claro. - os olhos dele brilharam – Eu e o Bono costumamos assistir juntos quando nossos pais estão viajando.
-- Ah – disse Edge – então, você costuma assistir esses filmes com o Bono?
-- Claro! - ele riu – Eu lembro de quando a gente viu nosso primeiro juntos. Eu já tinha visto antes, com os meus irmãos, aí o Bono foi lá em casa e eu mostrei pra ele. Ele tinha uns dez anos, ficou fascinado...
Nessa hora Bono voltou, trazendo a almofada na mão, displicentemente.
-- Voltei! - ele se deitou ao lado de Guggi – Vamos continuar?
-- Só se for agora. - disse Adam.
Bono colocou novamente a almofada no colo, e despausou o vídeo. Os seis voltaram a assistir, em silêncio.
Estava tudo no mais absoluto silêncio, quando Edge ouviu um “hmmm...”, e olhou para Guggi, que fizera o barulho. O garoto estava deitado no peito de Bono, que colocara a mão por baixo da sua almofada. Ninguém parecia ter percebido nada, ou, se perceberam, não pareciam ter achado nem um pouco estranho; de forma que Edge achou melhor não dizer nada, e continuou a olhar para a televisão.
Agora, a sala já não estava em silêncio. Além dos suspiros de Guggi, Adam e Gavin também faziam alguns barulhos estranhos. Bono não fazia barulho, mas Edge ouviu o som de um zíper se abrindo, e tinha certeza absoluta de que havia sido ele, embora a almofada não deixasse ver.
De repente, Larry se levantou e saiu da sala, indo para o banheiro. Edge olhou espantado, e Adam sorriu.
-- Eu tinha a certeza de que ele não ia aguentar.
-- Deixa ele. - disse Bono – Precisa liberar a tensão.
Edge passou a se sentir ainda mais constrangido. Sem Larry, era o único ali que parecia conservar algum pudor: os outros estavam agindo como se estivessem sozinhos, ou como se fosse absolutamente natural enfiar a mão dentro da calça no meio de outras pessoas. No caso de Bono e Guggi, enfiar a mão na calça dos outros, porque Edge não tinha a menor dúvida de que era isso o que eles estavam fazendo.
Não que ele não estivesse gostando. Pelo contrário, sentia a calça tão apertada que parecia que o botão ia arrebentar a qualquer momento. Mas não conseguia relaxar, de forma alguma. Quando as coisas começaram a ficar muito críticas – Gavin murmurou um “oh, Deus” - ele se levantou e, sem dizer nada, saiu da sala. Foi para o banheiro e se trancou lá dentro por bastante tempo.
Ele saiu sem saber com que cara voltaria para a sala. Tinha a certeza de que todos sabiam o que ele estivera fazendo, assim como sabiam o que Larry...
E então ele se lembrou de que Larry não voltara para a sala. Se não estava no banheiro, onde estaria?
Sua pergunta foi respondida quando ele foi para a cozinha, beber água. Larry estava ali, apoiado na pia.
-- Larry? O que...
Ele parou de falar quando percebeu que o garoto estava chorando.
-- Lawrence. - ele se aproximou, preocupado – O que aconteceu?
-- Nada. - ele deu um passo pra trás – Sai daqui.
-- O que é isso, Larry... Me diz, aconteceu alguma coisa? Pode falar pra mim...
-- Eu... Eu não acredito que isso está acontecendo... Não acredito que eu fiz aquilo...
-- Você diz... - ele apontou para o banheiro – Aquilo? Ah, Larry, todo mundo ali na sala ta fazendo... Eu também, acabei de sair do banheiro...
-- Mas você não sente que é errado? O que minha mãe ia pensar se me visse fazendo isso...
-- Calma, calma, olha. - ele segurou os ombros de Larry – Eu também não gostei desse negócio. Pra mim eles são todos malucos. Vamos embora, ok? Eu não sei o que é que eles pensam em fazer depois que o filme acabar, mas eu vou me mandar daqui.
-- É... É, eu vou embora também.
Edge e Larry foram até a sala, pensando que seria indelicado sair antes do filme acabar. A cena que viram, porém, os fez mudar de idéia: Adam estava muito concentrado, de olhos fechados, com a mão dentro da calça; Gavin já acabara, e estava esparramado no chão, terminando de assistir ao filme, e com a frente da calça toda molhada; e Bono se esfregava contra a cintura de Guggi, que apenas sorria e olhava para o filme. Edge e Larry trocaram um olhar.
-- Ahm... Pessoal... - disse Edge – Eu e o Larry vamos indo.
Ninguém respondeu; apenas Gavin pareceu ter ouvido, e fez um sinal de positivo. Edge pegou Larry pela mão, e os dois saíram dali o mais depressa possível.
* * * * *

Edge abriu passagem entre os estudantes, todos um palmo mais baixos do que ele, até avistar o pequeno menino loiro encostado na parede.
-- Larry! - ele teve que atropelar mais duas meninas do primeiro ano para conseguir chegar em Larry – Eu queria falar com você...
-- Se for sobre o ensaio de amanhã, está confirmado, eu já liguei pro Adam e...
-- Não, eu sei, não é sobre isso. É sobre... - ele olhou em volta e baixou a voz – Sobre sábado passado.
-- Ah. - ele ficou vermelho – Ah, sim.
-- Eu tentei... - um bando de meninas perto deles começou a gritar – Vamos pra outro lugar?
-- Vamos pro vestiário.
Eles foram para o vestiário masculino, que estava quase vazio. Sentaram-se em um dos bancos, um de frente para o outro, e Edge disse:
-- Eu tentei te ligar ontem, mas parece que todos os telefones do bairro estão mudos...
-- É, um carro bateu num poste e derrubou os fios.
-- É... Eu fiquei preocupado com você. Você não parecia muito bem.
-- Eu... Fiquei um pouco confuso. - ele ficou vermelho – Foi uma coisa muito estranha o que aconteceu na casa do Bono.
-- Foi. Foi mesmo.
-- Você reparou?
-- Provavelmente sim. No que?
-- Como... Como o Bono estava... - ele ficou vermelho – Com o Guggi.
-- Ah, eu achei... Que só eu tivesse reparado...
-- Como alguém não ia reparar? Quando o Bono passou do meu lado, pra atender ao telefone, deu pra ver que ele estava... Duro. - ele parecia muito constrangido – E depois eu vi quando o Bono abriu a calça e o Guggi colocou a mão dentro... O que eles... Eu sei o que eles estavam fazendo, mas... Como... É nojento, não? Eu nunca...
-- Eu também nunca faria aquilo. Mas se eles fazem, é problema deles. Cada um na sua.
-- Mas... O Bono gosta de meninas, não é? Ele tem namorada... Mas... Quando a gente saiu, ele estava se esfregando no Guggi... Eu tava vendo a hora que eles iam começar a se beijar.
-- Eu não ia me surpreender se eles tivessem feito isso. Eu também estou um pouco confuso, Larry. Mas acho que a única forma de saber é perguntando pra eles, e eu não vou chegar pro Bono e perguntar “aqui, B, você anda comendo o Guggi?”. Ele ia me matar.
-- É, eu sei... Mas eu não gostei disso. Não gostei nem um pouco. Se o Bono come o Guggi, eu não quero... Não vou ficar numa banda com um cara que gosta de homem. Nem seria amigo de um cara assim.
-- É, nem eu.
Mas não era totalmente verdade. Edge estava um pouco incomodado: se Larry soubesse que ele achara estar apaixonado por Bono, pararia de falar com ele?
-- E o Adam – Larry continuou – lá, no meio deles... Os quatro fazendo aquilo assim, um na frente do outro! Será que eles não têm o menor pudor?
-- É, eu também fiquei pensando isso. Eu fui pro banheiro, e mesmo assim fiquei morrendo de vergonha.
-- Eu também. Bicho, será que nós é que somos muito crianças? Porque eu não me imagino fazendo isso nunca!
-- Nem eu. Às vezes eu acho que vou morrer virgem.
-- Você também é virgem?
-- Claro que sou. Por acaso alguma vez você me viu com menina?
-- Não, mas você é um pouco mais velho, então eu achei... Sei lá. Achei que eu fosse o último virgem da Irlanda.
Edge riu.
-- Claro que não. Somos um clube secreto, mas com muitos membros.
-- Mas eu acho que, na banda, somos os únicos.
-- Bem, meu irmão não é, ele me contou quando pegou uma menina, mas também foi a pouco tempo. O Bono e o Adam, nem pensar, eles já pegaram metade da escola. O Gavin... Bom, todo mundo diz que ele come de tudo e de todos, mas não sei se acredito nisso, não acho que ele seja desses. Mas com certeza não é virgem. E o Guggi é mais velho que o Bono, então deve ter sido ele que levou o Bono pro mau caminho.
-- Não imagino alguém levando o Bono para qualquer caminho.
-- É, é verdade...
-- Ah, Edge – Larry segurou a mão de Edge – ainda bem que você está comigo. Se eu ficasse sozinho com aquele bando de loucos, acho que ia surtar.
-- Não se preocupa. - ele sorriu – Não vou te deixar sozinho no meio deles. Nem vou ficar igual a eles.
-- Valeu.

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CAPÍTULO 5

Edge nem teve tempo de atravessar o pátio. Sentiu duas mãos o agarrando pela camisa e o virando, e em seguida um soco o atingiu no estômago, fazendo lágrimas saírem de seus olhos.
-- Que... Bono!?
-- Seu estúpido idiota! - Bono o atirou contra a parede – Onde se meteu?
-- Q-que...
-- Bebê, larga ele! - era Ali gritando, e Edge pôde ver suas mãozinhas no braço de Bono, tentando fazê-lo soltar Edge – Vai matar ele!
-- Eu quero matar ele! Como teve a coragem de sumir daquele jeito? Você disse que ia ficar!
-- Eu mudei de idéia! - Edge finalmente entendeu do que se tratava – O Dick me convenceu de que era melhor ir embora, e eu fui! E não tinha prometido nada!
-- Você disse! Você disse que ficaria! - ele deu mais um soco em Edge – Você é um grande idiota! Como pôde?
Ele largou Edge tão subitamente quanto o atacara, e sumiu, seguido por Ali. Edge ficou caído no chão, atônito. Passou a mão na boca, para limpar o sangue, e se levantou, sem olhar para os outros estudantes que assistiam à cena. Foi quase correndo para o banheiro, onde se trancou e foi lavar o rosto.
-- Eu odeio ele! - lágrimas caíam por seu rosto, e ele se olhava no espelho – Odeio! Quem ele pensa que é?
-- Edge?
Com um sobressalto, Edge se voltou. Adam estava ali, saído de uma das cabines.
-- Ah... Eu achei que não tivesse ninguém...
-- O que é que tá pegando? Quem te bateu assim?
-- O Bono! - ele deu um soco na pia – Aquele imbecil descontrolado! Ele chegou e começou a gritar e me bater, sem motivo nenhum!
-- Acho que ele está com raiva porque você foi embora aquele dia.
-- E daí? Eu não tenho que ficar me drogando com vocês só porque ele quer! E eu tinha avisado a ele que talvez fosse embora!
-- Pelo que ele falou, você deu a entender que ficaria.
-- Mesmo que tenha sido, e daí se fui embora? Isso não justifica o descontrole dele!
-- Olha, não defendendo o Bono, eu não acho que ele devia ter te batido... - ele se sentou em um dos bancos – Mas o cara ficou arrasado quando você foi embora.
-- Que?
-- Ele saiu te procurando, e quando a gente viu que você e o Dick tinham ido, ele não quis acreditar, disse que tinha confiado em você e que você tinha enganado ele, começou a chorar...
-- Ele... Chorou?
-- Chorou, estava arrasado. Aquilo acabou com ele, nós acabamos indo embora no mesmo dia. Eu nunca tinha visto ele daquele jeito, parecia até que tinha pegado você e a Ali aos beijos.
-- Nossa... Mas... Por quê? Por que ele se importou tanto? Ele estava com o Guggi...
-- Eu sei lá. Ele deve gostar muito de você, imagino. - ele se encostou na parede e começou a fumar – Se vocês até dormiram juntos...
-- Ele te contou!?!?!?!?
Adam começou a rir.
-- Então você dormiu com ele mesmo?
Edge percebeu o que Adam tinha feito, e se sentiu ligeiramente estúpido.
-- N-n-não...
-- Pode contar, Edge, eu não conto pra ninguém. - ele sorriu, malicioso – E aí? Foi bom?
-- Cala a boca! Não é nada disso! Eu estava com frio, ele já estava lá com o Guggi, foi muito gentil da parte dele me deixar ficar com eles!
-- Calma, calma, eu só to brincando... É claro que eu sei disso, não vou achar que vocês três ficaram transando, né? Eu tenho o mínimo de senso. - ele riu – Você é muito ingênuo, The Edge.
-- Ingênuo? Eu? Claro que não!
-- Claro que é. Mas isso é normal, você é virgem.
-- Como você sabe???
O outro começou a rir, e Edge teve vontade de se dar um tiro.
-- Não disse? - Adam falou, ainda rindo – Você é uma criança inocente.
-- Cala a boca.
* * * * *

Bono estava sentado em cima de uma lata de lixo virada pra baixo, fumando e conversando com Guggi e Gavin. Edge se aproximou timidamente; os três pararam de falar quando o viram, e ficaram olhando pra ele.
-- É... - ele murmurou – Ahm...
-- O que você quer? - disse Guggi, dando um passo à frente de forma ameaçadora.
O desafio de Guggi pareceu dar mais coragem a Edge, e ele conseguiu dizer:
-- Bono, eu preciso conversar com você.
-- Fale. - disse Bono, indiferente – Estou ouvindo.
-- A sós.
-- Não tenho nada pra esconder do Guggi e do Gavin.
-- Mas eu não vou falar na frente deles.
-- Então, não fale. - ele deu de ombros e jogou seu cigarro no chão – Não me importo com você.
-- Se não se importa, porque chorou como um bebê quando eu fui embora aquele dia?
Por um segundo, Edge achou que Bono fosse espancá-lo, tal foi a forma como ele o olhou. No instante seguinte, porém, foram as mãos de Guggi que o agarraram pela camisa e o imprensaram contra a parede, e a única coisa que Edge pôde fazer pra se defender foi fechar os olhos quando o soco o acertou em cheio.
-- Desgraçado! - disse Guggi – Eu vou te matar!
-- Me solta! - Edge tentava se soltar – Eu não quero machucar você!
-- Ah, mas eu quero muito machucar você, seu filho da puta miserável...
-- Guggi – disse Bono – solta ele.
-- Não vou deixar esse cara sair andando daqui.
-- Não, eu vou ouvir ele. Nos deixem a sós, por favor.
Guggi olhou para Bono, surpreso.
-- Vai conversar com ele? Depois do que ele fez? Eu não vou deixar, Bono, não posso te deixar sozinho com ele!
-- Eu sei me defender sozinho. Me deixe conversar com ele.
Com a raiva ainda brilhando em seus olhos, Guggi soltou Edge, que quase caiu no chão. Gavin lhe lançou um olhar de desprezo, e saiu. Antes de o seguir, Guggi foi até Bono e o abraçou. Edge ficou olhando para os dois, atônito.
-- Tem certeza de que quer fazer isso? - disse Guggi, olhando para Bono com tal fervor que Edge achou que eles fossem se beijar.
-- Tenho. Eu sei o que estou fazendo, não se preocupe. - ele segurou o rosto de Guggi e sorriu – Muito obrigado.
Bono deu um beijo na testa de Guggi, que sorriu. Em seguida ele se foi, e Edge ficou ainda um tempo parado, tentando absorver as imagens de carinho que acabara de presenciar.
-- E então? - disse Bono – O que você quer falar?
-- Eu... - ele se levantou e se aproximou de Bono – Eu não achei que você fosse ficar tão chateado por eu ter ido embora. Sinto muito.
-- Sente. - ele riu com desprezo – É, eu fiquei chateado. Acho que alguém já lhe disse isso.
-- O Adam. Ele me disse que você... Chorou.
-- E se tiver chorado? Pelo jeito não faz diferença pra você, não é?
-- Claro que faz! Por que você chorou? Você estava com o Guggi, achei que ele fosse muito mais importante do que eu!
-- Eu chorei porque sou um estúpido idiota e sentimental, que acha que as pessoas dão valor a coisas ridículas como palavra e amizade! Pelo jeito, essas coisas não significam nada pra você, não é?
-- É claro que significam! Mas o Dick também foi embora, e você não tentou espancar ele no pátio da escola! É isso o que estou tentando entender, Bono! Por que esse drama todo só porque eu fui embora? Todos os outros estavam ali, você podia muito bem...
-- Eu podia muito bem ter ficado e me divertido com eles, mas eu não consegui, porque eu tinha confiado em uma pessoa e essa pessoa tinha me traído!
-- Eu te traí? Do que está falando?
-- Estou falando de você ter passado a noite dormindo nos meus braços e ido embora no dia seguinte sem nem dizer “adeus”!
Ambos se calaram. Edge ouvia os carros passando, na rua ao lado do terreno. Parecia que o mundo inteiro tinha escutado as palavras gritadas por Bono.
-- D-d-do jeito que você está falando – disse Edge, muito vermelho – parece até que transamos.
-- Pra mim, é como se fosse.
-- O-o que?
O coração de Edge batia com tanta força que ameaçava explodir em seu peito. Será que Bono estava dizendo o que ele achava que estava?
-- Você acha que eu chamaria qualquer um pra dormir ao meu lado? Acha que eu chamaria o Dick ou o Larry? É claro que não. Nem mesmo o Gavin já dormiu comigo assim. Até aquela noite, o único que tinha feito isso era o Guggi.
-- M-m-mas você disse... Você disse que não era... Você disse que era só por causa do frio! Disse que era normal, que não tinha nojo de tocar nos seus amigos!
-- E não tenho, eu abraço, eu beijo, eu mordo os meus amigos, mas passar uma noite como aquela é algo que eu só faço com amigos muito especiais! Nunca tinha tido um outro amigo especial como o Guggi! Ele tem o Gavin, os dois se entendem quando eu não estou junto, mas eu não tinha mais ninguém! Eu achei que você pudesse ser como nós, que fosse se tornar especial... - lágrimas surgiram em seus olhos, mas ele mantinha a voz firme – Achei que pudéssemos ser especiais um para o outro, eu gostei tanto de você... Mas é óbvio que eu me enganei. Aquilo não significou nada pra você, não é? Eu sou só mais um dos seus amigos, sem nada especial...
-- Bono – Edge interrompeu, quase desesperado – o que, pelo amor de Deus, você quer dizer com “amigos especiais”?
Bono pareceu confuso com aquela pergunta.
-- Ora, Edge, você sabe do que estou falando. Você também já teve um amigo assim.
-- Não, não sei, não tenho a menor idéia. Eu e o Shane éramos muito pequenos, eu não lembro mais o que fazíamos que tornava a nossa amizade especial. O que você e o Guggi fazem? Por que ele é especial?
-- Então você... Não... - ele estava decididamente surpreso – Quando você aceitou dormir com a gente, você não sabia que aquilo seria algo que te tornaria especial?
-- É claro que não, como poderia saber? É isso, então? Vocês dormem abraçados de vez em quando, e é por isso que ele é especial?
-- Claro que não. - ele deu um breve riso – Isso é só uma coisa pequena. Há coisas muito maiores.
-- Que coisas?
-- Eu... Acho melhor deixar isso pra lá. Se você realmente não sabe, talvez... Seja melhor você descobrir sozinho.
-- Mas talvez eu já esteja descobrindo! - ele segurou a mão de Bono, implorando – Eu preciso saber, Bono, por favor, me diga! Eu quero muito ser seu amigo especial, mas pra isso eu preciso saber o que os amigos especiais fazem, ou vou acabar te magoando de novo, ou entendendo as coisas erradas! Por favor, me diz...
-- Não são coisas que se diz assim, Edge. E varia muito de pessoa pra pessoa. Eu e o Guggi fazemos coisas que talvez ele não faça com o Gavin, e talvez os dois façam coisas que ele não faça comigo. Não importa tanto o que você faz, é mais um sentimento do que os atos em si.
-- Então me diga o que você gostaria de fazer comigo.
-- Eu já te disse que são coisas que não se diz. Segredos. Coisas para serem feitas em momentos especiais, com pessoas especiais. São coisas mágicas, e dizer em voz alta é quase um... Um pecado, ou algo assim.
-- Então, faça comigo. Me deixe ser seu amigo especial.
-- Não dá mais. Você me magoou muito.
-- Mas eu não sabia!
-- Se eu fosse especial pra você, você saberia. Ninguém precisou me dizer que o Guggi era especial, nem que as coisas que nós fazíamos eram coisas especiais. Eu simplesmente soube.
-- Você está dizendo que é como... - ele resolveu arriscar – Como se apaixonar?
-- Apaixonar? - ele pensou um pouco – É, se for pensar por esse lado, é parecido. Você sabe que é a pessoa certa, como se uma luz aparecesse em você e te desse todas as respostas que você precisa.
-- Bono... Eu...
-- O que?
-- Eu gosto muito de você.
Ele ficou comovido.
-- Eu também gosto de você, The Edge. Olha, eu entendo que você não fez aquilo por mal. Eu te perdôo.
-- Perdoa? Mesmo?
-- Claro. Somos amigos.
-- E... Podemos ser amigos especiais?
Dessa vez, Bono não pareceu muito seguro.
-- Quem sabe um dia? Vamos deixar as coisas correrem, não é? Talvez a gente acabe se tornando grandes amigos.
-- É. - ele baixou a cabeça – Talvez.
-- Agora, eu tenho que ir. O Guggi deve estar me esperando.
-- Tá bom. Até amanhã.
-- Até amanhã. Te vejo no ensaio.
Bono saiu. Edge ficou parado no mesmo lugar, olhando para baixo. Quase podia ver os caquinhos de seu coração caindo aos seus pés, como pingos vermelhos de chuva.

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CAPÍTULO 4

-- Muito bem. - Dick se sentou ao lado de Edge na cama – Me conte.
-- Contar o que?
-- Tudo. O que se passa nessa sua cabeça – ele passou a mão nos cabelos de Edge, afetuosamente – o que está te deixando confuso.
-- Eu já te disse. Eu tenho... Pensamentos errados com o Bono.
-- Você promete que vai confiar em mim? Não vai me esconder nada?
-- Prometo.
-- Então, me responda, com toda a sinceridade do mundo: já aconteceu alguma coisa entre você e o Bono?
-- Que... Que tipo de...
-- Por favor, Dave. Você sabe do que estou falando.
-- Não. Nunca. Claro que não.
-- E você já teve esse tipo de pensamento com algum outro garoto?
-- Não. Só com ele.
-- E quando começou?
-- Logo que eu conheci ele. - ele ficou muito vermelho – Achei os olhos dele tão bonitos... E ele era tão... Não sei... Rebelde, desafiador... Sensual...
-- Sensual? Por favor, Edge. - ele pegou uma Playboy que estava em cima da cômoda e abriu na página do meio – Isto é sensual. O Bono, por favor...
-- Eu sei! Eu também acho isso sensual. Mas você tem que admitir que o Bono é... Perturbador.
-- Ele é um cara bonito, tem porte. Você é um garoto muito carente, muito tímido, e viu no Bono o que gostaria de ver em você mesmo. Está confundindo os sentimentos.
-- Eu quero tanto que seja isso, Richard... Quero tanto... Espera!
-- O que?
-- Eu já senti isso antes! Já tive esses pensamentos! Não exatamente assim, mas, se for considerar as proporções, acho que era praticamente igual!
-- Mas... Quem...?
-- Shane.
-- Shane? Aquele seu amigo loirinho...
-- Que eu sempre elogiava e falava que queria ser igual. Ele mesmo.
-- Mas vocês ainda eram pequenos...
-- Eu sei, por isso eu não percebi logo, mas pensando agora, era exatamente isso. Eu acho que gostava dele, às vezes eu queria beijar ele, nós já até demos selinhos, mas era brincadeira, pelo menos pra ele... Só que eu nem conseguia dormir depois disso. - ele se levantara e andava de um lado para o outro, empolgado com a própria descoberta – Tanto tempo, e eu não vi! Eu era criança demais pra perceber... Talvez, se tivéssemos continuado juntos, tivesse surgido alguma coisa a mais.
-- Edge...
-- O Bono sabia! - ele gritara – Meu Deus, Dick, agora estou entendendo tudo!
-- O Bono... Como ele podia saber? David, você está delirando.
-- Não! Nós estávamos conversando sobre o Guggi, e eu contei a ele que tinha tido um grande amigo, o Shane. Então ele me perguntou se ele era um amigo especial, e eu não entendi, e ele disse que existiam coisas que nós só fazíamos com amigos muito especiais, e pelo tom que ele falava, parecia estar se referindo a segredos... Eu continuei sem entender, mas era disso que ele estava falando! Ele estava perguntando se eu e o Shane fazíamos essas coisas, como... As que ele faz... Com o Guggi...
-- Bem, você disse que, se tivesse continuado amigo do Shane, talvez tivesse surgido algo a mais. Então, podemos pressupor que entre o Bono e o Guggi...
-- Eles estão juntos. - Edge se sentou novamente, toda a alegria das suas descobertas desaparecendo da mesma forma que haviam surgido – Bono e Guggi... Exatamente como eu tinha pensado, mas de um jeito totalmente diferente... Eles são... Ah, droga...
Ele tentou esconder suas lágrimas de Dick, mas este percebeu.
-- Você está com ciúmes?
-- Não sei.
-- Edge, isso é uma coisa muito séria. Não pode resolver que... Não pode decidir uma coisa dessas só por causa disso que me contou. Pode ser uma fase.
-- Fase?
-- Olha, vou te contar uma coisa que a maioria dos homens sabe mas que ninguém conta, e só estou te contando isso por causa da atual situação. - ele corou um pouco – Eu também já passei por isso.
-- Que?
-- Todo homem passa. É totalmente natural, pode olhar nos livros de psicologia, se não acreditar em mim. Ter desejos com o melhor amigo, fantasias... É natural, faz parte da formação sexual da pessoa. O seu cérebro deseja tudo o que é proibido. É como quando você é criança e sempre quer comer exatamente o doce que seus pais mandam não comer, só porque é proibido. Quando você cresce, passa a desejar outras coisas, mas o motivo é o mesmo. Não é que você realmente queira isso, é mais uma forma de desafio.
-- Tem certeza?
-- Absoluta. Olha, eu já passei por isso. O fato de você continuar a gostar de meninas é uma prova mais do que definitiva de que você não é... Desse jeito. É uma fase normal, você não continua querendo os doces errados pra sempre.
-- Você... Passou mesmo por isso? Ou está falando só pra me convencer?
-- Olha – ele corou um pouco mais – eu não tinha um objeto de admiração em particular. Variava bastante, podia ser com o colega de classe ou o professor de educação física, mas acho que era a mesma coisa. Eu tinha sonhos profundamente reais, e muito perturbadores... Muitas vezes acordava todo melado, sonhando que estava comendo o professor de química.
-- Sério!?
-- Sério. E olha que ele era feio. E por acaso hoje eu ando por aí pensando em homens? Não mesmo.
-- Nossa, Dick... Por que não me contou isso antes?
-- E porque contaria? Eu nunca levei a sério, nunca tive as dúvidas que você está tendo. Achei que fosse ser igual com você.
-- E era, até ontem à noite... Eu não devia ter ido dormir com o Bono e o Guggi, foi uma estupidez.
-- Você não ia imaginar. Mas não faça mais isso.
-- E será que o que eu pensei está certo? Ele e o Guggi...
-- Eu não sei. Eu diria que não, porque o Bono tem namorada... Eles podem ser só amigos muito íntimos, né? Podem até ter certos desejos, mas uma coisa normal, que eles nunca colocaram em prática. Mas não sei, não ponho minha mão no fogo por nenhum dos dois. O Guggi parece uma menina e o Bono... Bem, você conhece ele.
-- É, conheço. Sabe... Quando eu estava lá, na barraca, e eles ainda estavam acordados... Quando o Guggi foi dar boa noite pro Bono, e eles se olharam, eu percebi que ele olhava pro Bono com um jeito tão... Submisso... Na hora, eu achei que ele parecia um criado olhando pro dono, mas pensando melhor agora, era como se o Bono fosse o homem mais velho, e ele a mocinha inocente que tinha acabado de perder a virgindade com ele.
-- Caramba... É, o negócio parece ser sério. Mas não se mete nisso, Edge. Se for o que estamos pensando, é problema dos dois, não temos nada a ver com isso. E se não for, então não temos nada que ficar olhando com maldade pra amizade deles. Deixa isso pra lá, esquece. E tente não ficar tão perto do Bono, pelo menos até esses seus desejos estranhos passarem.
-- Tem certeza de que vai passar?
-- Tenho. Não esquenta, irmão. - ele deu um tapinha no ombro de Edge – Você não nasceu pra ser bicha, pode ter certeza.
-- Obrigado. Valeu mesmo, Dick, por tudo.
-- Que é isso, cara. Se tiver qualquer duvida, ou precisar de alguma coisa, estou aqui.

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CAPÍTULO 3

-- Agora, de quem foi a idéia, mesmo?
Fora Larry quem fizera a pergunta. Ele, Edge, Adam, Dick e Gavin estavam reunidos o mais próximo possível de uma pequena fogueira, que não era o bastante para afastar o frio congelante. Bono e Guggi estavam um pouco afastados, rindo e jogando neve um no outro.
-- Ah, Larry, isso é divertido! - Bono gritou, aproximando-se deles – Vão dizer que não estão gostando?
-- O que é isso, Bono. - disse Dick, com um ar de acusação – Fugir de casa para vir acampar durante um fim de semana inteiro em uma montanha coberta de neve, sem os mínimos recursos, é uma diversão maravilhosa!
-- Vamos lá, pessoal, onde estão os seus espíritos de aventura? Pensem na quantidade de coisas incríveis que podemos fazer aqui, sem que ninguém saiba!
Guggi pulou nas costas de Bono, e os dois caíram no chão, às gargalhadas. Adam acendeu um cigarro e disse, indiferente:
-- Se tivéssemos trago garotas, eu poderia entender o que você quer dizer com “coisas incríveis”, mas, como somos um grupo de sete homens solitários, a sua idéia de diversão me escapa um pouco, Paul.
-- Não me chama de Paul! Meu nome é Bono. - ele se levantou – E vou mostrar pra vocês qual é a minha idéia de diversão.
Ele foi até sua barraca e voltou trazendo uma bolsa. Guggi se sentou junto aos outros, e Edge pode ver que ele também tremia, mas de excitação. Bono também se sentou, e tirou de dentro da bolsa vários cigarros feitos à mão, que entregou para todos. Edge pegou o seu e ficou analisando, mas não era a primeira vez que manuseava um desses. Larry, pelo contrário, parecia confuso.
-- Então, viemos aqui pra fumar? Eu não fumo.
-- Isso não é um cigarro qualquer, Larry, minha garota. - disse Adam, piscando para Larry, que corou.
-- Não mesmo. - disse Bono, acendendo o seu e tragando, com um murmúrio de prazer – A mais pura erva que se consegue na Irlanda, vinda direta dos paraísos da América do Sul...
Adam também começou a fumar, no que foi seguido imediatamente por Guggi, que soltou a fumaça com uma exclamação de prazer, e por Gavin, que apreciava silenciosamente o prazer de seu cigarro. Edge, Dick e Larry continuavam olhando para os seus, como se não soubessem o que fazer com eles.
-- Vocês três. - disse Bono, apontando pra eles, já com os olhos um pouco injetados – Qual o problema? Não têm fogo?
Os quatro fumantes riram. Larry disse:
-- Eu não considero “divertido” ficar me drogando num lugar congelado durante três dias.
-- Qual é, Larry? - disse Adam – Se nunca experimentou, essa é a hora. Não custa nada, só uma tragada.
-- Não. - ele entregou o cigarro para Bono – Não quero.
Ele se levantou e saiu. Os que fumavam soltaram risos de deboche.
-- Covarde medroso. - disse Bono, com um ar de arrogante desprezo – Nunca vai ser um homem de verdade.
-- Se pra vocês, isso é ser um homem – disse Dick, também devolvendo seu cigarro intacto – eu prefiro ser uma bicha.
Dito isso, ele se levantou e entrou em sua barraca. Os outros deram de ombros.
-- Como se ele não tivesse feito isso antes. - disse Adam – Fumava sempre com o meu grupo. Só ficou metido a certinho depois que entrou pra universidade.
-- E você, Edge? - disse Bono – Também quer ser uma bicha?
Os outros riram. Edge continuava a olhar para seu cigarro intacto, como se estivesse diante de uma escolha entre morrer ou viver. Já fumara antes, há muito tempo atrás, uma única vez; e a experiência fora muito desagradável. Mas agora era mais velho. Talvez não fosse tão ruim.
-- Anda, Edge. - disse Bono novamente – Fuma logo. Ou aproveita a chance pra ir comer a bunda do Larry.
Todos explodiram em risos. Edge, por outro lado, estava à beira das lágrimas. Não queria parecer covarde, nem queria que o chamassem de criança como faziam com Larry, nem que falassem por suas costas, como faziam com seu irmão. Queria mostrar que era homem, que tinha coragem, que era rebelde como todo rock star devia ser.
Lentamente, tentando fazer suas mãos não tremerem, ele acendeu seu cigarro e o tragou. Os outros aplaudiram e gritaram como se ele acabasse de ganhar um grande prêmio. Edge ficou pensando no que seu irmão diria, se contaria para seus pais, se o reprovaria. Se as garotas o achariam interessante agora. Mas logo a fumaça pareceu inundar seu cérebro, e todas as preocupações desapareceram: ele fugiu para um mundo quente e bom, onde tudo era agradável, onde todos gostavam dele e tudo sempre daria certo.
* * * * *

-- Edge! - Dick segurava o irmão, que estava agachado, as mãos apoiadas no chão coberto de neve – Dave! Calma, cara, respira!
Edge vomitou de novo. Seus braços tremeram, e ele quase caiu sobre a poça suja no chão; Dick o segurou e o abraçou contra o peito, a despeito da possibilidade de ele continuar vomitando.
-- Você é um idiota, cara! - disse Dick, o rosto enterrado contra os cabelos do irmão – Um grande idiota!
-- D-d-des... Desculpe... - Edge murmurou, engasgando com uma nova onda de vômito; ele se inclinou para fora do aperto de Dick e vomitou sobre a neve.
-- Já tinha acontecido antes, imbecil, você não pode com isso! Eu tinha certeza de que você ia vir comigo, porque você ficou lá?
-- Eu... Não queria parecer... Covarde...
-- E grande coragem a sua, ficar se drogando com um bando de loucos! Isso é que é ser homem pra você? É isso?
-- Não... Dick... Me desculpe...
-- Pare de pedir desculpas. - ele afastou a neve dos cabelos de Edge – Vamos voltar para as barracas e dormir. Amanhã de manhã, nós vamos embora.
-- Mas... Os outros...
-- Foda-se os outros. Vamos embora, eu não quero saber o que vão pensar, se vão nos expulsar da banda. Eu vi Bono e Guggi mexendo naquela bolsa, não tem só cigarro lá dentro. Eles estão guardando o resto pra hoje à noite, querem esperar todos já estarem bêbados pra fazer coisas bem piores...
-- Piores?
-- Eles trouxeram drogas pesadas pra cá. Eu vi. Cara, não estou com medo só pela sua saúde. Se por acaso aparece alguém aqui e vê isso, estamos fodidos.
Ele soltou Edge, que passou alguns instantes respirando fundo.
-- Está certo. Nós... Nós vamos.
-- Você já está bem?
-- Acho que sim. Não tem mais nada no meu estômago pra eu vomitar. - ele parecia muito cansado – Vamos dormir, Dick. Não aguento mais.
-- Vamos, sim. Quer que eu passe a noite com você?
-- Já estou bem grandinho pra correr pra sua cama. O que os outros vão pensar?
-- Edge...
-- Não, Dick.
-- Certo, então. Mas, qualquer coisa, estou aqui. É só chamar.
-- Pode deixar. Obrigado.
* * * * *

Edge virava de um lado para o outro dentro de sua pequena barraca. Estava muito cansado, mas era incapaz de dormir. Seu estômago doía e sua cabeça latejava; o frio cortante atravessava suas roupas térmicas e o fazia bater os dentes. Ele não sentia mais as mãos nem os pés, achou que ia morrer congelado muito antes do nascer do dia. Pensou no irmão, em como seria bom dormir abraçado a ele, o calor de seu corpo o envolvendo, como ele fazia quando eram pequenos... No início, se recusou a ceder à idéia de ir procurá-lo como se ainda tivesse oito anos; mas, logo, o frio e o iminente congelamento venceram, e ele saiu da barraca.
Ele se aproximou da barraca de seu irmão. Abriu um pouco a entrada, e pode ver o vulto de Dick deitado, dormindo profundamente. Ele não queria acordá-lo, por isso olhou em volta, traçando a melhor estratégia para entrar e se aconchegar a ele sem acordá-lo. Já tinha o plano pronto em sua mente, e já estava prestes a entrar, quando por acaso olhou para o lado, e uma coisa desviou completamente sua atenção.
A barraca de Guggi estava aberta.
Intrigado, Edge fechou a barraca do irmão e se aproximou da de Guggi. Espiou para dentro, com sua pequena lanterna. Estava vazia: Guggi parecia nem ter entrado ali.
Edge olhou em volta, preocupado. Seria loucura sair no meio daquela nevasca. Talvez Guggi tivesse ido ao banheiro, mas mesmo isso seria arriscado: ele próprio não se arriscaria a colocar nada para fora das roupas, a não ser em caso de extrema necessidade.
Ele andou entre as barracas, olhando em volta, procurando Guggi. Chegou até a barraca de Bono, que era a mais afastada e a maior, mas não havia nem sinal de seu amigo nas proximidades. Resolveu, então, chamar Bono, para irem procurar juntos: ele era o melhor amigo de Guggi, e não se aborreceria com o chamado de Edge na madrugada. Convencido disso, Edge se abaixou e abriu a barraca de Bono, iluminando o interior com a lanterna.
O que viu o deixou estarrecido.
De fato, Bono estava ali. Dormia profundamente, e parecia estar sonhando, porque vez por outra seus lábios se moviam, sem produzir som. Mas ele não usava roupas térmicas, apenas uma camiseta, e seu braço nu era visível por cima das cobertas. Havia outra pessoa junto a ele. E essa pessoa era Guggi.
Guggi estava abraçado a Bono, com a cabeça apoiada em seu peito. Edge podia ver o contorno de seu braço ao redor do corpo de Bono, por baixo do cobertor. Bono, por sua vez, mantinha o braço visível ao redor do amigo, a mão mergulhada em seus cabelos loiros, e o queixo apoiado em sua cabeça. Estavam tão próximos que pareciam um só corpo sob o cobertor. Edge fez a lanterna iluminar mais para baixo, e pode perceber claramente que as pernas dos dois estavam entrelaçadas, Bono com uma coxa entre as de Guggi...
Edge deixou a lanterna cair. Rapidamente a pegou e se afastou, fechando a barraca sem dar uma última olhada nos dois amigos, tão indecentemente próximos. Sentiu o rosto quente, apesar do frio, e se afastou dali o mais depressa possível. A tempestade diminuíra, e, ao invés de ir para sua barraca ou a de Dick, ele se sentou, olhando a paisagem além do penhasco, e ficou tentando não pensar no que vira.
Não aconteceu nada, eu só saí pra respirar, não vi a barraca de Guggi aberta, não vi ele e Bono dormindo juntos, eles estão cada um em sua barraca, não aconteceu nada...
-- Edge?
Por muito pouco Edge não saltou penhasco abaixo. Virou-se, e viu Bono de pé atrás dele, fitando-o interrogativamente. Murmurou:
-- O... O que... O que está fazendo aqui?
-- Eu é que pergunto. O que está acontecendo? Está passando mal?
-- N-não! Eu... Só... Saí.
Para desespero absoluto de Edge, Bono se sentou ao seu lado. Disse:
-- Vamos, Edge. Qual é o problema? Você parece estranho. Eu tive a impressão de ouvir um barulho, e quando acordei vi você se afastando, achei que podia estar querendo falar alguma coisa...
-- Eu vi. - disse Edge, antes que pudesse se conter.
-- Viu o que?
-- Você. Guggi. - ele corou – Juntos.
-- O que? Não estou entendendo.
-- Eu vi que Guggi não estava na barraca, fiquei preocupado, fui chamar você para me ajudar a procurar ele. - ele fez uma pausa, e sentiu que, por algum motivo, estava quase chorando – E vi vocês dois dormindo juntos.
Houve um longo silêncio. Bono olhava para Edge, entre surpreso e confuso.
-- E daí?
-- O que?
-- E daí que estávamos dormindo juntos? Foi por isso que veio pra cá? Qual o problema? Eu não estou entendendo.
-- Como, não? - havia um tom profundamente acusador em sua voz – Você dorme com seu melhor amigo e acha isso normal? Costuma dormir sempre com ele?
-- Bom – disse Bono, e havia um tom ofendido em seu jeito de falar – se estivéssemos em uma praia quente, eu acho que não estaríamos dormindo juntos.
-- O... O que?
-- Com certeza estou muito melhor e mais aquecido abraçado lá com ele do que você está aqui. Não seja idiota, Edge. - ele se levantou – Eu não tenho nojo de tocar nos meus amigos.
Ele se levantou e se afastou. Edge o seguiu.
-- Espera! - Bono parou, e Edge baixou a cabeça – Então, vocês... Não... Ele só foi lá porque estava com frio?
-- Claro que não. Você não ouviu nossos gemidos e juras de amor? Estávamos fazendo sexo, e é claro que o fato de estarmos cercados por nossos amigos não foi algo que nos inibisse.
Edge ficou ainda mais vermelho por ver seus pensamentos expressos em voz alta.
-- Desculpe, eu... Eu sou um idiota.
-- Você está com frio?
-- O q... Bem, acho que sim.
-- Imaginei. Olha, sei que o Dick quer ir embora e quer te levar junto, mas não vá na dele. Não vamos te obrigar se drogar se ficar conosco. Queremos apenas nos divertir.
-- Eu... Eu sei.
-- Vai ficar com a gente?
-- Acho... Que sim.
-- Então, vem comigo. Você pode dormir conosco.
-- Que?
-- Três pessoas se aquecem melhor do que duas, e na minha barraca nós cabemos bem. Vem, o Guggi não vai se importar.
Como se estivesse possuído por algum feitiço, Edge seguiu Bono até sua barraca e entrou. Guggi murmurou, sonolento:
-- O que há?
-- Trouxe o Edge. - disse Bono – Ele estava congelando.
Ele se deitou e fez sinal para Edge se acomodar ao seu lado. Edge o fez, deitando um pouco sem jeito, com cuidado para não tocar em Bono. Este, por sua vez, se deitou de costas e estendeu o braço para Guggi, que deitou desinibidamente em seu peito. Bono o abraçou, e então fez o mesmo gesto para Edge, que hesitou.
-- Vem logo. - disse Bono, impaciente, ao perceber a insegurança de Edge – Eu não vou te morder. Vamos ficar mais aquecidos assim.
Totalmente constrangido, Edge imitou Guggi, deitando no peito de Bono. Era quente, ele podia sentir o calor através da camisa que Bono usava, e por algum motivo isso o fez corar. Sentiu que era abraçado, mas não teve coragem de olhar para Bono. Guggi, por sua vez, já estava quase adormecido, e Edge percebeu que ele acariciava levemente o peito de Bono, em um movimento quase instintivo. Já ele próprio não sabia o que fazer com as mãos. Bono apagou a lanterna e sussurrou:
-- Boa noite.
Guggi levantou os olhos para ele e sorriu, e Edge viu nele a devoção de um servo para com seu senhor.
-- Durma bem.
Bono deu um beijo leve na cabeça de Guggi, que retribuiu – e Edge sentiu que corava até a raiz dos cabelos quando ele fez isso – com um beijo em seu peito.
-- Boa noite. - Edge disse, e receou que Bono também o beijasse, mas o outro não o fez.
-- Boa noite, Edge. - disse Guggi, fechando os olhos e adormecendo quase imediatamente.
-- Boa noite. - Bono disse – Se não se sentir bem, pode me acordar.
-- Obrigado.
Edge ficou pensando se Bono o vira passando mal, mas chegou à conclusão de que era impossível. Depois, pensou no que seu irmão pensaria se o visse ali, no que os outros pensariam, mas nesse momento o sono o invadiu, e ele adormeceu sem chegar a nenhuma conclusão.
* * * * *

Não havia a menor possibilidade de que Bono e Guggi acordassem antes do meio-dia. Edge constatou isso quando despertou, ainda cedo, e viu os dois dormindo tão profundamente que pareciam desmaiados. Ele se levantou em silêncio e saiu.
Quando estava a caminho da sua barraca, ele avistou seu irmão, que gritou para ele assim que o viu.
-- David! - ele correu até Edge e o segurou pelos ombros – O que houve? Você passou mal de novo? Onde estava? Por que não me chamou?
-- Calma, Dick. - ele disse, ainda um pouco confuso pelo sono – Não aconteceu nada. Eu estou bem.
-- Eu te procurei na sua barraca, estou te procurando já faz meia hora, você sumiu! Onde esteve?
-- Eu estava... Na barraca do Bono.
-- Do Bono? - ele parecia confuso – Eu achei que ele ainda estivesse dormindo...
-- Ele está.
-- Então, o que você estava fazendo lá?
Edge se afastou sem responder. Dick foi atrás dele.
-- Edge? O que houve?
-- É que... Eu não sei como dizer isso.
-- Dizendo, oras. Você está me deixando preocupado.
-- Eu não quero que ninguém ouça isso. - ele parou em um lugar mais afastado e se virou para Dick – Promete que não conta pra ninguém?
-- Prometo. - ele suspirou – Você foi pegar mais? É isso?
-- Não, claro que não... Você sabe que não uso drogas.
-- O que foi, então? O que foi fazer lá, tão cedo, se o Bono estava dormindo?
-- Eu não fui pra lá hoje cedo.
-- Que?
-- Eu já estava lá. Desde ontem. - ele corou – Eu dormi lá.
-- Como assim?
-- Eu dormi lá. E o Guggi também. Dormimos os dois lá, com o Bono.
-- Eu... Não estou entendendo direito, Edge. Por que você foi dormir lá?
-- Eu não conseguia dormir, e fui procurar você, pra dormirmos juntos... Você estava dormindo, eu não queria te acordar, então estava pensando no melhor jeito de fazer isso, e aí olhei pro lado e vi que a barraca do Guggi estava aberta. Eu fui lá e vi que ele não estava, fiquei preocupado, estava nevando muito... Procurei ele, e como não encontrei, pensei em acordar o Bono para procurarmos juntos. Então, eu abri a barraca dele e vi ele dormindo com o Guggi.
-- Eles estavam... Como?
-- Como assim, como?
-- Digo, eles estavam... Longe, perto...
-- Perto. Muito perto. - ele corou mais ainda – Estavam dormindo abraçados.
Dick pareceu muito perturbado.
-- Você tem certeza? Pode ter se confundido, estava escuro...
-- Não, eu levei minha lanterna, eu vi. Eles estavam abraçados, o Guggi estava deitado no peito dele, e o Bono estava abraçando ele, com a mão no cabelo dele... E eu acho... Que uma das pernas do Bono estava entre as pernas do Guggi...
-- Meu Deus... Eles estavam... Sem roupa?
-- Não! Deus, não... Mas estavam com um cobertor por cima, então não sei como o Guggi estava vestido. O Bono usava só roupas normais, uma calça e uma camiseta.
-- Cara... Cara, mas que merda...
Por um momento, Dick pareceu ter se esquecido de que Edge dissera também ter dormido lá; mas essa informação voltou repentinamente ao seu cérebro.
-- Você disse... Que dormiu...
Edge se sentou sobre a neve, olhando as montanhas brancas ao longe.
-- Eu fiquei confuso, achei que estava vendo algo... Errado... Então eu saí, vim pra cá, e o Bono acordou e veio atrás de mim. Eu contei o que tinha visto, e ele ficou ofendido quando percebeu o que eu estava pensando que tinha acontecido. Ele disse que eu era um idiota, que ele e o Guggi só estavam tentando se aquecer. Eu me senti envergonhado por ter achado que eles... Enfim, eu pedi desculpas. Ele disse que sabia que nós estávamos planejando ir embora, pediu pra eu ficar, prometeu não me forçar a usar nada. Aí ele me chamou pra dormir com eles, disse que seria mais quente se nós três dormíssemos juntos, e eu... Eu fui.
Dick também se sentou. Havia um certo receio em sua voz quando perguntou:
-- E eles continuaram dormindo abraçados?
-- Sim. - ele baixou a cabeça, muito envergonhado – E eu também.
-- O que?
-- Eles agiam como se aquilo fosse uma coisa tão natural, e eu... Me senti tão constrangido, porque toda hora um monte de pensamentos errados vinha na minha cabeça... Então, o Bono chamou o Guggi pra junto dele, e ele deitou no peito do Bono, e para os dois aquilo parecia tão normal, eu pensei que talvez eles é que estivessem certos, que não tinha nada demais. Aí o Bono me chamou pra deitar no peito dele também, e eu fui, e deitei. Eu estava pouco à vontade, mas ele era tão... Quente... E eu me sentia tão sozinho... Quando ele me abraçou, foi uma sensação de proteção, sabe, como se eu finalmente tivesse alguém que gostasse de mim, e isso era tão bom. Só que aí ele disse “boa noite” pro Guggi, e deu um beijo na cabeça dele, e o Guggi beijou o peito dele, e eu me senti tão envergonhado quando eles fizeram isso...
-- Ele te beijou também?
-- Não. Nós dormimos logo, não aconteceu nada... Mas eu me senti mal quando acordei, como se eu tivesse feito algo tão... Errado...
-- Bem, é algo estranho, realmente... Mas, na prática, não foi nada demais. Sei lá, vai ver pra eles isso é normal, eles são amigos desde pequenos... E ele achou que não teria problema fazer com você. Mas se você não gostou, não deve fazer mais. E, quanto a essa história de você sentir que finalmente alguém gostava de você... Não seja imbecil, você sabe que todos nós te adoramos, e eu te amo, você é meu irmão e meu melhor amigo.
-- Eu sei. Eu não estava falando desse tipo de gostar.
-- Como assim? De que tipo, então?
-- É que, quando o Bono me abraçou, eu senti... Lembra de quando você começou a namorar? Você disse que soube que ela era a garota certa porque, quando ela encostou em você, você sentiu uma coisa muito forte, ao mesmo tempo calma e violenta, tão boa como você nunca tinha sentido na vida. Lembra disso?
-- Claro que lembro. - havia um tom de preocupação na voz de Dick.
-- Então... Eu acho... Que quando o Bono me abraçou, eu senti a mesma coisa.
Houve alguns instantes de silêncio. Podia ter sido muito tempo, ou só alguns segundos, nenhum dos dois tinha certeza. Finalmente, Dick disse:
-- O que você está querendo me dizer?
Edge ia dizer que não sabia, que se sentia confuso; mas, ao invés disso, disse:
-- Eu acho que estou apaixonado pelo Bono.
Dick baixou a cabeça, apoiando-a nas mãos, e murmurou:
-- Merda, Edge, que merda... O que está acontecendo?
-- Eu não sei... - Edge escondeu o rosto nas mãos – Estou tão confuso, Dick, tão... Envergonhado...
-- Você deve estar confundindo tudo. Você só se sentiu grato pelo Bono, e como era uma situação estranha, você se confundiu...
-- Você não entendeu? - Edge se viu expressando em voz alta aquilo que não queria dizer nem para si mesmo – Eu senti atração por ele, atração física!
-- Não! Você nem sabe o que é isso, ainda é muito novo! Esse lugar, isso tudo que está acontecendo, está confundindo você.
-- Eu penso nisso, eu já sonhei que beijava ele, já sonhei com outras coisas que não tenho coragem de dizer... Ah, meu Deus, eu não acredito que estou dizendo isso...
-- Você devia ter me dito quando começou, David! Eu sou seu irmão mais velho, podia ter te ajudado! Caramba, você gosta de meninas, eu tenho certeza absoluta disso! Não ia passar a gostar de homem de uma hora pra outra!
-- Então, porque esses pensamentos? Uma vez eu sonhei... - ele olhava para o chão enquanto falava – Foi logo que nos conhecemos... Sonhei que o Bono estava na minha cama, e estávamos sem roupa... E ele me beijava, e era tão bom... E então eu ia pra cima dele, e era como se ele fosse uma menina, eu...
-- Chega! Chega, eu entendi.
-- E se for isso, Dick? E se eu for...
-- Você não é.
-- Mas e se eu for? - ele passou a mão na cabeça, angustiado – Eu me mato, Dick... Me mato, mas não toco em outro garoto...
-- Nós vamos embora. Lá em casa vamos conversar melhor, vamos resolver isso juntos. Eu vou ajudar você, mas precisamos sair daqui.
-- Eu disse ao Bono que ficaria.
-- Mais um motivo para não ficar. Não sei se o Bono e o Guggi estavam inocentes ou não, mas esse clima vai acabar com você. Vamos arrumar nossas coisas e partir antes que os outros acordem.

[fanfic #001] [capítulo #014] [U2] EGB


CAPÍTULO 14

Estava cedo, Edge pensou. Não eram nem três horas da manhã. A padaria ainda não abrira, o que era uma pena, porque ele pensara em passar lá e levar pão para casa. Mas o show acabara cedo porque uma das bandas  não fora, e ele não queria ficar sozinho na rua àquela hora. De forma que ia andando pela rua deserta, tranquilamente.
Tinha bebido um pouco, não muito. Estava alegre, mas não bêbado. Apesar disso, quando viu Bono, a alguns metros de onde ele estava, achou que estava vendo coisas.
Logo ele percebeu que não era nenhuma visão, era real. Bono estava ali, logo a frente, com Guggi. Os dois andavam aos tropeços, se apoiando um no outro, e rindo como dois loucos. Era impossível saber qual estava mais bêbado.
Edge parou, sem saber o que fazer. Não queria passar por eles, nem queria que o vissem. E as lembranças da briga com Guggi ainda estavam vivas em sua mente; se o outro o atacasse ali, ele teria sérios problemas. Por isso, entrou em um beco minúsculo entre duas lojas, e ficou espiando os dois, esperando a hora em que eles iriam embora.
Os dois riam e falavam alto, gritando coisas totalmente sem sentido. Bono começou a cantar uma música dos Rolling Stones, e Guggi fez coro, em seguida o agarrando pela camisa e o arrastando para dentro de um beco logo a frente. Edge achou que eles fossem voltar, e esperou algum tempo, mas eles não apareceram mais.
Talvez, ele pensou, eles tivessem saído pelo outro lado. Com essa esperança, ele saiu de seu esconderijo e seguiu andando, mas logo percebeu que se enganara: as vozes e risos dos dois ainda eram claramente audíveis, eles pareciam estar logo no início do beco. Ele continuou a andar, pensando que podia passar depressa pela frente do beco, sem ser visto.
Quando chegou à frente da pequena passagem, se apoiou na parede e olhou cautelosamente para o interior. Era um beco grande, quase uma rua, e não tinha iluminação; mas, graças ao poste que ficava bem em frente à entrada, era possível ver quase até a metade dele. Bono e Guggi estavam poucos metros para dentro, mas não riam nem falavam mais. Estavam abraçados, Bono encostado na parede e Guggi colado a ele, e Edge sentiu um nó no estômago quando viu isso.
Ele sabia que era sua chance de passar correndo e ir embora, mas descobriu que era incapaz de se mover. Seus pés pareciam colados no chão, e ele não conseguia desviar os olhos dos dois garotos à sua frente. Viu quando Guggi segurou o rosto de Bono e se aproximou, para roubar um beijo; lágrimas saltaram dos olhos de Edge, mas nem assim ele conseguiu deixar de olhar.
Mas, ao contrário do que ele imaginara, Bono não beijou Guggi. Afastou o garoto, meio rindo, e disse:
-- Pára, Guggi.
-- Não. - Guggi voltou a tentar beijá-lo – Eu quero.
Bono virou o rosto novamente, mas Guggi insistiu, tentando alcançar sua boca de qualquer jeito. Bono disse:
-- Eu não quero.
-- Eu preciso.
-- Você acabou de pegar a Patrícia.
-- Foi pouco. - ele segurou o rosto de Bono com as duas mãos e o virou para si – Pára de fugir, Bono.
Guggi conseguiu encostar seus lábios nos de Bono, mas este o empurrou, sem retribuir ao beijo.
-- Eu te arrumo uma menina.
-- Não quero menina nenhuma. Quero você. - ele quase beijou Bono, mas este se afastou – Me deixa comer você.
-- Não to bom pra isso. Po, Guggi, vai comer uma menina, eu quero ir pra casa e ficar com a Ali.
-- Mas ela não dá pra você.
-- Não tem problema. Eu não to com vontade de transar agora.
-- Merda, Bono! - ele bateu na parede – Eu to precisando disso!
-- Eu já disse que te arrumo uma menina! Eu não to bom hoje, que droga!
-- Foda-se. - Guggi desistiu de tentar agarrar Bono, e se sentou em uma caixa no chão – Eu nunca nego quando você quer me comer.
-- Mas eu só peço se não tiver outro jeito. Qual é, a gente nunca teve esse tipo de discussão.
-- Porque você nunca me negou desse jeito.
-- Mas você sempre aceitava pegar uma menina. Virou bicha, é?
-- Vai se ferrar.
Edge olhava a cena, atônito. Era a discussão mais absurda que ele já ouvira. Nesse momento, Guggi tirou algo de dentro do casaco, que ele logo percebeu ser uma seringa.
-- Toma. - Guggi disse, para Bono.
-- O que é isso?
-- O que você acha?
-- A gente usou ontem.
-- Ontem já passou. Quero usar de novo.
-- Pra que? Pára com isso, Guggi. Você já fumou maconha lá na festa, não acha que já tá bom?
-- Não. Vem logo, Bono, to com pressa!
-- Eu não vou usar isso.
-- Mas que droga, o que é que você tem? Não quer dar pra mim, não quer usar comigo... O que é que tá pegando?
-- Eu é que pergunto! O que é que tá acontecendo com você? Olha, eu não quis acreditar quando o Gavin me disse, mas sou obrigado a admitir que ele estava certo! Você está virando um viciado!
-- Viciado? - ele deu uma risada debochada – Viciados são aqueles infelizes que moram no meu prédio. Eu não roubo ninguém pra comprar droga nem fico escondendo heroína no...
-- Mas tá quase lá! Tá no caminho! Olha o que você tá fazendo, você nunca me tratou assim! E o Gavin disse que você tá estranho com ele também, e eu sei que você tá faltando aulas porque está dopado demais pra ir pra escola... Cara, olha o que você tá fazendo. Eu não quero perder você, Guggi. Não quero ver você se tornar como aqueles caras.
-- Eu sou muito diferente daqueles caras, tá ouvindo? - ele se levantou – Eu tenho controle sobre mim! Uso o que quero, quando eu quero! Se você não quer usar comigo, nem quer deixar eu comer você, então pro inferno, eu arrumo quem queira!
-- Não fala isso nem de brincadeira. Guggi, você não anda fazendo isso com mais ninguém, não é?
O outro não respondeu; começou a se afastar, indo para a outra saída do beco. Bono correu até ele e o segurou pelo braço.
-- Guggi! Responde! Você anda dividindo seringa com mais alguém? Ou dormindo com outro cara? Pelo amor de Deus, fala a verdade, eu sou seu melhor amigo!
-- Me solta! - ele empurrou Bono com violência – Eu não te devo satisfações! Nem preciso de amigos!
Ele foi embora. Bono ficou olhando ele se afastar, e então se sentou sobre uma caixa de madeira e começou a chorar. Sem nem perceber o que estava fazendo, Edge entrou no beco e foi até ele. Bono não o viu até que ele estivesse a menos de um metro de distância.
-- Brigou com seu namoradinho?
A reação do outro foi a que ele queria: Bono olhou para ele, com susto e choque no olhar. Demorou alguns segundos até que ele conseguisse reagir.
-- Me deixa em paz. - ele se levantou e começou a se afastar – Já tenho muitos problemas.
-- Já descobriu se os pêlos do Larry são claros ou escuros?
O outro parou como se tivesse batido em um poste. Virou-se para Edge, e seu rosto estava pálido como cera.
-- O que disse?
-- O Larry tem os pêlos loiros como os do Guggi? Ou são como os meus? - ele se aproximou – Você também levou ele pra sua casa, ou pegou ele na casa dele mesmo?
Bono o agarrou pela camisa e o jogou na parede.
-- Do que está falando?
-- Eu vi, Bono! - Edge não fazia esforço algum pra se soltar – Vi você abraçando o Larry, na frente da casa dele! Você não perde tempo pra encontrar “amigos especiais” pra você, não é? E aí, ele é bom de cama ou você teve que dar umas aulinhas?
-- Cala a boca! - ele deu um soco em Edge – Cala a boca! Como tem coragem de falar assim comigo? Depois de tudo o que você fez...
-- Eu? Eu não fiz nada, quem fez foi você! - ele empurrou Bono com força – Você me usou, me fez acreditar em um milhão de mentiras!
-- Eu te usei? Foi você quem transou comigo e sumiu no dia seguinte!
Edge não pensara nas coisas sob aquele ângulo, e ficou alguns instantes sem ter o que dizer.
-- Você queria o que? - ele finalmente disse – Que eu acordasse nos seus braços e dissesse “bom dia, meu querido”? Ou que te despertasse com um beijo? O que você pensa que eu sou?
-- Me poupe dessa sua conversinha, tá legal? Seu irmão já me disse tudo o que você queria que ele dissesse!
-- Eu não sei o que Dick te disse, mas tenho certeza de que foi menos do que você mereceu! Você foi um... Um cafajeste, um sedutor barato...
-- Oh, pobrezinho! E eu te obriguei a transar comigo, não foi? Eu te obriguei a gemer daquele jeito e a gozar na minha boca!
-- Você me induziu àquilo! Eu estava confuso, eu... Eu não queria nada daquilo!
-- É claro que queria! Eu não teria feito se você não quisesse! Aliás, você foi um ótimo ator, Edge, tenho que admitir que me enganou direitinho. Eu realmente acreditei que você fosse meu amigo. - ele riu, irônico – Sou um imbecil, não sou? Achei que aquilo tivesse significado alguma coisa pra você. Mas é claro que não, você armou tudo, sabia como conseguir o que queria. Fez eu confiar em você, e depois que transou comigo se mandou! E ainda teve a coragem de mandar o seu irmão pra cima de mim! Você não passa de um covarde, que não tem coragem de assumir a responsabilidade por seus atos!
-- Não! Eu não fiz nada disso! Eu não sei o que eu queria, mas sei que nunca em minha vida me arrependi tanto de alguma coisa quanto me arrependi de transar com você! Foi a pior experiência que eu já tive, preferia ter morrido a ter passado por aquilo! Eu nunca senti tanta raiva de mim mesmo, tanto... Tanto nojo!
Parecia que Bono ia falar, mas ele não conseguiu. Começou a chorar, e virou o rosto. Edge continuou, a raiva fazendo seus ouvidos zumbirem.
-- Eu sei que podia ter te parado, mas não posso mentir, no início foi bom! Eu estava com vergonha, estava com medo, mas não podia te mandar parar porque era bom, e eu achei que você estivesse fazendo aquilo porque me amasse! Eu sou um idiota mesmo, devia ter visto desde o início que você era incapaz de amar alguém!
-- Mas eu te amei! Te amei ali, naquela hora! Eu não teria feito aquilo se não te amasse!
-- Mentira! Você só queria se aproveitar de mim! Me deu o que eu precisava, mas depois cobrou o seu preço, não é? Você não se preocupou em nenhum momento se eu queria ou não, se eu estava bem ou não! Eu podia ter morrido enquanto você metia em mim, que nem assim você ia parar!
-- Mas você deixou! Você queria aquilo também!
-- É claro que não! Como alguém podia querer aquilo? Só se eu fosse masoquista!
-- Você... - ele parecia realmente surpreso – Você não gostou?
-- De você meter em mim? É claro que não! Eu nunca senti tanta dor na minha vida!
-- M-mas eu achei... Mas... Se estava ruim, por que você não me pediu pra parar? Eu ia ter parado assim que você pedisse!
-- E deu? Eu estava com medo, Bono, estava em pânico! Eu não conseguia falar, se eu abrisse a boca eu ia gritar tão alto que a cidade inteira ia ouvir! E você estava ocupado demais pra prestar atenção em mim, você nem percebeu que eu estava chorando e sentindo dor, você nunca se importou comigo!
-- Mas eu achei que você estava gostando!
-- Como é que eu ia gostar de uma coisa como essa? Ninguém normal poderia gostar disso!
-- Eu gosto!
Os dois pararam. Ambos estavam vermelhos, Bono pelo que dissera, Edge pelo que acabara de ouvir. Foi Edge quem quebrou o silêncio:
-- Você é louco.
Bono soluçava, e foi com muita dificuldade que conseguiu dizer:
-- Isso não justifica... Nada disso justifica você ter ido embora no dia seguinte. - ele respirou fundo, tentando se acalmar – Você devia ter ficado, nós dois íamos conversar, íamos... Nos explicar... Se você dissesse que não queria aquilo, eu nunca mais... Você acha que é só isso? Que eu só queria transar com você? É claro que não! Se você dissesse que não queria, eu nunca mais teria tocado em você!
-- Não foi só isso. - Edge falava com um pouco mais de calma na voz – Eu ia ficar, ainda tinha a esperança de que... De que você tivesse feito aquilo por amor, que quisesse... Algo a mais... Mas... Quando eu acordei, quando eu estava tentando decidir o que fazer, você estava sonhando e... Você estava duro... E você disse... O nome da Ali. - ele sentia dor só de se lembrar disso – E eu percebi que você estava pensando nela enquanto estava transando comigo, e que eu não significava nada pra você. Você só queria ter alguém pra transar enquanto ela não faz isso por você, e aquela história de amigo especial é só uma desculpa pra você transar com um homem e não se sentir culpado.
-- Claro que não! Meu Deus, não! Eu não estava pensando na Ali quando transei com você, não tenho culpa se depois sonhei com ela! E eu nunca na minha vida toquei em outro cara além de você e do Guggi, e não me sinto nem um pouco culpado em relação a isso, porque eu faço por amor!
-- Chega. Isso não importa mais. Você me magoou muito, Bono, nada do que você disser vai
poder apagar a dor que eu senti.
Ele começou a se afastar, mas Bono o chamou:
-- Edge!
Edge parou por um instante, mas então voltou a andar, sem olhar para trás. Bono correu até ele e o segurou.
-- Espera!
-- Me solta!
-- Edge... Eu sinto muito, eu não pensei que... Eu achei... Eu só queria te fazer feliz, eu sinto muito... Que droga, por que você foi embora aquele dia? Você podia ter ficado, íamos ter conversado, nada disso teria acontecido...
-- Você acha que foi fácil pra mim ir embora? Eu estava tão confuso, Bono, estava tão triste... Sabe o quanto me machucou? Eu estava sangrando quando cheguei em casa, e...
-- Sangrando? Você diz... Lá?
-- É, lá.
-- M-mas sangrou muito?
-- Não, foi só um pouquinho... Mas doeu muito, ficou dolorido por uns dois dias.
-- Nossa... Eu... Eu estava tão excitado, eu... Acabei exagerando... Droga, Edge... Você devia ter me dito...
-- E você devia ter conversado melhor comigo antes de fazer aquilo... - ele estava chorando também – Eu sofri tanto, fiquei tão confuso...
-- E como você acha que eu fiquei? Eu acordei naquele dia, e você não estava ao meu lado... Eu não entendi, fiquei confuso, mas depois pensei que você talvez tivesse acordado mais cedo e estivesse, sei lá, no banheiro, então fui te procurar, e o Norman me disse que você tinha ido embora... Eu não quis acreditar, falei que não era possível, que você não iria embora sem se despedir, não depois do que aconteceu. Porque eu achei que tinha sido tudo bem, que você tinha gostado tanto quanto eu. E o Norman começou a brigar comigo... Disse um monte de coisas, que eu devia aprender a não confiar desse jeito nas pessoas, que era bem feito... Que eu ia me dar muito mal por causa disso...
-- E-espera. Espera, o seu irmão sabe o que...
-- Sabe... Ele já viu eu e o Guggi se beijando, dormindo juntos... Eu expliquei pra ele que nós somos amigos especiais, e ele não me enche muito, mas fica falando essas coisas, diz que o Guggi se aproveita de mim... Mas não é verdade, a gente é amigo...
-- Se ele é mesmo seu amigo, porque te tratou daquele jeito? Porque foi embora assim?
-- Ele está com um problema! Não tem controle sobre ele mesmo, não sabe o que diz! Eu sei que, quando ele estiver normal, vai chorar muito quando se lembrar do que fez, vai ficar muito arrependido...
-- E o Larry, Bono? Como você explica o que eu vi? Vocês dois abraçados, tão próximos...
-- Nós nos aproximamos muito depois que a mãe dele morreu, eu senti que ele precisava de um amigo mais velho, mais experiente, que tivesse passado pelas mesmas coisas. Ele se tornou muito especial pra mim, quase tanto quanto o Guggi ou... Ou você. - ele desviou o olhar – Mas a gente nunca se beijou nem nada, e isso nunca vai acontecer, porque não é disso que o Larry gosta. Não é disso que ele precisa. Eu só faço pelo Guggi porque ele quer, só fiz por você porque você queria. Ser amigo não é fazer sexo, Edge, isso é só uma coisinha no meio de um milhão de coisas muito maiores.
Os dois ficaram em silêncio. Edge olhou para Bono e se aproximou.
-- Eu... Eu queria tanto... Que nada daquilo tivesse acontecido...
-- Você acha que a gente pode começar de novo?
-- Eu queria muito.
-- Podemos ser amigos?
-- Sim.
-- Amigos especiais?
-- Sim, Bono. - ele soluçou – Podemos.
Bono o abraçou, e Edge o apertou contra si, percebendo pela primeira vez o quanto ele era pequeno.