terça-feira, 3 de agosto de 2010

[fanfic #003] [capítulo #002] [U2] As Terras do Norte - Sob o Chão


AS TERRAS DO NORTE

CAPÍTULO 2
SOB O CHÃO
“A world in white gets underway
I want to be with you
Be with you night and day”
(U2 – New Year's Day)

     -- A senhorita devia dar graças aos céus por não ter sido castigada, princesa Glory. Se fosse meu pai, eu seria atirada para fora de casa!
     -- Eu preferia que ele tivesse feito isso, Hally. – Glory suspirou, olhando-se no espelho – Preferia estar presa no lugar de Dave.
     -- A senhorita não pode estar falando sério. Não tem idéia do que são as masmorras.
     -- Você já esteve lá?
     -- Eu ia acompanhar minha mãe quando ela levava comida para os presos. Acredite, você não vai querer ver aquilo.
     A dama de companhia começou a pentear os cabelos de Glory, que por sua vez não parecia muito animada com isso.
     -- Não acredito que além de me tirar Dave, ele me fez noivar com o rei Macguiness... Como ele pode querer que eu me case com aquele homem horrível?
     -- Não fale assim do seu noivo, princesa... Rei Macguiness é um ótimo partido. É rico, amigo de seu pai, é um rei... Você vai ter a mesma vida que tem aqui, talvez até mais!
     -- Então, por que não casa você com ele?
     -- Pois eu seria muito grata se ele pedisse minha mão, mas é óbvio que isso jamais vai acontecer. Não tenho nem título, não sou nobre. E meus pais não têm terras.
     -- Mas seu irmão vai para o seminário ano que vem.
     -- Graças a seu pai, e seremos eternamente gratos a ele por isso. Mas, enquanto não temos um clérigo na família, ainda somos criados.
     Glory suspirou.
     -- Essa noite eu vou vê-lo.
     -- O que?
     -- Vou descer escondida até as masmorras e vou falar com ele.
     -- Glory, ficou louca? Se seu pai descobre, ele te mata! E mata sir Evans também! Além disso, tem um guarda tomando conta no corredor, como pensa em passar por ele?
     -- É pra isso que preciso da sua ajuda.
     -- De mim? Mas o que eu posso fazer?
* * * * *

     Hally respirou fundo e deu o último retoque no cabelo. Não acreditava que estava realmente fazendo aquilo. Mas Glory fora muito insistente, e, além do mais, ela fora praticamente criada por sir Evans. Lembrava-se de quando era ainda pequena, e ele a ensinara a montar, junto de Glory. Ele mesmo, por sinal, era muito jovem naqueles dias, sequer tinha permissão para combater. Todos eles juntos, quando a rainha ainda era viva.
     Ela apagou a luz e abriu a porta, lentamente. Avistou o guarda, logo à frente, no corredor. Respirou fundo mais uma vez e saiu, fechando a porta atrás de si.
     O guarda se voltou quando ela se aproximou. Ela sorriu interiormente: era sir Michaell, seria muito fácil.
     -- Boa noite, senhorita Hally. - disse ele – Deseja alguma coisa?
     -- Oh, não, não... - ela sorriu – É que a princesa dormiu, e eu não estava com sono, então achei que seria interessante andar um pouco por aqui, ou conversar com alguém... Mas se lhe incomodo, então...
     -- Não, não, a senhorita não incomoda de forma alguma. - ele sorriu para ela – Pelo contrário, é um prazer ter companhia.
     -- Sabe... Eu queria muito subir até a torre para ver o céu, há dias que estou aqui dentro, trancada... Mas tenho medo de ir sozinha, é tão escuro... Você não gostaria de me levar até lá?
     Michaell hesitou.
     -- Não posso, senhorita... Devo ficar aqui, cuidando para que a princesa Glory não saia do quarto.
     -- Ora, pois não acabei de dizer que ela está dormindo profundamente? E, se ela acordasse e saísse atrás de mim, para onde poderia ir? Além do mais, nós não vamos nos demorar. Quero apenas contemplar a lua novamente. - ela suspirou – Mas... Se o senhor não quiser me acompanhar, eu entenderei...
     -- Bom... Já que não vamos demorar... E como a princesa está dormindo... Acho que não haverá problema.
     Hally sorriu, radiante.
* * * * *

     Glory desceu as escadas, com cuidado para não fazer barulho. Não podia chamar a atenção, e ao mesmo tempo tinha que ser rápida. Hally provavelmente não conseguiria segurar Michaell por muito tempo.
     Ela sabia onde ficavam as masmorras, embora nunca tivesse descido até lá. Mas as escadas formavam um verdadeiro labirinto. Decidiu que iria pelos caminhos que parecessem mais escuros; afinal, as celas deveriam ficar nas profundezas do castelo.
     Parecia que já descera uma eternidade, mas as escadas mergulhavam em uma escuridão profunda. Ela se apoiava nas paredes úmidas para não cair. E, ao virar em um corredor, bateu em algo e quase caiu.
     Ela chegou a se ver caindo pelos degraus, mas foi salva no último minuto por um par de mãos que a seguraram. Um grito escapou de sua garganta e ecoou pelas torres escuras.
     Demorou algum tempo para que ela tivesse coragem de se virar. Quando o fez, deparou-se com aquilo em que havia batido, e que a salvara: um cavaleiro que muito a ajudara nos últimos tempos, sir Richard Evans. Irmão mais velho de Dave.
     -- Dick! - ela se acostumara a chamá-lo pelo apelido que Dave lhe dera – O que...
     -- Estou fazendo a guarda das masmorras. O que a senhorita pensa que está fazendo aqui? Quer morrer? Achei que estivesse sendo vigiada pelo Michaell.
     -- Eu o enganei e fugi. Mas você está guardando as masmorras? Está prendendo o seu próprio irmão?
     -- Meu irmão e muitos outros. O que acha que eu posso fazer, abrir as celas e provocar uma fuga em massa? Não sou tão idiota. Além do mais, não sou o único aqui.
     -- Estou indo ver o Dave.
     -- Ele está muito mais para baixo. Não vai conseguir chegar lá.
     -- Vou, se você me ajudar.
     -- Sinto muito, senhorita, mas não quero acabar como meu irmão. E tenho muita sorte de não estar na mesma situação que o pobre Christian.
     -- O que tem o Christian?
     -- Ele também foi preso. Você disse em suas cartas que ele a ensinou a ler, lembra? Seu pai o prendeu, mas como o crime dele é menor, deve ficar apenas alguns dias sem ver a luz do sol. Quanto ao meu irmão... - seu rosto tinha um ar sombrio – Que Deus tenha piedade de sua alma.
     Gritos abafados vieram das profundezas. Glory sentiu um arrepio.
     -- O que é isso?
     -- Deve estar na hora do castigo. Eles torturam alguns prisioneiros, como punição ou para fazê-los falar. Tive que assistir às punições que Dave sofreu, embora seu pai tenha sido misericordioso o suficiente para não me fazer torturá-lo.
     -- Torturam o seu irmão na sua frente e você não faz nada? Que tipo de cavaleiro você é?
     -- Do tipo que presa a vida e que tem uma família para alimentar. E meu irmão admite a culpa pelos seus crimes, e aceita o castigo. Ele disse que vai lavar a honra da família com seu sangue.
     -- Pro inferno com a honra. Se não vai me levar até lá, eu vou sozinha.
     -- Sinto muito – ele a segurou – mas não posso permitir. Vou levá-la em segurança para o seu quarto, e agradeça aos céus por seu pai não descobrir o que aconteceu.
     -- Não vou voltar antes de ver o Dave!
     -- Se a senhorita não vier, vou ser obrigado a lhe levar à força. Por favor, princesa. Já causou problemas demais para ele, deixe-o em paz.
     Ao invés de responder, Glory tirou de dentro do vestido um punhal, e o apontou para Dick. O cavaleiro a princípio se demonstrou surpreso, e então deu um breve riso.
     -- Glory, olhe pra mim. Tenho uma espada e uma armadura, acha que uma simples adaga vai me fazer algum mal?
     -- A você não. - ela apontou a faca para si mesma – Mas eu posso muito bem me ferir aqui e acusar você. Posso dizer que fugi com a intenção de ver Dave, mas você me atacou e me violentou.
     Dick ficou muito sério.
     -- Não brinque com isso, princesa. Eu jamais faria algo assim, e qualquer um que me conhecesse saberia disso.
     -- Mas meu pai iria acreditar em mim, não em você.
     -- Ele a mandaria para o médico, e ele descobriria que você não foi abusada.
     -- Não teria como ele descobrir. Eu me deitei com Dave, Dick. Ele me desonrou.
     Por um momento, Dick não foi capaz de falar. Quando o fez, sua voz saiu hesitante.
     -- Ele... Ele me disse que nunca havia tocado na senhorita...
     -- Ele jamais deixaria que soubessem que não sou mais pura. Ele me ama demais para isso.
     -- Deus do céu... Ele é louco. Vocês dois são loucos.
     -- Vai me levar até ele ou terei que ir sozinha?
     Ele suspirou, cansado.
     -- Certo, você venceu. Vou te levar até ele. Mas não me responsabilizo pelo que possa acontecer.
     Ela o seguiu pelas escadas escuras. Se não estivesse com ele, com certeza não teria conseguido descer tanto sem despencar escada abaixo. Mas Dick a levou com segurança até uma das primeiras celas, que estava vazia. Era um espaço pequeno e fechado, sem janelas, e com uma pesada porta de ferro que tinha apenas uma minúscula abertura.
     -- Meu irmão está mais para baixo, mas há muitos guardas lá, você não pode descer. Fique aqui, eu vou tentar trazê-lo.
     -- E se alguém aparecer?
     -- O máximo que vão fazer é levá-la até seu pai, o que seria um castigo merecido. Nesse momento, estou preocupado comigo e com meu irmão.
     Dick saiu da cela, deixando Glory sozinha. A porta e as grossas paredes impediam que qualquer som de fora entrasse ali. Demorou algum tempo para que alguém voltasse, e ela começou a se preocupar: se Michaell não a encontrasse no quarto, Hally estaria em sérios apuros. Finalmente, a porta se abriu, e Dick entrou. Junto dele, preso com grossas correntes, vinha Dave.
     Lágrimas saíram dos olhos de Glory quando seus olhos encontraram os de Dave. Suas roupas eram apenas trapos, e ele estava sujo e machucado. Seria tido por um bandido comum, não fosse seu porte e sua postura de cavaleiro. Mas estava magro, e parecia muito fraco.
     -- Glory... - ele disse, entre surpreso e fascinado – Meu Deus, Glory...
     Glory correu até ele e o abraçou. Não era capaz de falar, as lágrimas travavam sua garganta. Ele tentou abraçá-la também, mas as correntes prendiam suas mãos e braços.
     -- Solte-o. - disse Glory, voltando-se para Dick – Tire essas correntes dele.
     -- Senhorita, eu não...
     -- Por favor, Dick. - ela chorava – Pelo amor de Deus.
     Dick olhou para ela e para Dave, e novamente para ela; e por fim, com um suspiro, se aproximou e destrancou os cadeados que prendiam as correntes de Dave. Este soltou um suspiro de alívio, e esfregou os pulsos doloridos.
     -- Glory... - ele a abraçou com força contra si, e ela pensou em como ele podia ser tão quente e forte mesmo preso naquelas masmorras frias.
     -- Vou deixar vocês conversarem. - disse Dick – Vou trancar a porta para que não desconfiem, e ficarei no corredor. Quando quiserem sair, basta bater três vezes na porta e eu a abrirei.
     -- Certo. - disse Glory, e Dick saiu. A porta se fechou com um estrondo, e o som do cadeado sendo trancado ecoou pela cela. Os dois ficaram sozinhos, na cela escura.
     -- Dave... - ela tocou no rosto do cavaleiro – Eu sinto muito... É tudo culpa minha...
     -- Não, querida, não... - ele passava a mão pelos cabelos dela – Não foi culpa sua, você fez o possível... Você é só uma criança, a culpa foi minha, isso não devia ter ido tão longe...
     Ela ia protestar, dizer que não era criança; mas ele a calou com um beijo.
     -- Me perdoe, senhorita. - ele disse, se afastando – Me perdoe por te beijar sem sua permissão, mas esse lugar faz qualquer um perder parte do bom senso.
     -- Você pode me beijar quando quiser, sempre. - ela o abraçou – Eu sou sua.
     Dessa vez, ela o beijou. Podia sentir o corpo dele tremer junto ao seu.
     -- Dave... O que houve com você? Parece tão fraco, tão... Machucado...
     -- Eles fazem coisas terríveis aqui, senhorita. - ele a abraçou com força, como se quisesse se esconder junto a ela – Perdi as contas do quanto sofri, do quanto fui humilhado. Mas eu não amaldiçôo meu destino. Cometi um pecado, e Deus está me fazendo pagar por ele.
     -- Seu único pecado foi amar a filha do seu senhor, e não acho que Deus te puniria por isso.
     -- Eu sou indigno da senhorita. Jamais deveria ter colocado meus olhos em você.
     -- Mas você não teria feito nada se eu não tivesse permitido. Fui eu que te procurei, eu provoquei você, até que você não pudesse mais resistir.
     -- Deus sabe o quanto quis resistir, mas isso foi mais forte do que eu. Mas você é só uma criança, eu devia ter te respeitado.
     -- Eu não sou criança, Dave! E você me respeitou, nunca fez nada que pudesse manchar minha honra.
     -- Fiz. Eu beijei você, toquei em você. Vi você. Isso... É um pecado imperdoável. Estou disposto a pagar pelos meus erros.
     Glory apoiou a cabeça no peito dele.
     -- Eu disse ao Dick que você se deitou comigo.
     -- Você... O... O quê? Deus, Glory, por que disse isso?
     -- Ele não queria me trazer até aqui. Eu disse a ele que se não o fizesse, eu me feriria com um punhal e rasgaria minhas roupas, e gritaria até que todos os guardas aparecessem, e diria que ele abusara de mim. Mas ele disse que acabariam descobrindo que era mentira, quando eu fosse examinada, então eu disse que não haveria como descobrir porque eu tinha sido desonrada por você. Só assim ele aceitou me trazer aqui.
     -- Glory, você não devia ter dito isso... Eu... Isso... É uma desonra enorme, tanto para você quanto para mim, e para minha família... Deitar com a princesa, eu não seria louco... Foi tão difícil resistir, e agora você diz isso...
     -- Você se importa mais com a sua honra do que com seu amor por mim?
     -- Claro que não, mas eu sou feito de carne e osso, e não de bons e imaculados sentimentos. A senhorita tem idéia de qual é a punição para um crime como esse?
     -- Meu pai disse que é a morte por decapitação, mas eu não vou...
     -- Morte por decapitação – ele interrompeu – é por traição, pela tentativa de te seduzir. Mas, se houver suspeita de desonra, a pena é a castração seguida de execução.
     Ela pensou que seria uma coisa muito idiota a ser perguntada, mas sua curiosidade venceu.
     -- O que é “castração”?
     Ele suspirou, um pouco constrangido.
     -- É quando o homem é privado de suas partes íntimas.
     -- E como fazem isso?
     -- Cortando.
     -- Cortando o que?
     -- A senhorita não sabe?
     -- Não sei o que?
     -- Como... Como é o corpo de um homem?
     -- Ah, sei... Não. Como é?
     -- A senhorita saberá quando se casar. Por enquanto, tudo o que precisa saber é que essa é uma punição pior do que a morte, e que eu preferia realmente não ser acusado de algo que não cometi.
     -- Mas meu pai não vai ficar sabendo disso.
     -- Ele pode obrigar Dick a falar. Acredite, ele tem meios para isso. E eu não culparia meu irmão por dizer.
     -- Quando sairmos daqui, eu digo a Dick que menti. Ele vai entender.
     Novamente, ele a beijou sem aviso. Quando a soltou, disse:
     -- Soube que você ficará noiva de um rei de terras distantes.
     -- Eu não ficarei. - ela desviou o olhar – Meu pai quer me obrigar a casar com ele.
     -- Quando será o casamento?
     -- Daqui a três meses. Mas eu não vou me casar, Dave, nem que tenha que fugir!
     -- Não. Você deve se casar, isso reparará o mal que eu te fiz. Aceite a vida que seu pai lhe escolheu, Glory. Você está tendo uma segunda chance, pode se salvar. Eu já não tenho salvação. Talvez esteja morto antes mesmo de você partir.
     -- Não. Não vou deixar aquele homem horrível tocar em mim, Dave. - ela o abraçou – Você é o único que eu permitiria.
     -- É impossível, Glory. Meu destino está selado. Nós jamais nos casaremos.
     Ela se afastou, séria.
     -- Temos essa chance. Eu posso ser sua, agora.
     -- O que?
     -- Eu posso ser sua, Dave. Aqui. - lágrimas caíam pelo rosto dela, mas sua voz estava firme – Ao menos uma vez, para a vida toda. Depois, entrarei para um convento, me matarei, farei qualquer coisa. Mas permita que seja, ao menos uma vez.
     Antes que ele respondesse, ela soltou os botões do vestido, fazendo-o cair a seus pés, ficando apenas com sua roupa de baixo. Dave a olhou, sem palavras.
     -- Glory... Não faça isso comigo... - ele deu um passo para trás – Me permita morrer como um homem honrado...
     -- Esqueça essa maldita honra! Você vai morrer, sendo honrado ou não! Vai deixar que outro homem tome aquilo que é seu? Vai permitir que eu seja tocada por um marido que eu não escolhi?
     Ele hesitou, e ela começou a desabotoar a roupa de baixo. Dave foi até ela e a segurou, dizendo:
     -- Não! Não, Glory, não. Não temos tempo, alguém pode chegar, e você estará com sérios problemas. Não devemos, não agora.
     -- Mas eu não sei se poderei voltar aqui...
     -- Escute – ele olhou em volta, como se temesse que alguém pudesse ouvir – você está realmente disposta a me ajudar?
     -- Claro! Claro, Dave, eu faço qualquer coisa...
     -- Mas será muito perigoso. Você terá que ter cuidado.
     -- Terei.
     -- Há uma falha na segurança das masmorras. Uma pequena abertura em uma das paredes do último pavimento, um buraco pequeno, mas o suficiente para passar um homem deitado. Essa abertura cai em uma caverna inundada, que não tem saída por cima. Mas, se mergulhar, encontrará uma passagem que sairá no lago ao lado do castelo. O lago em que nos encontrávamos. Eu descobri essa passagem quando ainda era criança, e a usei há pouco tempo, então sei que ela está livre e é segura.
     -- Você pode fugir por ali!
     -- Posso, mas estou preso e vigiado por guardas. Meu irmão não pode me ajudar. Mas você pode conseguir ajuda.
     -- Como?
     -- Lembra de uma vez, quando você tinha sete anos, em que te ajudei a fugir do castelo e fomos até a cidade? Você deverá fazer a mesma coisa, mas sem mim. Acha que consegue?
     -- Claro!
     -- Na cidade, deverá ir até uma taverna chamada Lesses e procurar algum cavaleiro que possa nos ajudar. Diga que irá pagar pelo serviço dele. Ele deverá entrar, render os guardas e abrir a cela. Deve fazer isso por volta das quatro horas, quando há menos guardas e será mais fácil. Mas não deve ser mais de um, ou a fuga será difícil. E tome muito cuidado, Glory. Ali há bandidos, pessoas muito perigosas. Leve minha irmã com você, ela está acostumada a lidar com essas pessoas.
     -- Pode deixar. Eu mandarei recados pelo Dick.
     -- Mas tome cuidado, não cite o nome de Dick nos bilhetes. Quanto menos ele souber, melhor. Não quero que minha família seja envolvida.
     -- Pode deixar. Dave... Eu te amo.
     -- Eu também te amo.
     Eles se beijaram mais uma vez, e então ela se foi.
* * * * *

     Glory estava deitada em sua cama quando Hally entrou, em silêncio. Assim que a outra fechou a porta, ela se sentou na cama.
     -- Hally! - ela acendeu a luz – Eu já cheguei a mais de meia hora e você sumiu! Eu fiquei preocupada, onde você estava?
     Hally parecia ao mesmo tempo assustada e eufórica.
     -- Eu... Eu estava... Distraindo o Michaell.
     -- Mas como foi que você fez pra distrair ele por tanto tempo? Eu fiquei fora por duas horas! Já estava me preparando para o castigo de papai...
     -- Nós ficamos... Conversando. - ela se sentou na cadeira, falando mais para si mesma do que para Glory – Ficamos conversando e conversando por muito tempo, e então ele quis voltar, e eu pedi pra ele esperar um pouco, e então ele... Ele...
     -- Ele o quê?
     -- Ele... - ela suspirou – Me beijou...
     -- Te beijou? Que legal, Hally! Eu não sabia que você gostava dele...
     -- Ah, ele é tão bonito, não é? E é um cavaleiro... Eu... Nós ficamos lá... Nos beijando...
     -- Por isso vocês demoraram tanto tempo...
     -- É, ele disse que queria... Me mostrar umas coisas... - ela corou – Mas me fale de você, Glory! Como foi, conseguiu encontrar sir Evans?
     -- Encontrei! Ah, Hally, você não sabe...
     Ela contou sobre sua conversa com Dave. Hally parecia à beira do pânico.
     -- Você vai fugir para a cidade? Mas Glory, é muito perigoso... Se os guardas te pegarem, você vai ser castigada...
     -- Não tenho medo dos castigos do meu pai.
     -- Pois devia ter! Além disso, supondo que consiga fugir, o que vai fazer? Faz anos que você não vai lá, não sabe como é, pode haver bandidos, pessoas perigosas...
     -- Vou chamar a Gillian pra ir comigo. Ela vai sempre lá, vamos estar seguras.
     -- Eu ainda acho isso loucura.
     -- Eu também.

Nenhum comentário: